A Fé Surpreendida | Atos de Discípulos (15)

“E Saulo estava ali, consentindo na morte de Estêvão. Naquela ocasião desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e de Samaria.”- Atos 8:1.

“Enquanto isso, Saulo ainda respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor. Dirigindo-se ao sumo sacerdote, pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, de maneira que, caso encontrasse ali homens ou mulheres que pertencessem ao Caminho, pudesse levá-los presos para Jerusalém. Em sua viagem, quando se aproximava de Damasco, de repente brilhou ao seu redor uma luz vinda do céu. Ele caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?” Ele respondeu: “Eu sou Jesus, a quem você persegue. Levante-se, entre na cidade; alguém dirá o que você deve fazer…e, depois de comer, recuperou as forças. Saulo passou vários dias com os discípulos em Damasco…Logo começou a pregar nas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus. Todos os que o ouviam ficavam perplexos e perguntavam: “Não é ele o homem que procurava destruir em Jerusalém aqueles que invocam este nome? E não veio para cá justamente para levá-los presos aos chefes dos sacerdotes?” Todavia, Saulo se fortalecia cada vez mais e confundia os judeus que viviam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo.”- Atos 9:1-6; Atos 9:19; Atos 9:20-22.

Certa vez Jesus afirmou: “Também digo que, se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso será feito a vocês por meu Pai que está nos céus.” – Mateus 18:19.

Dentre tantas coisas extraordinárias que envolvem a dramática conversão de Saulo de Tarso, destaco a igreja de Damasco diante deste quadro inusitado. O texto de Atos nada nos diz sobre ela como igreja, neste momento. Apenas cita que ela existia e era o endereço certo para a fúria persecutória desse exator religioso, cuja perseguição estava generalizada contra os cristãos conhecidos como os do Caminho. Lucas se serve de uma figura de linguagem incomum para descrever o que movia o algoz contra o povo de Deus: “Enquanto isso, Saulo ainda respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor”. O impulso a que ele atendia era ódio. Ódio religioso. E na força desse ódio parte para cumprir sua sinistra missão. “Respirava ameaças de morte”, foi a forma achada pelo narrador, que era médico, para falar daquilo com que Saulo nutria suas aspirações. Se respiramos para viver, ele torturava cristãos, para respirar.

É onde paro pensando na Igreja de Antioquia, fruto do discipulado dos que fugiram de Jerusalém debaixo de tão acirrada perseguição. Famílias inteiras: jovens, mulheres e homens. Damasco se deparou como um possível refúgio protetor por estar além das fronteiras. Mas o ódio religioso não respeita fronteiras, e por isso Saulo para ali vai, com escolta e devidamente autorizado para prender e “arrastar” essas criaturas pacíficas, para Jerusalém. Ali lhes estaria reservado injusto julgamento e provável morte insana, à semelhança daquela de que Estêvão foi precursor.

Penso que a igreja refugiada já estava devidamente avisada de que a perseguição estava em seu calcanhar. Penso nas reuniões de oração movidas pelos familiares cristãos reunidos, buscando no Senhor livramento e graça para suportar. Talvez  esperando um livramento semelhante ao dos antigos israelitas, encurralados entre Faraó e o Mar Vermelho. As notícias trágicas eram bem frescas. Quantos deles, tendo escapado da perseguição em Jerusalém, devem ter chegado junto aos irmãos em Antioquia, descrevendo com cores vivas o drama assistido, do qual puderam fugir!

Mas penso nessas vigílias de oração da igreja, precursora da Igreja Subterrânea dos lugares onde ainda hoje ela existe tentando sustentar sua fé e paixão, fazendo o que lhes pode custar a liberdade e até a vida. A Igreja em Damasco, com certeza orava a Deus. Então tento imaginar o teor de sua súplica: “Se for possível, Senhor, afasta de nós este cálice sem que o bebamos!” Permito-me pensar nas esperanças várias que ditavam o teor das orações. No mínimo deviam dizer: “Olha para a ameaça desse homem mau, enquanto estendes a Tua mão para operar sinais…” Ou, ainda mais pretensiosas: “Não deixes que ele chegue a nós. Afasta o cálice, Senhor”. Aí está um modelo mais contemporâneo, nesta última.

