Chamo sua atenção no texto a seguir para um ponto que despertou minha curiosidade: o texto de I Reis 19: 5 e 6, que registra a misteriosa história de uma visitação angélica, feita ao profeta Elias no deserto do sul da Palestina de seus dias – “Depois se deitou debaixo da árvore e dormiu. De repente um anjo tocou nele e disse: “Levante-se e coma”. Elias olhou ao redor e ali, junto à sua cabeça, havia um pão assado sobre brasas quentes e um jarro de água. Ele comeu, bebeu e deitou-se de novo.”
Nunca me prestei a especular sobre textos bíblicos e menos ainda a procurar resolver enigmas ou pretender respostas com as quais a Palavra de Deus nunca se ocupou. Mas, estou apenas espicaçado na minha curiosidade, se é que você pretende acompanhar-me nela. Explico:
Elias estava num lugar deserto, disposto a morrer. Estava em plena crise de desistência da vida. Não digo que ele pretendeu se entregar à inanição, mas fica óbvio que esta seria sua sorte inevitável, por estar num lugar deserto, sem fonte d’àgua e sem pão. É quando surge um anjo que o desperta do seu sono de esgotamento e o faz comer pão assado sobre brasas e beber água de uma jarra. Não era miragem nem delírio. Mas uma situação real que se repete. Elias come, bebe e torna a deitar-se para dormir. O anjo o desperta de novo e o estimula a comer outra vez, advertindo que ele teria um longo caminho de retorno a percorrer. Só aqui já somos surpreendidos pelo incomum do milagre: pão sobre brasas. Não sei quantos pães eram. Menos ainda de que tipo, mas o texto nos informa que Elias tornou a comer e com a força daquela comida, caminhou de volta 40 dias. A quantidade aqui não é o que conta. Nem o texto nos diz que ele passou 40 dias alimentando-se do mesmo pão, o que manteria ainda a natureza do milagre. Mas o milagre se agiganta para mostrar que o pão, uma vez comido, o sustentou por 40 dias.
Acredito ser possível ao nosso entendimento aceitar pela fé que um pão produzido por anjo tenha tamanha eficácia. E também que um anjo produza fogo para assar o pão que fez. Mas surge o enigma do jarro. De onde ele veio? Seria de fabricação humana? E se o fosse, como o anjo o obteve? De quem o “comprou” ou a quem pediu? Produziu um jarro num passe de mágica como Mandrake?
Não temos resposta. Pode parecer a você infantil minha inquirição, mas ela é importante para mim. Ela me faz pensar que a jarra veio do mesmo lugar de onde o anjo trouxe o “super” pão. Ela já existia nesse espaço, habitat do anjo; lugar este que o apóstolo Paulo chama de “regiões celestiais”, onde há artefatos físicos e sólidos tanto quanto os daqui. Um mesmo lugar a respeito do qual Jesus disse que ali beberá conosco do fruto da vide. As taças já estão lá. Jarras e taças. Sólidas e reais.
O mistério da jarra me espicaça a expectativa do céu, ao qual Cristo Se referiu como “a casa do Pai, lugar de muitas moradas”.
Não só. A jarra do anjo, tanto quanto o pão e a água naquele deserto, providos para que o homem de Deus consumasse sua missão na terra, me fazem pensar que servimos ao mesmo Deus, a quem sempre tudo é possível, em meio aos improváveis, para criar o novo e o surpreendente em nossas vidas, até que cumpramos cabalmente Seu propósito em nossa jornada.