Se Voltares…Para Mim Voltarás – Jeremias 4:1

Pensamos, nós crentes, que o voltar-se para Deus, a conversão, é um ato e experiência únicos na caminhada da vida; ou então decidimos que há nova conversão após o destino de uma apostasia, abandono.

A verdade é que há um só Caminho, do qual contrariando a exortação de Isaías 30: 21 – quer você se volte para a direita, quer para a esquerda, uma voz atrás de você dirá: este é o caminho, siga-o, nós nos desviamos diariamente. Não me refiro àquela apostasia que nos leva a dar as costas a Deus e ao corolário de nossos dogmas evangélicos. Pelo contrário, estamos mais aferrados a eles do que queremos admitir. Falo, porém, dos desvios da consciência do Seu amor, do Seu companheirismo; falo das vezes tantas em que sem nos apercebermos fazemos substituições sérias e graves de Sua presença e Pessoa por coisas ou outros, sonhos, desejos e planos que correm para longe dEle ou que se interpõem facilmente entre nós e Ele, como substitutos mesmo, que buscamos, mais visíveis, mais perceptíveis ou levianamente mais imediatos do que Ele é para nós e do lugar que ocupa em nossos pensamentos e sentimentos.

Tanto pior isso é para aquela classe de cristãos para quem a gloriosa promessa de ser Ele para conosco o Companheiro chegado quando Se disse Emanuel (Deus Conosco) não passa de retórica bíblica significando no máximo um momento devocional num culto, numa leitura da Bíblia, ou num átimo de ações de graças. E depois disso é o mundo e seus apelos.

Mas a magna revelação do Deus Encarnado descortinou para nós a possibilidade de uma experiência inusitada: a companhia secreta e íntima da Presença Divina, que não está, apenas, mas é sempre, sem lugar ou hora demarcados. Percebida no íntimo do ser. Plena na consciência e nas regiões mais profundas da sensibilidade humana. À mão quando o coração crente apenas balbucia: Senhor!

Junto, porque apaixonado por pecadores a quem Se deu por amor.

DEle nos desviamos sempre. Mas nos desvios da caminhada diária nós O reencontramos sempre quando nos damos conta desses desvios e a Ele retornamos. Ele está sempre à espera, receptivo, como o Pai do filho perdulário que abandonou o lar. Por isso diz: ” Se você voltar, volte para Mim”.

Como a dizer: “Não volte às paixões pessoais que Me substituem dentro do seu peito. Não ponha ninguém ou nada entre nós dois. Volte para Mim.”

A verdade é que jamais outro ou qualquer coisa, fruto de nossas procuras ou cobiças viciadas neste mundo visível e temporal pode nos dar o que Ele é e dá. Sua Presença restaura a alma, satisfaz. Quando Ele é substituído por qualquer outra paixão, há desvio, desatino, insatisfação, frustração que cresce e amarga doentiamente no final.

A cada momento em que nos desviamos de Sua busca e paixão, nos perdemos. Para cada perda há a proposta de reencontro, retorno. Quando diz: “Volte para Mim”, Ele diz: ” Somente Eu. Nem mesmo Minhas coisas, ou o que Me lembra ou representa. Não. Eu só. Nem o Meu culto, Minha obra, Meus símbolos, Minha Igreja, mas, Eu somente.”

É voltar para Ele sempre, crente, em todo o tempo.

Ele e só Ele entre você e Ele. Nem mesmo seus sonhos a respeito dEle. Não os seus desejos nem os motivos de suas orações. Não suas necessidades ou carência de coisas ou de intervenções. Mas Ele.

Você já se deu conta das escadas que usou até agora para chegar a Ele, e que sempre ficaram entre você e Ele? As escadas são os objetos, conteúdos de sua oração. Plenamente razoáveis e justificados para você como para a maioria de nós, porque são conhecidos como filhos, doenças, emprego, relacionamentos, ministérios, desejos, etc. Mas quer tentar voltar-se a Ele sem usar essas escadas?

Sabe por que a maioria de nós usa escadas para chegar-se a Ele, até chorando? Medo de ficar a sós com Ele, sem nada. Porque nós somos ou nos entendemos um amontoado de coisas. E com isso desconhecemos quem somos, e preferimos assim porque temos medo de nos vermos, descobrirmo-nos como somos de fato, sem as coisas.

No entanto, é o que somos de fato que Ele vê e ama em nós.

Assuma este propósito: voltar-se para Ele levando você só, como fez Jacó no vau do Jaboque. Nem os seus, nem o que quer, nem suas coisas. Sem escadas. Só você, e assim possibilitar a Ele que ache sua vida, despida, real, tal como Ele quer.

Experimente voltar-se para Ele, como nunca antes.