Esconderijo Pleno

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Todo-poderoso pode dizer ao Senhor: “Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio”. Salmos 91:1-2

Penso que nosso pensamento habituado a conceituações piedosas nos faz achar que entendemos o significado de habitar no esconderijo do Altíssimo. E penso que um bom número dentre nós supõe que isso se resume a um ato, um momento espiritual. Também acredito que é assim que nos sentimos quando num momento cúltico de enlevo espiritual, principalmente na oração.

Mas também penso que, diante do uso do verbo habitar, feito pelo salmista, aquilo que ele informa vai muito além, e assume um aspecto de constância, permanência, vivência espiritual definida.

E então entendo que o resultado desse habitar no abrigo ou esconderijo do Altíssimo, também por ele apontado no texto como sendo a possibilidade de adorar a Deus dizendo: “Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, meu Deus em quem confio”, aponta para uma realidade espiritual plena, que fala de posicionamento, mais que de localização. Certamente nos remete ao “estar em Cristo” de que Paulo fala em alguns textos de suas cartas, em destaque Efésios 2:13. Porque Jesus é nosso lugar de refúgio, o ponto de encontro de Deus conosco e consequentemente nosso com Ele, pois tanto quanto sabemos que podemos e devemos estar “em Cristo” (II Coríntios 5:17) somos informados de que Deus está em Cristo para estar conosco: “Deus estava em Cristo, reconciliando Consigo o mundo” (II Coríntios 5:18) e então, por fim, penso que Cristo é o esconderijo perfeito onde o crente e o Deus em quem ele crê estão reunidos.

E saber esta verdade, inevitavelmente produz como efeito para a fé, o descanso de que falou o Filho de Deus, prometido a todos os que a Ele se achegam, dia após dia, todos os nossos dias: “encontrarão descanso”, diz o Senhor, donde a autoridade com que o salmista assume: “Debaixo de Suas asas me refugio”. Exatamente o que pretendeu Jesus, servindo-se de uma alegoria: “Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reune seus pintinhos debaixo de suas asas” (Mateus 23:37).

Se estamos nEle, estamos no esconderijo onde o coração pode sossegar.

Legado

Tenho meditado ultimamente num precioso livro de reflexões cristãs que me chegou às mãos, da pena de um jovem pastor carioca, Daniel Guanaes, irmão muito querido na fé em Cristo. Eu disse que tenho meditado. Não lido. Meditado. Leio muita coisa. Mas no pequeno livro do Daniel parei em meditação. O título: “ENSAIOS SOBRE O REINO”.

Meditando numa de suas páginas, fui detido pela informação de que o significado do nome do pai da Ana profetiza que aparece no Evangelho de Lucas quando do nascimento de Jesus, era “face de Deus”. Fanuel, face de Deus. O autor do livro coloca que Ana passou toda a infância ouvindo que Deus tem face. Então fui impactado por uma conscientização profunda: pensei naquela Ana criança discutindo com outras crianças que sabia que Deus tem face, tem cara, porque o nome do pai dela era uma afirmação segura disso.

Lembrei de minhas três filhas, que cresceram ouvindo histórias de Deus pela boca de seu pai, em casa e nos púlpitos das igrejas. Pensei na hipótese de que elas tiveram muitas informações para passar a seus coleguinhas sobre esse Deus de Quem tanto ouviram por boca de seu pai. Senti inveja de Fanuel por causa da mensagem que seu nome leva, sem abrir a boca, e me dei conta de que eu queria ter tido mais que histórias de Deus a oferecer a
minhas filhas, e mais que um nome com uma mensagem. Pensei que eu poderia ter tido a cara de Deus, para elas. Quê legado!

Não deu, por certo. Também continuo não tendo um nome-mensagem. Mas lembro da personificação de Deus por Elias, profeta, de tal ordem que seu discípulo Eliseu quando se viu tendo de tratar diretamente com o Deus sobre quem aprendeu com seu mestre, após sua ausência, não hesitou em dar-lhe por sobrenome o nome dele: DEUS DE ELIAS! E pensei, em busca de autoconsolo: ainda dá tempo. Também porque Fanuel comunica ao mesmo tempo: presença de Deus, semblante de Deus, numa mesma expressão. Se não dá para ter a cara de Deus, pouca coisa não será poder manifestar Sua presença. Se não para as filhas, quem sabe para os netos que um dia hão de vir. Afinal, esta é a proposta do Evangelho: “Cristo em vós, a esperança da glória” (Colossenses 1: 27). E a promessa continua para dizer que um dia todos os que Nele confiam terão a Sua cara, quando anuncia: “Tal como Ele é, seremos” (I João 3:2).