Espírito e o Discípulo | Atos De Discípulos (14)

“Os que haviam sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem. Indo Filipe para uma cidade de Samaria, ali lhes anunciava o Cristo. Quando a multidão ouviu Filipe e viu os sinais milagrosos que ele realizava, deu unânime atenção ao que ele dizia. Os espíritos imundos saíam de muitos, dando gritos, e muitos paralíticos e mancos foram curados. Assim, houve grande alegria naquela cidade…No entanto, quando Filipe lhes pregou as boas-novas do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, creram nele e foram batizados, tanto homens como mulheres. O próprio Simão também creu e foi batizado, e seguia Filipe por toda parte, observando maravilhado os grandes sinais e milagres que eram realizados… Um anjo do Senhor disse a Filipe: “Vá para o sul, para a estrada deserta que  desce de Jerusalém a Gaza”. Ele se levantou e partiu. No caminho encontrou um eunuco etíope, um oficial importante, encarregado de todos os tesouros de Candace, rainha dos etíopes. Esse homem viera a Jerusalém para adorar a Deus e, de volta para casa, sentado em sua carruagem, lia o livro do profeta Isaías. E o Espírito disse a Filipe: “Aproxime-se dessa carruagem e acompanhe-a”…Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe repentinamente. O eunuco não o viu mais e, cheio de alegria, seguiu o seu caminho. Filipe, porém, apareceu em Azoto e, indo para Cesareia, pregava o evangelho em todas as cidades pelas quais passava.”  Atos 8:4-8, 12-13, 26-29, 39-40

O ambiente de Atos é o cenário do Espírito Santo. Ele ocupa o centro das ações como o protagonista do livro, de tal forma que muitos estudiosos disseram que o livro deveria se chamar “Atos do Espírito Santo”, porque, de fato é esta Terceira Pessoa da Trindade Santa Quem Se destaca e age, desde que é citada em 1:8 até o final da narrativa. Ele opera a Igreja e na Igreja. Nós O vemos agindo incessantemente e criando uma familiaridade com os discípulos que parece cumprir literalmente a promessa: “E eu pedirei ao Pai, e ele dará a vocês outro Conselheiro para estar com vocês para sempre” – João 14:16. E aí está Ele, fazendo esta missão de estar com a Igreja em substituição ao Senhor.  Outro,  aqui, parece funcionar como “também Este”. Ele decide, Ele faz acontecer, determina, convoca, potencializa: realiza! E a Igreja comporta-se ciente de que  não pode passar sem Ele.

Entra em foco outro discípulo: Filipe. Já tínhamos visto seu nome na diaconia, distinguido como um dos escolhidos por ser reconhecidamente cheio do Espírito.  E as cenas que ele desenha com sua vida e serviço, frisam para nós o que pode e faz o Espírito na vida do discípulo.

Duas vezes a narrativa salienta que Filipe era usado pelo Espírito para operar sinais milagrosos com grande destaque para cura. Mas antes de apontar para este fato que chamava a atenção dos ouvintes, destaca que ele pregava, o povo o  ouvia e cria. Pregava o evangelho. Pregava, e batizava os que criam. E com isso a gente percebe que o serviço deste discípulo estava marcado por esse trinômio: pregação, batismo e sinais milagrosos. Nesta ordem. O Espírito realizava todas estas coisas em Filipe, por meio dele e com ele. Mas há outra coisa a apontar  aqui: a movimentação de Filipe. Começa com esta singular forma  de mostrar como literalmente se cumpria nele o que Jesus ordenou: “Indo, façam discípulos”. Veja o texto, de novo: “Indo Filipe para uma cidade de Samaria, ali lhes anunciava o Cristo”. Uma vez em Samaria, Filipe não ficava num mesmo lugar, pois o texto diz que ele era seguido “por toda parte”, por Simão, o mágico. Depois o vemos seguindo para Gaza, tendo recebido orientação de um anjo para dirigir-se até lá, e antes de chegar, onde nem mesmo entra, encontra um oficial da Etiópia, prega-lhe o Evangelho e o batiza. Foi o Espírito que disse no ouvido de Filipe que se chegasse ao etíope. Ato contínuo, arrebata-o e o faz aparecer em Azoto, onde não fica, mas segue para Cesárea, e ali, “pregava o evangelho em todas as cidades pelas quais passava”. Todas as cidades pelas quais passava. O homem não cessava. O que desponta é esse movimento contínuo, sempre soprado pelo Espírito, de forma até assombrosa. Vai abrindo frentes, por onde passam outros e vão consolidando o seu trabalho iniciado.

A ação do Espírito na vida de Filipe testifica e autentica de forma literal a Palavra que Jesus comunicou a Nicodemos, deixando claro que essa palavra é pertinente e caracteriza todo, toda, que é nascido do Alto: “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito”.- João 3:8. Temos o mau hábito de ler este texto fazendo transferência de seu significado. Transferimos e o reduzimos como pertinente a crentes que têm um chamado ministerial ou missionário. Isto parece adequar-se mais à ideia de que para Deus somente algumas pessoas podem ser movidas, deslocadas de seus enraizamentos. Deixamos de nos conscientizar de que o título “ministerial” dado por Jesus àqueles que são deslocados pelo Espírito é “nascidos do Espírito”. No entanto, lemos, cremos e confessamos que

“nascidos do Espírito” é característica imprescindível e determinante para que alguém seja de Cristo, cristão genuíno, discípulo.

O Espírito está livre e expansivo como o vento na vida do discípulo, para soprar nele e movê-lo quando e para onde quiser. É assim que Ele nos faz cumprir a determinação do Senhor: “Indo, façam discípulos”. Com sinais ou sem eles, pregando as boas novas. À semelhança de Filipe, nosso “indo” não tem que necessariamente ser um lugar aqui, outro acolá. Na atualidade, dentro desta geração entre a qual vivemos, nosso “indo” ocorre todos os dias. Nos dias de Filipe, percorrer três, quatro quilômetros para chegar a um povoado ou encontrar uma carruagem para contatar seu usuário, requeria uma intervenção sobrenatural de Deus, arrebatamentos, e tais. Hoje, nossos veículos, ônibus, táxis, Uber, avião, nos levam a distâncias antes impensáveis no decurso de horas, apenas. E cada um desses movimentos representa nosso “indo”. Se neles há um discípulo, por certo há o Espírito. Para ser um Filipe, resta ouvir Paulo: “Deixem-se encher!” E então o mais Ele fará!