Chegando Jesus à região de Cesareia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas”. “E vocês?”, perguntou ele. “Quem vocês dizem que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Respondeu Jesus: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não foi revelado a você por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus. E eu digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la. Eu darei a você as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus”.” Mateus 16:13-19.
A vida espiritual, conforme ensina o Evangelho, é fruto de confissão. Paulo diz enfaticamente isto, em Romanos 10:9 – “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo.”
É quase um mistério o fato de que Deus condiciona bênçãos essenciais à legitimidade da confissão. A confissão tem o sentido de consentimento, aceitação, aprovação e acima de tudo, comprometimento.
Além desta solene declaração de Paulo em Romanos 10:9, temos ainda Jesus afirmando que somos julgados segundo afirma a nossa boca: “Mas eu digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por suas palavras serão condenados”. – Mateus 12:36-37. E por aí já é quanto basta para vermos o comprometimento da confissão aos olhos de Deus.
Mas a confissão tem ainda um caráter de adoração. Dependendo do que se confessa, do que se diz, essa confissão pode ser adoradora. Temos vários exemplos disso na relação de homens e mulheres de Deus com Ele, começando por esta confissão de Pedro, elogiada por Jesus.
Paralela a esta, temos o mesmo Pedro, mais uma vez tomando a palavra pelo grupo para fazer uma confissão solene, vista em João 6:68 – “Simão Pedro lhe respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna.”
E ao lado da confissão vista em nosso texto de Mateus 16, temos outra solene confissão adoradora, superlativo da fé. A confissão de Marta, irmã de Maria e de Lázaro, em João 11: 27 – “Ela lhe respondeu: “Sim, Senhor, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”.
Temos depois o brado de rendição, que faz a confissão do incrédulo arrependido, Tomé, diante do Senhor Ressuscitado: “Tomé, chamado Dídimo, um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu. Os outros discípulos lhe disseram: “Vimos o Senhor!” Mas ele lhes disse: “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei”. Uma semana mais tarde, os seus discípulos estavam outra vez ali, e Tomé com eles. Apesar de estarem trancadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” E Jesus disse a Tomé: “Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia”. Disse-lhe Tomé: “Senhor meu e Deus meu!” – João 20:24-28. E tal brado equivaleu a uma confissão adoradora, que nos serve de parâmetro. Tomé O confessava como Deus, seu Deus; e na mesma medida, seu Senhor. Chama a nossa atenção o fato de que era o que via nEle, o que motivava a confissão de Tomé e é nesse sentido que ela se transforma em adoração. Às vezes confundimos gratidão com adoração. A gratidão inclui a adoração mas não tem poder para gerar uma confissão. Porque a confissão declara o que nEle vê, e então assume crer.
Todas essas confissões, são da mais profunda e sensível adoração, e cerram fileira com a mais sublime de todas, saída da boca de ninguém menos que Jó, em meio à sua trágica desdita: “Eu sei que o meu Redentor vive e que no fim se levantará sobre a terra.”- Jó 19:25.
A história recente da Igreja traz relatos de confissões magníficas semelhantes, ainda que absolutamente simples, como a história da polonesa num campo de concentração nazista, sendo consolada e levada à fé em Cristo, somente com o contínuo pronunciar do nome de Jesus, única palavra que Corrie Ten Boon, também prisioneira, sabia em polonês para se comunicar com aquela mulher.
Ainda poderíamos alinhar a todas elas, o fato de Silas e Paulo, pés presos ao tronco nos fundos da cadeia em Filipos, costas lanhadas, sem poderem dormir à meia noite, entoando cânticos de louvor a Deus, que os demais presos podiam ouvir.
O Senhor busca adoradores que O adorem em espírito e em verdade, e se essas confissões aqui alinhavadas não se prestaram a isso, então vã seria confessar e adorar.
Jesus faz questão de nossa confissão a Seu respeito. Ele deixou claro isso quando disse em Mateus 10: 32-33 – “Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus.” A um só tempo belo e trágico.
Por que a confissão é importante? Pelo simples fato de que Jesus revelou Seu particular interesse nela, mas também porque ela cria vinculações entre nós e aquilo com que a confissão nos compromete.
E é justamente o que quero agora, em última instância, declinar de nosso texto em Mateus 16.
Jesus queria saber o que o povo, as multidões, os “de fora” diziam a respeito dEle. Uma pergunta que cabe aqui, é se de fato Ele precisava saber disso através de Seus discípulos. Porque o que diziam, Ele já sabia que o próprio Herodes pensava a Seu respeito. Em João 9 e 10 encontramos vários enfrentamentos dEle com os líderes dos fariseus, embates em que eles declaravam e questionavam Sua origem, autoridade, ouvindo o povo dizer que ele era apenas um carpinteiro de família conhecida, ou mesmo que tinha demônios pelos quais agia. Ele sabia o que o povo dizia a seu respeito, mas queria ouvir isso dos Seus, e aqui reside a questão. Era importante, por conta da pergunta que Ele lhes dirigiria a seguir. Porque ouvir muitas opiniões pode incorrer em contaminação e reformulação de ideias. Ele sabia que eles estavam ouvindo o povo. Daí, depois de ouvi-los relatar que uns pensavam dEle ser uma reencarnação de profetas antigos, como Jeremias ou Elias, dada a natureza de Seu discurso contra as falsas aparências no poder político do Seu entorno, também O julgaram uma “incorporação” de João Batista ou uma ressuscitação do profeta recentemente decapitado. Hipóteses ridículas e absurdas, mas preferíveis à ideia de vê-Lo como o Filho de Deus.
Por isso era hora de permitir a eles fazerem sua confissão pessoal, própria, em meio a tantas opiniões-confessionais. Daí Pedro falar por todos, e Jesus declarar que tal confissão fora movida pelo Espírito Santo. Isto se generaliza e nos ensina algo solene, dito por Paulo, apóstolo: a confissão verdadeira é possível, mas só é possível se inspirada, movida pelo próprio Espírito Santo de Deus. É o que lemos em I Coríntios 12:3– “Por isso, eu afirmo que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: “Jesus seja amaldiçoado”; e ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, a não ser pelo Espírito Santo.”
Como esta informação é importante! Porque ela estabelece que a confissão não é mero resultado de um sentimento ou de uma dedução lógica, mas uma declaração feita dentro de esfera espiritual, transcendental, em última análise, um ato de fé. Tem veiculação humana, mas motivada pelo Espírito de Deus que é sua inspiração e origem.
Mas, como eu disse há pouco, a confissão também é importante porque ela cria vínculos com Aquele a Quem confessamos. Se, como disse o Senhor, somos julgados pelo que diz a nossa boca, concordando com Sua declaração: “ A boca fala daquilo que o coração está cheio”, de igual forma, nossa confissão traduz resposta de Deus que Se compromete conosco. Daí vermos que após a confissão de Pedro, ato contínuo Jesus o compromete ao dizer: “O que na terra ligares será ligado no céu”.
A confissão nos traz como resposta o comprometimento de Deus conosco conforme o quilate dessa confissão. A confissão adora e compromete. Deus a recebe e nos assume nela.
Se hoje Jesus dirigisse a você a mesma pergunta que fez aos discípulos: “E você, quem você diz que eu sou?”, qual seria a sua resposta? O que diz o seu coração, como fruto de sua visão pessoal dEle? Quem é Ele para você?
Os que me conhecem de perto, além de minha família, sabem que há 49 anos e meio, eu O confesso como meu Emanuel, o companheiro pessoal de toda a minha vida. Glória ao Seu Santo Nome!