Jerusalém, Jerusalém. Você que mata os profetas e apedrejas todos os que são enviados a vocês! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram. – Mateus 23:37.
Toda a imago que trazemos referente a Deus, é a de pai.
Mas, pouco nos apercebemos que quando a Trindade Se oferece para atrair e cuidar, Ela se serve de imagos próprias da maternidade.
Dada a data de hoje, eu os convido a alimentar sua fé na reflexão sobre a maternagem que Deus, em Sua tríplice revelação, faz a nosso favor.
A começar por este texto e discurso de Jesus, impregnado pelo símbolo da galinha.
1- A maternagem do Filho de Deus
Ressalvo o fato interessante que este discurso encerra os discursos e movimentos de Jesus no templo em Jerusalém. É um discurso que começa no capítulo 21, e até aqui há um sucedâneo de fatos contrastantes que O envolvem. Chega a Jerusalém por Betânia e é recebido em festa por uma multidão que O honra, canta em Sua homenagem e até inspira suas crianças a saudá-Lo como rei. Neste séquito ele vai até o templo onde realiza diversas curas e ensina. Ali, expulsa os cambistas e purifica o templo. Conta três parábolas, todas elas alusivas à religiosidade insípida dos saduceus e fariseus. E começa a enfrentar um intenso embate com eles. Reprova-os e condena-os, chamando-os de hipócritas e lamentando oito vezes sobre eles. E então, estende Seu lamento para além deles, aludindo a toda a cidade. Neste lamento nivela a todos: tanto os que O saudaram quanto os religiosos que O confrontaram.
Neste lamento, Ele é o Cristo rejeitado, mas também fala pelo Pai, quando diz: ” Quantas vezes eu quis ajuntar seus filhos…” Fala como o Pai que desde os profetas do Velho Testamento procurou agregar aquele povo junto a Si.
E então metaforiza, usando a galinha como símbolo de Sua intenção divina. A mensagem significa especialmente: COMO FAZ A GALINHA COM SEUS FILHOS, ASSIM EU QUIS FAZER COM VOCÊS. EU QUIS. VOCÊS NÃO QUISERAM. E o que pode significar isso, minimamente?
- proteção; segurança; proximidade.
Daví usa essa mesma imagem para falar de obtenção de refúgio, de estar guardado durante os processos de revezes e déficits na vida – Salmo 57:1 – Lugar onde se encontra misericórdia, aquela de que se necessita, o que nos aponta a oferta de Hebreus 4:16.
É bastante trazer à mente a imagem da galinha cobrindo sua ninhada para nos apercebermos da doçura da oferta deste amor à nossa vida e convite à nossa fé.
- E quanto precisamos tantas vezes desse lugar de abrigo e esconderijo, como quem se aninha num colo materno!
Depois temos, em dois textos, a oferta da maternagem pela mesma via na Pessoa do Deus Criador.
2- A Maternagem do Deus e Pai de Cristo Jesus
Vejamos Deuteronômio 32: 11 e 12. “Como a águia desperta a sua ninhada, move-se sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o SENHOR o guiou…”
E: Isaías 49: 15 e 16 – “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que amamenta, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei…”
Os movimentos do cuidado nos verbos de que Ele Se serve para descrever Sua ação sobre as vidas dos Seus filhos, são intensos e falam por si mesmos. E revela por fim que Seu amor ultrapassa o amor materno que não pode ser medido no Seu amor por nós. Uma mãe humana pode sofrer alzheimer ou fracassar na possibilidade de amar seu filho. E nenhuma maternagem humana consegue experimentar tamanha abrangência existencial como revela a imagem das mãos gravadas. Fala mais do que tatuagem. É o significado supremo de agir em função exclusiva de alguém, pois a mão é o primeiro órgão de que nos servimos a nosso favor, antes de usá-la em favor de outrem. E tudo isso tendo como dominância o fator lembrar. Como se dissesse: “Você ocupa o centro do meu pensamento”. E por que não acrescentaríamos aqui a palavra de Jeremias 29:11? – “…eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais”.
Por último, temos:
3- A Maternagem do Espírito Santo.
Jesus e Paulo nos informam que Ele é nosso útero para a eternidade: João 3: 5 e 6 – “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”.
Tito 3:5 – “…nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo.”
E ainda continuam os movimentos próprios à maternagem como registrados em João 16:13 – “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; – Ele guia.
João 14:26 – “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”. – Ele ensina e nos faz lembrar, tal como uma mãe a seus filhos.
Creio ser tão pertinente hoje, aos que têm mãe e àqueles e aquelas que já lhe deram um até breve nesta vida, que estamos cobertos pela dádiva sempiterna do seio divino. Na Trindade Divina temos todos os movimentos próprios a uma constelação familiar perfeita a favor de nosso crescimento até chegarmos à estatura do Filho de Deus.