Carismas 3 Caráteres -1 | Atos De Discípulos (19)

“Na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo. Enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram.”- Atos 13:1-3

A mim, causa admiração como um texto tão curto pode conter tanta riqueza de informação inusitada e tanto dinamismo espiritual.

A começar pela citação desse homem, Manaém, contado como um dos profetas ou mestres da igreja de Antioquia, aquela mesma que acabamos de ver anteriormente como o berço do título dos seguidores de Cristo. Talvez Manaém reunisse em sua pessoa os dois ministérios de uma vez: mestre e profeta, o que seria perfeito. Por que destacamos Manaém? Por conta da informação que Lucas acrescenta ao seu nome, com isso chamando a atenção para sua relevância no grupo. Ele foi criado como irmão adotivo de Herodes Agripa. Em Roma, desprezava-se a nova doutrina, reputando-a como religião de servos, escravos. Contrariando isso, só nesta relação de líderes de Antioquia temos Barnabé, o próspero; Saulo, o sábio; e agora somos informados de que Manaém era da casa do rei Herodes, tendo sido criado com ele.

Saber quem e como foi Herodes, e o texto de Atos anterior a este o descreve como o tirano assassino de cristãos, vazio de todo e qualquer temor a Deus -tendo por isso mesmo sofrido um fim nada invejável como consequência de juízo divino -acentua o valor de Manaém, que tendo vivido sob as mesmas influências do mesmo ambiente, não foi impedido de converter-se num destacado e carismático servo do Senhor Jesus. Manaém no palácio de Herodes, à semelhança de Moisés na corte de Faraó, a despeito de toda aquela opulência e luxúria, foi encontrado pelo Espírito de Deus que o chamou à fé em Cristo. Não somente foi convertido, quanto cresceu na graça de Deus. Seu nome era um correlato grego para o nome de Barnabé. Barnabé significando filho da consolação, em hebraico, ou filho do profeta, da exortação; e Manaém, consolação. Embora neste grupo fiquem em destaque Barnabé e Saulo, por certo Manaém estava nivelado a eles em valores espirituais.

Em seguida, somos informados de que Manaém se juntava a Saulo, Barnabé, Simeão Níger e Lúcio para adorar a Deus com jejum. Era prática corriqueira entre eles o jejum na oração, porque o Espírito de Deus comunica a eles Sua vontade enquanto o fazem, e depois de conhecê-la, voltam ao jejum e oração para cumpri-la. Caráter espiritual, acima de prática. O que distingue uma prática ensejada por um carisma como celebração que define caráter espiritual, é a perseverança de seu comprometimento.

Carisma sem caráter é possível, mas ele não prevalece, porque a perseverança é moral. O carisma sem caráter dura o tempo de um culto, como um êxtase ou uma crise emocional. Mas quando o caráter espiritual está formado, então há mais que um momento, mais que um culto. Há uma forma permanente de viver as realidades espirituais, daí aqueles homens aqui apontados como adoradores que jejuavam. Não o faziam para a busca de um acontecimento, pois o Espírito de Deus serviu-Se dessa busca para comunicar Sua decisão, com certeza surpreendendo o grupo. E uma vez conhecida, ela foi cumprida sob os mesmos parâmetros de sua prática de fé. Adorar, orar e jejuar, era-lhes rotineiro, houvesse manifestação carismática ou não. A leveza com que Lucas descreve o ambiente testifica disto.

Destaca-se como pilares desse caráter por dentro do carisma, disciplinas de pouco uso hoje, ou quase desuso: oração, adoração, jejum e imposição de mãos, esta como um ato de cumplicidade espiritual para cumprir a soberana vontade de Deus.

Acredito que discípulos hoje, sobre tais pilares, conheceriam a mesma manifestação carismática que o Espírito de Deus estaria à vontade para operar. Se Ele pôde encher a vida de um Manaém criado no nicho da mundaneidade e riqueza, quanto mais não faria com vidas simples como nós?