Ele Ouve!

Salmo 139: 1-12

“Ó, Tu que escutas a oração…” – Sl. 65:2

“…Eu te ouvirei, e cuidarei de ti.” – Oséias 14:8

“Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei.”

Jeremias 29:12.

Deus assume este compromisso sobre o mais fascinante mistério da experiência de fé, que é a oração. Pensar que falamos ao Deus que ouve a oração, nos leva a querer saber o que Ele ouve, quando oramos; como Ele ouve e até onde Ele ouve. Nosso texto, de onde podemos declinar respostas a estas inquirições, é o Salmo 139, e nós nos ocuparemos em achá-las nos doze primeiros versículos deste texto.

É nosso propósito que estas respostas estimulem você a uma vida de oração eficaz, para viver o que Catherine Marshal um dia chamou de “aventuras na oração,” que é título de um dos seus livros.

Portanto, se falamos ao Deus que assegura nos ouvir, convém pensar:

1- O que Ele ouve. –       vv. 1-4
“Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me sento e quando me levanto; de longe percebes os meus pensamentos. Sabes muito bem quando trabalho e quando descanso; todos os meus caminhos são bem conhecidos por ti. Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu já a conheces inteiramente, Senhor.”

Ele ouve o meu interior;

Ele ouve o meu agir;

Ele ouve o meu pensar;

Ele ouve o meu dever;

Ele ouve o meu comportamento;

Ele ouve a minha voz.

Ele é o mais completo e o único perfeito terapeuta da existência humana.

2- Como Ele ouve. –        vv. 5-7
“Tu me cercas, por trás e pela frente, e pões a tua mão sobre mim. Tal conhecimento é maravilhoso demais e está além do meu alcance; é tão elevado que não o posso atingir. Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença?”

Ele ouve pelo mover do Seu Espírito em nós. É mais que um ato indicador de Sua onipresença. É habitação interior, intimismo. Ele ouve o coração pelo lado de dentro dele, pois foi Ele quem disse que “do coração procedem todas as saídas da vida” (Provérbios 4:23). E aqui está todo o diferencial entre o cristão e o incrédulo, este, esvaziado de temor e compromisso com Deus: a morada interior do Espírito Santo, o Deus que em nós habita. Paulo afirma isto textualmente em Romanos 8: 26 e 27 – “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos.”

 

3- Até Onde Ele Ouve. –  vv. 8-12
“Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás. Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar, mesmo ali a tua mão direita me guiará e me susterá. Mesmo que eu diga que as trevas me encobrirão, e que a luz se tornará noite ao meu redor, verei que nem as trevas são escuras para ti. A noite brilhará como o dia, pois para ti as trevas são luz.”

Até as dimensões do Seu amor eterno: Efésios 3: 18 e 19. Altura, profundidade, largura e comprimento. Está tudo aqui, neste trecho do Salmo 139. Para qualquer direção que nossa vontade ou desvios escolham, Ele tem medida para ela. Ele tem rota, tem rumo.

Glória ao Seu Nome, porque Ele não se limita a ouvir quando nos elevamos, subimos. Mas também quando descemos, caímos.

Não somente se estamos aproximados, mas ainda quando nos distanciamos. Mesmo quando esse distanciar resulta de uma tentativa de elevar-nos: “Se eu subir com as asas da alvorada…” Os atraentes êxtases existenciais, que mais depressa nos afastam de Deus. E Ele ouve, tomando posição em cada um desses extremos para onde somos levados ou decidimos seguir.

E mais: se a luz que há em nós se converte em trevas, seja pecado ou mal, Ele não perde o foco visual a nosso respeito. Daí o salmo 91:7 – “Mil poderão cair ao seu lado; dez mil, à sua direita, mas nada o atingirá.” E esta metáfora: “Mesmo que eu diga que as trevas me encobrirão”, fala de nossos pretensos esconderijos, quando por razões várias sentimos que podemos nos esconder dentro do mutismo de nosso silêncio. Ele nos vê ali e pode ouvir o silêncio falar por nós.

