Amor Paterno

A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês.” – 2 Coríntios 13:14.

Por conta da solenidade deste dia de hoje, eu me sinto movido a pensar na declaração solene de Paulo, na segunda linha de sua clássica Bênção Apostólica: O amor de Deus, e esse amor vinculado à mais sublime revelação do que a Graça em Cristo nos ofereceu em Deus.

Gosto de pensar e entender que a oração de Jesus registrada em João 17, quando Ele diz a Deus: “Manifestei o Teu Nome aos homens que do mundo me deste”, que o Nome de Deus que Ele manifestou foi PAI.

Foi, de fato, o Senhor Jesus Quem nos revelou a paternidade divina como ninguém antes dEle sequer pensou em fazer. Quando Moisés se referiu a Deus como Pai para Israel, ele o fez se referindo a Deus como o criador do povo, e sempre numa linguagem metafórica, de tal maneira que jamais judeu algum entendeu essa paternidade anunciada, em caráter pessoal. Mas  Jesus proclamou a paternidade divina, e Seu Evangelho tornou claro que ela ocorre por meio de um processo, como resposta de Deus à fé no coração dos que se rendem a Cristo: João 1:12. De forma que ter Deus por Pai não é decorrente de uma auto-proclamação humana, mas resultado de um agir de Deus, que opera uma realização transformadora de natureza.

E o Evangelho nos ensina fartamente esta gloriosa doutrina.

Aprendemos que a filiação divina é resultado de um processo espiritual da parte de Deus no coração de quem crê: Romanos 8: 14-16. “porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois vocês  não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os torna filhos por adoção, por meio do qual clamamos: “Aba, Pai”. O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.”

Depois temos isto bem elucidado em Gálatas 4:6, onde um reforço do ensino se inscreve: “E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Aba, Pai”.”

A continuação dos textos, tanto em Romanos como em Gálatas, mostra que o apóstolo ao nos posicionar como filhos de Deus, faz contraposição à condição dos escravos, para mostrar o elevado contraste quanto ao lugar que ocupamos. O escravo era cria da casa sem direito a nada. O filho, herdeiro de todas as casas. E para provar que essa condição filial é legítima e completa, o apóstolo insiste em mostrar em Romanos 8:17 que somos herdeiros de Deus, tanto quanto Jesus é herdeiro.

E ainda, o próprio Senhor Jesus, fez esse contraponto quanto a nós, entre ser filho e ser escravo, em João 8:35 – “O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre.”

Mas, a revelação da Palavra de Deus nos remete ao amor de Deus na Sua qualidade de Pai. E o que conhecemos desse amor?

Passo a lhes mostrar algumas janelas que nos permitem ver, conhecer e pensar.

Primeiramente temos Jesus nos revelando a intensidade do amor desse Pai. João 17:23 – “eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e  os amaste, como também amaste a mim.”

Depois, ouvimos que esse amor nos precede no tempo desde os dias da eternidade: Jeremias 31:3.

E então Paulo nos mostra que, dada Sua essência e eternidade, esse amor é insuperável, excedendo nosso entendimento em todas as dimensões: altura, profundidade, largura e comprimento. Efésios 3:18 e 19.

Nunca devemos esquecer que o amor que Deus nos oferece é amor  paterno. E tal como ocorre na realidade da família humana, o amor paterno é uma oferta, uma conquista do amor do filho, feita pelo pai. De igual maneira, como nosso Pai Celeste, o Deus Eterno fez uma conquista do nosso amor:

  • falando ao nosso coração;
  • Cobrindo – nos com Sua graça
  • Oferecendo- Se a nós na pessoa de Seu Filho Jesus;
  • Manifestando Sua bondade e cuidado;
  • Fazendo-nos participantes de Sua natureza

No entanto, importa entender que por amor paterno em Deus, temos um amor responsável, não paternalista. As pessoas entendem que por sermos filhos somos tratados de forma irresponsável por nosso Pai celeste, por ser amoroso. Não. Longe disso, a Palavra de Deus nos ensina que Ele nos disciplina, corrige porque nos ama: Hebreus 12:4-11.

