“Dêem fruto que mostre o arrependimento!” Mateus 3:8
Arrepender-se ou arrependimento, é o imperativo que reverbera pelos evangelhos, livro de Atos, e escoa em Apocalipse. Parece que propositalmente distribuído de forma a acentuar a mensagem que insiste com o ser humano em todos os lugares a que se arrependa. Desde João Batista a Pedro, passando por Jesus, ele ecoa.
Com nosso costumeiro mau hábito evangélico de esvaziar o sentido real da terminologia da comunicação escriturística por vulgarizá-la via os tecnicismos que lhe atribuímos, fizemos de arrependimento um conceito carregado de sentido emocional, tal como amar. Imprimimos a estas palavras um sentido afetivo e assim as tornamos inviáveis em suas funções.
Arrepender-se é mudar de idéia (metanóia), voltar-se para o pensamento de Deus, em substituição ao nosso, que nos conduz. Não é sentir tristeza, compulsão, cair em prantos, pesar, e daí lamentar. O sentido de “tristeza segundo Deus que opera arrependimento”, antes de falar de um sentimento mórbido por detrás ou antecedendo o arrepender-se, aponta para uma desistência, um abrir mão daquilo que pretendíamos como nossa determinação, intencionalidade que contraria a proposta divina. Aponta para um esvaziar de sentido, uma troca de vinculação que equivale a fazer do que redundaria em prazer, razão para o entristecimento. É constranger-se, por fim.
De sorte que arrepender-se só é eficaz numa tomada de posição, uma atitude racional e consciente, não um movimento passional e passivo. É operante. Frutos, atitudes. Somos exortados ao arrependimento, e com certeza o Espírito de Deus nos predispõe a ele. Arrependemo-nos quando permitimos o desistir (renúncia) de nossas razões motivadoras para dar lugar às razões de Deus.