Ele lê os lábios do coração!

Se estivermos em trevas, Ele já disse a Salomão que habitaria nelas.

O que se impõe à nossa fé sobre o conjunto destes argumentos é o que Samuel aprendeu a respeito do significado do seu nome: “Ouvido por Deus”. Todos nós, de alguma maneira somos um Samuel, por causa do Deus que nos ouve, e que o faz com atenção. E sobre tudo o que aqui foi dito, deixemos nossa fé correr livre sobre o trilho da gloriosa verdade encontrada em Efésios 3: 20 e 21, onde o apóstolo Paulo adora, dizendo: “Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre! Amém!”

Deus Constrói no Deserto

Nosso texto-base para reflexão hoje, na Palavra de Deus, se encontra em Gênesis 21:8-20, onde leremos sobre o banimento feito por Abraão, de Hagar, a escrava egípcia, e seu filho Ismael.

O texto nos servirá como inspiração para o desenvolvimento do tema que desejo compartilhar com você, a favor de nossa fé, nesta oportunidade.

Hagar foi arrancada de uma posição de conforto e até privilégio, e lançada para um extremo oposto de suas expectativas e esperanças. Lançada em direção a um deserto físico, que ao mesmo tempo assumia o lugar do deserto de sua frustração e desdita. E é neste sentido que devemos pensar na possibilidade e realidade desses desertos figurados na jornada de muita gente.

Primeiramente, devo esclarecer o fato de que há uma sensível diferença entre o que hoje reputamos por deserto, e as inúmeras referências a desertos dos cenários bíblicos da antiguidade. Ainda que hoje prevaleçam alguns daqueles desertos nos termos em que os entendemos, muitos deixaram de ser desertos à medida em que foram povoados, pois maioria das vezes, a palavra deserto na Bíblia configura lugares ermos, inabitados, mas que tinham vegetação, água e até mesmo constituíam oásis paradisíacos. No entanto, sua localização remota de tudo, fazia deles um lugar de abandono e solidão.

Os desertos foram inúmeras vezes palcos de grandes realizações de Deus, na vida daqueles com quem Ele construiu a história da redenção.

À luz do deserto de Hagar, o deserto de Berseba, e a intervenção divina ali ocorrida, devemos pensar nas lições que esses desertos trazem para nossa fé. E por quê? Porque os vemos ocorrendo repetidamente na vida de muitos filhos de Deus em nossos dias, em especial diante da atual pandemia que tem vitimado tantas famílias, mas não só em função disto.

Todavia, é inevitável pensar em alguns desertos de aparente desamparo que vez por outra acomete alguns de nós. São momentos de transe; angústia que parece interminável; terrores na alma; sensação de abandono; desamparo; de afundar sem possibilidade de retorno ou momentos de desesperança que atordoam e levam a pânico. Os personagens do deserto de Berseba viveram exatamente esse coquetel de emoções atordoadoras: Hagar e seu filho. Banidos, partiram sem rumo e o pouco que tinham aprovisionado acabou, em meio ao nada. Atonicidade, desespero, lágrimas; ocupam a alma, alagam. A perspectiva, se havia, era morte trágica, muito sofrida. A alma levava também as cargas da mágoa que a injustiça se encarrega de criar, além da humilhação de ser descartada como coisa sem valor.

Isso nos faz pensar nos desertos modernos que assolam algumas vidas: quando desempregadas, em vias de falência, traídas, solitárias, abandonadas, doentes sem meios de prover sua restauração. E há ainda uma esteira de tantas outras situações, impossível de serem aqui enumeradas, mas que produzem efeitos semelhantes e configuram desertos particulares.

No deserto de Hagar, houve lugar para milagre, porque Deus estava no deserto. Ela apenas não via, e por isso não sabia. E Hagar e seu filho descobriram que Deus tem poder para construir no deserto. Interessante o fato de que Ele não os tirou do deserto em que estavam, mas operou lá, construiu nele as suas vidas, fez construção no seu deserto a partir dele a favor daquela pequena família. E isto nos leva a pensar: Quais os desertos possíveis de nos acometer e o que Deus pode neles construir? Deus se envolve em todos eles? Creio que temos resposta histórica desse agir do Senhor em Sua Palavra. Então começamos pela questão: Quais os desertos possíveis?