Depois, temos Jesus nos ensinando em Lucas 15, na parábola do filho pródigo, que se nos desviamos do ambiente doméstico de Deus, Ele continua “em casa”, como Pai esperando nossa volta como filhos, mas não sai para nos proteger no ambiente de nossa má escolha. Ele é responsável e formador de caráter. É Pai justo e santo.

Este Pai nos ama. E espera que tenhamos atitudes próprias de filhos, daí Sua Palavra exortar: “Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu.”

1 João 3:1.

E: “O filho honra seu pai, e o servo, o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me devem?”, pergunta o Senhor dos Exércitos…” – Malaquias 1:6.

Acima de tudo, desejo muito que cada filho ou filha de Deus, pense nEle à luz de Salmo 103: 13-14: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó.”

Você já rendeu a Cristo sua vida e fé? Então Deus lhe trata como filho ou filha. E conforme Ele afirmou: “O filho fica para sempre em casa”.

Benditos na Bênção de Deus

Números 6: 22-27.

Deus e bênçãos, fé e bênçãos, são termos simbióticos, em qualquer confissão. Bênção, abençoar, são palavras que não necessitam de definição. São positivas em qualquer ângulo em que possam ser vistas ou pretendidas.

A fé corre em direção à bênção, e as pessoas querem ter fé para serem abençoadas, por entenderem que a bênção depende da fé que têm. Não é verdade. Tudo quanto a fé pode fazer quanto às bênçãos é capacitar-nos a vê-las e desejá-las e daí, usufruí-las. A fé não cria a bênção. Deus cria. Nem Deus compensa a fé com bênçãos. A fé nos favorece a apropriar-nos da bênção  que nos vem de nosso Deus.

Mas também é fato que Deus capacitou o homem a abençoar. E então devemos deter-nos sobre o significado primário da palavra. A palavra bênção tem o sentido etimológico de favorecer, facilitar a favor de. Assim, dizer a alguém, “eu abençôo você”, tem o sério risco de se tornar um discurso vazio, sem sentido, se não for acompanhado de uma ação correspondente. É de tal ordem, que abençoar sem agir nada produz, mas agir sem precisar dizer, se constitui em abençoar mais eficazmente.

Evidente que o agir tem formas menos visíveis, como uma palavra, uma oração, um abraço, uma atenção. São formas de abençoar. E são eficazes.

Tiago nos adverte sobre o discurso vazio do abençoar quando diz: “Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ´Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se´, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso?” (Tiago 2: 15 e 16). Por esta razão é que Paulo nos adverte a abençoarmos e não amaldiçoarmos. Mas não entender estas coisas, é praticar uma fé folclórica, mágica, própria daqueles que acreditam que falar produz bênção ou maldição. Que falar, “faz acontecer”.

A fala que produz bênção ou maldição, é aquela que produz efeito na estrutura psíquica de quem a recebe. Mais do que isso é magia e não fé, e por ser magia, é falso. E neste sentido, a única fala que abençoa é a que soa como um elogio ou um louvor. O elogio abençoa e é por isso que desde os salmistas, somos autorizados a abençoar nosso Deus quando O adoramos dizendo: “Bendito és Tu, Bendito seja o Deus e Pai…”, porque significa que O estamos elogiando, dizendo que Ele é o Deus cheio de bênçãos. E no terreno inerentemente espiritual a fala abençoadora é aquela que roga, que ora, ou se pronuncia como oração a favor de alguém.

