O Crente o Zodíaco

Em pleno século XXI ainda nos deparamos com cristãos que se deixam arrastar e influenciar por superstições de cunho pagão e ocultista.

O zodíaco com os prognósticos do cotidiano é tão popular através da lábia dessa miríade de astrólogos e astrólogas infestando a mídia que até mesmo crentes incautos dão-lhe atenção e se permitem influenciar.

A origem do zodíaco remonta ao tempo em que a astrologia estava fundida à astronomia. Tão antiga que traz registros do século XIII a.c. Muito influente em especial entre os caldeus do sétimo século a.c., ela prevaleceu como ciência mística, que se servia também dos conceitos da matemática, e como ciência prevaleceu até o século XVII de nossa era, ao tempo de Kepler, a partir de quem dela se separou a astronomia, deixando- a confinada à observação da suposta influência das estrelas sobre a vida e o cotidiano dos seres humanos, desde o nascimento de cada indivíduo. E como consequência, com “previsão” de desdobramentos quanto a eventos históricos.

Ao tempo dos caldeus, a astrologia era uma arte muito desenvolvida e em alta, patrocinada pelos soberanos das civilizações. Ainda os césares romanos tinham nela sua carta-consulta para agendar suas guerras. Os caldeus (cujo termo se tornou genérico para astrólogos), então cumpriam um papel correlato ao dos profetas dos dias dos reis de Israel, com a abissal lacuna de que aqueles se serviam da adivinhação, enquanto estes, do Espírito de Deus que sabe todas as coisas.

Não sei explicar o que se passa na cabeça de crentes que consultam ou dão crédito à consulta aos astros, além da necessidade de ter visibilidade prévia de seus atos e decisões, em substituição à fé e à esperança (e à Verdade!), mas sei com certeza, que trilham por uma via pagã, eivada de erros e de acesso franqueado aos agentes das trevas.

Nos anos 1970, em Niterói, RJ, surgiu entre os evangélicos uma falsa profetiza que arrastou ao erro muita gente com sua elaboração do horóscopo bíblico. Hoje encontramos alguns filhos de Deus incluindo em seu vocabulário uma terminologia aproximada quando falam em “alto ou baixo astral”.

No mínimo pode-se dizer quanto aos que se deixam levar, que acreditam em sortilégios e na suposta influência dos corpos celestes sobre seus próprios destinos. Se não for uma forma mais “elevada” de animismo, isto não passa de paganismo puro e simples. Obscurecimento da fé pela superstição.

O fato de termos uma narrativa bíblica apontando astrólogos que pela visão de uma estrela deduziram que um rei estava nascendo na Judeia (Mateus 2), em nada valida tal prática como verdadeira ou aprovada por Deus. Vale lembrar que Deus Se serviu de instrumentos nada apropriados para Se comunicar, ao tempo em que o Seu Espírito ainda não habitava na Igreja, para comunicar Sua vontade. Até uma mula foi usada para advertir um profeta, que sendo falso profeta, por sua vez foi usado por Deus para proferir verdades acerca de Israel: Balaão. Isso não resultou em culto às mulas nem fez delas oráculos divinos em nenhuma seita do mundo, nem depois, nem hoje. Acresça-se o fato que, no que tange aos astrólogos dos dias de Cristo, a narrativa bíblica deixa claro que a tal estrela avistada, era um recurso sob controle e serventia de Deus, que Se imiscuiu assim nas lides daqueles homens para Se comunicar. A estrela em foco, foi uma aparição provocada e sob controle divino. De valor semelhante à pomba que sobre Jesus desceu, no Seu batismo, para sinalizar sua autenticidade divina, vista e tida como uma teofania atribuída ao Espírito Santo.

Deus Se revelou em sonhos a pagãos como Faraó, Nabucodonozor, a mulher de Pilatos e até mesmo aos astrólogos quando retornavam de Belém para sua terra, e desta feita não olharam para as estrelas a fim de terem uma direção. Nem por isso nenhum deles foi estabelecido como oráculo divino nem suas práticas religiosas validadas.

