Quando o Sonho é Realidade | Atos de Discípulos (18)

Atos 12:1-18.

Se ouvíssemos a narrativa deste extraordinário milagre por boca do seu protagonista Pedro, e não pela pena de Lucas, penso que ouviríamos algo  próximo ao que segue:

Nós estávamos entristecidos com a prisão e morte de nosso amado irmão Tiago,   a quem Herodes mandou matar à espada como forma de nos intimidar e fazer recuar de nossa missão de fazer discípulos em cumprimento ao que o Mestre determinara. Nos dias da festa que precede a Páscoa, resolvi ir ao templo participar das reuniões festivas, tanto para encorajar os irmãos, quanto para  provar aos nossos líderes religiosos que nos perseguiam, que nós  não deixávamos de ser judeus por seguir ao Senhor. Mas, infelizmente, Herodes viu que o povo judeu o aprovou pela prisão e morte de um de nossos líderes, e resolveu prosseguir com esse plano. Então, de repente, fui surpreendido pelo tumulto que um grupo de soldados provocou, afastando as pessoas enquanto vinha na minha direção. Deram-me ordem de prisão. Consegui sinalar com a mão para que os irmãos que comigo estavam não se manifestassem e de longe eles  me sinalaram também que estariam orando por mim. Apontaram para minha irmã  e para Marcos, meu sobrinho, e entendi que se reuniriam em casa deles em oração.

Com muita grosseria a soldadesca me levou à presença do rei que procurou se assegurar de que eu era quem diziam ser. Confirmei e ele declarou que eu estaria trancado a ferros até cessarem as festividades para me levar a julgamento  público. Eu sabia o que isso significava: o povo ser alvoraçado e ouvido como júri, o que resultaria em inevitável sentença de morte. Mas, isso de imediato me remeteu à memória do julgamento público de nosso Senhor, e meu coração se encheu de alegria e paz, pelo privilégio de seguir Seus passos na morte. E foi com esses sentimentos que me vi algemado a ferros presos a uma parede, que me deixavam muito desconfortável. Estou velho, e as energias não são mais vigorosas, e essas algemas não me deixavam dormir. Dois guardas me ladeavam  e outro tanto não paravam de falar e de me achincalhar, mas acabei vencido por um torpor de cansaço que me fez variar entre dormir e acordar, até que cercado por intenso silêncio, percebi que os soldados e as demais sentinelas adormeceram e de fato, dormiam profundamente.

Pensei ter caído em sono profundo, porque pareceu de repente que o dia amanheceu, mas apenas dentro da cela em que me amarraram; e um homem começou a me fustigar o lado, repetidamente, até que abri os olhos contra a claridade e vi que não se tratava de nenhum dos dois guardas, que continuavam dormindo. Era uma pessoa de paz, de bem, que me disse à meia voz: “Depressa, levante-se!” Mal tive tempo de pensar em como me levantaria sob o peso das algemas desconfortáveis quando elas se desprenderam e caíram de meus  punhos. Fiquei aturdido, pensando comigo: “Estou sonhando, ou tendo  uma  visão, como em Jope? Lá eu também ouvia uma voz!” E de novo ouvi o homem luminoso dizer: “Calce suas sandálias e vista-se!”. E continuou: “Ponha sua capa   e me siga!”. Ele conhecia cada um dos meus pertences! Eu olhei os soldados e eles pareciam longe, em profundo sono. Foi aí que comecei a agir automaticamente, porque não entendia nada daquilo como real, mas como me parecia: uma visão que só afetava a mim. No entanto, o bendito ser andou adiante e eu o segui, e passamos pelo primeiro e pelo segundo guarda externos, que também dormiam. Eu andava agora como que atraído a ele e me deparei com o imenso e pesado portão de ferro que dava para a cidade. De repente o anjo (agora eu entendia que só podia ser um anjo) passou pelo portão que se abriu sozinho para mim. E lá me vi eu, em plena rua, madrugada alta, frio da noite e escuridão. O anjo desapareceu tão fácil quanto surgiu e eu então entendi que nada era visão ou sonho, mas realidade pura e clara: eu estava livre da cadeia e em plena rua da cidade, a alguns quarteirões da casa de Maria, minha irmã.

A primeira coisa que me ocorreu foi: “Parece que o Senhor ainda precisa de mim por aqui”. Ato contínuo, decidi seguir para a casa de Maria, já que não havia ninguém me perseguindo. E cheguei ali. Bati à porta, mas ninguém atendeu. Vi iluminação no interior e ouvi o que me pareceu o som de pessoas orando. No dia seguinte seria a páscoa, e eu lembrei que os irmãos disseram que  estariam orando ali. Prestei mais atenção; encostei o ouvido e ouvi que de fato havia um grupo de pessoas em oração. Oravam por mim! Então comecei a chamá-los, à meia voz: “Irmãos, sou eu! O Senhor me libertou! O Senhor ouviu suas orações!” Porque me cortava o coração ver que choravam por mim, ainda abalados com o martírio de Tiago, por certo entendendo que eu teria a mesma sorte. Como eles não me ouviam, nem me atendiam, resolvi me unir a eles em oração, pelo lado de fora, e ali mesmo, junto à porta, comecei a orar e agradecer. Percebi que alguém se aproximou da porta, interrompi a oração e saudei quem ali chegou. Mas a pessoa se afastou. Minutos depois a porta se abriu, e pelo lado de fora eu vi que na casa havia um grupo grande de irmãos que oravam. Todos ficaram surpresos, aturdidos. Alguém falou pelo grupo: “Pedíamos ao Senhor que enviasse um anjo

para libertar você da cadeia. Quando Rode nos disse que ouviu sua voz à porta, alguém achou que o anjo solicitado a Deus veio até nós, em lugar de ir a você. Mas Rode insistia em dizer que era mesmo você. E aí está! O Senhor seja engrandecido! Como isso aconteceu, Pedro?” Então tive que detalhar o milagre, mas decidi não entrar, caso alguém viesse me procurar e isso poderia comprometer tanta gente. Portanto lhes disse que informassem disso o líder da igreja e demais irmãos, e saí dali depressa, deixando atrás de mim um grupo nada pequeno de irmãos que se regozijavam no Senhor, e encontravam consolo da morte de Tiago no milagre de minha libertação.

A conclusão a que cheguei é que o Senhor que havia encerrado a carreira de Tiago, assim como a de Estêvão, em cujas mortes consentiu, ainda não havia concluído a minha. A mesma igreja que orava por mim, havia orado por Tiago. Essa mesma igreja orou consciente de que podia submeter sua oração à vontade de Deus Pai, tal como Jesus ensinou. E foi isso o que aconteceu.

Infidelidade

Fidelidade é a mais moral de todas as manifestações comportamentais humanas. Requerida em todos os amplos setores de relacionamento interpares e interpartes, desde contratos comerciais a convulações outras de acordos, passando por alianças diplomáticas internacionais, a partidos políticos e agremiações religiosas.

A fidelidade é esperada até mesmo de uma pessoa para consigo própria.

Deus requer fidelidade incontestável para com Ele nas relações humanas que têm em seu centro, Seus princípios. E para com Sua Palavra, não menos. Até o ponto de enviar pelo profeta Habacuque uma mensagem em que disse: “O justo viverá por sua fidelidade”(Hc.2:4, NVI).

Por que a fidelidade é tão requerida? Por que é tão importante? Dentre as dores que os relacionamentos humanos podem vir a produzir, nada fere mais que aquela que a infidelidade causa. Se o amor falta; se falha o exercício da misericórdia; se a paz for quebrada; tudo isso inevitavelmente produzirá dor. Mas para cada uma dessas frustrações há uma remediação eficaz, dificilmente possível no caso da infidelidade, por aquilo que ela quebra e pelo ranço que deixa de um péssimo memorial. Ela quebra promessas, votos, e com isso, frustra a esperança, daí valer a Palavra de Deus advertindo: “Não faça voto de tolo”, para dizer dos votos que não são cumpridos. Como para tudo na vida, também a infidelidade é perdoável, mas embora o perdão anule o mau afeto produzido, nada pode fazer com a memória do fato que o produziu.

A infidelidade quebra a base de sustentabilidade de toda a razão para a confiança. Ela reclama mais que um perdão, um resgate seguido de uma transformação tal  no seu perpetrador, que equivalha a uma reparação onde a nova forma seja tão eloqüente que apague o eco da voz do fato antigo.

Nosso Deus é o exemplo supremo da fidelidade. Daí Sua Palavra comunicar: “Se formos infiéis, Ele permanece fiel. Não pode negar-Se a Si Mesmo”, para dizer que a fidelidade divina, antes de ser um compromisso conosco, é o caráter de Sua própria natureza imutável. E Deus é sempre fiel a Si e à Sua Palavra, daí “Fiel e Justo”. Fiel é o título atribuído a Cristo em Apocalipse. Nosso Deus não altera leis espirituais a favor dos que erram, anulando as consequências da infidelidade deles. Se assim fosse, não teria sido necessário Seu Filho subir à cruz em nosso

lugar para cumprir diante Dele toda a justiça, a nosso favor, recebendo sobre Si a punição divina pela nossa queda. Bastaria um decreto de perdão promulgado desde o céu.

Mas por ser essencialmente moral, a fidelidade não está isenta de sofrer violência, que ocorre sempre quando compromissos são descumpridos, ou quebrados. Seja entre sócios; entre o homem e Deus; entre crentes e ateus; entre ímpios e ímpios; entre cristãos e cristãos.

Infidelidades são costumeiramente cometidas quanto às coisas de Deus, sem que as pessoas se dêem conta delas( a não ser suas vítimas ), porque perdem, via de regra, o sentido de seu valor e impactos, e se acostumam ao seu mal e prática.

Infidelidades muito costumeiras, a gente ouve pela boca de vítimas nos campos missionários. Projetos inteiros, famílias inteiras, missionários individuais, homens ou mulheres, que repentinamente se vêem abandonados no campo, “esquecidos” no muito ou pouco sustento que algum outro cristão assumiu investir em sua vida, que ele ou ela pela fé traduziu como: “É meu Deus me dizendo, avança! Eu pagarei!”

Cada dia que passa fico mais pasmo, triste e por que não dizer, escandalizado, quando ouço o lamento de obreiros que no campo distante, viram-se desamparados por parte de cooperadores que “desapareceram” sem nenhuma nota de explicação (justificativa) e sem aviso prévio. De igrejas a indivíduos.

Esse tipo de infidelidade, além da perda material que gera de imediato, contribui para produzir nas vítimas, insegurança; tristeza; sensação de desvalor e de ser descartável dentro do cômputo geral das responsabilidades de seus cooperadores. E isso produz tristeza e lágrimas.

Será que Deus recompensaria a infidelidade? Não foi dEle a Palavra que disse: “Com a medida que você medir, lhe medirão de novo”? (Lucas 6:38).

Neste término de ano, lembre daqueles com quem talvez você esteja sendo infiel. A infidelidade é o mais vergonhoso pecado que a Igreja pode levar nesta vida. E a partir deste fim de ano, ponha-se atento(a) a seus movimentos na vida. A fidelidade será sempre a nota de destaque que revelará de que natureza você é. E isso vale outro tanto para toda a infidelidade que você nem ninguém poderá justificar diante de si e diante de Deus Seja Fiel!

