A Páscoa nos remonta à crucificação e morte de Cristo Jesus. Lemos os relatos nos quatro evangelhos dos momentos que cumpriram profecias milenares, e fecharam o ciclo de um plano redentivo elaborado desde a eternidade.
Muitos pregadores não resistem à oportunidade de falar sobre as palavras ditas por Jesus, derradeiras, desde o alto da cruz, no Gólgota. São contadas em sete, por todos. E de fato, estão plenas de significado, oferta de perdão, amor, cuidado e entrega.
Precisam ser reunidas a partir do relato de cada evangelho, pois não estão colocadas todas num só. Foram registradas conforme o propósito de cada escritor, de forma que há algumas que não se repetem noutros relatos.
Sabemos que à hora da crucificação, dentre os apóstolos, apenas João chegou junto à cruz. Os evangelhos relatam muitas mulheres que assistiam tudo de longe, e algumas que o faziam de perto, e entre elas João. São apontadas Maria, mãe de Jesus, a prima dela, Maria mãe de João, e Maria Madalena. Ao todo, o grupo não ia muito além de cinco ou seis pessoas. E eram doze, os apóstolos!
Mas o ponto em questão que abordo aqui é o fato de que todos os evangelistas narraram as palavras ditas na cruz. E acredito que elas lhes foram reportadas a partir desses observadores que junto da cruz estavam. Considerando-se que João, entre os evangelistas, teria sido o único a ouvir, admira que das “sete” palavras da cruz, ele tenha escolhido registrar somente três delas, dando destaque para aquela que o incluía pessoalmente e à própria mãe de Jesus.
E aqui temos algo sumamente importante: De todas as “palavras” da cruz, apenas uma foi endereçada em caráter pessoal, individualizada, conforme referido acima: “Mulher, eis aí o teu filho; filho, eis aí tua mãe”. E esta palavra aponta cuidado pessoal e particularizado que vai muito além em seus desdobramentos.
Quantos perderam ouvir por terem ficado vendo de longe!
Penso nos demais, sabedores a posteriori, que Jesus endereçou desde a cruz uma palavra pessoal a João. O que teria passado por suas cabeças? Teria algum
deles considerado em seu coração: “Se eu estivesse ali, ao alcance de Sua voz, que últimas palavras Ele teria dirigido a mim? O que teria ouvido? Como o entenderia?”
Percebe? Também nós, seguidores do Filho de Deus pela fé, alcançados na graça pela mensagem da cruz, podemos ouvir muito ou pouco, ou nada ouvir, a partir das distâncias que reservamos entre nós e a cruz do Salvador. E penso que a experiência de João nos ensina que, a despeito dos perigos que acarreta, a proximidade com a cruz resulta numa bênção sem superlativo que é ouvir o que Ele diz diretamente ao nosso coração, aquela palavra que só tem significado para nós. E que Ele envia somente aos que O seguem. Outros estavam por perto, mas não O seguiam. Nada ouviram, e do pouco que ouviram, quando ouviram, nada entenderam, pois disseram: “Eis que Ele clama por Elias”. Mas Jesus estava orando nas palavras do salmo 22:1. Já o ladrão ao lado, que nEle creu, O ouviu, e foi incluído!
O apóstolo Paulo afirma em I Coríntios 1:18 que a cruz tem uma mensagem. É necessário, para ouvi-la, acercar-nos dela. Foi ele mesmo quem afirmou: “Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo…” – Gálatas 6:14