A astrologia, com toda a sua pretensão científica ancorada nos primórdios de sua história, e em especial no seu reducionismo de zodíaco ocidental ou oriental, não passa de um sistema pagão, enganoso, do qual as trevas podem se servir para manter sob cativeiro de superstição aqueles para quem a fé e a Palavra de Deus não são suficientes à sua experiência espiritual.

Há uma palavra específica de Deus, condenatória, acerca da astrologia de que se servia Babilônia e seu povo, onde Ele a equivale à feitiçaria, e ela nos serve de alerta e convite ao temor ao Seu Nome:

“Continue, então, com suas palavras mágicas de encantamento e com suas muitas feitiçarias, nas quais você tem se afadigado desde a infância. Talvez consiga, talvez provoque pavor.
Todos os conselhos que você recebeu a deixaram extenuada! Deixe aos astrólogos se apresentarem, aqueles fitadores das estrelas que fazem predições de mês a mês, que eles a salvem daquilo que está vindo sobre você; sem dúvida eles são como restolho; o fogo os consumirá. Eles não podem nem mesmo salvar-se do poder das chamas. Aqui não existem brasas para aquecer ninguém; não há fogueira para a gente sentar-se ao lado.
Isso é tudo o que eles podem fazer por você, esses com quem você se afadigou e com quem teve negócios escusos desde a infância. Cada um deles prossegue em seu erro; não há ninguém que possa salvá-la.” – Isaías 47: 12-15.

 

Sem Chance

Era Daví um jovem tenro, inexperiente em batalhas, destreinado nas artes da guerra, habituado à passividade da vida campesina, tocando ovelhas nas campinas. A vida lhe depara um monstro filisteu, gigante em seus quase três metros de altura, diante de quem o tenro rapaz parecia metade de gente, desarmado, ao passo que o filisteu, de alto a baixo protegido por couraça, trazia armas capazes de despedaçar os mais treinados oponentes. Daví, com pedras nas mãos e nada mais, confronta-se com ele para duelar em campo aberto. Sem chance.

Josafá, rei de Israel, foi informado de que três exércitos inimigos marchavam contra sua cidade, poderosos e sedentos de conquista, devidamente reforçados por mercenários que matavam pelo lucro. O rei passa em revista seu exército: nenhum soldado. Homem algum com uma arma na mão. Apenas um bando de homens vestidos de linho, os sacerdotes de Deus, em cujas mãos a única arma eram instrumentos de sopro, suas trombetas de prata. Partiram em direção ao mar de homens de guerra, em campo aberto. Sem chance.

O tremente Gideão com apenas trezentos homens armados de espada, trombeta e botijas de barro, sai para enfrentar 135 mil invasores midianitas montados em seus camelos, armados e prontos para devastar terras e homens. Sem chance.

O velho Pedro, apóstolo, preso à parede por algemas e correntes, no fundo de uma prisão real, vigiado por dezesseis soldados insones e armados, aguardava o raiar da manhã para ser levado à morte pela espada de Herodes, o rei. O único livramento seria fugir altas horas da noite. Sem chance.

O que poderia esperar Moisés, guiando um milhão e seiscentos mil homens sem armas, os quais ainda tinham de auxiliar mulheres, idosos e crianças, tocar o gado e empurrar carroças, quando um exército incontável e ágil de egípcios surge-lhes em perseguição assassina, e a rota de fuga possível, sem contar os percalços da corrida, acabava nas águas da praia? Sem chance.

O que poderia Elias, profeta, sem opulência nem patrocínio, diante da exibição de religiosidade ajaezada com pompa e circunstância, patrocinada pelo poder público, convincente por seu aparato como representante de um deus verdadeiro, ao passo que ele nem vestes sacerdotais trazia para pregar a realidade de um Deus Vivo que vivia oculto, sendo ele só e incógnito? Sem chance.

O que podiam esperar Paulo e Silas, missionários, lançados ao fundo de uma prisão de segurança máxima, costas lanhadas por chibatas e pés trancafiados em troncos, tendo como um único destino condenação e execução? Sem chance.

