Os Dias no Tempo | Atos de Discípulos (1)

Depois do seu sofrimento, Jesus apresentou-se a eles e deu-lhes muitas provas indiscutíveis de que estava vivo. Apareceu-lhes por um período de quarenta dias falando-lhes acerca do Reino de Deus. Certa ocasião, enquanto comia com eles, deu-lhes esta ordem: “Não saiam de Jerusalém, mas esperem pela promessa de meu Pai, da qual falei a vocês. Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo”. Então os que estavam reunidos lhe perguntaram: “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?” Ele lhes respondeu: “Não compete a vocês saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade. Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”.  – Atos 1:3-8

Um contraste de interesses denunciado pelo contraste de atenção. Jesus fala aos discípulos por 40 dias sobre o Reino de Deus. Encerra Seu discurso durante uma refeição e é surpreendido por um questionamento na contramão do discurso: “É neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?”

Ele fala de céu e eles pensam na terra. Eles falam de ações de Cristo (“tu vais restaurar…?”) e Ele remete a ação à soberania do Pai. Eles pensam em seu chão, Jesus continua falando do Reino de Deus; acima e envolvendo o dos homens. E ao responder, ensina-nos coisas solenes que pertencem ao mundo dos discípulos.

Começa por mostrar que a questão por eles levantada não tem relevância para Ele. Em Sua resposta Ele não entra, explicitamente, no argumento “restaurar o reino a Israel”. Ele não Se prende ao tema época, ocasião, tempo. Ele estava falando de coisas do Alto para acontecerem dentro de poucos dias: a vinda do Espírito Santo. Eles se fixaram no argumento “poucos dias” e deram à promessa do batismo com o Espírito Santo o pressuposto de uma realização temporal. Era seu anseio como povo, perpassando séculos. Jesus pontua que eles estão preocupados com tempos e estações, o que não lhes compete. “Tempos e épocas”, diz Ele, “pertencem à competência do Pai em Sua soberania”.

E nós, discípulos na atualidade, continuamos assim: aferrados ao tempo cronológico e ocupados em trazer das coisas transcendentais, traduções temporais para dentro de nossas aspirações terrenas. Mas continua sendo verdade que mesmo o tempo cronológico aponta para futuro, que não temos como nem porque controlar, por mais que pretendamos. E ainda continua sendo verdade que Deus é o único Senhor do tempo e que dele Se serve para o Seu propósito e não para o nosso. Foi assim na história pessoal de Abraão, de Moisés, de Jacó, de Cornélio de Cesareia. É interessante observar que segundo o registro original de Lucas, Jesus falou em tempos e dias, como sendo da competência da autoridade de Deus. Quão confortante é saber que o Pai cuida do tempo até mesmo quanto aos dias, que costumamos contabilizar com inquietante vigilância!

Outro tanto temos o Filho de Deus sublimando a expectativa temporal dos discípulos com a promessa de serem testemunhas Dele desde Jerusalém até aos confins da terra. Numa só ideia Ele abarca o tempo distante, que nos alcança hoje visto na expressão “confins da terra”, e ainda o fato de que o envolvimento com o Reino de Deus na condição de testemunhas de Seu Filho, pulveriza o tempo; absorve os dias; sublima os anseios temporais e tem na sua consecução a satisfação de todos os anseios. Porque no “ser testemunhas até os confins da terra”, eles estariam tornando ativa a restauração do reino de Israel, dentro do plano de Deus para transformação do ser humano em Cristo, como foi dito em Romanos 11:26 – “E assim todo o Israel será salvo”. E isto acaba sendo a resposta necessária, ainda que não compreendida.

Discípulos foram chamados para abrirem mão de suas  expectativas temporais, deixando-as absorvidas na soberania dAquele que controla e dá conta do tempo, por ser Eterno.