Fim e Princípio

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava com Deus no princípio”. João 1: 1e 2.

Quando fechamos o ciclo do calendário em mais um ano, inevitavelmente nos deparamos com as tensões de fim e princípio. Então os crentes, descrentes dos homens, se voltam para Deus esperando um milagre que altere o rumo do caos. Se pusermos os pés no chão, incluiremos em nossas orações o bom senso para nos

darmos conta de que Deus não põe honestidade em corações ímpios, nem boa vontade altruísta em corações perversos. Não. Nosso Deus não trabalha com mágica e Seu poder não se presta a fazer maravilhas em pocilgas ou currais. Deus age nas circunstâncias, permitindo as consequências dos desatinos humanos, e o bom senso nos leva a orar para pedir que Ele nos guarde de compactuar com a impiedade e viver na graça com sobriedade em meio ao caos. O mundo político em que o evangelho foi formado não era menos corrupto que o do Brasil de nossos dias, nem os desmandos de suas autoridades ímpias e impiedosas eram menos tenebrosos, ainda assim esse Evangelho exortava os crentes a orarem pelas autoridades mas não os induzia a esperar magia, e sim graça em meio às consequências dos desatinos humanos. Em suma, era uma exortação a orar pelos homens mas sem colocar neles sua esperança ou perspectiva de dias melhores. O núcleo da esperança na oração era para que houvesse paz.

De que servem dias melhores se não estivermos melhores do que somos e temos sido, em meio a tais dias? De que servem coisas boas a cercar nosso devir se por dentro de nós as coisas não estiverem tão bem quanto devem? Quê proveito haverá? Qual verdade resultará dessa má equação?

Pensemos em I Coríntios 1: 2 – …aos santificados em Cristo Jesus e chamados para serem santos, juntamente com todos os que, em toda parte, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.

Aí está. É uma questão de princípio. O princípio cristão é Cristo no princípio, e por “no princípio” não devemos pensar na idéia educionista de um momento, de uma virada de calendário, em torno da qual fechamos supersticiosamente nossas orações verbalizadas sem o devido lastro de comprometimento consciente com o princípio que deve reger nossa vida de fé.

Sempre que um ano vai ter início os nossos princípios precisam ser aferidos e reposicionados, se pretendemos que no que nos tange particularmente devemos esperar um fim melhor. Paulo, apóstolo, nos mostra na carta que há um movimento de duplo aspecto: passivo e ativo no princípio cristão. Uma santificação ordenada e perpetrada por Deus na qual Ele nos separa do geral e comum para Si em Cristo, e aí está o movimento passivo quanto a nós, e depois uma resposta ativa, que dá sequência, corpo e sentido ao primeiro movimento e que cabe a nós, vista na expressão “chamados para serem santos”, ou seja, agirem e viverem como tais, como separados, e o lastro vem em seguida: viver o senhorio pessoal de Cristo, Cristo como Senhor e isso em comunhão com aqueles que têm nEle o mesmo senhorio e vivem debaixo da consciência desse mesmo senhorio. Aí está o propósito que compõe o princípio da vida cristã, permeando início e fim de cada ano do calendário de nosso devir.

O princípio cristão é santidade pessoal ao Senhor. Isto está além de conceituação e por mais prático que deva ser não se compromete com dogmas ou formas humanos, mas é real e visível, pontuando a vida do cristão em sociedade, nas diversas áreas em que ele vai e vem, vivendo e agindo em meio a todos, separado das paixões e ambições que são próprias aos demais, mas também como aquele que se sabe sendo um com um “todo” composto pelos que vivem Cristo como o Senhor de suas vidas, no que pensam, falam e fazem. Essa vida de comunhão com os santificados em Cristo é condição sábia para favorecer discipulado, aprendizagem, esforço e estímulo para a fé. É disso que o texto acima fala.

Príncipe da Paz

“…E Ele será chamado…Príncipe da paz” – Isaías 9:6

Este é o último título dado ao Messias nesta profecia de Isaías.

Quando da comunicação de Seu nascimento, o coro angelical cantou: “Paz na terra!”.

Algumas dezenas de anos depois, o apóstolo Paulo dizia a Seu respeito: “Vindo, Ele evangelizou a paz”, ou seja, comunicou que a paz estava estabelecida ou acessível.
No entanto, há mais de dois mil anos a humanidade intensificou e pluralizou conflitos. Não findamos um único dia sem ouvir os noticiários reportando palavras como: bombardeio, tomada de cidade, tropas, guerrilheiros, refugiados… E é fato inconteste que graves carnificinas foram perpetradas na Idade Média em nome do Príncipe da Paz.

Falhou a promessa? Era falsa? De que paz falamos, afinal?

O mesmo apóstolo Paulo nos ensinou, dizendo: “Justificados pois, pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1) e isso explica tudo. O problema da ausência de paz reside na ausência de reconciliação do indivíduo com Deus através da justificação em Cristo. Na verdade, o núcleo da paz é o gerenciador de todas as suas formas: paz consigo; paz com o outro; paz com a natureza; paz com as coisas da vida.

E é relevante considerar o título dado a Jesus com respeito à oferta de paz: Príncipe. Príncipe da paz. Príncipe é palavra derivativa de principal, princípio, primeiro. Fica clara, a meu ver, a proposta de paz: Primeiro com Ele, nEle e a partir daí haverá paz com todos e com tudo. Logo, não houve falha na promessa.

O homem vive em constantes conflitos: da vontade; do pensamento (psíquicos). Do desejo (físico) e do transcendental (espiritual). Estes conflitos, nessa ordem, manifestam-se em sintomas perceptíveis como estresse, patologias emocionais; ganâncias, usura, consumismo, cobiça; angústias, fobias, evitações do invisível e incertezas quanto à eternidade. E então busca temerariamente compensações para cada um deles, em vão. Tais compensações engendram encarceramento mental, financeiro, social (afetivo) e por fim a ansiedade que precipita a morte. E não morre “bem”, por fim.

Falta Jesus no princípio de tudo. Posto como o principal, o príncipe. Esse é o único lugar que Ele ocupa e essa posição é alçada pela vontade consciente do homem, não é um movimento ritualístico, teoria religiosa. Mas um exercício consciente de espiritualidade sadia.

Propalam-se mensagens natalinas ridículas acerca da paz, como a manifestação de estereótipos logorreicos, vazios. Jargões.

Sequer pode haver natal onde Jesus não é Príncipe.

Seja Ele o Príncipe, o primeiro e único em sua vida, em sua família; então haverá Natal, um Feliz Natal agora e sempre.

É nosso desejo, com carinho,