Mas somos chamados a viver sob a bênção de Deus. Poucas pessoas atentam e dão importância a uma palavra poderosa e reveladora, que se encontra em Efésios 1:3, onde o apóstolo Paulo nos assegura, num louvor: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo.” E por que as pessoas não atentam para esta palavra? Porque “bênçãos espirituais” e “nas regiões celestiais”, parecem estar fora de propósito ou do nosso foco, uma vez que só reputamos por bênção aquilo que podemos ver e apalpar (contabilizar), mas não o invisível e que não tenha curso no mundo físico.

Contudo, abertos os olhos da fé, podemos entender que esta Palavra, em Efésios, fala da garantia que temos de que as bênçãos ocorram em nossa vida. Se elas não forem estabelecidas no Reino Celestial, não terão seguimento no mundo temporal, porque Deus habita na luz inacessível, e lá é que se encontra a fonte e a matéria prima de que se constituem todas as bênçãos de que nossa existência necessita. Tiago disse precisamente isto:  “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes.” – (Tiago 1:17). Portanto, só é possível ser abençoado, se estivermos em Cristo, porque é na Pessoa dEle e por meio dEle que Deus Pai nos abençoa. E só temos acesso a Ele e a elas, por meio de Jesus. Foi o que Ele afirmou: “Ninguém vem ao Pai, senão por Mim”.

E há uma forma de abençoar, que faz parte da missão da Igreja, e que se cumpre na vida do povo de Deus, desde os dias da comunhão dos filhos de Abraão com o Deus de Israel. Invocar a bênção divina em oração sobre uma vida, é uma forma de abençoar essa vida, e a única garantia possível disso acontecer. Tem o valor de uma oração intercessória.

Deus sempre quis fazer cairem as bênçãos do céu sobre a vida dos Seus filhos. E tanto quanto nos ordenou a orar e pedir, deu-nos autoridade para invocar Sua bênção sobre a vida do Seu povo, de nossos irmãos. A bênção clássica invocatória que Deus determinou que fosse sempre lembrada a Ele sobre a vida do Seu povo, se encontra em: Números 6:24-26. Ele determinou que o Seu povo fosse abençoado com esta oração invocatória.

Ela permanece como bênção ainda hoje sobre os que crêem. Sua invocação é pertinente, porque Deus ainda tem um povo; ainda quer abençoar Seu povo e ainda nos ordena abençoar-nos mutuamente, porque Ele cumpre Seu compromisso assumido. Foi exatamente o que Ele disse a Moisés quando ordenou que esta bênção fosse invocada sobre os filhos de Israel: “O Senhor disse a Moisés: ´Diga a Arão e aos seus filhos: Assim vocês abençoarão os israelitas” (6:22) e ao término da bênção que Ele descreve, Ele assume: “Assim eles invocarão o meu nome sobre os israelitas, e eu os abençoarei” (6:27). Observe: a bênção é invocada e Deus é Quem abençoa. Não é a invocação por si mesma que abençoa. Isso soaria como mantra, magia. Não procede.

Nós poderíamos encerrar esta reflexão apenas lendo a bênção ensinada e determinada por Deus para ser invocada nesses termos, mas é tão importante entendê-la em seu significado, quanto nela crer. E por isso, vamos a ela. Ela começa com a súplica do abençoar, mas no todo, ela invoca o Nome de Deus por três vezes, que para nós, é clara alusão à invocação trinitária. De forma que podemos localizar facilmente um correlato com a mesma invocação tríplice da bênção apostólica evocada pelo apóstolo Paulo em II Coríntios 13.13, onde o Deus Filho surge primeiro. De igual forma, aqui em Números, a invocação tríplice ocorre, e de igual forma podemos ver o Deus Filho na primeira invocação, o Guarda de Israel. Deus Pai, que faz a luz resplandecer, na segunda invocação; e Deus Espírito Santo, na terceira, Aquele que “presta atenção” em nós, como o Outro Consolador.

O Senhor te abençoe e te guarde”:

A bênção será desdobrada a seguir. Mas observe: A invocação é feita a Deus, o Guardião. O abençoador não vai além de invocar. Quem abençoa é Deus. E qual é a garantia de que ela deve acontecer? Ela só será possível, se Ele ao abençoar, o fizer, guardando, ou protegendo. A palavra tem o mesmo sentido: “O Senhor te proteja”.