Notícias de Discipulado | Atos De Discípulos (17)

Atos 11: 19-30.

Eu convido você a fazer a leitura desse texto, que não cabe em nosso espaço aqui.

Ele me parece como um noticiário de TV. Se você o ler sob esta ótica, poderá constatar que parece mesmo o enunciado de manchetes fascinantes que espicaçam os sentidos espirituais. Pense comigo num âncora de telejornal, se fosse possível àquela época, comunicando as notícias nestes termos:

Últimas Notícias do Mundo Religioso:

Há cerca de um ano grande perseguição seguiu-se contra os discípulos de Jesus Cristo em Jerusalém, culminando na morte de Estêvão, diácono da igreja que lá se formou. Por conta da perseguição perpetrada contra eles, bom número fugiu para as cidades de Fenícia, Chipre e Antioquia onde procuraram refúgio. Dentre os refugiados encontravam-se judeus seguidores do Crucificado que começaram a pregar a outros judeus, sua nova fé. Mas havia também entre eles discípulos cipriotas e cirineus que resolveram, por sua vez, ensinar sua fé aos gregos e como resultado, grande número de gregos aderiu à nova doutrina, de tal forma que esta notícia foi levada de volta a Jerusalém, onde ainda se encontravam autoridades anciãs desse Caminho.

As autoridades de Jerusalém enviaram como observador a Antioquia, um de seus líderes, homem afamado por seu testemunho de fé e bondade, conhecido como Barnabé, alcunha que ganhou por ser dado a consolar pessoas, conhecidas ou não.

Barnabé reconheceu que de fato os gregos se tornaram tais como eles, os de Jerusalém, e partiu para Tarso, a fim de trazer como reforço para sua missão de discipular esses novos convertidos, a Paulo, outrora um dos perseguidores desses devotos, que acabou mudando de lado e passou a defender o que antes combatia. Tornou-se líder de destaque entre os seguidores do Nazareno. Agora, decorrido um ano inteiro de intenso trabalho desses dois homens junto aos conversos de Antioquia, vem à luz uma surpreendente informação: todos esses seguidores do Crucificado de Jerusalém passaram a ser conhecidos e apontados como pequenos cristos, ou como se tornou popular entre nós, cristãos. Surpreende ainda mais o fato de saber que tal alcunha depreciativa está sendo fortemente bem recebida pelos discípulos, que a adotam, como se fosse título honorífico, ainda que saibamos que significa ser tido como igual ao condenado por Roma como sedicioso.

Os responsáveis por essa estranha adaptação parecem ser os dois citados líderes, Paulo e Barnabé, que tanto persuadiram os novos seguidores a respeito do caráter de seu líder supremo, que estes decidiram incorporar os atributos Dele, entendendo-se identificados com Ele a ponto de se sentirem novos crucificados fora da cruz. Afirmam que o apelido lhes significa que assumem parecer com Jesus Cristo, o Nazareno, até mesmo na ignomínia de sua morte na cruz. Afirmam, outro tanto, que Ele vive neles, e entendem provar essa máxima por conta da ocorrência de milagres em suas reuniões, semelhantes aos que Lhe eram atribuídos quando Ele vivia na Galileia. Chegou-nos de última hora a informação de que um desses discípulos, tido por profeta, de nome Ágabo, vindo de Jerusalém, anunciou que grande fome se abaterá sobre o povo da Judeia, e para espanto geral de observadores externos, tal mensagem produziu tamanha comoção entre os discípulos de Antioquia, que de imediato se desprenderam de bens e recursos para providenciar remessa de suporte e ajuda aos seus correligionários da Judeia. Este fato prova, terminantemente e para espanto geral, que essa gente assume ser, sem sombra de dúvida e sob todos os riscos, o que se diz a seu respeito: cristãos.

Por Que Orar?

Quando lemos que “ainda a palavra não me chegou à língua e Deus a conhece toda”, junto a: “de longe entendes meus pensamentos”, acrescido do que Deus disse em Isaías “E será que antes que clamem eu ouvirei…” , confirmado por Jesus que afirmou: “O Pai sabe o que vocês necessitam antes que lhe peçam”, a oração parece uma desnecessidade, ou exercício inócuo. Então, resta a pergunta que parece caber bem aqui: Por que orar?

Mas, se assim fosse, estaríamos diante de grave equívoco cometido por Paulo: “Orem sem cessar”, e por Tiago: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo”. Tanto mais, pela segunda e terceira vez teríamos Paulo equivocado, ao dizer: “Que se façam orações e súplicas por todos os homens”, e: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas apresentem a Deus suas petições e súplicas, com ações de graça”. Até o Senhor Jesus estaria em contradição porque O vemos orando junto ao túmulo de Lázaro, e no Getsêmani e em muitos outros relatos em que Ele aparece recluso em oração ao Pai.

A oração é uma confissão racional de dependência a Deus.
A oração é nosso encontro com o sagrado em nosso interior.
A oração é nossa solene consciência de quanto somos frágeis em nossa humanidade.
A oração é nossa oportunidade de investir nossos sentimentos e vontade, no céu onde Deus está.
A oração é nossa maravilhosa caminhada em direção à presença bendita do Deus Santo e Eterno.
A oração é o mais santo momento de adoração de um coração que admira Deus.

Por isso ore. Ore hoje. Continue amanhã, e depois e depois… Não espere necessitar pedir algo, para orar. Pode ser que você ache que de nada precise. Não espere ficar mal, não se sentir bem, para orar. Ore quando se sentir ótimo, melhor, feliz, pois assim você estará apresentando o seu melhor a Deus. E se tudo estiver ruim, de mal a pior, ore também. Ainda mais. Se não der para falar, pode gemer. Se não for possível gemer, apresente seu silêncio. O próprio Espírito de Deus geme em oração a seu favor. E quando você nada puder nem souber dizer, Ele estará dizendo em seu lugar, por você, pois, “…aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus.”- Romanos 8:27 .

Força e Coragem

Josué 1:1-18.

“Forte” e “corajoso” são conceitos associados. Nosso texto traz estas palavras como uma recomendação e ao mesmo tempo exigência da parte de Deus e do povo de Israel a Josué, sucessor de Moisés na liderança dos israelitas em direção à Terra Prometida.

Antes de tratar de alguns desdobramentos pertinentes ao texto, gostaria de parar sobre o significado destas palavras dentro dele.

“Forte”, é tradução de um termo hebraico que também pode significar com a mesma propriedade, “ser perseverante”. E “corajoso”, tem sentido semelhante, mas com reforço na ideia de “ser valente”. Um ponto a destacar é que no latim, de onde herdamos nossa língua, corajoso, derivativo de coragem, etimologicamente significa “a ação que vem do coração”, ou agir de acordo com o coração. Ora,    isto abre uma interessante janela para nós, a partir do momento de Josué. Deus o convoca para uma pesada missão, diante da qual até Moisés recuou quarenta anos antes. Deus convoca Josué, cerca-o de promessas; recomenda obediência irrestrita à Sua Palavra, mas requer que seja forte e corajoso para cumprir, como numa explícita condição para o seu bom êxito. Mas aqui temos sabedoria divina: antes de dizer-lhe “tenha o coração nisso”, ou seja, “coragem!”, Deus lhe diz:   “Seja firme, persevere, forte”. Como a dizer: “Seu coração vai agir a partir de sua firmeza”.

Em que Josué teria de ser firme?

Vejamos: primeiramente, em crer nas promessas divinas vistas no verso 5 –

  • “Ninguém resistirá a vc todos os dias de sua vida” – Nós, crentes em Jesus temos um paralelo desta promessa visto em Lucas 10:19.
  • “Como fui com Moisés, serei com você” – A mim isto soa como a linguagem dos salmistas rememorando os feitos de Deus no passado, como a nos lembrar: “Eu, o Senhor, não mudo”.
  • “Estarei com você; nunca o deixarei, nunca o abandonarei”. Dispensa comentários, mas também é inevitável pensar que resume a garantia toda para qualquer enfrentamento, sendo o esteio mesmo da força.

Ora, todos estes movimentos requeridos falam da fé que se apoia em Deus, a fonte de onde a coragem procede.

Depois, em segundo lugar, Josué teria de ser firme em obedecer à Palavra divina, conforme mostram os versos 7-8.

  • Obediência nos moldes de discipulado. “Conforme você tem aprendido”;
  • Fidelidade na observação e  cumprimento do ensino;     “Não se desvie da posição”.
  • Linguagem compatível com a Palavra na qual crê.

Tudo isso seria a garantia e razão de suas ações daí decorrentes, serem feitas pelo coração, ou seja, com coragem.

Onde estamos nós nessa história? Não temos todos, crentes em Jesus, uma missão existencial em direção à nossa conquista e vitória na fé, com todos os enfrentamentos pertinentes? Alguns de nós até em termos explicitamente desafiadores. De que necessitamos? O que Deus requer de nós, e outro tanto aqueles que nos observam como servos de Cristo?: Força e coragem! Sabemos agora o que significam. Agora sabemos como obtê-las, como vivê-las. E também podemos crer que seus frutos nos acompanharão tanto quanto a Josué, conforme o próprio Senhor garantiu: “Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem sucedido”. A garantia que Ele dá é quanto basta: “Não fui eu que lhe ordenei?…não se apavore, nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar” (v.9).

De Anjos e de Homens | Atos de Discípulos (16)

Havia em Cesaréia um homem chamado Cornélio, centurião do regimento conhecido como Italiano. Ele e toda a sua família eram religiosos e tementes a Deus; dava muitas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus. Certo dia, por volta das três horas da tarde, ele teve uma visão. Viu claramente um anjo de Deus que se aproximava dele e dizia: “Cornélio!” Atemorizado, Cornélio olhou para ele e perguntou: “Que é, Senhor?” O anjo respondeu: “Suas orações e esmolas subiram como oferta memorial diante de Deus. Agora, mande alguns homens a Jope para trazerem um certo Simão, também conhecido como Pedro, que está hospedado  na casa de Simão, o curtidor de couro, que fica perto do mar”. Depois que o anjo que lhe falou se foi, Cornélio chamou dois dos seus servos e um soldado religioso dentre os seus auxiliares e, contando-lhes tudo o que tinha acontecido, enviou-os  a Jope.” … “Os homens responderam: “Viemos da parte do centurião Cornélio. Ele é um homem justo e temente a Deus, respeitado por todo o povo judeu. Um santo anjo lhe disse que o chamasse à sua casa, para que ele ouça o que você tem para dizer”…“Assim, mandei buscar-te imediatamente, e foi bom que tenhas vindo. Agora estamos todos aqui na presença de Deus, para ouvir tudo que o Senhor te mandou dizer-nos”. – Atos 10:1-8; 22;33.

Acredito que o ponto de maior destaque nesta narrativa reside no fato de um anjo dizer a Cornélio que suas orações estavam diante de Deus como um memorial, e que, portanto, deveria ele procurar por Pedro a fim de ouvir o que ele tinha para dizer-lhe.

Algumas situações impõem-se na forma de questões: Por que orações em memória? Por que o anjo de Deus que trazia o que parecia uma resposta, nada diz a Cornélio acerca das coisas que ele ouviu de Pedro, ou seja, a Pedro foi delegada tal tarefa?