Todavia, cada um deles, em cada circunstância, conhecia a solene e infalível verdade que apregoa: “Mas o Senhor está comigo como forte guerreiro. Por isso tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão” (Jeremias 20:11). Portanto, sem chance para Golias, para os amalequitas, midianitas, sentinelas herodianas, soldados de Faraó, quatrocentos profetas de Baal, ou prisão escusa em Filipos. Sem chance para vencer Aquele que batalha pelos que Nele confiam. Sem chance para os que O desafiam e que perseguem Seu povo, sem saber que quem nesse povo toca, toca na menina dos olhos de Deus.

Onde os Valores?

“Não mude de lugar os antigos marcos que limitam as propriedades e que foram colocados por seus antepassados.” – Provérbios 22:28

“Coloque marcos e ponha sinais nas estradas, preste atenção no caminho que você trilhou”. – Jeremias 31:21

De que falam estes textos? Para onde nos podem levar?

Creio que nos forçam a pensar em compromissos, votos, história, tradição no bom sentido da palavra, e também na contramão de abrir mão de valores aprendidos a favor da novidade, do inovar para atrair.

Por que?

Frequentemente sou abordado por líderes jovens, assustados por entenderem ter diante de si desafios que lhes parecem intransponíveis pela igreja hoje, em especial na condução da vida moral de crianças, adolescentes e jovens, por conta das leis que nos estão sendo impingidas no terreno da sexualidade e da derrubada de valores morais que por séculos foram preconizados pela confissão evangélica: pureza na vida sexual, abstinência de envolvimentos em festas escusas, identidade de gênero e sua proposta maior que é a liberação da homossexualidade para ser vivida como relação inquestionável diante de prerrogativas da Revelação escrita da vontade de Deus.

Sob temor de taxações e perseguições via mídia, de serem apontados como radicais, retrógados, contraventores, e mais: assustados quanto a como orientar as vítimas bombardeadas por tão acirrado ataque das mídias das quais se servem nossos governantes e suas novas leis, ficam aturdidos e me questionam: “O que diremos a nossos filhos? Como ensinaremos? Que mensagem podemos passar como igreja dentro desta geração e novos conceitos sociais”?

São dúvidas pertinentes.

Temos desafios no mundo desta pós-modernidade que parecem novos e por isso parecem exigir novas abordagens, nova roupagem, novo discurso. Alguns se confundem e se sentem perdidos, achando que precisam reciclar sua confissão e o pensamento acerca dos valores que lhes foram ensinados na fé. Especialmente diante de um sistema que desafia os valores morais bíblicos que aprendemos e com os quais nos comprometemos. Às vezes parece que nosso discurso está desafinado, que temos de “afinar nossas enxadas nas limas dos filisteus”.

Será que de fato os desafios que nos cercam nesta geração são maiores ou piores do que aqueles dos primórdios da igreja? E as gerações dos dias de Ló? E as gerações dos cristãos da Roma pagã e devassa do primeiro século desta era, onde “anormal”, entre outras coisas era não viver em orgias e manter um relacionamento com uma única e mesma pessoa, monogâmico e heterossexual?

Como eram os dias do século XIX entre os quais surge a teoria evolucionista que com pretensão de ciência expunha como ridícula a doutrina criacionista da Bíblia? E os dias do fim do século XIX e início do XX com o surgimento da teoria psicanalítica desafiando o conceito bíblico de pecado e decidindo que não há pecado no homem? Não estava ali a igreja sendo acossada por essas correntes poderosas e que persistiram através dos decênios, até hoje?

Teríamos de afiar nossas ferramentas nessas limas? Ou a Igreja pode “guardar firme sua posição?”

Pensemos em Apocalipse 3:1-11. Aqui sobressaem dois grupos de cristãos: um, repreendido porque se deixou levar, e morreu espiritualmente. Outro, aplaudido porque manteve firme sua posição, apesar de ser fraco. E era fraco.