Já lemos sobre o deserto de Hagar. Eu vejo nele

1- O Deserto da Injustiça 

Porque perpetrado pela vontade dos homens ou das circunstâncias. Ele é mais corriqueiro do que se pensa. Nele se enquadram o desemprego, as enfermidades oportunistas, os acidentes e também as catástrofes. É próprio hoje das famílias acometidas pela virulência do Covid-19. Tragédias sociais e domésticas também se enquadram aqui, que como no caso de Hagar, podem ter como agente até mesmo um justo, como foi Abraão.

Mas vale lembrar: Em seu desespero, tanto Hagar quanto o menino choraram, e o pranto do garoto subiu como uma oração a Deus. Porque foi um pranto diante de Deus e dirigido a Ele. Isto tem muito a nos ensinar. A súplica, o recorrer ao Altíssimo que sabe nos achar no ermo e devastação, ainda é o recurso suficiente para fazer desse deserto o palco do milagre. Deus entra no deserto e só Ele pode e tem poder para construir nele. Deus fez do deserto de Hagar e Ismael, o espaço da construção de um grande povo e suas cidades. Isto nos leva a pensar num outro tipo possível de deserto:

2- O Deserto da Provação (Disciplina) – provocado por nossa natureza contumaz.

Destaco apenas um texto:  “A ira do Senhor acendeu-se contra Israel, e ele os fez andar errantes no deserto durante quarenta anos, até que passou toda a geração daqueles que lhe tinham desagradado com seu mau procedimento.” –  meros 32:13. Para quem conhece a história bíblica, esse foi o longo deserto de peregrinação do Israel antigo: 40 anos, que poderiam ter sido apenas 40 dias de uma peregrinação difícil, mas curta.

Apesar da causa desse deserto, Israel aprendeu algo que é inesquecível. Que “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”. Quantas vezes nossa precipitação, vontade afoita ou más sementeiras nos levam aos desertos da provação e das perdas! Mas ainda ali, eis a graça! Quantos milagres Israel vivenciou pela manifestação divina naqueles dias! Não faltou pão diário, ao longo dos 40 anos. Não faltou água, ainda quando tivesse de ser tirada da rocha. Não faltou carne. Não faltou presença manifesta de Deus, ora pela aparição da coluna de nuvem de dia, ora pela coluna de fogo à noite. Não faltou luta e vitória pelo braço do livramento de Deus. Não faltou ensino, orientação divina, Palavra, criação, construção, moradia. Ele fez. Era o espaço da provação, mas era assistida. Deus morou com Israel no deserto, cada um daqueles dias. Israel viveu a verdade preconizada em Deuteronômio: “Por baixo de ti estende os braços eternos”.  Deuteronômio 33:27. Aleluia!

E um último aspecto a considerar de um deserto não só possível quanto necessário à nossa fé:

3- O Deserto da Capacitação

Antes de se apresentar ao povo de Israel como líder, Moisés viveu banido do Egito, 40 anos no deserto. Quero apenas lembrar esse deserto de 40 anos na vida de Moisés. Deus o fez resultar na revelação através da sarça no Horebe. “Moisés pastoreava o rebanho de seu sogro, Jetro, que era sacerdote de Midiã. Um dia levou o rebanho para o outro lado do deserto e chegou a Horebe, o monte de Deus. Ali o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio de uma sarça. Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, não era consumida pelo fogo.”- Êxodo 3:1-2. Moisés, depois que fugiu do Egito, viveu 40 anos no deserto, jornada que foi interrompida pela revelação de Deus a ele.

Em seguida, não podemos esquecer os 15 anos de fuga de Daví, vivendo nos desertos para sobreviver a seu inimigo Saul, e depois a seu filho traidor, Absalão. Quanto Daví aprendeu nesses desertos! Daví entendia de deserto já desde os dias em casa de seu pai quando ainda adolescente.

