José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa “encorajador”, vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos. –Atos 4:31(ARC)
Um homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, também vendeu uma propriedade. Ele reteve parte do dinheiro para si, sabendo disso também sua mulher; e o restante levou e colocou aos pés dos apóstolos. Então perguntou Pedro: “Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar para você uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade? Ela não pertencia a você? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus”. Ouvindo isso, Ananias caiu morto. Grande temor apoderou-se de todos os que ouviram o que tinha acontecido. Então os moços vieram, envolveram seu corpo, levaram-no para fora e o sepultaram. Cerca de três horas mais tarde, entrou sua mulher, sem saber o que havia acontecido. Pedro lhe perguntou: “Diga-me, foi esse o preço que vocês conseguiram pela propriedade?” Respondeu ela: “Sim, foi esse mesmo”. Pedro lhe disse: “Por que vocês entraram em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Veja! Estão à porta os pés dos que sepultaram seu marido, e eles a levarão também”. Naquele mesmo instante, ela caiu morta aos pés dele. Então os moços entraram e, encontrando-a morta, levaram-na e a sepultaram ao lado de seu marido. E grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram falar desses acontecimentos.”- Atos 5:1-11 NVI
Um homem e um casal são postos em evidência para formarem contraste de comportamento e caráter: Barnabé e Ananias com sua esposa Safira. O nome de Barnabé é colocado no final da narrativa que registra o espírito e comportamento da igreja em seu nascedouro. Ele é destacado para ilustrar o que estava sendo dito quanto ao desprendimento e generosidade do povo a favor de todo o Corpo, a Igreja. Em contrapartida desponta-se o casal como uma célula maligna dentro daquele corpo, contrariando e quebrando todo o espírito. Indo na contramão do fluxo do Espírito, para produzir o culto aparente que destaca o cultuador, em lugar de Quem é cultuado.
Destacam-se também como promitentes doadores, mas a ação é denunciada como falsa, apenas uma aparência de piedade, e para se fazerem passar como
desprendidos, generosos e participativos, mentem, usam de engano. O juízo de Deus e a forma como ocorreu, surpreendem. Eles não foram apenas denunciados e repreendidos. Foram extirpados do grupo. A pergunta que se levanta hoje, quando temos tanta leniência no trato com comportamentos assemelhados na igreja é: o que a atitude do casal representou, de fato, que exigiu tão drástico juízo? O nome de Barnabé não entrou aqui à toa.
Pelo discurso de Pedro vemos que ninguém estava obrigado a contribuir, menos ainda a se desfazer de tudo a favor de todos. Era uma ação exclusiva do Espírito Santo nos corações, e isso se traduzia em unidade. Barnabé era rico e se desprendeu de tudo. O casal não era rico, mas foi miserável e enganador, quebrando a unidade. A unidade quebrada gera interrupção do fluxo do poder de Deus, contraria o espírito de Corpo que define a Igreja. Faz-nos pensar que Deus não tolera a falsa promessa, o falso voto.
Tentar entender ou achar uma justificativa plausível para a fatalidade ali ocorrida, pode nos levar a sérios equívocos ou a uma pretensa necessidade de justificar a ira divina. Sequer sabemos se os dois foram fulminados por efeito de ira divina. Pode ter sido a reação da justiça de Deus. Mas podemos alinhavar algumas coisas:
Tal punição numa mais ocorreu, mesmo em face de pecados escandalosos como o descrito em I Coríntios 5:1. É significativo que essas mortes não colheram Pedro de surpresa. Após o incidente com Ananias, ele estava seguro de que o mesmo juízo ou ira, cairia sobre a mulher, Safira.
Também é significativo apontar que essas fulminações aconteceram nos mesmos moldes dos milagres anteriores, produzindo os mesmos efeitos: o temor, que o poder de Deus despertava.
Não menos curioso é o fato de que a morte vem como punição, num contexto em que até hoje parece contradizer nosso entendimento da graça: perdoadora sempre. E os que vivem e pregam a graça barata, preferem entender que ela perdoa mesmo quando não há arrependimento. Ledo engano!
Penso, por fim, que a morte do casal foi emblemática: morreram os dois, não exatamente por conta do engano perpetrado, ou mentira ou pela hipocrisia espiritual. Não foi tanto a natureza do erro, mas seu significado: era um fogo estranho oferecido no altar, com a pretensão de ser o mesmo fogo que Deus havia acendido pelo Seu Espírito. Mas apenas fingia ser o fluxo natural do agir do Espírito Santo na Igreja. E tanto quanto os filhos de Arão no passado, eles também foram fulminados, para que Deus advertisse os filhos da graça quanto a saber que, fogo estranho no serviço da fé, fruto de engano, estereótipo de “piedade com eficácia negada”, recebe dEle fulminação. Fulminação que se traduz em mortes invisíveis, não percebidas nem sentidas de imediato, mas ainda assim por Ele operadas e para Ele visíveis e reais, e com desdobramento futuro, previsto por Jesus quando disse: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!”- Mateus 7:21-23.
E assim, o Senhor da Igreja continua cumprindo a Palavra do Salmo 101:7(ARC) – “O que usa de engano não ficará dentro da minha casa…”