Pretendo não desafiar sua mente com elucubrações espúrias, mas é um desafio enfrentar a provocação da ambiguidade de sentidos que o termo desafio provoca, e me levam a incorrer em algum trocadilho.
Podemos ir por suas bifurcações: desafiar, no sentido de ir contra a fé (sabia que esse é o sentido na etimologia do termo? (“Des- afidare”, desatar da fé ou ir contra a fé) ou: cortar o fio, desfazer o fio. Vou optar pelo sentido popular em nossa semântica: confrontar, enfrentar, provocar, que acaba assumindo em si os dois sentidos etimológicos. E o faço a partir do pensamento que a associação dos dois termos inspira: fio e desafio. Faço isso sobre os textos procedentes da sabedoria de Salomão: “Há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte.” – (Provérbios 14:12) e: “Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos” – (Provérbios 16:9), para dizer que nossos planos, o fio que traçamos segundo nosso entendimento e desejo, muitas vezes são um desafio, uma provocação ao pensamento divino. Mas ainda que nessa direção, prevalece a idéia de que traçamos o fio e Deus, cuja vontade é “boa, agradável e perfeita” o desafia, para cumprir a Palavra com que Se comprometeu dizendo: “Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro”- (Jeremias 29:11). E cremos que o Deus que pensou-nos em nossos dias, não nos proíbe nem impede de fiarmos nossa história, traçarmos seu fio. Mas dá-Se o direito por nos amar, de fazer o desafio para aperfeiçoar nosso caminho, segundo Sua santa vontade.
Inevitavelmente pensamos no fio de nossa caminhada existencial como um rio retilíneo que corre sem desvios nem ondulações; como um fio comprido estendendo-se definidamente em direção ao mar. Mas tal rio não existe. Se existisse, seria um rio egoísta, pouco útil, pois somente as terras às suas margens seriam beneficiadas por ele. Por mais reto que corra um rio, há que serpentear, fazer curvas, deitar-se por sobre precipícios em belas cascatas sobre vales fundos, e dessa forma, irriga muitas terras no seu percurso, e abre-se para criar afluentes. Daí o fio, assemelhado ao rio, precisar de contorções.
Portanto, não estranhemos os desafios. Eles não são ameaça nem risco de destruição. Não. Na vida do crente que confia em Jesus, os desafios são as “arrumações” de Deus, pelas quais Ele desambaraça o novelo de fios que embolamos em nossa ansiedade e precipitações.
Podemos concluir pensando que nós traçamos o fio, e Deus desafia.