A garantia para sermos abençoados está na proteção divina. E por proteção divina, só podemos entender, presença, companhia. Então, temos o Emanuel. Já vimos isso: Ele não confia nossa guarda a outrem. “O Senhor é Quem te guarda”, aleluia! Ele é o Anjo do Senhor que se acampa ao nosso redor e nos guarda. Este é Jesus, o Deus Filho. E o que resulta da proteção de Deus sobre nossas vidas? Como ela acontece? Então vêm os desdobramentos da bênção a seguir. Ela tem quatro dimensões.

  1. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti

É a segunda invocação divina. O Deus Pai está em foco.

  • Há outros sentidos para o resplandecer. “O Senhor faça o Seu rosto brilhar sobre ti”; “O Senhor acenda o Seu rosto sobre ti”. Num primeiro momento, vemos aqui o Pai, com a face aprazível, ou seja, como num sorriso de prazer a nosso favor. Quando pensamos em alguém que nos vê com prazer, dizemos que iluminou o rosto com um sorriso. A idéia que subjaz é esta.

Esta bênção está diretamente implicada com o sentido de II Coríntios 4:6 – “Pois Deus, que disse: ´Das trevas resplandeça a luz´, Ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus  na face de Cristo”. Quando Ele acende Seu rosto sobre nós, é dentro de nosso ser, nosso coração, que Ele o faz, como Paulo disse.

Por conta da Sua graça, não é mais uma verbalização divina, como em Genesis, mas a própria vida, Pessoa de Deus agindo dentro de nossas vidas, pelo Seu Espírito.

Mas tem tudo a ver com aquele primeiro pronunciamento da Voz divina na criação: “Haja luz”, e houve luz sobre as trevas do mundo. Isto implica em dizer que Deus é o nosso grande luminar. Está escrito: “Na Sua luz, veremos a luz”. Ele brilha em nossos corações espaventando as trevas da angústia, a sombra da morte, a fria escuridão da ignorância espiritual. Ele ilumina nosso caminhar. Usa Sua Palavra ao fazer isso, trazendo direção segura, consolo e promessa que alimenta a esperança. Ele nos converte, pelo brilho da glória de Sua presença dentro de nós, em luz do mundo. E porque Ele resplandece sobre nós, Seu Filho nos ordenou: “Resplandeça a luz de vocês diante dos homens”. Lembrem a bela Palavra em Isaías 60: Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti.

Depois temos:

  1. e tenha misericórdia de ti;

– Ou: “seja gracioso a ti”.

A misericórdia ou graça, comprometida na bênção. Ela é a razão ou a possibilidade das duas próximas dimensões da bênção acontecerem. Sem a graça, não há acesso a nada que seja de Deus. Só a graça nos torna aceitáveis a Ele, por meio de Cristo, por isso, as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, são possíveis somente em graça, por causa da graça que nos alcança. Sem a iniciativa de Deus em Cristo a nosso favor, que conhecemos como Sua graça a nós revelada, nada acontece. Deus sabe como necessitamos ser diariamente abençoados, alimentados em Sua graça, que conforme Ele disse a Paulo: “nos basta”. E por isso, tanto somos convidados a nos aproximarmos do “trono da graça para recebermos mais graça” (Hebreus 4:16), quanto somos exortados a crescer nela. Que seria de nós, e onde estaríamos nós, se a graça de Deus não nos encontrasse dia após dia?

E então o imenso compromisso de Deus, na forma de bênção, toma corpo e se torna possível:

  1. O Senhor sobre ti levante o seu rosto

É a terceira invocação divina, e agora quem está em foco é Deus, o Espírito.