Não pretendo especular. Mas pensar nesses eventos de forma direta, encarando- os tais como se nos são apresentados.

Quanto à primeira questão, o texto nos diz que Cornélio era temente a Deus, ele e toda a sua casa. Conhecedor dos ensinamentos do judaísmo. Interessante  a forma como ele traduz para Pedro a experiência que teve quando da visita do  anjo. O anjo lhe havia dito: “Tuas orações e esmolas subiram como oferta  memorial diante de Deus”, e ele reproduz a fala, dizendo: “Deus ouviu sua oração e lembrou-Se de suas esmolas”. Concordo que não há sensível alteração numa forma ou outra, mas persiste a questão do memorial.

Todos nós, num ou noutro momento temos a sensação de que nossa oração a Deus fica sem resposta, em especial aquela que fazemos investindo na urgência. Nem tudo o que dizemos ou pedimos a Deus está calcado na urgência, mas maioria das vezes, sim. Quando nos parece que a resposta não veio, optamos via de regra por decidir que Deus não ouviu. Esta decisão é responsável maior parte das vezes pela inconstância das orações ou mesmo seu desuso por parte de grande parcela de cristãos.

Algumas situações impõem-se sobre nossa fé neste quesito:

  • Deus nunca está comprometido quanto a nos responder segundo nossa expectativa, mas sempre nos ouve conforme Sua vontade que é boa, agradável e perfeita. Por isso mesmo confiou ao Espírito Santo o interceder por nós, traduzindo nosso clamor (Romanos 8:26);
  • O tempo de Deus quanto à nossa história pessoal e suas circunstâncias, não está comprometido com nosso calendário;
  • Deus jamais deixa de ouvir-nos. Sua Palavra afirma: “Ó, Tu que escutas as orações…” (Salmo 65:2); e mais: Ele Se comprometeu a sempre ouvir – “Estarão atentos os meus ouvidos à oração que se fizer neste ..” (II Crônicas 7:15).

Depois, temos por certo que o memorial que dizia respeito às orações de Cornélio também nos alcança quanto às nossas, porque a resposta divina passa sempre e invariavelmente pelos Seus meios, formas, mecanismos, recursos e veículos. Foi o caso de Cornélio. Não sabemos o teor do que ele pedia, mas na resposta divina podemos depreender que tinha a ver com sua sorte espiritual, e da sua casa, quanto à vida eterna. E é então que pensamos na segunda questão: Por que Pedro e não o anjo mesmo que foi enviado, é quem teve de ir pregar a salvação em Jesus a Cornélio e sua família? Qualquer de nós preferiria ouvir um anjo a Pedro. O fenômeno nos é mais fascinante. Mas Deus age por meio da Igreja que Jesus formou e onde Seu Espírito atua.

Homens são os instrumentos estabelecidos por Deus para falarem da experiência de salvação, libertação e esperança eterna. Homens nos são idênticos, pareiam conosco. Homens, e não anjos, são transformados pelo poder regenerador do Espírito Santo do Novo Nascimento em Cristo.

Deus nos alcança por meio de cordas humanas. Deus nos alcança e nos torna novas cordas por quem alcança outros. Para o Deus Eterno seria muito fácil usar o anjo, em lugar de Pedro. O Anjo teve apenas que ir a Cornélio. Já Pedro precisou de todo um preparo prévio, com visões e arrebatamento, a fim de aprender uma nova doutrina, quebrar suas resistências religiosas e preconceituosas. Isso ainda incluía o uso de mensageiros, distância no espaço físico e no tempo, e entre a fala do Anjo a Cornélio e a resposta da oração através de Pedro, passaram-se quatro dias. Porque os homens procrastinam sempre. Damos trabalho para obedecer. Ainda assim, é a homens que Deus usa para falar das coisas eternas.

Nós preferimos anjos; mas Deus prefere homens, para nos falar a Seu respeito. O ministério dos anjos é guardar-nos (Hebreus 1:14); o ministério da Igreja feita de homens, é ensinar-nos.

Que Ele nos use e também Se sirva de muitos para falar aos nossos corações. E saibamos aprender a esperar sempre, no tempo de Deus. Ele ouve. Responderá.

A Fé Surpreendida | Atos de Discípulos (15)

“E Saulo estava ali, consentindo na morte de Estêvão. Naquela ocasião desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e de Samaria.”- Atos 8:1.

“Enquanto isso, Saulo ainda respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor. Dirigindo-se ao sumo sacerdote, pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, de maneira que, caso encontrasse ali homens ou mulheres que pertencessem ao Caminho, pudesse levá-los presos para Jerusalém. Em sua viagem, quando se aproximava de Damasco, de repente brilhou ao seu redor uma luz vinda do céu. Ele caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?” Ele respondeu: “Eu sou Jesus, a quem você persegue. Levante-se, entre na cidade; alguém dirá o que você deve fazer…e, depois de comer, recuperou as forças. Saulo passou vários dias com os discípulos em Damasco…Logo começou a pregar nas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus. Todos os que o ouviam ficavam perplexos e perguntavam: “Não é ele o homem que procurava destruir em Jerusalém aqueles que invocam este nome? E não veio para cá justamente para levá-los presos aos chefes dos sacerdotes?” Todavia, Saulo se fortalecia cada vez mais e confundia os judeus que viviam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo.”- Atos 9:1-6; Atos 9:19; Atos 9:20-22.

Certa vez Jesus afirmou: “Também digo que, se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso será feito a vocês por meu Pai que está nos céus.” – Mateus 18:19.

Dentre tantas coisas extraordinárias que envolvem a dramática conversão de Saulo de Tarso, destaco a igreja de Damasco diante deste quadro inusitado. O texto de Atos nada nos diz sobre ela como igreja, neste momento. Apenas cita que ela existia e era o endereço certo para a fúria persecutória desse exator religioso, cuja perseguição estava generalizada contra os cristãos conhecidos como os do Caminho. Lucas se serve de uma figura de linguagem incomum para descrever o que movia o algoz contra o povo de Deus: “Enquanto isso, Saulo ainda respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor”. O impulso a que ele atendia era ódio. Ódio religioso. E na força desse ódio parte para cumprir sua sinistra missão. “Respirava ameaças de morte”, foi a forma achada pelo narrador, que era médico, para falar daquilo com que Saulo nutria suas aspirações. Se respiramos para viver, ele torturava cristãos, para respirar.

É onde paro pensando na Igreja de Antioquia, fruto do discipulado dos que fugiram de Jerusalém debaixo de tão acirrada perseguição. Famílias inteiras: jovens, mulheres e homens. Damasco se deparou como um possível refúgio protetor por estar além das fronteiras. Mas o ódio religioso não respeita fronteiras, e por isso Saulo para ali vai, com escolta e devidamente autorizado para prender e “arrastar” essas criaturas pacíficas, para Jerusalém. Ali lhes estaria reservado injusto julgamento e provável morte insana, à semelhança daquela de que Estêvão foi precursor.

Penso que a igreja refugiada já estava devidamente avisada de que a perseguição estava em seu calcanhar. Penso nas reuniões de oração movidas pelos familiares cristãos reunidos, buscando no Senhor livramento e graça para suportar. Talvez  esperando um livramento semelhante ao dos antigos israelitas, encurralados entre Faraó e o Mar Vermelho. As notícias trágicas eram bem frescas. Quantos deles, tendo escapado da perseguição em Jerusalém, devem ter chegado junto aos irmãos em Antioquia, descrevendo com cores vivas o drama assistido, do qual puderam fugir!

Mas penso nessas vigílias de oração da igreja, precursora da Igreja Subterrânea dos lugares onde ainda hoje ela existe tentando sustentar sua fé e paixão, fazendo o que lhes pode custar a liberdade e até a vida. A Igreja em Damasco, com certeza orava a Deus. Então tento imaginar o teor de sua súplica: “Se for possível, Senhor, afasta de nós este cálice sem que o bebamos!” Permito-me pensar nas esperanças várias que ditavam o teor das orações. No mínimo deviam dizer: “Olha para a ameaça desse homem mau, enquanto estendes a Tua mão para operar sinais…” Ou, ainda mais pretensiosas: “Não deixes que ele chegue a nós. Afasta o cálice, Senhor”. Aí está um modelo mais contemporâneo, nesta última.

De repente, reunida a Igreja, eis que pelas portas da casa entra o irmão Ananias, acompanhado por um jovem cujo rosto temível alguns já deviam conhecer. Perplexos, encolhem-se, talvez. E antes que abram a boca, Ananias fala, e diz: “Este é o nosso mais novo irmão no Senhor. Acabo de batizá-lo, pois se converteu a Cristo Jesus”. Saulo, agora Paulo, apequenado, olha para eles, olhar brando, despido de fúria, e diz: “Graça e paz, irmãos, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, Aquele de Nazaré, que me achou no caminho para aqui, e mudou meu caminho, vida e coração.” Muito belo, e não tanto irreal, porque nosso texto se encerra dizendo que ele entrou ali e: “Saulo passou vários dias com os discípulos em Damasco…Logo começou a pregar nas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus“.

Creio ter sido esta a primeira e mais extraordinária experiência da Igreja com a oração que cumpre a Palavra quando diz: “… Muito pode, por sua eficácia, a súplica de um justo.” – Tiago 5:16.

Muito Além da Mediocridade

Isaías 32:8 – “Mas o homem nobre faz planos nobres, e graças aos seus feitos nobres permanece firme”. Ou, numa tradução literal – “O nobre planeja nobrezas; e ele sobre coisas nobres terá existência.”

 

Este texto me move a uma reflexão temática dada sua proposta urgente para um tempo de desvalores, de empalidecimento das cores de nossa honra como homens e mulheres evangélicos nesta geração.

Medíocre é uma palavra que incomoda sem ofender, mas que consegue ferir o orgulho pessoal quando aplicada a pessoas ou ações humanas. Significa primariamente aquilo que está entre o bom e o ruim, ou que é sofrível.

Embora seja um adjetivo antipático, via de regra as pessoas se acomodam ou preferivelmente se ajustam a esta classificação, pelo simples mas lamentável fato de que a mediocridade, ou atuar de forma medíocre, dá menos trabalho, atende à necessidade, “dá para o gasto”.

Contudo ninguém tolera a ideia de receber um salário medíocre; de ser visto e tido por medíocre; de receber uma gratificação medíocre ou uma classificação medíocre sobre sua realização. Tanto pior a ideia de ter um filho medíocre; um pai ou mãe medíocres.

Mas…e quanto à fé? Suportamos uma fé medíocre?

Jesus classificou as obras de uma igreja inteira e a própria igreja como medíocre, quando ela aprovava a si mesma: Laodicéia, a quem definiu como morna – Apocalipse 3:16.

Podemos aceitar e conviver bem com uma espiritualidade medíocre?

Creio ser importante lembrar que o fato de sermos chamados a crer em Cristo Jesus, estabeleceu um convite para andarmos como Habacuque: “Sobre as minhas alturas, ou altaneiramente”. Para avaliarmos isso, quero pontuar a diferença entre o medíocre e o excelente na espiritualidade cristã.

NO EXERCÍCIO DA FÉ

Mateus 5:41 – “Se alguém lhe convidar a andar uma milha, anda com ele duas!” Sempre estará diante de nós a opção de não ser necessário ou importante ir além do que nos é requerido ou esperado de nós. Ainda há aqueles que se satisfazem a ficar aquém, ou no máximo agir até o mínimo necessário, apenas. Ou nada fazer.

