“Bendirei o Senhor, que me aconselha; na escura noite o meu coração me ensina!”. – Salmo 16:7.
“Provas o meu coração e de noite me examinas.” – Salmo 17:3.
“Quando me deito, lembro-me de Ti; penso em Ti durante as vigílias da noite.” – Salmo 63:6.
Algumas pessoas, e penso que não são maioria, têm dificuldades sérias com a noite. Geralmente os enfermos, alguns idosos. Para essas pessoas ela tem um quê de mistério, de sombras. Parece trazer presságios, esconder vultos. De fato coisas ruins como crimes, assaltos, costumam ser perpetradas mais à noite que à luz do dia. A noite serve de proteção às más intenções e aos malintencionados. Os frágeis, como os pequeninos, também parecem escolher a noite para a pior etapa do adoecer. Isso e outras situações mais carregam a noite de reserva e apreensões. Dão-lhe um ar sinistro. Até mesmo o salmista admite tal possibilidade quando afirma que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl. 30:5).
Para outros, no entanto, a noite reserva prazeres. É a hora ideal para festas e farras.
Nossos melhores momentos de culto também ocorrem à noite. É interessante perceber como o povo evangélico elegeu as noites de domingo como a hora preferida para cultuar, enquanto os católicos preferem as manhãs dominicais.
Fico a pensar no número elevado de vezes que, segundo a narrativa bíblica, Deus visitou os homens em sonhos, sonhos da noite. Algumas vezes com dois “Josés”, o do Egito, duas vezes e o marido de Maria, três vezes. Mas também a vários outros, até mesmo Faraó, Nabucodonozor, além de Paulo, apóstolo.
Mas quero destacar o salmista, autor desses salmos assinalados acima, para observar como Deus Se serviu de suas noites. Num texto ele afirma que Deus o aconselha através de seu coração durante a noite. Noutro, assume que é durante a noite que Deus o prova, perscruta. E parece que ele mesmo faz da noite seu momento ideal de encontro com seu Deus criador, como afirma no salmo 63. É mesmo seu momento de comunhão mais estreita com o Senhor. E penso que o salmista descobriu que essa é a forma mais perfeita de apagar as sombras da noite, seus sustos, seus medos, e usar aquilo que até mesmo por seu caráter tenebroso tendente a apagar a luz, torne-se no seu palco iluminado de aprendizagem e crescimento na comunhão com Deus.
Neste mundo atual, as noites são reservadas ao resto de tudo em nós e de nós. Nós as usamos para resgatar oportunidades perdidas, para rever nosso dia, para nos compensarmos das exigências cotidianas, para o aconchego familiar ou para superarmos as fadigas do dia de trabalho. Ou nos lançamos a elas para vivenciar atos fortuitos, como se seu manto de sombra nos protegesse de observadores invisíveis.
Certa vez Daví afirmou que aos olhos de Deus as trevas transformam-se em luz (Sl. 139: 12) e outro tanto disse Salomão “que o Senhor habitaria nas trevas” (II Cr. 6:1) o que faz da noite,confirmando os textos em que Deus nela falou a tantos, o espaço do milagre, da oportunidade Dele ser achado pelos que O buscam. Outro tanto, tudo isso me faz pensar que quando Deus entra nas nossas noites, elas refulgem como a alvorada da esperança.
Cabe uma pergunta para reflexão: O que temos feito de nossas noites quanto ao nosso Deus,
com Ele e para Ele?