Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: “Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra”. Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos. Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé.” – Atos 6:1-7
Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas, Nicolau. Sete homens, para prestar serviço de assistência social a mais de cinco mil pessoas. Muito mais. Inauguraram o que padronizou-se e tradicionalizou-se nas igrejas no passar dos séculos, como diaconia, ou corpo de diáconos. Paulo mesmo, quando organizava as igrejas por ele inauguradas onde passava, preocupava-se a dar seguras orientações quanto a esse ministério que não podia faltar na igreja estabelecida.
Hoje encontramos igrejas com menos de duzentos participantes, no entorno de um corpo diaconal formado muitas vezes por uma dezena de diáconos. Penso na objetividade do serviço na igreja de Jerusalém, fazendo inevitável comparação. Milhares de pessoas assistidas em suas necessidades diárias por sete homens apenas? Eles davam conta? Era bastante? O serviço era pouco? (Entre milhares…). O texto expõe que o trabalho deles era servir às mesas (está no plural) e para suprir as famílias em suas necessidades básicas. Diariamente.
Mas o que me chama a atenção é o critério adotado para eleger esses sete. E o fato de que dentre eles, dois sobressaíram e fizeram história na igreja através de seus testemunhos: Estêvão e Filipe.
A escolha seria feita pelo povo debaixo de um processo dedutivo de observação. Seria necessário nomear alguns (quantos? Eles delimitaram, e por isso o fruto da
observação resultou em sete nomes, apenas). E o que deveriam observar? Que para servir no corpo de Cristo, os homens só poderiam ser escolhidos dentre os que apresentassem este trinômio de virtudes: bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Não bastava bom testemunho? Não. Impossível dar bom testemunho sem estar cheio do Espírito Santo, pois Jesus havia dito (Atos 1:8) que para ser testemunha era necessário estar cheio do Espírito. Outro tanto, estar cheio do Espírito precisa estar cingido à sabedoria, porque o poder espiritual desprovido dela, transforma o carisma em mau caráter. E falta de sabedoria jamais atesta bom testemunho, logo o trinômio era um cordão de três dobras indissociáveis.
Isso tudo para servir às mesas. Penso no que a Igreja deveria esperar dos que para além destes, tinham de manter o encargo do “ministério da Palavra de Deus!” Penso comigo, com temor e sem sarcasmo, apenas compartilhando um pensamento, que se as igrejas desta geração pudessem guarnecer-se de ministradores da Palavra sob tais critérios, que tipo de diaconia elas teriam? Porque a mim parece que os valores para a liturgia foram estabelecidos nesta ordem: a partir daqueles para esses.
E que diáconos! Um morre como mártir, vendo o céu se abrir e contemplando ali o Senhor Jesus! O outro é visto tempos depois, sendo levado pelo Espírito de Deus como instrumento de um grande avivamento na cidade de Samaria, e em seguida descendo até Gaza onde batiza um ministro do governo da Etiópia. Imagino um homem desses em nossos púlpitos. Imagino os que por ele foram servidos às mesas, na comunidade de Jerusalém, que talvez sequer se apercebessem que naquele ofício simples de distribuir víveres, estava o embrião de um evangelista a quem Deus usaria para fazer… o quê?: Servir no ministério da Palavra de Deus.
Em resumo, penso com meus botões, que, o critério de escolha tinha de ser de tal quilate, porque tanto quanto nos ministrantes da Palavra estava a verve do servir, quanto no serviço diaconal estava a verve do ministrar a Palavra. Porque Deus vê os serviços no mesmo nível. É liturgia, serviço ao Corpo de Cristo. Porque o Espírito é o Mesmo. Quem muda é o homem.