Daví venceu o gigante Golias no deserto;

Daví formou um exército de valentes guerreiros no deserto;

Construiu instrumentos musicais e compôs seus mais belos salmos ali;

Foi no deserto que ele encontrou uma esposa digna, Abigail, que havia enviuvado.

Foi no deserto que ele aprendeu a suportar, fortalecer-se, criar estratégias de guerra e vencer como herói.

Foi o deserto que lhe ensinou a gloriosa verdade do salmo 139: “Se fizer a minha cama no abismo, também lá estarás”.

Por último, temos Mateus 4 nos descrevendo o deserto preparatório do Filho de Deus, para onde foi Ele levado pelo Espírito Santo para ser tentado; onde experimentou vitória sobre o mal, e vivenciou conforto angélico, mas também de onde emergiu pronto para começar Seu ministério terreno.

Moisés, Daví e especialmente Jesus, nos ilustram os desertos onde Deus deles Se serve para capacitar, construir uma grande realização permanente. Todos esses desertos nos são possíveis, e de igual maneira também nós achamos nosso Deus neles.

Em cada um desses desertos com suas brilhantes histórias, temos os emblemas de nossos possíveis desertos pessoais. Em cada um deles aprendemos quanto Deus neles opera, constrói, de maneira que longe de ser o cenário de nossa destruição, eles são convertidos na arena de nossa vitória pelo operar gracioso do Deus Eterno que não nos desampara, cumprindo em nossas vidas a um só tempo, a Palavra que assegura: “Eu estarei com você” (Isaías 43:2) e: “pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles.”– 2 Coríntios 4:17.

Você se acha no deserto? Não se desespere! Clame ao Senhor. Ele ouvirá e vai usar o seu deserto para transformação e bênção, por Sua graça. Ele entende de desertos. Louvado seja Seu santo Nome!

A Escada do Pai Nosso

Mateus 6: 9-13.

Spurgeon disse ter encontrado num livro de palestras para jovens, cujo título nem autor ele cita, um esboço de sermão sobre o Pai Nosso que o comoveu com a emoção de quem contempla uma jóia perfeita (Sermões de Spurgeon sobre as Grandes Orações da Bíblia, Pão Diário: Curitiba, 2019, p. 161). Imaginem o que eu, tão longe da investidura desse experimentado servo de Deus, sentí ao ler esse curto esboço! Nele não há mais que uma amostragem dos tópicos principais. Tampouco Spurgeon desenvolve um sermão baseado nesse esboço. Mas me senti inspirado a tentar  dilatar esses argumentos, à luz do texto do Pai Nosso, fazendo uso desses tópicos originais e assim compartilhar aqui numa mensagem que estou certo ter   sido o Espírito de Deus que colocou em meu coração.

O pensamento do autor original, incógnito, definiu através da oração do Senhor, as características daquele que ora. E sobre essas características, Spurgeon entendeu que o Pai Nosso se apresenta como uma escada de acesso a Deus Pai, pela oração, que podemos percorrer numa direção descendente, começando pelo degrau mais elevado, e descendo até o último, que toca o chão. Eu pensei em convidar você a ir comigo, acompanhando o pensamento do Senhor, na posição inversa: de baixo para cima, ou seja, desde o primeiro degrau, o do rés do chão.

Na verdade, numa visão geral, percebe-se que o Senhor Jesus nos posiciona no degrau mais elevado, e nos leva a ir descendo a escada, conforme oramos, de maneira que a um só tempo nos apercebemos da posição que ocupamos e daquelas que nos constituem, e como de fato somos diante de Deus, de forma que a mais elevada não anula as anteriores.

Como esta é a oração conhecida de cor por todo bom cristão de qualquer denominação, de católicos a toda ordem de protestantes, convido você a repassá-la comigo agora.