Na obra de Deus;

No ser servo e útil;

Nas contribuições, orações, vida devocional.

E a mediocridade confessional? Ela transita pela magia, pelo imediatismo, pela visibilidade que dispensa a esperança. Faz-nos lembrar a palavra de Jesus para Tomé  em João 20:29. “Por que viste, creste? Bem-aventurados os que não viram  e creram”. Não há nobreza na confissão que precisa ter sinais, visibilidade para crer!

NO TESTEMUNHO DE VIDA

Neste particular, a nobreza está em pensar, avaliar e reavaliar valores morais. Ouçamos o que disse o Filho de Deus em Mateus 5:20. “Se a justiça de vocês não exceder a dos fariseus, de maneira nenhuma vocês entrarão no Reino de Deus”. Aqui ele usou o verbo exceder, que traz em seu núcleo o conceito de excelência.  E vale para muitas áreas mais. É duro constatar que existem pessoas em nossa sociedade que, sem compromisso algum com a fé evangélica, trazem uma justiça comportamental superior a de crentes na gentileza, no trato com o outro, na linguagem, no comportamental, na lucidez, na atenção e no zelo por não se  deixar levar por veículos populistas e medíocres que nada acrescentam à inteligência ou às boas maneiras. São autênticos e sinceros representantes da justiça dos fariseus, que clama contra nós diante do Deus Eterno e Santo, que é nosso Pai.

Mas a mediocridade inclina o crente a eleger companheiros de conteúdo  medíocre, com os quais se nivela, esquecendo a Palavra que diz: “As más companhias corrompem os bons costumes”. Noutro extremo o salmista disse: “Meus olhos procurarão os fiéis da terra para que estejam comigo”.

Aponta a santificação pessoal e a sabedoria que precisam ser notórios no crente: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.”- Mateus 5:16; “para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo,” – Filipenses 2:15.

Também na autenticidade de sabedoria espiritual. Jesus afirmou em Lucas 7:35, que a sabedoria é conhecida por seus filhos. Menos do que isso é ser medíocre.

NO ENVOLVIMENTO COM O REINO DE DEUS

Muitos de nós entendem que é bastante tratar o Reino de Deus periféricamente. Por periféricamente aludo à superficialidade, ausência de espontaneidade, de criatividade, de voluntariedade. Entendem que doar coisas, dinheiro, assistir a cultos, são suficientes para atender ao que Deus pretende como envolvimento. Nada que não nos desinstale ou mesmo aquilo que usamos para nos representar, está acima de ser medíocre no serviço cristão. Jesus aponta essa perspectiva de excelência quanto ao Reino na parábola registrada em Mateus 13:44, quanto ao homem que achou no campo uma jóia de grande valor. “Vendeu tudo o que tinha  e comprou o campo”, é como Ele compara aqueles que têm no Reino de Deus a supremacia de suas vidas.

Paulo aponta essa excelência quando fala dos macedônios e sua visão do Reino, em II Co. 8:1-5, onde descreve que eles do extremo de sua pobreza, ofertaram para os irmãos sofridos de Jerusalém.

Mas alguns se contentam em viver as realidades espirituais como ilustra o encontro do rei Jeoás com o profeta Eliseu, em II Reis 13: 18 e 19. O profeta orientou o rei a lançar flechas pela janela com seu arco. O rei pegou apenas três flechas em sua aljava e as atirou. O homem de Deus ficou irritado e o repreendeu dizendo que ele só feriria os sírios três vezes, pois reputou por suficiente esse investimento minguado de sua fé.

Deus pensou e pretendeu muito mais a nosso respeito, meus irmãos. Ele planejou coisas nobres para realizarmos.Foi o que Ele disse em Jeremias 29:11: “Eu é que sei os planos que tenho para vocês. Planos de bem e não de mal”… Deus  planejou coisas nobres para realizarmos. Ele não pensa de forma medíocre, porque é excelente.

Há uma máxima bíblica que serve como aferidor de nossa posição espiritual: ela  se encontra em I Coríntios 15:19: “Os que esperam em Cristo somente quanto às coisas desta vida, são os mais infelizes de todos os homens”.

Sabe por que não pode ser medíocre? Porque tudo o que você é e faz, é culto, adoração. Tem de acontecer para o louvor da glória Dele.

Precisamos nos posicionar nesta geração como vidas nobres, crentes que atendem à exortação que diz: “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas.” – Filipenses 4:8.

Caminho de Rupturas

Então ele chamou a multidão e os discípulos e disse: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho a salvará. Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderia dar em troca de sua alma? Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos”. – Marcos 8:34-38.

Esta palavra desafiadora do Filho de Deus, Autor da fé, é tão solene, e está tão comprometida com o tudo que a obra Dele e o Evangelho significam, que é registrada pelos quatro evangelhos, ainda com detalhes mais especiais em João 12.

É desafiadora.
É explícita.
É admoestativa.
É apelativa.

Jesus a pronunciou no exato momento em que pontuou que havia vindo ao mundo para morrer uma morte vicária. Repreendeu a Pedro que tentou desviar o significado dessa palavra. E afirmou que o Evangelho é um caminho de rupturas e renúncias, na contramão de tudo o que os líderes religiosos oferecem àqueles a quem buscam atrair como adeptos.

De vez em quando esbarro com pessoas vestindo umas camisetas com estes dizeres: “ É fácil levar Jesus no peito. Difícil é tê-Lo no coração”. Se por “ter Jesus no coração”, devemos entender a experiência de uma nova vivência confessional, tipo ser evangélico, então não é nem de longe difícil. É mais fácil ainda do que “levar Jesus no peito”. Mas se “por ter Jesus no coração“, devemos entender o “nascer de novo e viver como quem é soprado pelo Espírito” (João 3:6-8), então é muito difícil. É mais que difícil: é desafiador, mas nunca impossível. E nada menos surpreendente.

É desse segui-Lo com tal comprometimento de que fala o Senhor nesses textos. A mensagem se repete em Mateus 16:21-28; Lucas 9: 22-27 e João 12: 23-26, onde temos o reforço da alegoria: “Digo verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas, se morrer, dará muito fruto.” (V.24).

Por que é uma mensagem desafiadora? Porque o Filho de Deus deixa claro que segui-Lo implica em renúncia e numa mortificação. Pontua que essa mortificação redunda em não se envergonhar dEle. Pois não é uma proposta de vida com brilhos, mas renunciar implica em perder crédito e posições diante dos que nos querem marchando segundo o compasso deste mundo em suas ordens e pensamentos acerca da moral e do glamour. Também segundo seus próprios critérios e vontades. Seguir Jesus é romper com tudo isso. Sem presunção, nem esnobismo; sem perfeccionismo pietista, mas vendo esta geração como Ele a viu: submersa em pecado. Isto decorre de uma visão realista da vida pecaminosa.

É uma mensagem explícita porque o Filho de Deus deixa claro que é uma caminhada solitária, para poder produzir frutos que sejam abundantes. É uma caminhada de pontes queimadas, sem volta. Não se pode seguir Jesus como quem faz programas, pluga e despluga conforme seus apetites e interesses. Do tipo: “Estou envolvido hoje. Não sei se amanhã vou querer”. Não. Ele afirmou que é caminho ao Calvário, não ao pódium. Seguir Jesus é romper com perspectivas de brilhos. É assumir compromisso de se descompromissar com os desvios.

É uma mensagem admoestativa porque Ele adverte que a única via de viver, é perdendo a vida. Não fala de morte biológica, mas daquela morte de planos e sonhos que podem implicar “nos negócios desta vida” que impedem de militar-se legitimamente. Isto calca mais fundo o conceito de renúncia. Desinstala-nos de nosso conforto. E pode ser medido em ações práticas, socorristas, filantrópicas, missiológicas, devocionais. E a advertência se acentua quando ele delineia que de igual forma, fazer esta caminhada com a pretensão de ganhar, barganhar eu diria, redunda em morte. Perda de tempo na história. Morte da sabedoria, dignidade e sensatez, também. Seguir Jesus implica nessa ruptura.

Por fim, percebo nesta palavra seu tom apelativo. Ela é uma mensagem apelativa porque contém grande dose de convite. Quando Ele diz “se alguém quiser acompanhar-me”, Ele abre espaço, faz uma oferta. Ao mesmo tempo Ele acentua que é um convite a não sentir vergonha Dele, como a dizer: “Não se envergonhe de ser meu seguidor apesar dos transtornos e possíveis embaraços que isso possa lhe acarretar”.

No apelativo eu O vejo como a dizer: “Eu te convido a morrer como eu; a não querer ganhar o mundo, como eu. A deixar tua vida perder-se em Mim e para mim”, porque como está escrito: “Pois nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor.” – Romanos 14:7-8.

Segui-Lo, de verdade, exige que façamos ruptura de todas as nossas amarras. Livres, podemos ser soprados pelo Vento, muito diferente de ser arrastados por “ventos de doutrina”.

Espírito e o Discípulo | Atos De Discípulos (14)

“Os que haviam sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem. Indo Filipe para uma cidade de Samaria, ali lhes anunciava o Cristo. Quando a multidão ouviu Filipe e viu os sinais milagrosos que ele realizava, deu unânime atenção ao que ele dizia. Os espíritos imundos saíam de muitos, dando gritos, e muitos paralíticos e mancos foram curados. Assim, houve grande alegria naquela cidade…No entanto, quando Filipe lhes pregou as boas-novas do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, creram nele e foram batizados, tanto homens como mulheres. O próprio Simão também creu e foi batizado, e seguia Filipe por toda parte, observando maravilhado os grandes sinais e milagres que eram realizados… Um anjo do Senhor disse a Filipe: “Vá para o sul, para a estrada deserta que  desce de Jerusalém a Gaza”. Ele se levantou e partiu. No caminho encontrou um eunuco etíope, um oficial importante, encarregado de todos os tesouros de Candace, rainha dos etíopes. Esse homem viera a Jerusalém para adorar a Deus e, de volta para casa, sentado em sua carruagem, lia o livro do profeta Isaías. E o Espírito disse a Filipe: “Aproxime-se dessa carruagem e acompanhe-a”…Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe repentinamente. O eunuco não o viu mais e, cheio de alegria, seguiu o seu caminho. Filipe, porém, apareceu em Azoto e, indo para Cesareia, pregava o evangelho em todas as cidades pelas quais passava.”  Atos 8:4-8, 12-13, 26-29, 39-40

O ambiente de Atos é o cenário do Espírito Santo. Ele ocupa o centro das ações como o protagonista do livro, de tal forma que muitos estudiosos disseram que o livro deveria se chamar “Atos do Espírito Santo”, porque, de fato é esta Terceira Pessoa da Trindade Santa Quem Se destaca e age, desde que é citada em 1:8 até o final da narrativa. Ele opera a Igreja e na Igreja. Nós O vemos agindo incessantemente e criando uma familiaridade com os discípulos que parece cumprir literalmente a promessa: “E eu pedirei ao Pai, e ele dará a vocês outro Conselheiro para estar com vocês para sempre” – João 14:16. E aí está Ele, fazendo esta missão de estar com a Igreja em substituição ao Senhor.  Outro,  aqui, parece funcionar como “também Este”. Ele decide, Ele faz acontecer, determina, convoca, potencializa: realiza! E a Igreja comporta-se ciente de que  não pode passar sem Ele.

