“Clame a mim e eu responderei e direi a você coisas grandiosas e insondáveis que você não conhece”. – Jeremias 33:3
É indissociável, infelizmente, em nossa experiência cristã, a idéia de clamar a Deus, como sendo um monólogo. Há um apelo evidente e eloquente neste oráculo de Jeremias, feito pelo Deus Eterno ao Seu povo, que recalca e investe de forma incisiva o sentido de orar, como sendo uma conversa, onde minimamente duas pessoas são ouvintes mútuos. O que fica aquém disso, corre pelo limiar da reza, que distancia tanto quem fala quanto o ouvinte pressuposto.
O oráculo-convite acima, é um compromisso-promessa que Deus nos faz. Ele corre pela via de um lamento divino sobre o Seu povo que perpassa séculos. A experiência de orar ao Deus vivo é tão rara, e torna-se cada vez mais rara dentre os exercícios de uma espiritualidade eficaz, que em alguns grupos parece completamente inexistente.
A predominância do vazio na oração é de tal ordem, que a maioria desiste de orar porque tem na oração apenas um monólogo onde a ênfase não alça vôo para além da petição, pura e simplesmente. Outros, têm a pretensão de colocar palavras na boca de Deus, para encobrir o silêncio que calca o monólogo como tal.
Mas, atentemos à promessa: os verbos são convincentes: “eu responderei”; “eu direi a você”! Gosto de atentar ao fato de que Deus não Se serviu do verbo ouvir, que está fora de qualquer dúvida para quem ora. É fato estabelecido, consumado e atestado pela fé que “uma vez por todas foi dada aos santos”. Se duvidássemos de que Deus ouve a oração, não oraríamos sequer o tão pouco que fazemos. Outro tanto a questão da oração que é feita sobre a convicção de que Deus está ouvindo não pode ser medida por tempo ou tamanho. Antes, somos alertados quanto à sua intensidade, em I Tessalonicenses 5:17 – “Orem sem cessar”. É como respirar. Que Ele ouve, não duvidam os que O buscam em oração.
A promessa aponta para a resposta, que quebra o vínculo do monólogo. No entanto, raro é o crente que pode atestar com seriedade que tem ouvido a voz divina respondendo sua conversa com Ele. E aqui está o ponto em questão. Partimos para a celebração da disciplina da oração unicamente pretendendo informar a Deus de coisas, ou pedir-Lhe meios para resolvê-las. A oração que pretende ouvir Deus requer essa prontidão espiritual, solene, santa (porque investe numa separação específica) e não tem a pretensão de vigiar fenômenos pelos quais Deus daria respostas. A oração que quer ouvir Deus é diferente daquela que passa informações a Ele. Ela está comprometida com o exercício da comunhão, do intimismo. Pretende buscar Sua presença, usufruir Sua proximidade. Atende ao que disse o autor de Hebreus: “É necessário que aquele que se aproxima de Deus…” (Hebreus 11:6), porque seu propósito é proximidade, antes de ser busca por soluções.
Se Deus disse que quer responder, Ele o faz! Mas vivemos o tempo que milita contra a contemplação, contra o separar tempo para Aquele que ouve em secreto e que está invisível. Não há como Deus concorrer com nossa agenda tão abarrotada de programas, trabalho e diversões. Entendemos que viver se resume nisso, e dentro dessa agenda “separamos” um espaço para o que decidimos que é o tempo de buscar a Deus: nossos horários e locais de culto. Outro tanto, trazemos nossos corações e ouvidos tão cheios de ruídos e respostas previamente pretendidas(como disse o apóstolo: “Há muitas vozes no mundo…”), que torna inócua qualquer fraca tentativa de ouvi-Lo em oração. E nessa trilha de erros, prevaricam muito mais aqueles que terceirizam ou se deixam terceirizar como os porta-vozes divinos para os que querem achar respostas divinas para seus conteúdos ocultos, e assim acabam enveredando por vias de sincretismo ocultista.
Quando queremos ouvir Deus, Ele “responde” e “diz”. Tanto o Senhor lamentou o não ser ouvido, em Salmo 81:8 – “Ah, Israel, se me escutasses!…”; quanto o Senhor Jesus disse que batia à porta da igreja esperando ser por ela ouvido (Apocalipse 3:20). Que O ouvimos na Sua Palavra é fato consumado. Mas a ênfase divina em Jeremias aponta ouvi-Lo na oração; quando em oração. Pressupõe um momento entre duas pessoas, somente.
Não nos cabe decidir forma e meios para a réplica divina à nossa conversa com Ele. Ele dispõe de quantos nos bastem para que saibamos ser aquela, a voz divina que, inconfundível, interage com nossa fé e nos responde, guia, exorta, consola, convoca, anima e produz descanso ao coração que se apercebe acompanhado por Quem é Eterno. Creio, pessoalmente, que Deus sempre tem, como disse em Jeremias, coisas muito particulares, muito pessoais a dizer a cada um(a) de nós, que se disponha a ouvir. E dispor-se a ouvi-Lo, demanda decisão que envolve separação específica.
E isto nos leva a um outro oráculo de Jeremias, mais uma de suas preciosas maçãs: “Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro. Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração.” – Jeremias 29:11-13.
Vale lembrar o apelo vertido em Isaías 55:6 – “Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo; clamem por ele enquanto está perto.”