– Esta invocação precisa ser compreendida na beleza gloriosa de todo o seu significado. Mesmo porque, o que podemos receber ou entender por “Deus levantar Seu rosto sobre nós?”  Em que isso implica? Em que isso é bênção para nossa vida? Não seríamos nós que deveríamos levantar o rosto para Deus, que habita nas alturas conforme toda a Bíblia proclama? Logo, fica óbvio que não estamos falando de gesto, de forma. E sim, de atitude.

E é exatamente isto. Porque levantar assume o sentido de prestar atenção com deferência, para exaltar, como alguém que estica o pescoço procurando por outrem a quem viu no meio da multidão, ou por quem é responsável. Atende belamente ao sentido do Salmo 91: 7 – “Mil poderão cair ao seu lado; dez mil, à sua direita, mas você não será atingido”. Do mesmo nível da mensagem de Pedro quando disse: “…vocês são povo de propriedade peculiar de Deus”… I Pedro 2:9. Aleluia!

Sim. O Espirito Santo é o guardião da herança de Deus, que somos nós, como penhor até o dia de nossa redenção.

 E em seguida:

  1. e te dê

Cujo sentido se dilata para significar: “E estabeleça tua paz”. É interessante como a paz vem como a chave que consuma a bênção, como se ela fosse a mais significativa satisfação, necessidade coberta. Sim. Paz é a linguagem da Bíblia para dizer que tudo nos vai bem, em todas as dimensões da vida, quando há paz.

Interessante também, como Paulo em Filipenses 4:6 e 7 explica que a paz é a resposta maior, suficiente e satisfatória de todas as nossas aspirações e anseios: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus”. A resposta para o tudo,  será paz. Que interessante!

O aferidor da recepção da bênção: paz (com Deus, consigo e com os outros). A paz é ministrada pelo Espírito Santo em nossos corações. Ele produz a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele testifica dentro de nós com a paz, que Paulo chamou de “o árbitro em nossos corações”.

Glória ao Deus Triúno e bendito por Sua fidelidade em nos abençoar. Seu coração Se inclina em graça sobre nossas vidas. Deixo com você a palavra graciosa com que Daví encerra sua oração em I Crônicas 17:27 -“ …pois o que tu, Senhor, abençoas, abençoado está para sempre”. Bendita verdade! Glória ao Seu bendito e santo Nome!

Assim, encerro invocando esta bênção de Deus sobre suas vidas – “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o Seu rosto, e te dê a paz.

Deus Constrói no Deserto

Nosso texto-base para reflexão hoje, na Palavra de Deus, se encontra em Gênesis 21:8-20, onde leremos sobre o banimento feito por Abraão, de Hagar, a escrava egípcia, e seu filho Ismael.

O texto nos servirá como inspiração para o desenvolvimento do tema que desejo compartilhar com você, a favor de nossa fé, nesta oportunidade.

Hagar foi arrancada de uma posição de conforto e até privilégio, e lançada para um extremo oposto de suas expectativas e esperanças. Lançada em direção a um deserto físico, que ao mesmo tempo assumia o lugar do deserto de sua frustração e desdita. E é neste sentido que devemos pensar na possibilidade e realidade desses desertos figurados na jornada de muita gente.

Primeiramente, devo esclarecer o fato de que há uma sensível diferença entre o que hoje reputamos por deserto, e as inúmeras referências a desertos dos cenários bíblicos da antiguidade. Ainda que hoje prevaleçam alguns daqueles desertos nos termos em que os entendemos, muitos deixaram de ser desertos à medida em que foram povoados, pois maioria das vezes, a palavra deserto na Bíblia configura lugares ermos, inabitados, mas que tinham vegetação, água e até mesmo constituíam oásis paradisíacos. No entanto, sua localização remota de tudo, fazia deles um lugar de abandono e solidão.

Os desertos foram inúmeras vezes palcos de grandes realizações de Deus, na vida daqueles com quem Ele construiu a história da redenção.

