Não compete a vocês saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade…” – Atos 1:7
Há uma explícita tensão entre autoridade divina e obediência humana. A autoridade divina está inerentemente ligada à soberania, e a obediência humana, que é uma resposta consciente, ao espírito servil ou submisso da vontade humana a essa autoridade soberana.
A tensão, que em casos singulares assume o caráter de conflito, reside mais no fato de que a obediência tem a tendência de questionar, de pretender entender antes de atender, porque este é um movimento inevitável de necessidade de controle que o ser humano tem. No entanto, se há controle, não há obediência, porque a soberania prescinde do controle, quando se trata de Deus.
E isso pode ser atestado em textos bíblicos como Jó 42:2 – “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos Teus planos pode ser frustrado”, ou Romanos 9:19 – “…Pois quem resiste à Sua vontade?”. Podemos ainda acrescentar Salmo 115:3, entre tantos outros mais: “No céu está o nosso Deus e tudo faz como Lhe agrada”(ARA).
À vista destes textos, alguns assumem que a vontade de Deus é irresistível e que por fim prevalece à revelia da resistência humana, mas os fatos bíblicos históricos e seus apelativos à obediência por fé, provam que a vontade humana precisa capitular conscientemente à vontade divina para que esta se cumpra. Tanto o Israel antigo nos prova isso, e os 40 anos de sua peregrinação pelo deserto a caminho de Canaã são o veredito final, quanto nos deparamos com apelos do nível de Hebreus 3:15 – “Se hoje vocês ouvirem a Sua Voz, não endureçam o coração, como na rebelião”. Ou Atos 7:51 – “Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo”.
Ao que parece, a vontade humana oferece resistência, porque alimentando a necessidade de controle está o enfraquecimento da fé. A soberana vontade de Deus (que Paulo postulou como boa, agradável e perfeita) não investe em sinalizadores que bloqueiam a capacidade de crer e depender, uma vez que dando visibilidade à fé, inibem ou anulam o processo de construção da esperança, no qual Deus investe sempre, porque “esperamos o que não vemos” e isto é um atestado de investimento nosso em confiança no caráter divino. Creio que é onde também entra a máxima do profeta Samuel: “Obedecer é melhor que sacrificar”.
O próprio Senhor Jesus deixou clara Sua rendição consciente à vontade de Deus Pai, quando orou dizendo: “Se não for possível que este cálice passe de mim sem que eu o beba, seja feita a Tua, e não a minha vontade”. E isso depois de afirmar, semelhantemente a Jó: “Tudo Te é possível!”. Outro tanto Hebreus registra que Ele, Jesus, “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu”.
Sempre haverá essa tensão: a vontade de Deus precisa e deve ser cumprida, pois atende a um propósito elaborado na eternidade que envolve a nossa vida. Cumprir-se-á, se obedecida. Foi tudo quanto nos ensinou o Senhor: “…seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu”. Isto prescinde de sinais e garantias. É rendição e confiança.