Assim oramos:

Como o filho que tem acesso ao Pai;
Como o súdito dentro desse filho com acesso ao Rei;
Como o servo que constitui esse súdito, com acesso ao Senhor; Como o mendigo que esse servo é, diante do seu Provedor;
Como o pecador penitente que está nesse mendigo, diante de seu Redentor;
Como o pecador fraco e perecível, decaído, diante do seu Auxiliador;e como a criatura esvaziada de tudo, que se apequena diante do imenso poder do Deus Criador, destituída da glória dEle, a qual contempla  ao longe.

Essa caminhada descendente pode ser feita nesta oração, para lembrar-nos que sempre podemos subir por essa escada, a cada vez que nos sentimos junto ao último degrau. E como o número não poderia ser outro, temos na oração do Pai Nosso, sete degraus pelos quais nos chegamos a Deus. Vamos subi-los, um a um:

1- O primeiro degrau é o da criatura destituída da glória de Deus, que se vê dela vazia, mas reconhece que Ele tem poder e um reino. Nessa condição, dizemos: “Porque teu é o Reino, o poder e a glória, para sempre, amém”. Começamos pelo amém o primeiro degrau. “Assim seja”, como quem diz: “aceito o que dizes a meu respeito. Pequei, e estou destituído da Tua glória, longe do Teu reino e reinado” (Romanos 3:23). E então toco neste primeiro degrau, como o ladrão penitente ao lado de Jesus, na cruz. A primeira coisa que ele fez foi reconhecer que Jesus tinha um reino, e pede que nesse reino Ele se lembre dele que ali morria. Assim começamos nós.

Em seguida, podemos galgar o segundo degrau:

2- Nele se encontra o pecador frágil diante de seus pecados e tentações. Aqui começamos a nos ver aos olhos de Deus: como pecadores decaídos, frágeis, sob tentações, sem poder pessoal algum, altamente perecíveis e fracos, que suplicam: “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”. É um começo muito bom, porque significa não apenas se ver   como pecador, mas como aquele que necessita do poder de Deus para sair dessa condição. Que sabe não poder se resolver sozinho. É a primeira abertura para percepção da oferta da graça de Deus.

3- Agora, podemos ascender ao terceiro degrau, que é o degrau do pecador arrependido e penitente, que confessa: “Perdoa nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores”. Encaramos o pecado, como dívida contraída contra a santidade de Deus. Este degrau é decisivo. Ou me reconheço pecador, confesso, busco perdão para avançar e me igualo a todos os outros como tão pecadores quanto eu, ou não avanço mais, e só me resta descer ao chão para começar tudo de novo. Porque  este degrau tem uma condicional: confissão, reconhecimento pessoal de pecado e compromisso de conceder perdão na mesma medida em que busco ser perdoado. Mas vale lembrar que podemos e até devemos voltar  ao terceiro degrau, sempre.

4- Nosso coração assumiu isso, de fato? Não foi verbalização vazia, sem coração junto, sem verdade? Então posso avançar, e agora o quarto degrau, o meio da escada, me eleva à posição de pedinte, ao reconhecimento de um estado de penúria, mendicância, em que reconheço que não posso e não sou eu nem minha força que pode prover a mim mesmo, mas Ele é a única fonte do meu pão, do que pode me prover a vida e ainda alimentar a alma, então eu peço: “O pão nosso, de cada dia, dá- nos hoje”. E esta forma de pedir: “dá-nos hoje”, ela fala de dependência diária, de nossa insuficiência contínua. Mas como Ele ouve? Ele vê que nossa alma precisa do pão do céu, Jesus, que disse: “Eu Sou o pão vivo que desceu do céu”, e também : “Quem comer a minha carne, por mim viverá”. E então Deus nos alimenta com Jesus, Seu Filho. Até o meio da escada, nada temos a Nada em nós.

