Havia em Cesaréia um homem chamado Cornélio, centurião do regimento conhecido como Italiano. Ele e toda a sua família eram religiosos e tementes a Deus; dava muitas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus. Certo dia, por volta das três horas da tarde, ele teve uma visão. Viu claramente um anjo de Deus que se aproximava dele e dizia: “Cornélio!” Atemorizado, Cornélio olhou para ele e perguntou: “Que é, Senhor?” O anjo respondeu: “Suas orações e esmolas subiram como oferta memorial diante de Deus. Agora, mande alguns homens a Jope para trazerem um certo Simão, também conhecido como Pedro, que está hospedado na casa de Simão, o curtidor de couro, que fica perto do mar”. Depois que o anjo que lhe falou se foi, Cornélio chamou dois dos seus servos e um soldado religioso dentre os seus auxiliares e, contando-lhes tudo o que tinha acontecido, enviou-os a Jope.” … “Os homens responderam: “Viemos da parte do centurião Cornélio. Ele é um homem justo e temente a Deus, respeitado por todo o povo judeu. Um santo anjo lhe disse que o chamasse à sua casa, para que ele ouça o que você tem para dizer”…“Assim, mandei buscar-te imediatamente, e foi bom que tenhas vindo. Agora estamos todos aqui na presença de Deus, para ouvir tudo que o Senhor te mandou dizer-nos”. – Atos 10:1-8; 22;33.
Acredito que o ponto de maior destaque nesta narrativa reside no fato de um anjo dizer a Cornélio que suas orações estavam diante de Deus como um memorial, e que, portanto, deveria ele procurar por Pedro a fim de ouvir o que ele tinha para dizer-lhe.
Algumas situações impõem-se na forma de questões: Por que orações em memória? Por que o anjo de Deus que trazia o que parecia uma resposta, nada diz a Cornélio acerca das coisas que ele ouviu de Pedro, ou seja, a Pedro foi delegada tal tarefa?
Não pretendo especular. Mas pensar nesses eventos de forma direta, encarando- os tais como se nos são apresentados.
Quanto à primeira questão, o texto nos diz que Cornélio era temente a Deus, ele e toda a sua casa. Conhecedor dos ensinamentos do judaísmo. Interessante a forma como ele traduz para Pedro a experiência que teve quando da visita do anjo. O anjo lhe havia dito: “Tuas orações e esmolas subiram como oferta memorial diante de Deus”, e ele reproduz a fala, dizendo: “Deus ouviu sua oração e lembrou-Se de suas esmolas”. Concordo que não há sensível alteração numa forma ou outra, mas persiste a questão do memorial.
Todos nós, num ou noutro momento temos a sensação de que nossa oração a Deus fica sem resposta, em especial aquela que fazemos investindo na urgência. Nem tudo o que dizemos ou pedimos a Deus está calcado na urgência, mas maioria das vezes, sim. Quando nos parece que a resposta não veio, optamos via de regra por decidir que Deus não ouviu. Esta decisão é responsável maior parte das vezes pela inconstância das orações ou mesmo seu desuso por parte de grande parcela de cristãos.
Algumas situações impõem-se sobre nossa fé neste quesito:
- Deus nunca está comprometido quanto a nos responder segundo nossa expectativa, mas sempre nos ouve conforme Sua vontade que é boa, agradável e perfeita. Por isso mesmo confiou ao Espírito Santo o interceder por nós, traduzindo nosso clamor (Romanos 8:26);
- O tempo de Deus quanto à nossa história pessoal e suas circunstâncias, não está comprometido com nosso calendário;
- Deus jamais deixa de ouvir-nos. Sua Palavra afirma: “Ó, Tu que escutas as orações…” (Salmo 65:2); e mais: Ele Se comprometeu a sempre ouvir – “Estarão atentos os meus ouvidos à oração que se fizer neste ..” (II Crônicas 7:15).
Depois, temos por certo que o memorial que dizia respeito às orações de Cornélio também nos alcança quanto às nossas, porque a resposta divina passa sempre e invariavelmente pelos Seus meios, formas, mecanismos, recursos e veículos. Foi o caso de Cornélio. Não sabemos o teor do que ele pedia, mas na resposta divina podemos depreender que tinha a ver com sua sorte espiritual, e da sua casa, quanto à vida eterna. E é então que pensamos na segunda questão: Por que Pedro e não o anjo mesmo que foi enviado, é quem teve de ir pregar a salvação em Jesus a Cornélio e sua família? Qualquer de nós preferiria ouvir um anjo a Pedro. O fenômeno nos é mais fascinante. Mas Deus age por meio da Igreja que Jesus formou e onde Seu Espírito atua.
Homens são os instrumentos estabelecidos por Deus para falarem da experiência de salvação, libertação e esperança eterna. Homens nos são idênticos, pareiam conosco. Homens, e não anjos, são transformados pelo poder regenerador do Espírito Santo do Novo Nascimento em Cristo.
Deus nos alcança por meio de cordas humanas. Deus nos alcança e nos torna novas cordas por quem alcança outros. Para o Deus Eterno seria muito fácil usar o anjo, em lugar de Pedro. O Anjo teve apenas que ir a Cornélio. Já Pedro precisou de todo um preparo prévio, com visões e arrebatamento, a fim de aprender uma nova doutrina, quebrar suas resistências religiosas e preconceituosas. Isso ainda incluía o uso de mensageiros, distância no espaço físico e no tempo, e entre a fala do Anjo a Cornélio e a resposta da oração através de Pedro, passaram-se quatro dias. Porque os homens procrastinam sempre. Damos trabalho para obedecer. Ainda assim, é a homens que Deus usa para falar das coisas eternas.
Nós preferimos anjos; mas Deus prefere homens, para nos falar a Seu respeito. O ministério dos anjos é guardar-nos (Hebreus 1:14); o ministério da Igreja feita de homens, é ensinar-nos.
Que Ele nos use e também Se sirva de muitos para falar aos nossos corações. E saibamos aprender a esperar sempre, no tempo de Deus. Ele ouve. Responderá.