Comunhão

Conhecemos o conceito como uma idéia. Teologicamente, ele é derivado da palavra grega koinonia. Tentamos traduzir comunhão com imagos bíblicas como a Santa Ceia, o Salmo 133; e por força de nossa piedade evangélica queremos reproduzi-la, entre os crentes ou parentes, para nos sentirmos mais biblicamente confortáveis. Em especial em épocas comemorativas-padrão como os dias que encerram o ano. Temos até um título oficial para o primeiro dia do ano: Confraternização Universal. Tudo muito positivo e bonito. Mas onde o lastro de sua realidade e eficácia?

O que marca uma comunhão verdadeira e espiritualmente pertinente? Eventos? Encontros? Esforços humanitários? Reuniões de pessoas e grupos? São válidos, mas apenas tentativas circunstanciais sem fixidez nem fluidez. Cessam após a agenda ou programa.

Anos a fio as igrejas históricas evocaram sobre a vida dos crentes ao final de cada culto, a conhecida oração de Paulo, cunhada como “bênção apostólica”, registrada no último verso da segunda carta aos coríntios, onde a última fala diz: “…a comunhão do Espírito Santo seja sobre todos vocês”. Embora nem sempre concretizada, expressa a única verdade possível por detrás da perspectiva e esperança de comunhão: o mover, o habitar, o lugar do Espírito Santo de Deus na vida de cada um que pretenda comunhão com outros. Somente vidas impregnadas pelo Espírito Santo de Deus, em comunhão com Ele, com esta Pessoa da Trindade, santa como diz seu Nome-título, e sensível ao homem dentro de Sua santidade, de maneira que pode ser absorvido como água em profusão até o transbordamento, ou resistido, entristecido ou apagado; somente vidas em comunhão com Ele, repito, podem ser instrumentos de comunhão com os demais. E se atraem mutuamente.

Minimamente falando, comunhão significa ter em comum. Comunhão pretendida sobre estereótipos ou formas comportamentais não é eficaz nem permanente. Biblicamente falando, sequer possível como tal. Não basta tentar comunhão através de um programa comum a vários, ou por meio de coisas que nos aproximem ou assemelhem. À luz da Palavra de Deus, a comunhão é real e possível, plena e eficaz, quando vivenciada por aqueles que têm em comum o Espírito Santo de Deus e os valores que Ele aprova. Todo ajuntamento, de qualquer ordem, religioso ou profano (comunitário, social, parental) que não tenha o Espírito por lastro, não redunda nem corresponde à comunhão, nos termos revelacionais da Palavra de Deus. É apenas ajuntamento, e suas razões ou motivos não estão sob a égide da determinação divina, e esta é a razão por que não formam corpo, unidade. Talvez camaradagem seja a palavra que defina melhor o ajuntamento.

O que for diferente de comunhão, é apenas frustrante e passageiro arremedo. Pode ser traduzido por união, encontro; mas a comunhão se traduz em unidade, e isto nada tem a ver com ajuntamento extemporâneo de pessoas.

Outro tanto, vale questionar: por que e para que comunhão? Primeiramente porque Jesus estabeleceu a comunhão como sinal de que somos dEle, e insistiu nela rogando ao Pai esse espírito de unidade entre os crentes, conforme nos mostra João 17. Atentemos ao verso 21: “…para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” E a razão se intensifica à luz do verso 23: “…eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste.”

Tem mais. O salmo 133 decide que na experiência de comunhão com os irmãos e nela, reside a possibilidade das bênçãos de Deus a serem derramadas, quando diz: “…Ali o Senhor concede a Sua bênção.” (V.3). O Espírito do Senhor é Deus da comunhão. Ele aproxima as pessoas nas quais flui, e elas se procuram.

Neste ano novo, busquemos atender à Palavra que convida: “Encham-se do Espírito” (Efésios 5:18) para que, tendo comunhão a viabilizar, recebamos sobre nossas vidas a aprovação da exclamação do salmista, que expressa admiração: “Oh, quão bom e quão suave é…” (Salmo133:1), de maneira que nossa vida de comunhão real, seja um culto constante a Deus.