Conta-me a Velha História

Um dos clássicos hinos da hinologia cristã, imprime um apelo à fé que nos toca, quando o poeta diz: “Conta-me a velha história”.

Há um texto na Bíblia, o livro de Deus que relata a mais atual e atuante velha história, onde um rei se assenta para ouvir o relato de histórias, na ocasião não tão velhas, mas de feitos passados de um grande profeta de Deus. O texto se encontra em II Reis 8:4 – “O rei estava conversando com Geazi, servo do homem de Deus, e disse: “Conte-me todos os prodígios que Eliseu tem feito”.Presume-se que este rei era Jeorão, irmão de Acazias e filho de Acabe. Se de fato tratava-se de Jeorão, estamos diante de um rei ímpio, mas que guardava um certo temor ou respeito pelo Deus do profeta, pois embora fosse idólatra, procurou exterminar com vários núcleos de culto a Baal, que sua mãe, a terrível Jezabel, havia feito proliferar na nação. E aqui ele surpreende revelando um inédito perfil: parava para ouvir falar das velhas histórias sobre os feitos do homem de Deus. E requisitou ninguém menos do que o auxiliar imediato daquele profeta, para que ouvisse de viva voz a narrativa por uma testemunha ocular dos milagres.

Chama a minha atenção o fato de um rei idólatra mostrar interesse por coisas espirituais alusivas a um culto que ele não praticava, e mais: separar tempo para isso, em meio ao caos que estava instalado na nação ao seu redor.

Ninguém especulou até hoje qual ou quais possam ter sido as motivações do rei. Pode ser que não passasse de curiosidade por fenômenos do mundo transcendental. Pode ser que quisesse se inteirar de fatos que viessem cativar a sua fé. Pode ser que estivesse movido por necessidade de conferir as verdades das profecias cujos efeitos ele testemunhou, com os milagres do profeta que as proferiu. Razões podem ser muitas. Nunca saberemos. Mas há algo que podemos considerar e reside no simples fato de um soberano de uma nação, parar para ouvir relatos de uma fé que ele não domina. Interesse é a palavra que desponta.

Enquanto o rei ouve a narrativa, a principal protagonista do mais extraordinário dentre os milagres, entra em cena e com sua presença corrobora a narrativa e ainda referenda outro milagre, pois era ela a sunamita cujo filho Eliseu ressuscitara, e surgia ali para reivindicar do rei a posse de suas terras que haviam sido confiscadas, depois que ela as deixara para escapar de uma fome de que fora previamente informada pela profecia de Eliseu.

Ocorre-me que todos nós, crentes hoje no Deus de Eliseu, cremos porque assumimos como verdadeira a velha história que a Bíblia nos conta, “de Cristo e Seu amor”. E que nos foi narrada por testemunhas oculares de seus fatos. E cremos porque, conquanto velha, ela se renova em nossas entranhas e em seus efeitos em nossas vidas, quando nela cremos, tal como a presença da sunamita durante o relato, renovava a realidade dos fatos e seus efeitos, no conhecimento do rei.

A história da fé cristã sempre será a Velha História. Nossa segurança para crer e confiar, reside no fato de ser tão velha que se pôde provar no decurso dos séculos, e também porque embora velha como história, faz-se atual por tão remotamente ter apontado o futuro que nos alcança hoje e ainda vai além para nos dizer que, tão certo quanto ela se cumpriu nos séculos que a sucederam e nos precederam, tão certo ela se cumprirá quando nos diz o que nos espera adiante. E a Velha

História, de geração em geração avisa que um Novo Dia haverá, em que a história vai parar, vai chegar ao seu termo para recepcionar o Senhor da História que irromperá nela para refaze-la, e renová-la para ser vivenciada por aqueles que pela fé Nele, forem feitos novas criaturas. E por ser muito velha esta história, é certo que o futuro por ela apontado há tão longo tempo, está mais perto de nós do que jamais pensamos.

Maranata!