Isto não é um convite à acomodação, mas à inconformação e posicionamento, conforme preconiza Romanos 12: 1 e 2: “Portanto, irmãos, rogo pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Nossa sociedade, em cujo meio habita uma geração depravada e corrompida, conforme afirma a Palavra de Deus e de que somos testemunhas vivas, vai de mal a pior porque perdeu suas cercas, seus limites, valores referenciais que lhe davam rumo, ou um ponto de retorno para possibilidade de escape e acerto. A vida ensina que os lares bem constituídos são e sempre serão o lugar ao qual voltam os filhos, depois de esgotadas suas tentativas de acerto quando em desvios. Geralmente dizendo: “Como dizia minha mãe; meu pai me ensinou que…”

Nada têm a ganhar, ou antes se vêem altamente perdedores, aqueles lares, mesmo cristãos, que em nome de um liberalismo por “ser esclarecido e moderno”, sob medo de serem taxados como cerceadores que mantém cativos seus filhos, “soltam-nos” desamparados às ofertas nefandas das más companhias, para gemer o retorno de suas vidas devassas, estragadas e doentes moralmente, psiquicamente, distorcidas sexualmente, incapazes de encarar as responsabilidades siciais, vivendo relacionamentos instáveis, em constantes trocas, gerando filhos que não parternizam nem maternizam, via de regra deixando aos avós essas réplicas de seus estragos. Drogados, corrompidos, bêbados e desafeiçoados, longe do Deus de seus pais e muitas vezes às voltas com a lei que desrespeitam, em especial no trânsito, trazendo ônus financeiros a esses pais de que se fazem eternos dependentes, porque mal profissionais ou profissionais de nada. É um realismo triste de ser encarado e mais facilmente negado por desculpas ou transferência de culpa que só cabe aos lares que perderam tal função. E ainda perguntamos: quais lares desses advirão? O que nos reserva o futuro? Alguns dos lares de hoje são netos do liberacionismo hippie dos anos 1970. E que legado trouxeram para nossa sociedade de hoje?

A Igreja é esse lugar de esteio, mantendo bem elevada e sem discurso dúbio, a bandeira da retidão. Ela só precisa guardar o que tem. Não deve preocupar-se em abrir mão de seus valores antigos, mas como um lar solidamente edificado, manter essa sua posição que serve de norte, de referência, de modelo. Como ela fez quando viveu os tremendos desafios do passado, acima elencados. Alguém, alguma instituição neste caos, precisa destoar dele pelo que é e tem, apenas mantendo sua posição inegociável, como aquela que “não se amolda ao esquema deste século,” no dizer do apóstolo Paulo, e esta deve continuar sendo a Igreja de Cristo, em especial nos lares dos quais é formada

Estrela no Mundo

O título acima cai em lugar comum à força da mídia que investe no show business para dizer de pessoas que se projetam, em especial nas artes, e que se tornam ícones, admiradas e aplaudidas, a quem todos querem imitar ou cujo triunfo invejam.

Mas quanto a nós, pretendemos dar a ele a conotação que está circunscrita à nossa vida espiritual, como crentes em Cristo.

Mesmo neste terreno, há aqueles que sob influência forte do outro, pensam nesse estrelismo que descamba em sucesso sob holofotes da fama, vistos como suprassumos da fé. Em especial o chamado mundo gospel, está cheio dessas “estrelas”.

Voltando ao propósito, nosso tema flui a partir do texto de Filipenses 2:12-16: “Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele. Façam tudo sem queixas nem discussões, para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo firmemente a palavra da vida…”
Há uma proposta, que aponta para o alvo do Evangelho em nossas vidas: “que venhamos a tornar-nos…filhos de Deus inculpáveis…no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual brilhemos como estrelas no universo”.

Chamo sua atenção para a metáfora criada pelo apóstolo: “brilhar como estrelas no mundo, ou no universo”. Como elas brilham? É um brilho ofuscante? Não. Só o do sol. As demais estrelas sequer iluminam. Seu brilho, no entanto, se destaca na escuridão da noite, e serve para: dar beleza, identificar o corpo que brilha, e dar norte, rumo; servem de guia. Eram o “mapa” marítimo dos antigos navegadores, suficiente para nortear navegações que efetivaram descobertas e conquistas. Ainda hoje há navegantes que delas se servem, ou nômades nos desertos. Mas não iluminavam. Nem Paulo pretendeu dizer que esse é o propósito de nossa manifestação neste mundo, que em Efésios 6 ele classificou como tenebroso.