De repente, reunida a Igreja, eis que pelas portas da casa entra o irmão Ananias, acompanhado por um jovem cujo rosto temível alguns já deviam conhecer. Perplexos, encolhem-se, talvez. E antes que abram a boca, Ananias fala, e diz: “Este é o nosso mais novo irmão no Senhor. Acabo de batizá-lo, pois se converteu a Cristo Jesus”. Saulo, agora Paulo, apequenado, olha para eles, olhar brando, despido de fúria, e diz: “Graça e paz, irmãos, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, Aquele de Nazaré, que me achou no caminho para aqui, e mudou meu caminho, vida e coração.” Muito belo, e não tanto irreal, porque nosso texto se encerra dizendo que ele entrou ali e: “Saulo passou vários dias com os discípulos em Damasco…Logo começou a pregar nas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus“.

Creio ter sido esta a primeira e mais extraordinária experiência da Igreja com a oração que cumpre a Palavra quando diz: “… Muito pode, por sua eficácia, a súplica de um justo.” – Tiago 5:16.

Muito Além da Mediocridade

Isaías 32:8 – “Mas o homem nobre faz planos nobres, e graças aos seus feitos nobres permanece firme”. Ou, numa tradução literal – “O nobre planeja nobrezas; e ele sobre coisas nobres terá existência.”

 

Este texto me move a uma reflexão temática dada sua proposta urgente para um tempo de desvalores, de empalidecimento das cores de nossa honra como homens e mulheres evangélicos nesta geração.

Medíocre é uma palavra que incomoda sem ofender, mas que consegue ferir o orgulho pessoal quando aplicada a pessoas ou ações humanas. Significa primariamente aquilo que está entre o bom e o ruim, ou que é sofrível.

Embora seja um adjetivo antipático, via de regra as pessoas se acomodam ou preferivelmente se ajustam a esta classificação, pelo simples mas lamentável fato de que a mediocridade, ou atuar de forma medíocre, dá menos trabalho, atende à necessidade, “dá para o gasto”.

Contudo ninguém tolera a ideia de receber um salário medíocre; de ser visto e tido por medíocre; de receber uma gratificação medíocre ou uma classificação medíocre sobre sua realização. Tanto pior a ideia de ter um filho medíocre; um pai ou mãe medíocres.

Mas…e quanto à fé? Suportamos uma fé medíocre?

Jesus classificou as obras de uma igreja inteira e a própria igreja como medíocre, quando ela aprovava a si mesma: Laodicéia, a quem definiu como morna – Apocalipse 3:16.

Podemos aceitar e conviver bem com uma espiritualidade medíocre?

Creio ser importante lembrar que o fato de sermos chamados a crer em Cristo Jesus, estabeleceu um convite para andarmos como Habacuque: “Sobre as minhas alturas, ou altaneiramente”. Para avaliarmos isso, quero pontuar a diferença entre o medíocre e o excelente na espiritualidade cristã.

NO EXERCÍCIO DA FÉ

Mateus 5:41 – “Se alguém lhe convidar a andar uma milha, anda com ele duas!” Sempre estará diante de nós a opção de não ser necessário ou importante ir além do que nos é requerido ou esperado de nós. Ainda há aqueles que se satisfazem a ficar aquém, ou no máximo agir até o mínimo necessário, apenas. Ou nada fazer.

Na obra de Deus;

No ser servo e útil;

Nas contribuições, orações, vida devocional.

E a mediocridade confessional? Ela transita pela magia, pelo imediatismo, pela visibilidade que dispensa a esperança. Faz-nos lembrar a palavra de Jesus para Tomé  em João 20:29. “Por que viste, creste? Bem-aventurados os que não viram  e creram”. Não há nobreza na confissão que precisa ter sinais, visibilidade para crer!