Entra em foco outro discípulo: Filipe. Já tínhamos visto seu nome na diaconia, distinguido como um dos escolhidos por ser reconhecidamente cheio do Espírito.  E as cenas que ele desenha com sua vida e serviço, frisam para nós o que pode e faz o Espírito na vida do discípulo.

Duas vezes a narrativa salienta que Filipe era usado pelo Espírito para operar sinais milagrosos com grande destaque para cura. Mas antes de apontar para este fato que chamava a atenção dos ouvintes, destaca que ele pregava, o povo o  ouvia e cria. Pregava o evangelho. Pregava, e batizava os que criam. E com isso a gente percebe que o serviço deste discípulo estava marcado por esse trinômio: pregação, batismo e sinais milagrosos. Nesta ordem. O Espírito realizava todas estas coisas em Filipe, por meio dele e com ele. Mas há outra coisa a apontar  aqui: a movimentação de Filipe. Começa com esta singular forma  de mostrar como literalmente se cumpria nele o que Jesus ordenou: “Indo, façam discípulos”. Veja o texto, de novo: “Indo Filipe para uma cidade de Samaria, ali lhes anunciava o Cristo”. Uma vez em Samaria, Filipe não ficava num mesmo lugar, pois o texto diz que ele era seguido “por toda parte”, por Simão, o mágico. Depois o vemos seguindo para Gaza, tendo recebido orientação de um anjo para dirigir-se até lá, e antes de chegar, onde nem mesmo entra, encontra um oficial da Etiópia, prega-lhe o Evangelho e o batiza. Foi o Espírito que disse no ouvido de Filipe que se chegasse ao etíope. Ato contínuo, arrebata-o e o faz aparecer em Azoto, onde não fica, mas segue para Cesárea, e ali, “pregava o evangelho em todas as cidades pelas quais passava”. Todas as cidades pelas quais passava. O homem não cessava. O que desponta é esse movimento contínuo, sempre soprado pelo Espírito, de forma até assombrosa. Vai abrindo frentes, por onde passam outros e vão consolidando o seu trabalho iniciado.

A ação do Espírito na vida de Filipe testifica e autentica de forma literal a Palavra que Jesus comunicou a Nicodemos, deixando claro que essa palavra é pertinente e caracteriza todo, toda, que é nascido do Alto: “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito”.- João 3:8. Temos o mau hábito de ler este texto fazendo transferência de seu significado. Transferimos e o reduzimos como pertinente a crentes que têm um chamado ministerial ou missionário. Isto parece adequar-se mais à ideia de que para Deus somente algumas pessoas podem ser movidas, deslocadas de seus enraizamentos. Deixamos de nos conscientizar de que o título “ministerial” dado por Jesus àqueles que são deslocados pelo Espírito é “nascidos do Espírito”. No entanto, lemos, cremos e confessamos que

“nascidos do Espírito” é característica imprescindível e determinante para que alguém seja de Cristo, cristão genuíno, discípulo.

O Espírito está livre e expansivo como o vento na vida do discípulo, para soprar nele e movê-lo quando e para onde quiser. É assim que Ele nos faz cumprir a determinação do Senhor: “Indo, façam discípulos”. Com sinais ou sem eles, pregando as boas novas. À semelhança de Filipe, nosso “indo” não tem que necessariamente ser um lugar aqui, outro acolá. Na atualidade, dentro desta geração entre a qual vivemos, nosso “indo” ocorre todos os dias. Nos dias de Filipe, percorrer três, quatro quilômetros para chegar a um povoado ou encontrar uma carruagem para contatar seu usuário, requeria uma intervenção sobrenatural de Deus, arrebatamentos, e tais. Hoje, nossos veículos, ônibus, táxis, Uber, avião, nos levam a distâncias antes impensáveis no decurso de horas, apenas. E cada um desses movimentos representa nosso “indo”. Se neles há um discípulo, por certo há o Espírito. Para ser um Filipe, resta ouvir Paulo: “Deixem-se encher!” E então o mais Ele fará!

Simples…Assim

“Sejam símplices como as pombas…” – Mateus 10:16.

Se você prestar mais atenção perceberá que o oposto da simplicidade é a complexidade. Que esta traz no seu bojo sempre, a sobrecarga, tanto de haveres quanto de deveres. E mais: Você pode se dar conta de que a simplicidade é inata ao ser humano, que dela desiste por influência externa ou por observação do externo.

Se temos que aprender com pombas… o que elas têm a nos ensinar? Não muito.  E exatamente por isso: são simples, diferentemente de outras aves. Elas procuram agregar-se a ambientes humanos para usufruirem as benesses destes. Fazem seus ninhos o mais próximo possível de construções humanas, ou mesmo dentro delas. Andam e voejam por seus quintais e praças. Entre usarem as águas de um regato ou de lagos citadinos, é nestes que elas preferem se banhar. Como se elas e nós fôssemos assemelhados. E aí está, a meu ver, o ponto mais conclusivo da simplicidade das pombas, pois deixamos de ser simples quando voltamos nossa consciência para a auto-importância que nos impõe ver o outro como diferente. Para mais (e então buscamos superá-lo) ou para menos (e sobre ele triunfamos).

Consigo equiparar pardais a pombas, no quesito simplicidade. Mas não vejo simplicidade nas andorinhas, nos sabiás, nos sanhaços, nos joãos de barro, estes com suas casas artísticamente artesanais. Por mais belos que sejam, e por isso mesmo, simples não são. Pombas são simples, desprendidas, entregues. O faisão está para a riqueza quanto a pomba está para a pobreza, até mesmo nos rituais dos sacrifícios da Lei de Moisés.

Jesus nos diz: sejam como elas.

Porque a contramão da simplicidade traz grife, luxo, luxúria, endividamento, sobrecarga, prazeres que desembocam em dissabores, ansiedades, fobias, depressão pós euforia consumista, soberba da vida, jactância e tudo mais que   não presta. Traz poder, mas este não traduz força.

Sempre gostei de pensar no fato de que ser simples é barato, e tudo que não é simples é caro, mas sem valor real. O valor é só aquele que é atribuído. Isso vale para coisas e pessoas. Por ser caro, o não-simples é efêmero: no uso e no tempo.

Já percebi que diferentemente do sofisticado, o simples está carregado de afeto.  O sofisticado costumeiramente é frio, seja objeto ou gente. E quando objeto, o afeto é aquele que ele pode inspirar. Positivo para o simples, com certeza, mas só para o simples.

Melhor é ser barato, ou se arriscar a cair nas palavras do Filho de Deus: “Assim é  o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus.” – Lucas 12:21. Este troca a simplicidade por um vazio.

Fomos chamados a ser pombas. Não faisões, nem pavões. Ovelhas. Nunca lobos.

Intimismo Divino

“Como tenho saudade dos meses que se passaram, dos dias em que Deus cuidava de mim…Como tenho saudade dos dias do meu vigor, quando a amizade de Deus abençoava a minha casa.” – Jó 29:2 e 4.

Esta linguagem que expressa uma experiência colocada no vazio de um saudoso passado, aponta uma possibilidade oferecida à fé, que pode ser vista,  pelo  menos, em dois textos que devem cativar nosso interesse espiritual: “Cheguem-se a Deus e Ele Se chegará a vocês”(Tiago 4:8), e: “Aproximemo-nos, com sincero coração”(Hebreus 10:22). Pois falam de uma proposta intimista, impossível ao homem comum imaginar, na relação pessoal do homem com seu Deus, por meio de Cristo Jesus. No entanto, foi o que nos ofereceu Jesus, e também podemos visibilizar isto em dois textos que registram Sua fala: “Quantas vezes eu quis ajuntar teus filhos, como a galinha ajunta seus pintainhos sob suas asas”(Mateus 23:37); e: “Entra no teu aposento e fala em secreto com teu Pai. E teu Pai que está em secreto, te recompensará” – Mateus 6:6.

Outro tanto, além de Jó, temos o registro dessa possibilidade sublime, na súplica de Daví, no salmo 57:1 – …“pois em ti a minha alma se refugia. Eu me refugiarei à sombra das tuas asas, até que passe o perigo.” Belíssimo. Do mesmo nível da promessa que afirma: “Aquele que habita no abrigo do Altíssimo e descansa à sombra do Todo-poderoso pode dizer ao Senhor: “Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio”. – Salmos 91:1-2.

E tudo isso nos aponta a possibilidade de um intimismo com Deus, possível ao  que O ama, ao qual Ele Mesmo nos convida, como expressa o salmo 25:14 – “A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança.”- Salmos 25:14 ARA.

Jó lamenta a perda desse intimismo, conforme ele supunha haver perdido, e indo na direção inversa do seu lamento, podemos alinhar alguns pontos de excelência dessa experiência, ou seja, os resultados que ela produz, dos quais ele sentia saudade. Isso para nos conscientizarmos do que podemos viver pela fé, quando vivendo em intimismo com Deus. Ao mesmo tempo, uma vez crentes veteranos, consciência do que provavelmente estamos perdendo.

Quero salientar cada um deles aqui, apontados em seu lamento no capítulo 29 do seu livro:

Efeitos internos 
  • “…dias em que Deus cuidava de mim,” Paulo usa desse verbo para significar do cuidado de Cristo pela igreja, em Efésios 5. Pedro afirma: “Ele tem cuidado de vocês”.
  • “ …a sua lâmpada brilhava sobre a minha cabeça e por sua luz eu caminhava em meio às trevas!” Lembram: “porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” – Romanos 8:14.
Efeitos externos: 
  • Honra pública: “Quando eu ia à porta da cidade e tomava assento na praça pública; quando, ao me verem, os jovens saíam do caminho, e os idosos ficavam em pé; os líderes se abstinham de falar e com a mão cobriam a boca.”- vv7-9;
  • Vida de santificação: “A retidão era a minha roupa; a justiça era o meu manto e o meu turbante.”- 14;
  • Frutos da Sabedoria: “Os homens me escutavam em ansiosa expectativa, aguardando em silêncio o meu conselho. Depois que eu falava, eles nada diziam; minhas palavras caíam suavemente em seus ouvidos. Esperavam por mim como quem espera por uma chuvarada e bebiam minhas palavras como quem bebe a chuva da primavera.” 21-23;
  • “Era eu que escolhia o caminho para ..”(v.25) – Isto nos lembra: “O justo é um guia para o seu companheiro”.

Há algo mais que Jó nos ensina como fruto de uma vida íntima com  Deus: “quando o Todo-poderoso  ainda estava comigo…” – A companhia de Deus vista  em Seu poder. Jeremias fala disso quando diz: “O Senhor está comigo como valente guerreiro” (20:11). Mas a ênfase recai sobre a sentença “estar comigo”. Companhia. Companheirismo. A maior expressão de bênção que a Graça  promete. A fé que não nos move a este desejo, nem pretenda levar-nos até aí, é vazia em todos os sentidos. Mas somos convidados a chegar a esse nível de vida de comunhão. Menos que isso é desperdício.

Inconformação

I Samuel 17:16 e 23.