Não fomos chamados para ser luz que ofusca, que chama a atenção. Antes, o texto, na força da metáfora de que o apóstolo se serviu, indica que nosso posicionamento em meio à nossa geração, que é constituída inclusive por nossos colegas, amigos e parentes, é de filhos de Deus, daí não imiscuídos na culpa, na corrupção e depravação que sinalizam o “modus operandi” de nosso tempo, e portanto, inculpáveis e irrepreensíveis, ou não mancomunados; mas diferenciados entre os iguais. Posicionamento dos diferenciais.

O que se destaca na escuridão da noite sem nuvens? Estrelas que brilham! E são percebidas porque brilham. Podemos nada saber a respeito delas, isoladas ou consteladas, mas as identificamos como estrelas, unicamente porque brilham.

Apenas sendo destacados por um brilho que no texto é produto do “desenvolvimento da salvação como vidas que temem e tremem” diante de Deus (v.12); esvaziados de “queixumes e brigas” (v.14), porque “retêm com firmeza a palavra da vida” (v.16).

Assim, no dizer do apóstolo fulguramos como luzeiros, como pequenos brilhos de estrelas na escuridão do espaço, visíveis por isso mesmo, e servindo de referência a quantos as olhem, desde que para tanto ergam o olhar.

Esta linguagem lírica encontra paralelo sinonímico em outra, da pena do mesmo Paulo, quando escrevendo a Timóteo disse: “Torna-te modelo para os fiéis…”

Há trevas ao derredor. Brilhe! Permita-se ser percebido pela diferença!

Vai, Nesta Tua Força

Juízes 6:1- 7:16.

Este é o brado que precisa ser ouvido: Juízes 6:14 – “Vai nesta tua força” ou: “Com a força que tu tens”!
Como é bom saber que o personagem vocacionado não era Sansão, nem mesmo um Daví. Estava mais para Paulo, Tomé, Moisés, eu, você, nós…
O que temos aqui?
Uma demanda que requeria coragem, prudência e tomada de posição. O que ocorria no entorno e contexto de Gideão é definido no texto como opressão, devastação, bloqueio do direito e da vida. Os inimigos do povo de Deus lhe barravam a liberdade e investiam contra sua dignidade e honra. (6: 4 e 5). Não temos, cada um de nós, desafio semelhante no curso de nossa vida neste mundo tenebroso?

O homem escolhido podia ser qualquer outro, debaixo da mesma angústia. Moisés, quando chamado, propôs a Deus que o trocasse por outro mais capaz. Gideão nos lembra Moisés. A meu ver este é o primeiro referencial de que Deus acertou com a escolha. Pois, via de regra, os escolhidos não entendem a razão da escolha, assustam-se, intimidam-se, até fogem. Diferente da situação que Jeremias registra: “Não chamei esses profetas, no entanto eles foram correndo” (Jeremias 23:21).

Gideão recebeu uma visitação de um mensageiro celeste que lhe disse: Vá! Deus te escolheu para realizar esta façanha hercúlea. Mas o mensageiro pareceu equivocado, a Gideão. “Poderoso guerreiro”, ele disse. Gideão deve ter olhado ao redor de si. Então o “poderoso guerreiro” se anuncia: Ai, Senhor meu! A resposta esperada não deveria ser, “eis-me aqui?” Então acontece o segundo equívoco: “Vai nesta tua força”. Gideão esclarece as dimensões do que ele entende como “sua força”: Seu arrazoado significou: “Meu clã é o mais pobre, e eu sou o menor dentre meus setenta irmãos. Há outros 70 maiores do que eu! E minha tribo nem inteira é. É apenas uma meia-tribo!” Traduzindo: Pequeno entre os menores dos que são metade. “Onde está a força de que tu falas?”