5- A partir daqui, providos do pão, começamos a ter participação, a querer participar da vida de Deus e com Deus, e então galgamos o quinto degrau, e pedimos: “Seja feita a Tua vontade, assim na terra, como no céu”. Que traduz uma entrega muito significativa: “Quero ser Teu servo, quero Te servir, fazer Tua vontade”. Olhe onde já chegamos! Aleluia! Mas antes nos alimentamos de Jesus. Por isso foi possível chegar

6- E nossos olhos começam a se abrir, e então temos visão aproximada de Sua realeza e Seu Reino, porque podemos pisar no sexto degrau e dizer: “Venha o Teu Reino”. É a visão de súdito, daquele que por ser servo, aprendeu a estar sujeito e a estar comprometido, que o Vê como o Rei, e que deseja envolver-se na manifestação desse Reino. Aqui, já estamos rendidos, aproximados, porque estamos no penúltimo degrau, antes do topo da aproximação. Aqui estamos nos oferecendo, além de servos, a súditos, sujeitos, adjuntos. Viemos até aqui como servos. Mas também ouvimos Jesus nos dizer em João 15: 15 – “Já não os chamarei servos, e sim amigos”. De fato, amigos de Jesus, porque, por conta dEle, que é o pão de Deus do qual já nos alimentamos, adquirimos participação em Sua E então Deus nos alça ao sétimo e mais elevado degrau, porque nos constitui filhos que então podem com liberdade invocá-Lo como Pai, dizendo: “Pai Nosso”. 

7-O DEGRAU DE FILHO

É o degrau do filho, que quando nEle chega, sabe que tem em Deus seu Pai Celeste, o Pai que está nos céus, mas não afastado, não distante, tanto  que pode ser invocado, pois pode ouvir, e o filho

O invoca: Meu Abba!”, Pai. O adora: “Meu Abba!”, Pai.
E o anseia: “Meu Abba!”, Pai que estás nos céus, onde poderei chegar.”
E o filho entende que quando se aproxima desse Deus Pai em oração, desloca-se dos baixios da vida, da terra, e adentra à atmosfera do céu, ascende, se eleva, se achega, e é recebido.

O Evangelho de João nos diz o meio pelo qual fomos feitos filhos de Deus. E é na condição de filhos que começamos a orar: “Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu Nome.” Importante observar que parte de nós o nos oferecermos como servos e súditos, mas ser feito filho, é ação divina, parte dEle para nós (João 1:12). Esta também pode ser a razão por Jesus ter começado de cima para baixo.

A primeira marca de um filho, é herdar o nome de seu pai, e se sabercomprometido com ele. No sétimo degrau sabemos que somos filhos de um Deus que é santo, por isso está nos céus, e assim nos comprometemos a honrar a santidade de Seu nome, pelo qual passamos a ser conhecidos:  eu e você, temos o nome de Deus por sobrenome, por causa da obra de Cristo Jesus na cruz do Calvário.

E então desfrutamos as bênçãos dessa filiação.

O que aprendemos na oração do Senhor é que esse filho em que Ele nos tornou, a um só tempo é filho, é súdito, é servo, é um mendigo faminto de pão, que nunca está saciado, mas tem contínua fome de Deus e de Sua Palavra. Também é um pecador arrependido, é um pecador fraco e decaído, é uma criatura chamada à existência pelo Deus que a sonhou desde os dias da eternidade. Louvado seja Seu Santo e bendito Nome!

Que Segurança!

Romanos 8: 26-39.

 É imprescindível começar a pensar neste magnífico texto da Palavra de Deus, citando outros dois textos muito significativos: “Em toda a angústia deles, foi ele angustiado, e o Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão, ele os remiu, os tomou e os conduziu todos os dias  da antiguidade.”- Isaías 63:9 e: “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera.” – Isaías 64:4.

Pois é exatamente desta extraordinária notícia de que trata o texto de Romanos 8. Basta perceber o versículo 31, garantidamente um eixo desta palavra que lemos neste capítulo: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?

Deus é por nós! É tudo quanto a fé precisa saber para dar lugar a descanso em nossos corações conturbados. Segurança é o termo que desponta como definição do resultado desta promessa sobre aquele que crê na Palavra de Deus.