À luz do deserto de Hagar, o deserto de Berseba, e a intervenção divina ali ocorrida, devemos pensar nas lições que esses desertos trazem para nossa fé. E por quê? Porque os vemos ocorrendo repetidamente na vida de muitos filhos de Deus em nossos dias, em especial diante da atual pandemia que tem vitimado tantas famílias, mas não só em função disto.

Todavia, é inevitável pensar em alguns desertos de aparente desamparo que vez por outra acomete alguns de nós. São momentos de transe; angústia que parece interminável; terrores na alma; sensação de abandono; desamparo; de afundar sem possibilidade de retorno ou momentos de desesperança que atordoam e levam a pânico. Os personagens do deserto de Berseba viveram exatamente esse coquetel de emoções atordoadoras: Hagar e seu filho. Banidos, partiram sem rumo e o pouco que tinham aprovisionado acabou, em meio ao nada. Atonicidade, desespero, lágrimas; ocupam a alma, alagam. A perspectiva, se havia, era morte trágica, muito sofrida. A alma levava também as cargas da mágoa que a injustiça se encarrega de criar, além da humilhação de ser descartada como coisa sem valor.

Isso nos faz pensar nos desertos modernos que assolam algumas vidas: quando desempregadas, em vias de falência, traídas, solitárias, abandonadas, doentes sem meios de prover sua restauração. E há ainda uma esteira de tantas outras situações, impossível de serem aqui enumeradas, mas que produzem efeitos semelhantes e configuram desertos particulares.

No deserto de Hagar, houve lugar para milagre, porque Deus estava no deserto. Ela apenas não via, e por isso não sabia. E Hagar e seu filho descobriram que Deus tem poder para construir no deserto. Interessante o fato de que Ele não os tirou do deserto em que estavam, mas operou lá, construiu nele as suas vidas, fez construção no seu deserto a partir dele a favor daquela pequena família. E isto nos leva a pensar: Quais os desertos possíveis de nos acometer e o que Deus pode neles construir? Deus se envolve em todos eles? Creio que temos resposta histórica desse agir do Senhor em Sua Palavra. Então começamos pela questão: Quais os desertos possíveis?

Já lemos sobre o deserto de Hagar. Eu vejo nele

1- O Deserto da Injustiça 

Porque perpetrado pela vontade dos homens ou das circunstâncias. Ele é mais corriqueiro do que se pensa. Nele se enquadram o desemprego, as enfermidades oportunistas, os acidentes e também as catástrofes. É próprio hoje das famílias acometidas pela virulência do Covid-19. Tragédias sociais e domésticas também se enquadram aqui, que como no caso de Hagar, podem ter como agente até mesmo um justo, como foi Abraão.

Mas vale lembrar: Em seu desespero, tanto Hagar quanto o menino choraram, e o pranto do garoto subiu como uma oração a Deus. Porque foi um pranto diante de Deus e dirigido a Ele. Isto tem muito a nos ensinar. A súplica, o recorrer ao Altíssimo que sabe nos achar no ermo e devastação, ainda é o recurso suficiente para fazer desse deserto o palco do milagre. Deus entra no deserto e só Ele pode e tem poder para construir nele. Deus fez do deserto de Hagar e Ismael, o espaço da construção de um grande povo e suas cidades. Isto nos leva a pensar num outro tipo possível de deserto:

2- O Deserto da Provação (Disciplina) – provocado por nossa natureza contumaz.

Destaco apenas um texto:  “A ira do Senhor acendeu-se contra Israel, e ele os fez andar errantes no deserto durante quarenta anos, até que passou toda a geração daqueles que lhe tinham desagradado com seu mau procedimento.” –  meros 32:13. Para quem conhece a história bíblica, esse foi o longo deserto de peregrinação do Israel antigo: 40 anos, que poderiam ter sido apenas 40 dias de uma peregrinação difícil, mas curta.

