Os Absolutos da Graça

Há um único texto no Novo Testamento que associa a Graça diretamente à Pessoa de Cristo, sem conexão secundária com o Deus Eterno. Nós o conhecemos bem: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos” – II Coríntios 13:14. Em algumas versões ele é o versículo 13.

De acordo com a NVI temos 24 textos ligando a graça a Cristo, 2 mencionando a distribuição da graça por meio de Cristo. Dos 24, há 15 que associam a um só tempo a Graça a Cristo e a Deus Pai.

Depois encontramos 29 textos que ligam a graça diretamente a Deus Pai, como oferta aos homens por meio de Cristo. Um único texto a atribui ao Espírito Santo. “Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado e insultou o Espírito da graça?” – Hebreus 10:29.

Isto nos acentua a idéia da soberania da graça, que podemos visibilizar melhor nos textos de I Coríntios 15:10 e Efésios 2: 5-9 – clássicos.

Vamos a eles: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo.” (1 Coríntios 15:10)

“deu-nos vida com Cristo quando ainda estávamos mortos em transgressões—pela graça vocês são salvos. Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:5-9).

O que me proponho a compartilhar, como sendo os absolutos da graça de Deus, são os seus pontos indiscutíveis, soberanos. Temos alguns adjetivos significativos acoplados à graça:

Riqueza: “Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus,” (Efésios 1:7)

Abundante (grandiosa) – “E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça” – Atos 4:33.

E expressões paralelas, usando substantivos ou verbos que indicam sua intensidade: abundância da graça (Romanos 5:17) e a graça que superabundou (Romanos 5:20).

Esses textos carregam na idéia de grandeza, intensidade, super-eficiência.

Mas há mais de quatrocentos anos discute-se variações na forma do homem se aperceber e vivenciar a graça salvadora. Geralmente essas variações apontam questões que não atendem aos absolutos da graça. Quais são elas, resumidamente?

1- o tamanho da graça ( É eterna ou temporária?);
2- quem toma a iniciativa na aplicação da graça? Deus? O homem? Os dois se encontram “no meio do caminho”?
3- ela é irresistível ou pode ser resistida?

Estas discussões são intermináveis.

Sobrepondo-se a todas estas questões, temos os absolutos da graça, que significam inegociáveis na fé evangélica, e que deram causa à Reforma Protestante do século XVI.

1- SOMOS SALVOS PELA GRAÇA – É a proclamação repetida de nosso texto de Efésios 2:5-9.

Para dizer que não cabe espaço na confissão evangélica para outro recurso.

– não por obras de fé;
– não por obras de caridade;
– não por obras;
– não por méritos.

Neste particular a graça assume o bendito significado de “favor imerecido”.

2- consequente ao anterior, PROCEDE DE DEUS.
Para dizer que:

– não vem da igreja;
– não vem de mediação sacerdotal humana;
– não vem de anjos ou qualquer outro ser celestial.
– não vem das obras nem do acúmulo de méritos numa sociedade de santos.
– não vem da vontade dos homens.
– não nasce com os homens
– não é inata. É externa e se manifesta a eles.

3- É a graça que REALIZA MUDANÇAS (transformações) e obras. É de que fala o texto de I Coríntios 15:10.

Pode ser entendida, á luz deste texto, assim:

(1) – Ela me faz ser -…”pela graça de Deus, sou o que sou” (SER)

Define o contraste entre passado e presente.
Estabelece o presente.

(2) – Ela é por mim – …”sua graça para comigo não foi inútil”. (FAZER)

Produziu resultados, efeitos – obras (obras provocadas pela manifestação da graça).

(3) – Ela é comigo – …”a graça de Deus comigo”. (ACONTECER) – o resultado contínuo.

“Em mim”, é outra forma de entender.

Finalizando:
Algumas coisas significativas a considerar:
Parece que os grupos opostos nos elementos secundários da graça jamais capitularão um à
“verdade” do outro. No entanto:
– Qualquer que seja a corrente que se opte seguir, o fundamental de que ninguém abre mão é:
A graça salva para a eternidade;
Não é “minha ótica” da graça que opera ou resulta na minha salvação eterna. O que resulta é apenas o tamanho, a têmpera de minha segurança espiritual.