Se Esta Obra For De Deus… | Atos De Discípulos (10)

Então o sumo sacerdote e todos os seus companheiros, membros do partido dos saduceus, ficaram cheios de inveja. Por isso, mandaram prender os apóstolos, colocando-os numa prisão pública. Mas durante a noite um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere, levou-os para fora e disse: “Dirijam-se ao templo e relatem  ao povo toda a mensagem desta Vida”. Ao amanhecer, eles entraram no pátio do templo, como haviam sido instruídos, e começaram a ensinar o povo. Quando chegaram o sumo sacerdote e os seus companheiros, convocaram o Sinédrio— toda a assembleia dos líderes religiosos de Israel—e mandaram buscar os apóstolos na prisão. Todavia, ao chegarem à prisão, os guardas não os encontraram ali. Então, voltaram e relataram: “Encontramos a prisão trancada com toda a segurança, com os guardas diante das portas; mas, quando as abrimos   não havia ninguém”…Nesse momento chegou alguém e disse: “Os homens que os senhores puseram na prisão estão no pátio do templo, ensinando o povo”…Tendo levado os apóstolos, apresentaram-nos ao Sinédrio para serem interrogados pelo sumo sacerdote, que lhes disse: “Demos ordens expressas a vocês para que não ensinassem neste nome. Todavia, vocês encheram Jerusalém com sua doutrina e nos querem tornar culpados do sangue desse homem”. Pedro e os outros apóstolos responderam: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens! O Deus dos nossos antepassados ressuscitou Jesus, a quem os senhores mataram, suspendendo-o num madeiro. Deus o exaltou, elevando-o à sua direita como Príncipe e Salvador, para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados. Nós somos testemunhas destas coisas, bem como o Espírito Santo, que Deus concedeu aos que lhe obedecem”. Ouvindo isso, eles ficaram furiosos e queriam matá-los. Mas um fariseu chamado Gamaliel, mestre da lei, respeitado por todo o povo, levantou-se no Sinédrio e pediu que os homens fossem retirados por um momento. Então lhes disse: “Israelitas, considerem cuidadosamente o que pretendem fazer a esses homens…Portanto, neste caso eu os aconselho: deixem esses homens em paz e soltem-nos. Se o propósito ou atividade deles for de origem humana, fracassará; se proceder de Deus, vocês não serão capazes de impedi-los, pois se acharão lutando contra Deus”. Eles foram convencidos pelo discurso de Gamaliel.”- Atos 5:17-18, 20-35, 38-42.

Este é o trecho em que somos pela primeira vez apresentados a Gamaliel. Vamos ouvir falar dele de novo, por Paulo, muitos anos mais tarde, quando o aponta  como seu principal mestre entre os fariseus, e o faz, enfatizando a honra usufruída

por ter sido seu discípulo (Atos 22:3). Neste quesito percebemos no entanto, que Paulo não foi bom aluno, pois a natureza e a filosofia de Gamaliel eram: “perseguição não”, e o Saulo que surge após os anos de aprendizado é o principal perseguidor da Igreja. Mas, felizmente, mau discípulo de Gamaliel como Saulo, agora como o Paulo, ele veio a tornar-se um dos melhores discípulos do Senhor Jesus.

Mas nossa ênfase está no poder do discurso de Gamaliel. Em que ele pode ser percebido como poderosamente persuasivo? No fato de dobrar a cerviz dos religiosos de Jerusalém, que estava endurecida por ódio maligno no coração. Algumas coisas extraordinárias aconteceram entre eles, milagres de impactante evidência, como a soltura misteriosa dos apóstolos, mas eles resistiram como cegos e surdos à manifestação do poder de Deus. Os apóstolos, uma vez postos no cárcere por aquela gente, e fortemente guardados e vigiados em sua prisão, são extraordinariamente libertos dela pelo agir de anjos. A cena chega mesmo a ter resquícios de humor quando a vemos em seus detalhes, porque as autoridades religiosas os mandaram prender e foram para casa, sob o compromisso de ter como primeira pauta de sua reunião na manhã seguinte, o confronto e julgamento dos presos. Enviam, por conseguinte, os guardas para buscarem os prisioneiros  na cadeia, que em lá chegando, ordenam às sentinelas que os retirem para levá- los ao Sinédrio. E as sentinelas voltam de mãos vazias. O relato é divertido: “As portas estavam trancadas; as sentinelas estavam em seus postos, mas do lado de dentro não havia ninguém.” Em outras palavras, presos mesmos eram os carcereiros que guardaram o cárcere vazio a noite inteira. Em meio ao relato chega alguém e diz: “Os presos estão soltos. E lá no templo, falando como ontem”.

Houve um interregno em que eles saindo da cadeia, passaram juntos a noite, esperando o dia amanhecer para cumprirem a ordem angélica de ir ao Templo  falar “as coisas desta Vida”. Acredito que juntos celebravam o milagre, ansiando pela manhã de serviço.

Feita esta digressão, atentemos ao fato de que o ódio no coração daquela gente “santa” os impediu de verem o milagre e temerem. Impediu-os de crer no  eloquente discurso de Pedro que lhes dizia: “O Deus dos nossos antepassados ressuscitou Jesus, a quem os senhores mataram, suspendendo-o num madeiro. Deus o exaltou, elevando-o à sua direita como Príncipe e Salvador, para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados”. Gosto particularmente da ênfase: “Deus o exaltou…para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados”. Acredito que Calvino se empolgou com esta ênfase aqui.

Mas aquela gente capitulou não ao milagre, nem à pregação de Pedro. Foi ao discurso simples de Gamaliel. O texto diz que eles ouviram e atenderam. O discurso se resumiu em dizer, trocando em miúdos: “Dêem um tempo para ver. Se for de Deus, prevalecerá. Se não for, cessará. Cuidado, porque se for de Deus, vocês descobrirão que lutaram contra ele”.

Aí está uma verdade que mais de dois mil anos de pregação cristã atestam. De grupos a indivíduos, tudo que procede de Deus, vence os desafios e o tempo. Medra, mesmo a partir de um único grão, e cresce. Algumas vezes a colheita é feita após longa data e por outros que não a semearam. De igual forma, em sua sabedoria Gamaliel afirmou outra assertiva: o que não foi por Deus estabelecido, perece, finda, cessa, antes de frutificar. Mas com as assertivas, o mestre fariseu também fez uma advertência: é possível lutar contra uma obra e obreiros de Deus. Todavia se a obra procede Dele, toda luta humana será achada contra Ele. Foi exatamente o que Saulo, discípulo dele, ouviu e experimentou em sua pele, quando indo a Damasco: “Por que me persegues?”.

Penso por fim, que Gamaliel deu seu sábio parecer, por ter feito a observação que o ódio religioso não deixou que os demais percebessem. Houve um livramento milagroso, logo Deus estava naquele negócio. Também acredito que Gamaliel atentou à pregação de Pedro, e temeu. Se assim foi, o Gamaliel que discursou após Pedro, já falou a favor do Reino. Você pensa como eu, que após ouvir a pregação ele possa ter crido? Sabemos, pelo menos, que seu discurso comprova- se como verdade: quando a obra procede de Deus, prevalece, porque é Deus Quem a realiza.