A Essência da Necessidade

João 3:1-10.

Nicodemos só aparece no Evangelho de João. Aqui; também em 7:50, onde defende Jesus entre os demais fariseus; e no capítulo 19 onde se envolve no sepultamento do corpo de Cristo, ocupando-se com José de Arimatéia em ungir o corpo do Senhor com mirra e aloés para ser sepultado.
Jesus o identifica como mestre em Israel. Ele fazia parte do grupo dos religiosos fariseus, a que também Paulo pertenceu.

O ponto de realce se dá no fato de Jesus fazer com ele a mesma coisa que fez com a mulher samaritana: levou o diálogo para o cerne da necessidade de seu interlocutor e sobre ele estabeleceu uma doutrina fundamental para a fé. Mais: Jesus pontuou uma necessidade de que nem um nem outro se davam conta. A necessidade da samaritana era saciar uma sede maior que a da água, que é recorrente. A necessidade de Nicodemos era ver e entrar no Reino de Deus, e não apenas se certificar de que Jesus era um enviado de Deus.
Mas, tal como a samaritana, ele desconhecia sua verdadeira necessidade. E tal como diante da samaritana, Jesus aqui também universalizou a necessidade dele. Para todos, importa saciar em Cristo sua sede de eternidade. Para todos, é necessário nascer de novo. E este é o assunto deste nosso texto.

Sem o Novo Nascimento, impossível ver e impossível entrar no Reino de Deus, disse o Senhor.

E então explica em que isto consiste: nascer do Espírito, do Alto ou de novo. A palavra traduzida por “de novo”, também significa “do alto”.

É nos ensinamentos de Paulo que podemos apreender o significado desse novo nascimento, ou aquilo em que ele consiste. Está detalhado em II Coríntios 5:17 – “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação (presente). As coisas antigas já passaram (passado); eis que surgiram coisas novas (futuro)!” Percebe-se que nascer de novo é um ato instantâneo. Ninguém “vai nascendo de novo cada dia mais”. Depois, Paulo detalha essa radical transformação em Efésios 4:20-24, onde mostra a resposta consciente e externalizada que devemos dar, acompanhando a nova natureza que em nós foi implantada: “Todavia, não foi isso que vocês aprenderam de Cristo. De fato, vocês ouviram falar dele, e nele foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus. Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.”

Em seguida, vemos Jesus mostrar a evidência ou resultados desse processo de novo nascimento. Ele afirma que o novo nascimento resulta  em:

1-Capacitação para ver o Reino de Deus

Você só pode entender isto à luz do que o Filho de Deus afirmou quando disse o que ficou registrado em Lucas 8:10: “Ele disse: “A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino de Deus, mas aos outros falo por parábolas, para que “ ‘vendo, não vejam; e ouvindo, não entendam’.” – isto por si só explica em que consiste a possibilidade de ver o Reino de Deus.  Os olhos do entendimento espiritual são abertos para que se entenda as coisas espirituais, espiritualmente. Esses olhos antes estavam cegados pelo deus deste século, conforme Paulo ensina em II Coríntios 4:4 – “nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.”

E: Lucas 10: 9 -“Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: O Reino de Deus está próximo de vocês.”

Entende o que ocorre aqui? A missão redentiva e sanadora da Igreja provando que o Reino de Deus está sendo manifesto através da ação do Corpo místico de Cristo: a Igreja. São possibilidades decorrentes da fé, que nos dá acesso ao sobrenatural de Deus, porque a vida no Evangelho não é mera intelectualidade, mas como disse o Senhor, um equilíbrio entre Escrituras e poder de Deus.
E ainda Lucas: 11:20 – “Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus.” –
De novo, a ação da autoridade no mundo espiritual. Não se trata de ver fenômenos, mas de ver a supremacia do Nome de Jesus atuando contra o império das trevas. E qual o efeito prático disso? Uma vida livre de medo do oculto, de operações tenebrosas e correlatos.

E em seguida Jesus afirma que o novo nascimento, por conseguinte, consiste em:

2-Capacitação para entrar no Reino de Deus

Agora o verbo tem ênfase mais comprometedora. Há duas formas de entendermos esta capacitação para entrar:

Escatologicamente: “O tempo é chegado”, dizia ele. “O Reino de Deus   está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas-novas!” – Marcos 1:15,   que fala de uma chegada nesse Reino, um ato final, passada a vida, ou melhor ainda, a manifestação desse Reino historicamente no mundo, na vinda de Cristo, no final de todas as coisas. Os que nascem de novo, quer morram ou estejam vivos quando Jesus vier, têm segura entrada no Reino  de Deus, tal como Jesus garantiu ao ladrão arrependido, crucificado ao Seu lado no Calvário.

Mas também,
Experiencialmente: “nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está no meio de vocês”.” – Lucas 17:21.
E este é o sentido presente e solene de poder entrar no Reino de Deus, porque fala da ambiência dos que nasceram de novo. Eles vivem  no Reino, pelo Reino e para o Reino na presente era, no meio da sua geração.
No que fazem e como fazem.
No que falam e como falam.
Estão no mundo, mas não são do mundo. O Reino é o seu ambiente e eles o trazem para dentro deste século, do mundo tenebroso.

Não se trata de uma espiritualidade nominal. Ela é factível, comprobatória, porque os filhos do Reino são identificados por seus frutos.

E ainda há mais. No verso 8 Jesus diz a Nicodemos que nascer de novo também consiste em:

3- Capacitação para ouvir a voz do Espírito.