Segurança é a mais necessária e imprescindível bênção para qualquer de nós em todos os tempos, e em especial nestes dias ameaçadores nos quais vivemos. A segurança produz descanso. O Deus da nossa salvação sempre insistiu em nos oferecer esse descanso. Jesus o prometeu. O Velho Testamento se serve de imagens verbais de segurança para falar de descanso: “Tirou-me de um lodo de lama e colocou meus pés sobre a  rocha e me firmou os passos” (Salmo 40); expressões de sentido paralelo apontam, nesta mesma direção: “Minha Rocha; Meu Refúgio; Minha Fortaleza; Torre forte; Esconderijo; Eis a Rocha!” E outras mais, de que se serviram os adoradores de Deus para falar de segurança.

Segurança pela fé não traduz escapismo nem negação da realidade. Muita gente, mesmo entre nós, se serve continuamente de um mecanismo de falsa segurança conhecido como negação. Bem longe disso, nosso texto fala de estabilidade da alma mesmo em meio às ameaças. A fé não tem compromisso com a negação. Este texto fala disto. Um coração em segurança desfruta paz em qualquer circunstância. É do calibre da oração  de Habacuque 3.

A segurança vem à fé pelo exercício de crer nas promessas de Deus. E aqui, em Romanos 8, nós as temos abundantes, e com todos os critérios  que nos dão suas garantias.

Por que podemos viver seguros? A começar pela informação do texto eixo: v.31 – Ele é por nós! A nosso favor! E o faz como o Deus Triúno que  Se manifesta em três pessoas distintas e benditas. Já nos seria bastante sabermos dessa garantia à luz daqueles textos de Isaías. Mas Romanos 8 traz um poderoso reforço, revelando a Trindade Santa ocupada em tornar a promessa do verso 31 bem explícita e delineada. Agora vejamos as garantias que o texto aponta para vivermos nossa segurança por fé. Ela é:

 

  • GARANTIDA PELA AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO DE DEUS – 26-27.

Costumamos cultivar o bom hábito de crer na eficácia da oração, e por isso, oramos e estamos sempre dispostos a pedir orações dos outros a nosso favor. Chamamos a estas, em particular, de orações intercessórias, em que aquele que ora, coloca-se diante de Deus no lugar daquele por  quem ora. Pois o texto nos diz tácitamente que o próprio Espírito Santo que passou a habitar em nós, ora a Deus a nosso favor, como intercessor.

É bela a figura criada por Paulo para nos comunicar esta bênção. Ele diz  que o Espírito de Deus, como nosso intercessor, “nos ajuda em nossa fraqueza”, que o apóstolo define como sendo “não sabermos orar como convém”. E nós que pensávamos que a esta altura da vida já sabíamos orar. Até sabemos. Mas como convém? A Bíblia diz que não.

E mais: Ele o faz numa identificação de tal ordem, que expressa com gemidos inexprimíveis o que Deus precisa ouvir a nosso respeito. Sei que o texto diz que tais gemidos são inexprimíveis. Nós sabemos exprimir um gemido muito comum em oração quando o que demandamos produz dor   em nossa alma. E então o usamos: Ah, Senhor! Mas quando se trata de orar por nós, nem este serve ao Espírito de Deus!

Dificilmente acharemos um ser humano orando assim por nós.

Mas a glória desta bênção reside no fato de que Ele sabe o que Deus quer ouvir (v.28). Sua intercessão tem deferimento garantido, porque Ele apresenta a oração de acordo com a vontade de Deus Pai, que é também a sua. Lembremos: Paulo diz que ao orar por nós, Ele o faz porque nós não sabemos orar como convém. Logo, Seus gemidos convêm a Deus.

Depois, nossa segurança se amplia pelo agir de Deus Pai.

 

  • GARANTIDA PELO PROPÓSITO DE DEUS PAI- 28-33

 

Ele atua em todas as circunstâncias a nosso favor. Nunca contra. Ele é por nós!

Não devemos confundir. O texto não diz que Ele cria ou impede situações. Não. Ele age nelas, uma vez que ocorrem. E o faz para que atendam a Seu propósito. Nada Ele perde!

