A frase, extraída de uma antiga tradução da Bíblia em português, foi cunhada por Érico Veríssimo, como título de seu mais famoso romance lançado em 1938. Ela foi originalmente ditada pelo Senhor Jesus, como encontramos em Mateus 6:28. Em versões mais atualizadas, como a NVI, foi impressa na forma: “…Vejam como crescem os lírios do campo…”, conotando exclamação exortativa, onde o Filho de Deus assevera que o cuidado do Pai Celestial, em Seu fino labor ao criar e preservar os lírios, se agiganta a favor dos que nEle confiam, capaz assim de prover roupa, cobertura, que pode superar à de Salomão, feita à força do poder de sua riqueza.
Embora num primeiro momento, dentro do contexto do discurso registrado em Mateus 6, procuremos na exortação apenas o conforto da promessa que nos assegura cuidado divino, há muito mais que isso na proposta, daí ela assumir caráter exortativo. Até mesmo por conta da comparação entre o lírio e o vestuário do rei Salomão, onde Jesus sobrepõe aquele a este, a temática é a exortação contra a ansiedade, que a complexidade da vida, como engendrada pelos homens, produz. Outro tanto, exorta à simplicidade onde reside descanso e beleza. Veríssimo captou esta mensagem e desenvolveu seu romance em torno da vida de seu personagem que se perdeu nesse caminho, perdeu o sentido de simplicidade da vida, e perdeu-se na trama de suas complexidades ditadas à força de cobiça e vaidade, os dois grandes inimigos da simplicidade e outro tanto fomentadores da sobrecarga existencial.
Sei de uma coisa: Hoje esta exortação imprescindível do Filho de Deus enfrenta resistência férrea, a começar pelo fato de que os que vivem ansiosos pelas sobrecargas existenciais em torno das quais projetaram e procuraram desenvolver seu devir, não têm espaço cronológico para a contemplação, e tanto menos espaço geográfico para a observação, porque lhes faltam campos e outro tanto os lírios.
Pela graça de Deus estou no extremo oposto. Habito num cenário que convida à contemplação. Quando as pressões da mídia consumista através de seus sedutores tentáculos começam a pretender me dizer que “tenho de ter” e que é indispensável “adquirir”; quando o contexto social começa infectar ditando que as grifes ditam os valores, posso olhar os lírios do campo, e me vejo neles, porque no meu contexto, eles florescem à beira de rios, em pequenos brejos.
Despontam alvinitentes em meio ao lodaçal. Sobem em direção ao sol e projetam seus cálices transbordantes de atraente perfume, muito acima do lodo e degradação. Então vejo sua beleza natural, não forjada por homens (sem grife), espontânea e gratuita. E lembro que o Filho de Deus me disse: “O Pai os fez e deles cuida. Você importa mais que eles, e Ele não faz menos a seu favor”.
A simplicidade da vida não tem preço. A sua complexidade, caminhos inventados, tem beleza fútil, cara demais, em alguns casos pagável a custo de altas dívidas, e que por fim cobra a conta final do desprazer e do “correr atrás do vento”.
Filhos de Deus, olhem os lírios no campo! Deixem que Deus os use para falar aos seus sobrecarregados corações. Saiam do asfalto. Pisem no chão de terra. Vivam! Como servos, sem pretensão de ser reis.