Simples…Assim

“Sejam símplices como as pombas…” – Mateus 10:16.

Se você prestar mais atenção perceberá que o oposto da simplicidade é a complexidade. Que esta traz no seu bojo sempre, a sobrecarga, tanto de haveres quanto de deveres. E mais: Você pode se dar conta de que a simplicidade é inata ao ser humano, que dela desiste por influência externa ou por observação do externo.

Se temos que aprender com pombas… o que elas têm a nos ensinar? Não muito.  E exatamente por isso: são simples, diferentemente de outras aves. Elas procuram agregar-se a ambientes humanos para usufruirem as benesses destes. Fazem seus ninhos o mais próximo possível de construções humanas, ou mesmo dentro delas. Andam e voejam por seus quintais e praças. Entre usarem as águas de um regato ou de lagos citadinos, é nestes que elas preferem se banhar. Como se elas e nós fôssemos assemelhados. E aí está, a meu ver, o ponto mais conclusivo da simplicidade das pombas, pois deixamos de ser simples quando voltamos nossa consciência para a auto-importância que nos impõe ver o outro como diferente. Para mais (e então buscamos superá-lo) ou para menos (e sobre ele triunfamos).

Consigo equiparar pardais a pombas, no quesito simplicidade. Mas não vejo simplicidade nas andorinhas, nos sabiás, nos sanhaços, nos joãos de barro, estes com suas casas artísticamente artesanais. Por mais belos que sejam, e por isso mesmo, simples não são. Pombas são simples, desprendidas, entregues. O faisão está para a riqueza quanto a pomba está para a pobreza, até mesmo nos rituais dos sacrifícios da Lei de Moisés.

Jesus nos diz: sejam como elas.

Porque a contramão da simplicidade traz grife, luxo, luxúria, endividamento, sobrecarga, prazeres que desembocam em dissabores, ansiedades, fobias, depressão pós euforia consumista, soberba da vida, jactância e tudo mais que   não presta. Traz poder, mas este não traduz força.

Sempre gostei de pensar no fato de que ser simples é barato, e tudo que não é simples é caro, mas sem valor real. O valor é só aquele que é atribuído. Isso vale para coisas e pessoas. Por ser caro, o não-simples é efêmero: no uso e no tempo.

Já percebi que diferentemente do sofisticado, o simples está carregado de afeto.  O sofisticado costumeiramente é frio, seja objeto ou gente. E quando objeto, o afeto é aquele que ele pode inspirar. Positivo para o simples, com certeza, mas só para o simples.

Melhor é ser barato, ou se arriscar a cair nas palavras do Filho de Deus: “Assim é  o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus.” – Lucas 12:21. Este troca a simplicidade por um vazio.

Fomos chamados a ser pombas. Não faisões, nem pavões. Ovelhas. Nunca lobos.