“Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele”. Lucas 11:1.
Eu não sei como eram feitas as orações de João e como ele as ensinou a seus discípulos, porque a Bíblia não registra isto. Mas esta petição feita por um dos discípulos do Senhor já me mostra que os discípulos de João oravam porque “sabiam orar”, tendo aprendido com seu mestre. Diz mais. Diz que João ensinou a oração ou a maneira de orar, aos seus discípulos. Nada curioso ou diferente, a não ser o fato de que essa solicitação tão singela feita a Jesus, da parte de um dos discípulos que tomou a palavra em nome de todos, acontece num contexto onde parece deslocada, sem razão, uma vez que a esta altura, temos diversos relatos de Jesus Se retirando em oração com eles, e isso tão repetidamente, quanto exclusivamente, conforme um relato em Lucas 9:18, onde o texto afirma que “Jesus estava orando em particular, e com ele estavam os seus discípulos”. Aqui mesmo, no texto de Lucas 11, a solicitação parece motivada pela observação deles quanto a Jesus orando. Como se eles fossem apenas ouvintes passivos de uma oração sussurrada silenciosamente, cujas palavras eles não conseguiam perceber.
Mais surpreendente ainda é a resposta de Jesus, que de imediato os ensina, apresentando um modelo de oração tão simplificado quanto parece desvestido de poder e propósito à altura do Deus a Quem se deve orar. Ledo engano! Nesse modelo simples já está dizendo tudo o que deve fazer parte de nossa razão para orar ao Deus Eterno: o pedir o pão, o perdão e o livramento de cair em pecado. Pão, perdão e purificação. Os três “ps”.
O primeiro registro que temos desse ensino está em Mateus 6. Jesus o precede solenemente, dizendo o que não deve fazer parte da nossa forma de oração: Vaidade religiosa (v.5); repetições ansiosas (v.7). Em lugar disso: anonimato e intimismo (v.6).
Mas voltemos ao conteúdo motivador da oração: pão, perdão e purificação. Em Lucas Ele reforça Seus argumentos insistindo, através de uma parábola ilustrativa, a importância de pedir, buscar e bater, na certeza de que seremos atendidos, quanto a estes três elementos: pão, perdão e purificação. Nessa parábola, sobre o amigo que importuna outro amigo a favor de um terceiro, também amigo, ele nos descortina a figura de Deus como o Pai perfeito e amigo perfeito, que por ser Quem é, jamais deixará de atender. E encerra dizendo que pedimos o pão, e receberemos como resposta o Espírito Santo, para falar que Deus Mesmo, na Pessoa do Seu Espírito e por meio dEle em nós, nos suprirá com Sua presença, a causa real, a razão da busca motivada por essas necessidades essenciais com as quais Ele está comprometido.
E então esses conteúdos me significam que Jesus nos diz que o Pai nos quer diante dEle, conscientes de nossa necessidade real: o básico para nossa subsistência neste mundo, como pessoas que sabem que o pão, a base de nossa existência biológica tem sua fonte e manutenção na Pessoa do Pai Eterno. E outro tanto, o perdão, a base de nossa existência psíquica sadia, sem culpa, que nos viabiliza o trânsito seguro entre Deus e os homens; e ainda a purificação, a base de nossa existência no mundo espiritual, para sermos achados inculpáveis diante do Pai a Quem nos achegamos, e diante daqueles para quem somos postos como espetáculos no mundo, conforme ensina Paulo em I Coríntios 4:9.
O pão como elemento primeiro de minha petição na oração, me faz pensar em como Ele nos vê simples, e como Jesus nos ensina a simplicidade da vida. No entanto, diferentemente disso, corremos para pedir o contingente de nossas complexidades, de nossos acúmulos que nos servem de laço e nos fazem perder a segurança e beleza do que é simples, aquilo em que de fato a beleza da vida se sustenta e repousa.
Jesus nos mostra que Deus está comprometido com o simples da nossa existência, e nunca com os superlativos que acumulamos, nos quais nos complicamos, perdendo-nos em meio a eles, e por conta deles.
Por fim, me sinto na pele dos discípulos, e penso que me cabe concluir que não sei orar, mas posso pedir ao Filho de Deus que ora por mim, pois é meu intercessor diante do Pai (Hebreus 7:25; Romanos 8:34), que me ensine a orar, consciente de que tudo o que eu pedir, Deus vai transformar em me dar mais do Seu Espírito, a única necessidade real de minha existência neste mundo dos homens, e a mais segura e completa satisfação de minhas carências existenciais, temporais e eternas.