À luz deste texto, quero falar sobre inconformação, sobre ser inconformado. Não podemos nem devemos confundir os termos. Não falo de inconformistas nem de inconformismo. Estes dois apontam para um status quo, que só tem a ver com intemperança, intolerância. Não tem valor moral, é apenas sentimentalismo  político e psíquico. Inconformação, no entanto, fala de uma atitude, e esta de caráter espiritual, vinculada a uma nova natureza e a decorrente visão da vida que ela traz.

O texto que lemos é a autêntica réplica da diferença entre a conformação e a inconformação. A conformação aqui está muito bem caracterizada pelas atitudes   e reações do exército de 3 mil homens de Saul, ele inclusive. Toleraram durante 40 dias o filisteu Golias afrontá-los, tomando posição, duas vezes ao dia, o que dava um total de 80 vezes! Durante seis semanas! Por conta dessa tolerância, dia a dia o filisteu foi ganhando terreno.

A inconformação se mostra na atitude de Daví, a quem bastou ouvir o desaforo uma única vez para não aceitá-lo.

A conformação tem esse caráter: acostuma-se com o que é indevido, incorreto, injusto, até mesmo agressivo.

O mundo se ocupa em agir exatamente como Golias. Por mais bizarra seja sua forma, vai se posicionando devagar e sempre. Se não encontra a devida resistência, vai tomando posição, ganhando terreno.

O diabo se serve muito bem desse artifício para ganhar espaço na vida do crente em todas as dimensões. Daí a Palavra de Deus advertir: “Não deem lugar ao diabo”, e outra vez: “Resistam ao diabo e ele fugirá de vocês”.

Não dar lugar, guardar a posição, resistir; são movimentos em desuso hoje em muitas vidas, e os danos não se fazem esperar.

No lazer.

No descuido com as ferramentas espirituais. Na linguagem.

No uso do que é inerentemente mundano.

Lembram?: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convém”. “As más companhias corrompem os bons costumes”. Estamos sujeitos a cada uma delas. Mas a vigilância reclama não conformar-se. Porque o resultado é perda de discernimento. Em seguida, perda de forças. Por fim, derrota, como aconteceu  com Sansão, herói de Deus.

Por isso somos alertados em Romanos 12: 2 – “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de

Deus.” Isto requer, maioria das vezes o sacrifício aludido no verso 1 do mesmo texto: “Portanto, irmãos, rogo pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês.”

Conformar-se é atitude cômoda, mas desprovida de sabedoria. Não produz testemunho cristão, mas revela caráter de tolo.

O Discípulo e o Espírito | Atos de Discípulos (13)

“Estêvão, homem cheio da graça e do poder de Deus, realizava grandes maravilhas e sinais no meio do povo. Contudo, levantou-se oposição dos  membros da chamada sinagoga dos Libertos, dos judeus de Cirene e de Alexandria, bem como das províncias da Cilícia e da Ásia. Esses homens começaram a discutir com Estêvão. Mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava…Olhando para ele, todos os que estavam sentados no Sinédrio viram que o seu rosto parecia o rosto de um anjo… Mas Estêvão, cheio  do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus, e disse: “Vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé, à direita de Deus”. Mas eles taparam os ouvidos e, dando fortes gritos, lançaram-se todos juntos contra ele, arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”. Então caiu de joelhos e bradou: “Senhor, não os  consideres culpados deste pecado”. E, tendo dito isso, adormeceu.” – Atos 6:8,9,10, 15; 7: 55-60.

Tanto à força do relato do livro de Atos que registra as palavras de nosso Senhor estabelecendo a fonte do poder de nosso testemunho cristão, quanto pela doutrinação aprendida nas epístolas de Paulo, estamos convictos de que para sermos discípulos de Cristo, legitimamente, precisamos viver cheios do Seu Espírito Santo. Realça-se o texto exortativo de Gálatas 5:25 – “Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.”

Mas essa terminologia, “ser cheio do Espírito”, acabou caindo para a formatação de um slogan técnico-piedoso, se me faço entender, e recebeu, por conta disso, vinculações de significado fantasioso, que a deixou longe de seu sentido e comprometimento real. Hoje, até há alguns que cobiçam uma “vida no Espírito”. E há ainda outros que a buscam, mas ou desistem no meio do caminho, ou se assustam e recuam quando se dão conta de que nem tudo flui magnífica ou fantasticamente como pretendido.

Estêvão, aquele mesmo visto anteriormente como escolhido para a diaconia por ser cheio do Espírito, de fé e de sabedoria, serve como ilustração real para nós, dos efeitos prováveis de uma vida na plenitude do Espírito Santo de Deus.

Podemos sinalar os efeitos ministeriais desse revestimento testemunhal: “Estêvão… realizava grandes maravilhas e sinais no meio do povo”.

Podemos sinalar evidências desse caráter sob o revestimento testemunhal: “Mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava…Olhando para ele, todos os que estavam sentados no Sinédrio viram que o seu rosto parecia o rosto de um anjo”.

Quem não quer, como cristão genuíno, discípulo comprometido, estar cheio do Espírito e viver em tais dimensões? Todavia, chama a nossa atenção uma palavra devidamente bem colocada por Lucas na descrição de seu texto, em 6:9, que não apontamos anteriormente. Após descrever os efeitos do poder de Deus através de Estêvão, Lucas diz: “Contudo…” e passa a falar da oposição que tal poder  desperta entre seus observadores hostis. “Contudo” significa: apesar de, a despeito de, embora… E mais especificamente quanto a Estêvão, contudo pode significar legitimamente “por causa disso”. Paulo, noutro tempo disse a Timóteo: “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.”- 2 Timóteo 3:12. À luz desta palavra já ouvi crentes darem graças por não serem cheios do Espírito. Impossível não pensar que a Palavra em Hebreus 11:16, “…Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles…” não lhes pertence.

O que queremos ressaltar é que um discipulado cheio do Espírito pode traduzir-se em frutos dignificantes, experiências sobrehumanas, e virtudes incomuns; mas também reserva espaço para perseguição e até sofrimento, porque vivemos no mundo tenebroso e pisamos num terreno que nos é hostil. Mas conquanto a vida no Espírito possa custar tão alto preço, é ainda mais atraente, e sublima tudo e qualquer coisa quando, por conta disso mesmo, os discípulos cheios do Espírito podem ser tomados da convicção de que tal como Estêvão, em algum momento podem dizer: “…cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a  glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus, e disse: ‘Vejo os céus abertos e  o Filho do homem em pé, à direita de Deus”. Só por isso, e acima de tudo, compensa dar ouvidos à exortação paulina que diz: “…mas deixem-se encher pelo Espírito” – Efésios 5:18. Amém.

Assemelhados ou Deformados

“Ora, o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor ali há liberdade. E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito.”  – 2 Coríntios 3:17-18

Transformação é a palavra. É o compromisso do Evangelho na vida em cujo coração sua verdade entra e permanece. É o programa de Deus com o homem que por viver longe da cruz, estava “vazio da glória de Deus”, e portanto deformado quanto ao plano divino original ao colocar nele a imagem e semelhança do Seu criador. Decaído, o ser humano passou a viver uma experiência de deformidades, na moral e na espiritualidade, revelada em seu comportamento, forma de ver e perceber a existência e o outro. Sem Deus no mundo, na linguagem de Paulo em Efésios 2:12. Mas, uma vez tendo nascido de novo, nascido do Espírito pela fé em Cristo e Sua obra, o Mesmo Espírito de Deus iniciou um programa de restauração a que a Palavra de Deus chama de transformação.

A transformação envolve todo o ser. Evidencia-se num crescendo contínuo no trato com a vida. Desde a afetividade até o colocar-se diante dos desafios existenciais. Minimamente traduz-se por mais presença divina na forma de ser humano. Mais sentimentos do céu, que longe de se agregarem aos afetos e desejos mundanos, substituem-nos, porque o apóstolo deixou claro em nosso texto: esta é uma operação que ocorre com o rosto descoberto, ou seja, longe da realidade do judaísmo antigo, na observância restrita da Lei, onde o rosto encoberto servia para esconder o que perdia força. Não. É com a cara limpa, sem hipocrisia, que vivemos e reagimos à transformação de natureza que se opera em nós.

Este é o processo: cada vez menos da natureza decaída, e cada vez mais natureza divina, a um só tempo correspondendo a duas figuras de linguagem de que se serve o apóstolo dos gentios: “Cristo em vós” e: “Bom perfume de Cristo”.

E onde se pode perceber esses “sintomas” de vida transformada, em primeiro plano? Seria numa postura litúrgica, ritualística, ou no uso da liberdade que a presença do Espírito traduz? Sim, nela. Evidenciando-se na vida pública, doméstica, cúltica e demais, denunciada pela aspirações elevadas que se revelam nas buscas pelo que é do Alto; na desistência do que não edifica; na linguagem que evidencia aquilo de que está cheio o coração, e este, antes de tudo, grato e adorador. Livre de artificialismos para se sentir e entender gente. Sem necessidade de outro “combustível” para existir, a não ser Cristo e Sua glória.

Vale lembrar um santo apelo: “Transformem-se pela renovação do seu entendimento” – Romanos 12:2.

A Natureza dos Homens do Reino

I Samuel 16: 14-23; 18: 8-12;19:8-9; 26: 7-12.

Onde reside o grande diferenciador entre os que pertencem a Deus e os que nada querem com Ele? A participação em cultos? Conhecer a Bíblia? A certeza de salvação? O evangeliquês?

Ou é uma questão mais interior, de natureza transformada?

A natureza humana é revelada pela personalidade de cada um. O coração é o grande diferencial, como diz Provérbios: “Do coração procedem as saídas  da vida”. Por isso Jesus disse que “a boca fala do que está cheio o coração.”

O Senhor delimitou a diferença estabelecendo-a na comparação entre duas naturezas: lobos e cordeiros. Eis o texto: Lucas 10:3 – “Vão! Eu os estou enviando como cordeiros entre lobos”.

Ou temos a natureza de cordeiros ou a de lobos. Jesus nos mandou aprender com Ele, o Cordeiro de Deus. Antes de enviar Seus discípulos, chamou-os para estarem com ele.

Quero ilustrar esse grande diferenciador com a história de Davi e Saul que nossos textos registram. Eles ilustram perfeitamente essa aguda diferença pelo fato de serem os dois duas pessoas escolhidas por Deus e revelarem suas diferenças habitando num mesmo ambiente.

Chama nossa atenção o fato de os dois serem guerreiros e valentes, mas um trazia em si a natureza de cordeiro e o outro, de lobo.

O diferenciador maior está no uso que fazem do que têm à mão em casa.  O cordeiro Daví carrega uma harpa, e a usa, tocando para amansar e aliviar.

O lobo Saul carrega uma lança e a usa para ferir, encravar na parede e matar.

E então começa um jogo de naturezas diferenciadas:

  1. O lobo quer armar o cordeiro. Este não consegue usar as armas daquele.
  2. Quando o lobo ataca com a lança, o cordeiro toca a harpa para amansá-lo.
  3. Se não consegue, foge, mas não devolve a lança. Por que? Porque cordeiros não entendem de lança, só lobos a usam; porque se devolver, vai rearmar o lobo.
  4. Por fim, tocando harpa e saindo de cena, o cordeiro consegue desarmar o lobo. 26: 7-12.