Mas para ir, era necessária força. Vamos pensar nela:

VAI NESTA TUA FORÇA.
O mensageiro esclareceu:

(a) Porque sou Eu que estou mandando! (6:14)
Ah! Quanta solução e poder esta palavra contém: Eu dou conta, Gideão. Eu assumo, Gideão. Eu me responsabilizo, Gideão. E tanto mais…
(b) Porque eu sou contigo! (6:15).
Quanto pode significar? Eu passo adiante! Você será meu escudeiro! Eles Me verão em você e com você! Sou seu aliado. Estamos juntos nisso.
E: Estarei disponível para você. Com tudo que Sou; com tudo que tenho.
Há uma condição: Rompe os laços, queima as pontes!
Que para Gideão significou derrubar o ídolo do lar, da casa de seu pai e do povo entre o qual vivia.

AS DIMENSÕES DA FORÇA

– Foi revestido do Espírito (6:34), mas ainda que sob o Seu poder, mantinha o medo (7:10). Deus sabia que ele estava com medo.
– Procura garantir-se: diante de Deus – os sinais do novelo e orvalho; diante do inimigo e a seus próprios olhos:
– 32 mil homens para lutar. “Qualquer um serve, preciso de muita gente comigo….”
Deus reduz tudo a 1%. Diante de que tamanho de inimigos? 135 mil homens, montados em camelos que não se podia contar! Então é melhor esquecer os 1%… porque é Deus quem faz, 1% basta!

A ESTRATÉGIA DO ENVIADO

Depois que Deus o prepara enviando-lhe a palavra através da boca do próprio ímpio, agora firmado na promessa de que toma posse (7:10 e 11), Gideão entende que:
Porque a força é de Deus, é suficiente:
– Estar lá;
– Vasos de barro com fogo dentro, prontos a serem quebrados;
– Trombetas de proclamação.
– Espadas. Estas são as armas de guerra, e são quanto basta:

– a trombeta que avisa;
– Os vasos com tochas para serem quebrados;
– A espada para o ataque.

Vai nesta tua força!
– sem cautelas; sem garantias; sem poderes inerentes.
Apenas pronto a confiar, obedecer e depender.

Fé, Cautela e Prudência

Juízes 6: 34-40.

Aqui está um tema que ainda confunde muitos crentes em Cristo e motiva outros a temeridades frustrantes no exercício de sua espiritualidade. Vamos tentar decifrá-lo o mais didaticamente possível, tomando por base justamente o texto histórico que o motiva.

A história é a do chamado de Gideão, o juiz de Israel para cuja narrativa a Bíblia reserva o maior espaço, acima mesmo de Sansão, que surgiu muitos anos depois e também ocupa largo espaço. Gideão julgou Israel por quarenta anos.

Tomado de fraquezas e medo dos povos opressores do oriente, Gideão se viu chamado por Deus para organizar um exército e desbaratá-los. O medo de Gideão prevalecia contra sua fé, a despeito da forma pouco comum como Deus lhe apareceu, semelhante somente a de Moisés e com proposta idêntica, chamando-o pelo nome, falando-lhe e dando provas de Quem o chamava, manifestando fogo e poder. Mesmo depois de se ver investido pelo Espírito de Deus, de tal forma que o sentido do verbo usado pelo narrador para descrever seu investimento significar literalmente, “totalmente vestido por”, ele ainda se vê fraco e temeroso diante da realidade do enfrentamento. E propõe a Deus que o fortaleça confirmando dois sinais por ele estabelecidos: do orvalho e o novelo de lã.

Alguns dos que lêem esta narrativa querem servir-se dela para colocar Deus à prova, porque a acham válida e pensam que Deus Se curvou a atender Gideão uma vez que cumpriu suas propostas. Deixam de perceber coisas significativas e paradoxais ali ocorrendo. Vamos a elas:

Gideão pensa que conseguiu o que queria através dos sinais propostos. Não. O que ocorreu foi Deus atender às proposições mas o resultado se provou inútil. Mais adiante, no verso 10 do capítulo 7, O Senhor identifica que Gideão continua com medo, e então é Deus Quem resolve a situação criando um estratagema para inspirar fé no coração de Seu escolhido, quando lhe manda descer ao arraial inimigo para ali receber uma mensagem que traduzia um sinal, dado não ao crente, mas ao ímpio. Em suma, o sinal eficaz é estabelecido por Deus Mesmo, não por Gideão.

