Eu sei que poderia usar palavras de nosso domínio semântico como cristandade, cristianismo, e semelhantes. Mas, tanto quanto criou-se entre nós uns neologismos conhecidos por cristocentrismo, cristocentralização, com o intento de dar reforço ao significado do pensamento em termos de acuidade cristã e confessional, preferi partir para esse, que por mais estranho pareça, creio que me serve para expressar um conceito de validade de confissão cristã. Cristianidade serviria para falar do nível de nossa confissão como discípulos de Cristo (algo como: quão cristãos?), e entendo poder avaliar isso à luz de Mateus 11:28 e 29: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.”
Conhecemos bem este texto que chamamos de convite divino. Não gosto do conceito convite porque parece enfraquecer a proposta. Convite é coisa que podemos rejeitar por desinteresse, ou que podemos avaliar se convém ou não. O texto vai além e nos mostra princípios reveladores de nossa conversão, como únicos meios para gerar uma “cristianidade” verdadeira.
O termo cristão não dá certeza de muita definição espiritual nestes tempos. O cristianismo precisa ser conhecido pela “cristianidade” dos seus seguidores. E ela só é verdadeira via estes meios resumidos nesta curta parte do discurso do Filho de Deus.
Dele desdobramos:
O ponto de partida: “Venham a Mim”. Aponta para o chamado à fé. Está muito além de convite. Jesus sempre Se manifestou em Seu ministério pronunciando chamado, e não meramente convidando. Longe de indicar a entrega humana como esse ponto de partida, coloca a iniciativa exclusivamente em Quem chama. O homem apenas atende, pois a iniciativa não nos pertence, exatamente como o Senhor disse: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto…” (João 15:16). E o chamado é pessoal e particular: “Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas…Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora.” (João 10:2-3). Paulo insistiu em nos identificar como sendo frutos de um chamado feito por Deus: “E vocês também estão entre os chamados para pertencerem a Jesus Cristo. A todos os que… são amados de Deus e chamados para serem santos…” (Romanos 1: 6 e 7).
E a consciência da fé que aquiesce com tamanha verdade traduz-se em segurança espiritual. Saber que nossa confissão cristã ocorre porque Deus deu o ponto de partida chamando-nos em Cristo, posiciona nossa vida espiritual nos altos da segurança eterna.
O Comprometimento é o que ocorre a seguir, quando Ele diz: “Tomem sobre vocês o Meu jugo”.
Num primeiro momento, porque o chamado se dirige aos “cansados” e “sobrecarregados”, retemos a idéia de um movimento liberador que nos deixa soltos, leves e descomprometidos na existência, por conta de uma nova fé. Mas ao chamado segue-se um imperativo: “Tomem Meu jugo sobre vocês”. “Meu fardo”. E deixa claro que esse fardo, diferentemente do que trazemos conosco, é leve, pois não cansa nem sobrecarrega. Mas é fato que não ficamos ociosos, vazios. Não. Aí está uma proposta de seguir a vida sob os Seus princípios, com comprometimento e compromissos. E a idéia que subjaz à ordem: “Tomem meu jugo”, é ficar sob Sua canga, atrelado ao mesmo caminhar, na mesma direção para cumprir a mesma tarefa. Como um boi atado a outro por um jugo único, para arar o chão. E de novo, a segurança garantida, pois implica em que a vida será conduzida por Quem a pensou, logo tem tudo para dar certo em seus propósitos sempre. Exatamente como Ele pensou e afirmou: “Eu é Quem sei os planos que tenho para vocês, planos de bem e não de mal…” (Jeremias 29:11).
E o comprometimento há de implicar no ápice do chamado:
CRESCIMENTO. Cresce aquele que aprende. Exatamente o que o verdadeiro cristão experimenta quando vivencia a proposta de seu Cristo: “Aprendam de Mim que sou manso e humilde de coração”. Impossível aprender se não estiver atado ao Seu jugo. Mas é significativo perceber o uso forçado da preposição que segue o verbo: “de Mim”, em lugar de “Comigo”, pois é um processo de observação, com um quê de contemplativo, de admiração embutida nele. Tem começo e jamais termina. E aponta crescimento porque indica SER, antes de fazer. Crescemos para ser e crescemos quando somos. Porque somos e o que somos, fazemos. Por isso Ele disse: “Aprendam de mim que sou…” Ser, é o desafio do cristão, pois o alvo é “Tal como Ele é”. E o crescimento é em duas ordens: humildade e mansidão. Que interessante! Um dia Jesus disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”; e: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mateus 5: 3 e 5).
Há um sinal característico da eficácia dessa cristianidade: Descanso. Ele sinalou: “Vocês encontrarão descanso para suas almas”.
Simples assim.