Apesar da causa desse deserto, Israel aprendeu algo que é inesquecível. Que “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”. Quantas vezes nossa precipitação, vontade afoita ou más sementeiras nos levam aos desertos da provação e das perdas! Mas ainda ali, eis a graça! Quantos milagres Israel vivenciou pela manifestação divina naqueles dias! Não faltou pão diário, ao longo dos 40 anos. Não faltou água, ainda quando tivesse de ser tirada da rocha. Não faltou carne. Não faltou presença manifesta de Deus, ora pela aparição da coluna de nuvem de dia, ora pela coluna de fogo à noite. Não faltou luta e vitória pelo braço do livramento de Deus. Não faltou ensino, orientação divina, Palavra, criação, construção, moradia. Ele fez. Era o espaço da provação, mas era assistida. Deus morou com Israel no deserto, cada um daqueles dias. Israel viveu a verdade preconizada em Deuteronômio: “Por baixo de ti estende os braços eternos”.  Deuteronômio 33:27. Aleluia!

E um último aspecto a considerar de um deserto não só possível quanto necessário à nossa fé:

3- O Deserto da Capacitação

Antes de se apresentar ao povo de Israel como líder, Moisés viveu banido do Egito, 40 anos no deserto. Quero apenas lembrar esse deserto de 40 anos na vida de Moisés. Deus o fez resultar na revelação através da sarça no Horebe. “Moisés pastoreava o rebanho de seu sogro, Jetro, que era sacerdote de Midiã. Um dia levou o rebanho para o outro lado do deserto e chegou a Horebe, o monte de Deus. Ali o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio de uma sarça. Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, não era consumida pelo fogo.”- Êxodo 3:1-2. Moisés, depois que fugiu do Egito, viveu 40 anos no deserto, jornada que foi interrompida pela revelação de Deus a ele.

Em seguida, não podemos esquecer os 15 anos de fuga de Daví, vivendo nos desertos para sobreviver a seu inimigo Saul, e depois a seu filho traidor, Absalão. Quanto Daví aprendeu nesses desertos! Daví entendia de deserto já desde os dias em casa de seu pai quando ainda adolescente.

Daví venceu o gigante Golias no deserto;

Daví formou um exército de valentes guerreiros no deserto;

Construiu instrumentos musicais e compôs seus mais belos salmos ali;

Foi no deserto que ele encontrou uma esposa digna, Abigail, que havia enviuvado.

Foi no deserto que ele aprendeu a suportar, fortalecer-se, criar estratégias de guerra e vencer como herói.

Foi o deserto que lhe ensinou a gloriosa verdade do salmo 139: “Se fizer a minha cama no abismo, também lá estarás”.

Por último, temos Mateus 4 nos descrevendo o deserto preparatório do Filho de Deus, para onde foi Ele levado pelo Espírito Santo para ser tentado; onde experimentou vitória sobre o mal, e vivenciou conforto angélico, mas também de onde emergiu pronto para começar Seu ministério terreno.

Moisés, Daví e especialmente Jesus, nos ilustram os desertos onde Deus deles Se serve para capacitar, construir uma grande realização permanente. Todos esses desertos nos são possíveis, e de igual maneira também nós achamos nosso Deus neles.

Em cada um desses desertos com suas brilhantes histórias, temos os emblemas de nossos possíveis desertos pessoais. Em cada um deles aprendemos quanto Deus neles opera, constrói, de maneira que longe de ser o cenário de nossa destruição, eles são convertidos na arena de nossa vitória pelo operar gracioso do Deus Eterno que não nos desampara, cumprindo em nossas vidas a um só tempo, a Palavra que assegura: “Eu estarei com você” (Isaías 43:2) e: “pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles.”– 2 Coríntios 4:17.

Você se acha no deserto? Não se desespere! Clame ao Senhor. Ele ouvirá e vai usar o seu deserto para transformação e bênção, por Sua graça. Ele entende de desertos. Louvado seja Seu santo Nome!