Pilatos, procurador romano no tempo dos césares e nos últimos dias de Cristo, é conhecido nas páginas dos evangelhos por três sentenças marcantes que pronunciou: o famoso “lavo minhas mãos “, que foi coreografado e não falado (o que ele disse, de fato, foi: “Estou inocente do sangue deste homem; a responsabilidade é de vocês”). Depois temos duas perguntas: “Que é a Verdade?” e: “Que farei de Jesus, chamado Cristo?”
As duas questões, celebradas em milhares de sermões ao longo dos séculos, apontam para a realidade dos homens deste mundo que “lavam suas mãos” pretendendo uma consciência isenta de culpa (inocente?) quanto ao sangue que Jesus derramou, e assim seguem na vida sem pretender qualquer envolvimento com Ele e Sua obra, Sua morte na cruz. Mas, outro tanto, Pilatos encarna o homem deste século que prefere questionar Jesus, em busca de uma verdade pessoal, que lhe convenha, para não encará-Lo como a Verdade absoluta. E perdem por não ouvi-Lo dizer que Ele é a Verdade, a qual uma vez conhecida, liberta em todos os níveis.
Encarar a Verdade e não vê-La, tal como Pilatos, é o recurso preferido hoje pelo ser humano que, se se apercebe de que Jesus é a própria Verdade, encerra nEle sua busca que empreende sem dar-se conta disso.
Cristo, a Verdade, é a resposta a todos os anseios que ditam inquirições: na filosofia, na psicologia, no transcendentalismo que se manifesta até mesmo no discurso dos que se pretendem ateus.
E por ser Verdade que liberta, Ele leva o homem a se ver aos olhos de Deus: perdido em seus anseios, achados e “acertos”; pecador e desesperado em meio a multiformes programas onde tenta saciar sua busca inconsciente de plenitude pessoal.
Se Cristo não pode ser visto como a Verdade, tal como é, quem O encontra ou com Ele esbarra por conta da presença da Igreja nesta geração, não sabe o que fazer com Ele.
A razão por que tantos que ouvem falar a Seu respeito e passam de largo quanto ao caminho da fé; ou mesmo que procuram atalhos para não se verem comprometidos de forma definida, reside no fato de que não sabem o que fazer com Ele. Estão com a mesma questão de Pilatos, entalada em suas consciências: “Que farei de Jesus, chamado Cristo?”
E ainda há aqueles que decidiram por uma resposta enviezada a esta questão, de maneira que pensam tê-la respondida quando pretendem ter achado na fé cristã um recurso para usá-Lo como o “Santo Maior” a seu favor.
Mas, o fato é que Pilatos pronunciou uma questão que se tornou emblemática para todos, nos séculos que decorreram após seu pronunciamento: “O que fazer dEle?” Sua questão originalmente apontava para a necessidade de dar um fim ao dilema: deixá-Lo ir- Se livre ou decretar a Sua execução.
Na primeira decisão está a maioria: deixá-Lo livre. Que Ele saia da história, que não haja cruz nem compromisso; que não tenha mais nada a ver com Ele.
Na segunda, ficam os que O preferem na cruz porque entenderam o que disse Caifás, embora sem alcançar o seu sentido: “É necessário que um homem morra pelo povo”. Decidem por vê-Lo na cruz os que necessitam de Sua morte redentora, substitutiva. Os que sobem com Ele nela, pela fé, porque se sabem pecadores, necessitados do sangue remidor do “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Os que tomam a segunda decisão como resposta, são os que assumem a cruz como fato inegável, que marcou e continuará marcando a consciência dos homens na história.