Preciso lembrar o que Deus disse a respeito deste cordeiro? É bastante ler Atos 13:22 – “Depois de rejeitar Saul, levantou-lhes Davi como rei, sobre quem testemunhou: ‘Encontrei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração; ele fará tudo o que for da minha vontade’.”

O que falam nossas mãos? O que carregam? Harpa ou lança? Dessa diferença depende saber a natureza que nos mobiliza: cordeiros ou lobos. Nunca é tarde para depormos nossas armas, mudarmos de instrumentos, e afinar nossas harpas pelo Espírito Santo de Deus.

Nossa história mostra que a diferença básica entre Davi e Saul é que Deus era com Davi, e em Saul operava um “espírito arruinador” ou maligno. A Bíblia afirma que nós temos o Espírito de Cristo. Devemos viver guiados por Ele, sob Seu domínio e controle, filhos do Cordeiro.

Um recado, a propósito: Nestes dias de tanto embate político desde as últimas eleições, tenho visto pastores e crentes outros, aferrados numa luta renhida partidária e ideológica, dispersando lanças, mais que farpas, de ambos os polos, revelando uma natureza que de cordeiro nada tem. Deplorável!

Liturgia de Servo | Atos de Discípulos (12)

Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: “Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra”. Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos. Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé.” – Atos 6:1-7

Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas, Nicolau. Sete homens, para prestar serviço de assistência social a mais de cinco mil pessoas. Muito mais. Inauguraram o que padronizou-se e tradicionalizou-se nas igrejas no passar dos séculos, como diaconia, ou corpo de diáconos. Paulo mesmo, quando organizava as igrejas por ele inauguradas onde passava, preocupava-se a dar seguras orientações quanto a esse ministério que não podia faltar na igreja estabelecida.

Hoje encontramos igrejas com menos de duzentos participantes, no entorno de  um corpo diaconal formado muitas vezes por uma dezena de diáconos. Penso na objetividade do serviço na igreja de Jerusalém, fazendo inevitável comparação. Milhares de pessoas assistidas em suas necessidades diárias por sete homens apenas? Eles davam conta? Era bastante? O serviço era pouco? (Entre milhares…). O texto expõe que o trabalho deles era servir às mesas (está no plural) e para suprir as famílias em suas necessidades básicas. Diariamente.

Mas o que me chama a atenção é o critério adotado para eleger esses sete. E o fato de que dentre eles, dois sobressaíram e fizeram história na igreja através de seus testemunhos: Estêvão e Filipe.

A escolha seria feita pelo povo debaixo de um processo dedutivo de observação. Seria necessário nomear alguns (quantos? Eles delimitaram, e por isso o fruto da

observação resultou em sete nomes, apenas). E o que deveriam observar? Que para servir no corpo de Cristo, os homens só poderiam ser escolhidos dentre os que apresentassem este trinômio de virtudes: bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Não bastava bom testemunho? Não. Impossível dar bom testemunho sem estar cheio do Espírito Santo, pois Jesus havia dito (Atos 1:8)  que para ser testemunha era necessário estar cheio do Espírito. Outro tanto, estar cheio do Espírito precisa estar cingido à sabedoria, porque o poder espiritual desprovido dela, transforma o carisma em mau caráter. E falta de sabedoria jamais atesta bom testemunho, logo o trinômio era um cordão de três dobras indissociáveis.

Isso tudo para servir às mesas. Penso no que a Igreja deveria esperar dos que para além destes, tinham de manter o encargo do “ministério da Palavra de Deus!” Penso comigo, com temor e sem sarcasmo, apenas compartilhando um pensamento, que se as igrejas desta geração pudessem guarnecer-se de ministradores da Palavra sob tais critérios, que tipo de diaconia elas teriam? Porque a mim parece que os valores para a liturgia foram estabelecidos nesta ordem: a partir daqueles para esses.

E que diáconos! Um morre como mártir, vendo o céu se abrir e contemplando ali o Senhor Jesus! O outro é visto tempos depois, sendo levado pelo Espírito de Deus como instrumento de um grande avivamento na cidade de Samaria, e em seguida descendo até Gaza onde batiza um ministro do governo da Etiópia. Imagino um homem desses em nossos púlpitos. Imagino os que por ele foram servidos às mesas, na comunidade de Jerusalém, que talvez sequer se apercebessem que naquele ofício simples de distribuir víveres, estava o embrião de um evangelista a quem Deus usaria para fazer… o quê?: Servir no ministério da Palavra de Deus.

Em resumo, penso com meus botões, que, o critério de escolha tinha de ser de tal quilate, porque tanto quanto nos ministrantes da Palavra estava a verve do servir, quanto no serviço diaconal estava a verve do ministrar a Palavra. Porque Deus vê os serviços no mesmo nível. É liturgia, serviço ao Corpo de Cristo. Porque o Espírito é o Mesmo. Quem muda é o homem.

Deus “Tateado” | Atos De Discípulos (11)

O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da terra e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas. De um só fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar. Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós. ‘Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês: ‘Também somos descendência dele’. “Assim, visto que somos descendência de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante a uma escultura de ouro, prata ou pedra, feita pela arte e imaginação do homem. No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu  provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. – Atos 17:24-31

Este extraordinário discurso de Paulo no areópago de Atenas tem o valor de um credo, uma bula confessional. Há nele uma boa quantidade de assertivas, que revela a natureza e o propósito do Deus Eterno, capaz de admirar qualquer inquiridor sincero das coisas espirituais. Deter-nos sobre cada uma é atraente,  mas tarefa que exige muito espaço. Uma, no entanto, merece um destaque especial pelo que traz de incomum. Repare: “Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós”. Primeiro, importa salientar a que ele se refere por “Deus fez isso”. Ele afirmou: Deus fez o mundo e todos os povos a partir de um só, tendo determinado tempo e lugares exatos em que deveriam habitar. E então, depois de dizer o que Deus fez, afirma por que o fez: para que esses homens O buscassem. E nos surpreende com a sentença: “talvez, tateando, pudessem encontrá-Lo…”

Ora, importa considerar que o apóstolo não está afirmando que Deus possa ser encontrado por meio de um apalpar, tatear, como quem anda em trevas e não consegue ver o que procura. Pois afirma categoricamente que Deus está perto, à mão, para ser achado por quem O busque. O “talvez” ou “ainda que”, de que se serve o apóstolo, tem por finalidade que os buscadores de Deus podem ter tal pretensão, mas o Deus Eterno está acessível, não brinca de “esconde-esconde”.

É o homem, como aqueles curiosos filósofos de Atenas, quem opta por tatear, para estabelecer uma busca em seus próprios termos. Sabemos que o Deus Eterno nos enviou Seu Filho como o Caminho, e a Porta de livre acesso à Sua presença e glória. Mas em geral as pessoas preferem criar atalhos. Um adágio popular assume que “todos os caminhos levam a Roma”, para significar também que “todas as religiões levam a Deus”. Atalhos não aproximam ninguém de Deus. Antes afastam.

Por conta disso, destaco um fato histórico de uma buscadora, nos dias de Cristo que pretendeu se aproximar Dele, tateando. É a história narrada nos três primeiros evangelhos, a respeito da mulher que sofria havia doze anos, de uma hemorragia que nenhum médico curava. A narrativa do evangelho de Marcos diz que ela ouviu falar de Jesus, e decidiu que podia chegar até Ele, tocá-Lo, ser curada, e fazer tudo isso ocultamente, sem se expor. Decide que vai chegar por detrás Dele, tocar na orla de Suas vestes, lá nas franjas, abaixadinha, para não ser percebida. Tanto que o fez, e pensou ter saído incógnita. Ninguém a viu aproximar-se. Ela literalmente tateou até encostar em Sua roupa. Não tocou em nenhuma parte do Seu corpo. Na roupa, e no extremo dela. Mas isso foi suficiente para que Ele dissesse: “Alguém me tocou”. O que nos surpreende é que tal afirmação foi precedida de uma pergunta: “Quem me tocou?” O texto continua e afirma que a mulher ao ver que não podia manter-se escondida, se expôs. Ora, o Jesus que aqui pergunta “Quem?”, é o mesmo que diz a Natanael quando o encontra: “Eis aí um israelita sem dolo” e quando o moço se espanta perguntando: “De onde me conheces?” Como quem diz: “Nunca nos vimos antes”, Jesus o surpreende dizendo: “Antes que Felipe te achasse, eu te vi debaixo da figueira”.  É  este mesmo Jesus com tal poder onisciente, que agora questiona: “Quem me tocou?”. Somos de imediato levados a comparar esta cena com aquela dos primórdios, após a queda de Adão , em que o Deus Onisciente lhe pergunta: “Onde estás?”. Nosso conhecimento dos atributos divinos não nos permite ver conteúdo real para esta questão. Ela pretende provocar uma resposta. A mesma coisa se passa entre Jesus e aquela senhora enferma. Ele a força a expor-se, e feito isto, aproximar-Se. E mais: a partir do momento em que ela se apresenta, expõe-se, Ele tanto Se aproxima quanto a aproxima de Si, ao chamá-la carinhosamente de “filha”. Este é um termo raro no trato de Jesus com os Seus.

Este fato histórico ilustra para nós, minimamente, quanto é verdadeira a afirmação de Paulo de que o Senhor está perto dos que O buscam, mas os quer procurando-O abertamente, sem subterfúgios, sem terceirizar a busca, fora de seus termos racionais, mas segundo Seus meios revelacionais. Daí Ele não ter

deixado aquela mulher sair, levando sua cura, sob o risco de fundar uma nova  seita que apregoasse a possibilidade de achá-Lo e segui-Lo pelo tato, às apalpadelas, segundo seu imaginário ditando meios à força das necessidades, de forma a pretender que bastaria chegar escondida, tocar em uma relíquia que O represente, e sair incógnito, sem nenhum envolvimento pessoal e direto. Não. O Filho de Deus queria revelar àquela mulher que não basta chegar perto e se servir, e sair satisfeita com o resultado de suas tentativas de aproximação. Ele revelou  por fim, que Quem quer tocá-Lo deve vê-Lo de frente, expor-se, porque Seu propósito é fazer dos buscadores filhos diletos, numa relação pessoal e aberta  com Ele, onde se possa dizer, muito mais que “se tão somente eu tocar em Sua veste”, um “Aqui estou. Sou eu. Eu mesmo, que te busco e quero ser visto por Ti”. Sem tatear, mas diretamente, diálogo aberto e franco. Face a face, usando a mesma fé para dizer sem medo: Preciso de Ti.

Por fim, aprendemos que quem pretenda se achegar tocando naquilo que O representa, apenas tateia. Limita-se a ser visto por Ele como um pronome:  “quem”; “alguém”. Mas os que O buscam abertamente e a Ele se expõem, são surpreendidos por uma solene declaração: “Filho!”

Sementeira da Vida

Semeiem a retidão para si, colham o fruto da lealdade e façam sulcos no seu solo não arado; pois é hora de buscar o Senhor, até que ele venha e faça chover justiça sobre vocês. Mas vocês plantaram a impiedade, colheram o mal e comeram o  fruto do engano…” – Oseias 10: 12-13.