Na verdade, aquela proposta de Gideão a Deus, que lhe parecia pôr Deus à prova, foi aceita porque Deus sim, colocou Gideão à prova. Deus mostrou a Seu escolhido que ele estava com medo. Foi Deus quem ali provou Gideão, ao mostrar a ele que agia segundo Sua promessa, quando lhe disse que Ele, Gideão, feriria o todo por um. Os midianitas e seus associados, seriam feridos como se fossem um só homem, por um só homem: o todo por um e o um pelo todo. O novelo sozinho no meio do todo, e a eira toda a favor do novelo sozinho.

Em outras palavras, o que nos parece a motivação de Gideão ao propor o sinal, era uma reação projetiva de sua verdadeira e encoberta vontade: o que ele buscava era que o sinal falhasse, e assim ele estaria descomprometido quanto ao desafio feito. Deus o prova, quando cumpre a proposta do sinal. Daí vermos adiante que o medo persistia, e somente mediante o sinal dado por Deus mesmo, o sonho do soldado midianita, é que a fé assomou ao coração de Gideão.

Alguns de nós caem na mesma cilada. Ao pedirem um sinal a Deus diante de um desafio ou expectativa, pensam que estão tendo fé. Mas nada disso. Apenas querem dar visibilidade ao que eu chamaria de cautela, e que em nome de uma defesa pessoal, esses mesmos chamam de prudência. Se o sinal falhar, vêem-se desobrigados a crer e outro tanto a insistir na demanda.

A fé dispensa sinais. E a fé não se serve de cautela. A prudência, outro tanto, é que se serve da fé. E a equação é esta: a cautela significa desconfiança, ou ausência de fé, logo, é carnal. A prudência, que é instrumento de sabedoria, logo, espiritual, administra a fé, da qual tomou posse.

Quando Gideão pede os sinais, ele está se servindo de cautela. Quando é ele quem recebe o sinal, no acampamento dos midianitas, ele investe na prudência, porque procura transmitir a seu pequeno exército a mesma coragem de que agora está imbuído, antes de partir para um plano estratégico de ataque, que não é nem mais nem menos que usar de prudência para desferir o ataque usando de recursos elaborados. Se examinarmos historicamente, veremos mil anos depois o rei Josafá partindo para um confronto semelhante, totalmente dependente da proposta de Deus, sem se servir de estratégia nem de armas, porque Deus lhe havia dito que naquele confronto eles nada teriam que fazer. Mas a Gideão disse Deus que ele feriria os midianitas como se fossem um só homem. Então uma vez tendo crido, ele usou de prudência.

A cautela se serve de meios para provar “se foi mesmo Deus quem disse” ou se a Palavra divina se cumprirá. No caso de Josafá, se ele quisesse usar de cautela com nome de prudência, ele armaria seus soldados, com a desculpa do famoso “pelo sim, pelo não”.

A prudência nos leva a procurar ajuda médica em casos de enfermidade grave ou simples, crendo que o processo curador tem em Deus e no Seu poder a garantia. A cautela investe toda a sua proposta nos recursos visíveis, sem espaço para a fé. A cautela não passa de imprudência, porque denuncia a desconfiança.

A prudência espera. A cautela desiste. A prudência aguarda a direção divina, a cautela determina o que Deus deve fazer, dirige a mão divina. A prudência administra a fé que confia em Deus, a cautela procura exercer o controle, para se sentir segura. A prudência avança; a cautela procrastina. A prudência assume atitudes em direção da promessa; a cautela precisa de evidências que lhe dêem garantia, porque prefere não enfrentar. A prudência é valente; a cautela é covarde.

Fomos convidados a crer conforme a proposta divina: “No teu Deus espera sempre”, ou, como disse o Senhor Jesus: “se creres, verás…”