NO TESTEMUNHO DE VIDA

Neste particular, a nobreza está em pensar, avaliar e reavaliar valores morais. Ouçamos o que disse o Filho de Deus em Mateus 5:20. “Se a justiça de vocês não exceder a dos fariseus, de maneira nenhuma vocês entrarão no Reino de Deus”. Aqui ele usou o verbo exceder, que traz em seu núcleo o conceito de excelência.  E vale para muitas áreas mais. É duro constatar que existem pessoas em nossa sociedade que, sem compromisso algum com a fé evangélica, trazem uma justiça comportamental superior a de crentes na gentileza, no trato com o outro, na linguagem, no comportamental, na lucidez, na atenção e no zelo por não se  deixar levar por veículos populistas e medíocres que nada acrescentam à inteligência ou às boas maneiras. São autênticos e sinceros representantes da justiça dos fariseus, que clama contra nós diante do Deus Eterno e Santo, que é nosso Pai.

Mas a mediocridade inclina o crente a eleger companheiros de conteúdo  medíocre, com os quais se nivela, esquecendo a Palavra que diz: “As más companhias corrompem os bons costumes”. Noutro extremo o salmista disse: “Meus olhos procurarão os fiéis da terra para que estejam comigo”.

Aponta a santificação pessoal e a sabedoria que precisam ser notórios no crente: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.”- Mateus 5:16; “para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo,” – Filipenses 2:15.

Também na autenticidade de sabedoria espiritual. Jesus afirmou em Lucas 7:35, que a sabedoria é conhecida por seus filhos. Menos do que isso é ser medíocre.

NO ENVOLVIMENTO COM O REINO DE DEUS

Muitos de nós entendem que é bastante tratar o Reino de Deus periféricamente. Por periféricamente aludo à superficialidade, ausência de espontaneidade, de criatividade, de voluntariedade. Entendem que doar coisas, dinheiro, assistir a cultos, são suficientes para atender ao que Deus pretende como envolvimento. Nada que não nos desinstale ou mesmo aquilo que usamos para nos representar, está acima de ser medíocre no serviço cristão. Jesus aponta essa perspectiva de excelência quanto ao Reino na parábola registrada em Mateus 13:44, quanto ao homem que achou no campo uma jóia de grande valor. “Vendeu tudo o que tinha  e comprou o campo”, é como Ele compara aqueles que têm no Reino de Deus a supremacia de suas vidas.

Paulo aponta essa excelência quando fala dos macedônios e sua visão do Reino, em II Co. 8:1-5, onde descreve que eles do extremo de sua pobreza, ofertaram para os irmãos sofridos de Jerusalém.

Mas alguns se contentam em viver as realidades espirituais como ilustra o encontro do rei Jeoás com o profeta Eliseu, em II Reis 13: 18 e 19. O profeta orientou o rei a lançar flechas pela janela com seu arco. O rei pegou apenas três flechas em sua aljava e as atirou. O homem de Deus ficou irritado e o repreendeu dizendo que ele só feriria os sírios três vezes, pois reputou por suficiente esse investimento minguado de sua fé.

Deus pensou e pretendeu muito mais a nosso respeito, meus irmãos. Ele planejou coisas nobres para realizarmos.Foi o que Ele disse em Jeremias 29:11: “Eu é que sei os planos que tenho para vocês. Planos de bem e não de mal”… Deus  planejou coisas nobres para realizarmos. Ele não pensa de forma medíocre, porque é excelente.

Há uma máxima bíblica que serve como aferidor de nossa posição espiritual: ela  se encontra em I Coríntios 15:19: “Os que esperam em Cristo somente quanto às coisas desta vida, são os mais infelizes de todos os homens”.

Sabe por que não pode ser medíocre? Porque tudo o que você é e faz, é culto, adoração. Tem de acontecer para o louvor da glória Dele.

Precisamos nos posicionar nesta geração como vidas nobres, crentes que atendem à exortação que diz: “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas.” – Filipenses 4:8.