Sempre achei por demais significativa a alegoria criada por Paulo em Gálatas 6:7, trabalhando com a ideia de causa e efeito, ali exposta na forma de semear e  segar. E mais me chama a atenção o fato dela trazer uma advertência agregada: “de Deus não se zomba”, como se para enfatizar a assertiva como sendo uma lei irreversível sobre a qual se debruçam a justiça e a honra de Deus.

Todos os nossos movimentos na vida, sem exceção de um sequer, redundam nesse binômio de viés cartesiano: semear e segar. Do momento em que despertamos no dia, até cessarem nossas atividades e pensamentos, esse exercício está em plena funcionalidade. Até mesmo no ócio, cumprimos a lei de causa e efeito. Das coisas que perpetramos a nosso favor, ao que produzimos em favor de outros, a lei inexorável do semear e colher está em ação. É tal que nela não cabem justificativas nem desculpas que amenizem seus efeitos. Lamento por aqueles que dela não se apercebem, e ainda dos que pretendem que por sermos filhos da graça, estamos livres dos efeitos de sua mecânica. Eis por que, aconselhando quanto a semear bens, Paulo dilata a alegoria, trabalhando com outra assertiva lógica, dizendo que colheremos na proporção de nossa sementeira: se semearmos pouco, pouco colheremos. Se semearmos muito, segaremos muito. Importante ressaltar que, conquanto o apóstolo no texto de II Coríntios 9:6 aluda a dinheiro, a lei do semear e segar vale para todo e qualquer tipo de semente.

Por conta disto, a Palavra de Deus exorta conosco com  advertências sábias, como vistas em Oséias , no texto acima, ao qual acrescentamos ainda Oseias 8:7 e Jó 4:8, respectivamente: “Porque semeiam ventos e segarão tormentas;…”; “Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniquidade e semeiam o mal, isso mesmo eles segam.” Jó 4:8.

Posto isto, e imbuídos do temor que a Palavra de Deus produz nos sábios que creem, convém reflexionar: Quais sementes devo priorizar como cristão para abençoar e ser abençoado?

O Senhor Jesus começou Seus ensinos nos mostrando as sementes que  trazemos conosco, por obra do Seu Espírito, e que fazemos bem em cuidar de lançá-las em nossa caminhada na vida, em todos os seus âmbitos e interrelacionamentos. Vamos a elas:

Mateus 5: 3-9 : “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem- aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.”

1- Sementes de humildade. A colheita: O Reino dos céus
2- Sementes de lágrimas. A colheita: Consolação
3- Sementes de mansidão. A colheita: Conquista de espaço, liberdade
4- Sementes de fome e sede de justiça A colheita: Saciedade, plenitude.
5- Sementes de misericórdia A colheita: Misericórdia
6- Sementes de santificação A colheita: Ver a Deus, comunhão com
7- Sementes de Paz A colheita: Identificação com Deus.

Se você atentar bem, elas obedecem a uma espécie de ordem, onde uma  favorece o exercício da outra, cumprindo uma interdependência. A humildade implica em arrependimento, reconhecer-se pecador; o efeito inevitável é lágrimas do despojamento que esse “descer” de si mesmo causa. Abre-se espaço para  uma nova forma de ser e reagir ante os desafios da vida: mansidão. E aqui a identificação com o Senhor Jesus começa a alçar vôo (“Aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração”). A vida agora quer alimentar-se de outros insumos: justiça, retidão. Inevitavelmente a misericórdia se torna a  nova ferramenta nesse processo. Uma vida cujas sementes têm esse caráter, já está separada do todo no seu devir: santifica-se, como quem limpa o coração, e tudo o que dela advém se revela fruto de paz.

Veja bem: nenhuma semente destas, uma vez lançada, deixará de dar o fruto que a ela se segue, na colheita, porque Aquele que prometeu é fiel para cumprir.

Mas vale também lembrar que cada um de nós traz sementes próprias de nossa natureza adâmica: ira, maledicência, egoísmo, cobiça, infidelidade, injustiça,  e uma lista interminável delas, que uma a uma, se não destruída, cairá no solo e brotará, com certeza. E então, mais uma vez cabe lembrar a exortação: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear isso também colherá. Quem semeia para a sua carne da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito do Espírito colherá a vida eterna.” Gálatas 6: 7 e 8.

Se Esta Obra For De Deus… | Atos De Discípulos (10)

Então o sumo sacerdote e todos os seus companheiros, membros do partido dos saduceus, ficaram cheios de inveja. Por isso, mandaram prender os apóstolos, colocando-os numa prisão pública. Mas durante a noite um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere, levou-os para fora e disse: “Dirijam-se ao templo e relatem  ao povo toda a mensagem desta Vida”. Ao amanhecer, eles entraram no pátio do templo, como haviam sido instruídos, e começaram a ensinar o povo. Quando chegaram o sumo sacerdote e os seus companheiros, convocaram o Sinédrio— toda a assembleia dos líderes religiosos de Israel—e mandaram buscar os apóstolos na prisão. Todavia, ao chegarem à prisão, os guardas não os encontraram ali. Então, voltaram e relataram: “Encontramos a prisão trancada com toda a segurança, com os guardas diante das portas; mas, quando as abrimos   não havia ninguém”…Nesse momento chegou alguém e disse: “Os homens que os senhores puseram na prisão estão no pátio do templo, ensinando o povo”…Tendo levado os apóstolos, apresentaram-nos ao Sinédrio para serem interrogados pelo sumo sacerdote, que lhes disse: “Demos ordens expressas a vocês para que não ensinassem neste nome. Todavia, vocês encheram Jerusalém com sua doutrina e nos querem tornar culpados do sangue desse homem”. Pedro e os outros apóstolos responderam: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens! O Deus dos nossos antepassados ressuscitou Jesus, a quem os senhores mataram, suspendendo-o num madeiro. Deus o exaltou, elevando-o à sua direita como Príncipe e Salvador, para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados. Nós somos testemunhas destas coisas, bem como o Espírito Santo, que Deus concedeu aos que lhe obedecem”. Ouvindo isso, eles ficaram furiosos e queriam matá-los. Mas um fariseu chamado Gamaliel, mestre da lei, respeitado por todo o povo, levantou-se no Sinédrio e pediu que os homens fossem retirados por um momento. Então lhes disse: “Israelitas, considerem cuidadosamente o que pretendem fazer a esses homens…Portanto, neste caso eu os aconselho: deixem esses homens em paz e soltem-nos. Se o propósito ou atividade deles for de origem humana, fracassará; se proceder de Deus, vocês não serão capazes de impedi-los, pois se acharão lutando contra Deus”. Eles foram convencidos pelo discurso de Gamaliel.”- Atos 5:17-18, 20-35, 38-42.

Este é o trecho em que somos pela primeira vez apresentados a Gamaliel. Vamos ouvir falar dele de novo, por Paulo, muitos anos mais tarde, quando o aponta  como seu principal mestre entre os fariseus, e o faz, enfatizando a honra usufruída

por ter sido seu discípulo (Atos 22:3). Neste quesito percebemos no entanto, que Paulo não foi bom aluno, pois a natureza e a filosofia de Gamaliel eram: “perseguição não”, e o Saulo que surge após os anos de aprendizado é o principal perseguidor da Igreja. Mas, felizmente, mau discípulo de Gamaliel como Saulo, agora como o Paulo, ele veio a tornar-se um dos melhores discípulos do Senhor Jesus.

Mas nossa ênfase está no poder do discurso de Gamaliel. Em que ele pode ser percebido como poderosamente persuasivo? No fato de dobrar a cerviz dos religiosos de Jerusalém, que estava endurecida por ódio maligno no coração. Algumas coisas extraordinárias aconteceram entre eles, milagres de impactante evidência, como a soltura misteriosa dos apóstolos, mas eles resistiram como cegos e surdos à manifestação do poder de Deus. Os apóstolos, uma vez postos no cárcere por aquela gente, e fortemente guardados e vigiados em sua prisão, são extraordinariamente libertos dela pelo agir de anjos. A cena chega mesmo a ter resquícios de humor quando a vemos em seus detalhes, porque as autoridades religiosas os mandaram prender e foram para casa, sob o compromisso de ter como primeira pauta de sua reunião na manhã seguinte, o confronto e julgamento dos presos. Enviam, por conseguinte, os guardas para buscarem os prisioneiros  na cadeia, que em lá chegando, ordenam às sentinelas que os retirem para levá- los ao Sinédrio. E as sentinelas voltam de mãos vazias. O relato é divertido: “As portas estavam trancadas; as sentinelas estavam em seus postos, mas do lado de dentro não havia ninguém.” Em outras palavras, presos mesmos eram os carcereiros que guardaram o cárcere vazio a noite inteira. Em meio ao relato chega alguém e diz: “Os presos estão soltos. E lá no templo, falando como ontem”.

Houve um interregno em que eles saindo da cadeia, passaram juntos a noite, esperando o dia amanhecer para cumprirem a ordem angélica de ir ao Templo  falar “as coisas desta Vida”. Acredito que juntos celebravam o milagre, ansiando pela manhã de serviço.

Feita esta digressão, atentemos ao fato de que o ódio no coração daquela gente “santa” os impediu de verem o milagre e temerem. Impediu-os de crer no  eloquente discurso de Pedro que lhes dizia: “O Deus dos nossos antepassados ressuscitou Jesus, a quem os senhores mataram, suspendendo-o num madeiro. Deus o exaltou, elevando-o à sua direita como Príncipe e Salvador, para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados”. Gosto particularmente da ênfase: “Deus o exaltou…para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados”. Acredito que Calvino se empolgou com esta ênfase aqui.

Mas aquela gente capitulou não ao milagre, nem à pregação de Pedro. Foi ao discurso simples de Gamaliel. O texto diz que eles ouviram e atenderam. O discurso se resumiu em dizer, trocando em miúdos: “Dêem um tempo para ver. Se for de Deus, prevalecerá. Se não for, cessará. Cuidado, porque se for de Deus, vocês descobrirão que lutaram contra ele”.

Aí está uma verdade que mais de dois mil anos de pregação cristã atestam. De grupos a indivíduos, tudo que procede de Deus, vence os desafios e o tempo. Medra, mesmo a partir de um único grão, e cresce. Algumas vezes a colheita é feita após longa data e por outros que não a semearam. De igual forma, em sua sabedoria Gamaliel afirmou outra assertiva: o que não foi por Deus estabelecido, perece, finda, cessa, antes de frutificar. Mas com as assertivas, o mestre fariseu também fez uma advertência: é possível lutar contra uma obra e obreiros de Deus. Todavia se a obra procede Dele, toda luta humana será achada contra Ele. Foi exatamente o que Saulo, discípulo dele, ouviu e experimentou em sua pele, quando indo a Damasco: “Por que me persegues?”.

Penso por fim, que Gamaliel deu seu sábio parecer, por ter feito a observação que o ódio religioso não deixou que os demais percebessem. Houve um livramento milagroso, logo Deus estava naquele negócio. Também acredito que Gamaliel atentou à pregação de Pedro, e temeu. Se assim foi, o Gamaliel que discursou após Pedro, já falou a favor do Reino. Você pensa como eu, que após ouvir a pregação ele possa ter crido? Sabemos, pelo menos, que seu discurso comprova- se como verdade: quando a obra procede de Deus, prevalece, porque é Deus Quem a realiza.