João respondeu com as palavras do profeta Isaías: Eu sou a voz do que clama no deserto”…– João 1:23
Várias vezes, em ocasiões diferentes, fiquei circundando este texto, com um misto de sentimentos que oscilavam entre perplexidade, admiração e desconforto. Explico: João assume ser uma voz, uma voz que fala por Deus. Voz no deserto. É preciso muita convicção e autoridade para assumir posição semelhante, tão comprometedora. E explico, de novo:
Quando a gente é preparada para ser terapeuta e ouvir o outro, aprende a dar voz a ele, em suas queixas, no discurso não falado, voz aos seus sintomas, objetivando sua recuperação. Isso exige técnica, aprendizagem e experiência. Também se reveste de muita responsabilidade, porque dar voz a alguém naquilo que não consegue falar, pode fazer abissal diferença no curso de sua existência e a partir do convívio consigo mesmo.
Há poucos dias escrevi sobre o fato de que a primeira característica de que se serve a Bíblia para provar que nosso Deus é Deus Vivo, em contraposição aos deuses pagãos, é que nosso Deus fala. Ele tem uma voz. O salmista, no salmo 29 apresenta para nós sete características da voz de Deus quando fala. Falar não é a única característica divina de que se serve a Bíblia nessa contraposição, mas é a primeira. Ele tem uma Voz que se faz ouvir.
É fato, e se me permitem, eu sei disso MUITO BEM, – que há muita gente pondo palavras na boca de Deus que Ele jamais teria pronunciado, mas isso não esvazia a verdade de que Deus tem uma voz a ser ouvida. E a questão de eu estremecer diante da afirmativa de João, reside no fato de saber que nós, crentes em Cristo Jesus, como embaixadores de Cristo, somos Seus porta-vozes, aqueles que dão voz a Deus, pois diz a Palavra: “Como se Deus através de nós, rogasse…” (II Coríntios 5:20). Isso é muito significativo e comprometedor. Ao mesmo tempo é redentor.
Outro tanto me admira perceber que João deu voz a Deus no deserto. E penso que é justamente onde ela mais se faz necessária. Quando há só o ermo, o abandono, a sensação de desamparo e esquecimento, como a voz se faz necessária! Nos desertos circunstanciais de cada vida, quão abençoado é ser a voz de Deus que leva direção, consolo, companhia, resgate e resposta!
Seria nessa direção que estaria a profecia de Isaías 32:2 apontando, quando diz que cada um de nós será “como a sombra de uma grande rocha em terra seca”? Estrategicamente colocados nos desertos da vida ou das vidas, para levar socorro, resposta?
Mesmo porque, entendo que a Voz tem multiformes maneiras de falar, e muitas delas é com obras, com feitos, realizações.
E por tudo isso prevalece a solene verdade de que somos e podemos ser a voz de Deus, ou aqueles que dão voz a Deus a favor de muitas vidas. A Palavra de Deus nos mostra que a voz de Deus através de nossas vidas pode ser grafada como as páginas da Bíblia o são, para que outros ao esbarrarem conosco, possam ler-nos e alcançar a mensagem que nossa vida proclama: “Vocês mesmos são a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos. Vocês demonstram que são uma carta de Cristo…” – II Coríntios 3: 2 e 3.