Porque Ele nos atende, não como quem pega um número marcado numa agenda. O v.29 diz que somos conhecidos Dele. Não no momento em que chegamos para orar, ou quando o holofote das ocorrências chama Sua atenção para nós. Pelo contrário: o advérbio “antemão” fala de um tempo que remonta à eternidade. Nós não conhecíamos a existência, mas o Autor da Vida já nos conhecia em Seu propósito. E porque nos sonhou, nos predestinou, e chamou e justificou e glorificou, ou seja, colocou dentro de nós o Espírito da Sua glória (I Pedro 4:14).

E como se não bastasse, garantiu nossa redenção entregando Seu Filho à morte em nosso lugar e a nosso favor. Por isso foi dito: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo”.

Se somos acusados, seja pelo diabo, gente ou nossa consciência, Ele assume nos justificar por meio da fé em Seu Filho. Glória ao Seu Nome!

E assim temos que, por conta da ação de Deus Pai, podemos estar seguros: quanto à ação de Deus; quanto à aceitação de Deus; quanto a fazermos parte de Seu plano eterno, pessoalmente; quanto a sermos resgatados na morte de Jesus e quanto a sermos por Ele justificados se formos acusados como pessoas   que erram, que pecam. E ainda tem mais:

  • GARANTIDA PELA REALIZAÇÃO DO FILHO DE DEUS – 34-39.

E temos a segurança dilatada pela obra de Cristo Jesus a nosso favor. O texto diz que por causa Dele não podemos mais sofrer condenação;

E afirma ainda que Ele também intercede por nós. Esta informação se repete em Hebreus 7:25. E isto é simplesmente belo: Deus, diante de Deus, clamando pelos filhos de Deus. O Espírito Santo e o Filho, fazem de nossa vida objeto de Seu cuidado e oração diante do Deus de toda a criação. Entenda assim: a santidade de Deus intercede por nós; a identidade humana de Deus, o Deus Encarnado, intercede por nós. E então o Deus Eterno age a nosso favor.

E ainda, por conta de tamanha segurança, somos desafiados a crer que aquela expressão “todas as coisas” de que fala o v.28, ainda que possam  ser enunciadas, quaisquer que sejam, não podem esvaziar o amor  que Cristo assumiu por nós, cada um em particular. Por isso o apóstolo nos apresenta uma galeria delas, nos versos 35, 38 e 39. Inclui a morte como uma de suas possibilidades, e arremata: “Nada poderá nos separar desse amor que Cristo tem por nós”. Os versos 36 e 37 revelam que a segurança não consiste em escapismo, em não enfrentar. Sim, já vimos isso. Não é negação. Antes, é enfrentar e vencer. Isto nos torna conquistadores nEle. Aleluia!

A esta altura, ainda cabe perguntar se podemos nos sentir absolutamente em segurança? Toda a Bendita Trindade Santa age a nosso favor. É por nós. Voltada para nós.

Um dia atendi a uma mulher que padecendo de um transtorno somatoforme, vivia sempre se sentindo vítima provável de morte iminente por enfermidades que sua mente criava. Procurei fazê-la entender que seu  corpo havia sido criado para viver, não para morrer, e por isso ela tinha alguns “steps” aprovisionados. Lembrei a ela que estava dotada de dois pulmões, embora pudesse viver apenas com um. Dois rins; duas glândulas suprarrenais, de igual forma, e fui mostrando a ela o funcionamento de órgãos que supriam a falência hipotética de algum outro. Quando encerrei minha exposição, ela me disse: “Vendo dessa maneira, eu me sinto mais segura agora”.

E você? Diga à sua fé que se a oração de um justo a seu favor, pode muito em seu efeito, quanto mais saber que o Deus Espírito e o Deus Filho assumiram orar de contínuo diante de Deus Pai a seu favor, Esse Mesmo Deus que recebendo a oração atende, “agindo em todas as coisas a favor dos que O amam e são chamados segundo o Seu propósito.”

Isto é segurança para nós. Glória ao Seu Nome!