Não falo de profecias ou sinais. Ele não estava apontando o escutar como sendo uma experiência de fenômenos, mas exatamente a capacidade de ouvir a Voz que direciona a vida, que age por dentro trazendo movimentos livres, não premeditados ou sob controle de rédeas humanas. Ele fala dessa voz que não pode ser controlada como ocorre com o vento. Ele fala desses movimentos na existência que o vento tem e não podemos dizer em que direção vai ou de onde veio, mas a gente sente na pele, torna-se sensível ao seu toque e aromas. Ele surpreende sempre.
Porque não é voz de homens e nem com ela se confunde.
Há ainda um ponto relevante quanto a escutar a Voz. João diz que falamos do que ouvimos. O que nasce de novo adquire o idioma, a fala da Voz do Espírito, porque ela evidencia seus conteúdos de nova criatura.
Jesus disse que o nascido do Espírito age como o Espírito, ou, diríamos nós, pelo Espírito: Espontâneos; abertos; capazes de preencher todos os espaços; inerentemente perceptíveis e indispensáveis.
O vento possibilita fôlego, produz vida, alimenta a combustão.
Mas tudo isso aponta os sinais, as características próprias daquele ou daquela que nasceu de novo. Ele vê, ele entra, ele ouve.

Evidente que uma questão própria sobre tudo isso, também foi formulada  por Nicodemos: “Como pode isso acontecer?” A resposta de Jesus não parece ser exatamente uma resposta, num primeiro momento: “Respondeu Jesus: “Digo a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito. O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito.” (vv.5 e 6). Mas aí está exatamente a resposta: Vem do Alto. Vem do Espírito. É Ele quem faz. Ou Ele faz ou nada acontece.

E, a esta altura só uma conclusão cabe: ninguém decide por nascer de  novo. A única coisa que nos fica é o que Jesus apresentou a Nicodemos: ter consciência da necessidade deste fenômeno. Nasce de novo aquele que sente necessidade de ser nova criatura. A graça em Jesus nos oferece isto. Era o que Ele estava oferecendo a Nicodemos. E uma vez que ocorre, já vimos como se evidencia, e como nós correspondemos, vivendo de acordo com o que em nós foi feito.

Dentro dos dogmas cristãos, linhas de interpretação divergem quanto à experiência do Novo Nascimento.
Há aqueles que acham que a Igreja o produz. Jesus não disse isto.
Há aqueles que acham que pertencer à igreja corresponde a nascer de  novo. Jesus também não disse isto.
Há aqueles que pensam que ser batizado ou batizar-se corresponde a isto. Jesus não disse isto.
Há aqueles que entendem que é uma experiência que nossa própria fé produz. Jesus não disse isto.
Resta lembrar que Ele afirmou: você necessita disto, ou não verá, nem entrará no Reino de Deus. É o Espírito Santo que faz acontecer. E assim, resta saber: você necessita disto? Já dá provas a si mesmo de que nasceu de novo? Percebe que ainda não evidencia esta experiência em sua vida, de fato? Se         consegue           perceber           e               a   deseja,       você  está  pronto   para  ser regenerado pelo Espírito Santo de Deus. Nascemos de novo pelo Espírito de Deus agindo em nós, servindo-Se da Sua Palavra revelada. É o que afirma Pedro:           – “pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.” – 1Pedro 1:23 

Necessário é nascer de novo. Se somos nascidos de novo, somos Filhos do Vento. Todos percebem isto em nós. Os frutos na vida revelam que há uma nova natureza operante naquele que nasceu de novo. Ele é novo em sua forma de pensar. E porque seus conteúdos são da nova criação, ele fala conforme esses conteúdos. Vive no Reino. Comprometido a expandir a manifestação do Reino de Deus. É cúmplice nisto. Comporta-se  como nova criatura, entre seus pares, seja no trabalho, no lar, onde for. Quem convive com essa pessoa sabe, percebe que ela vive e respira outra realidade existencial, em função da qual é movida. As coisas antigas já passaram. Mais uma vez: as coisas antigas já passaram.

Você já nasceu de novo?

Sua maneira de viver, ver e sentir a vida, dão testemunho disto? Vamos orar agora sobre isto?

Bênção para Abençoar

Gênesis 12:1-3

São apenas 3 versículos em que a palavra bênção aparece 5 vezes. Três derivadas em verbo e duas como substantivo e adjetivo. Este foi o segundo ponto principal da fala de Deus a Abraão que a Bíblia define como chamado. O primeiro é visto no propósito pelo qual o chamou.

Quero lhe dizer duas coisas importantes antes de continuar a meditação: A primeira é que somos informados por Paulo em Romanos 1:1-7 que nós todos os que somos seguidores operantes de Cristo, somos chamados. Tidos e vistos por chamados, à luz da Palavra de Deus. A segunda coisa é que o mesmo Paulo também em Romanos, agora capítulo 4, diz que somos filhos na fé de Abraão, que por conseguinte é o pai dos que crêem, e então somos exortados a viver nossa fé nas pegadas da fé “que teve nosso pai Abraão”. O que pretendo com isso? Trazer à sua consciência que este chamado histórico de Abraão é o modelo, a forma do nosso chamado, dentro de nossa geração.

Chamados para quê? O texto é claro: para sermos abençoadores. Só isso.

Alguém diria: Mas o texto promete a Abraão que ele seria uma bênção! Verdade absoluta! Todavia esta seria uma verdade incompleta e suspeita,  se vista somente por este ângulo. Jamais Deus pretendeu abençoar Abraão, e fazer dele uma bênção para si mesmo, para ser desfrutada no seio de sua família, exclusivamente. Longe disso, a promessa de fazer dele uma bênção vem imediatamente comprometida com o propósito divino: para que por meio dele, todas as famílias da terra fossem abençoadas. Isto, de imediato secundariza a promessa no quesito pessoal.

O chamado mantém o mesmo propósito, hoje, como outrora, para os filhos na fé que teve nosso pai Abraão.

Em minha juventude, no início de minha caminhada na fé, era constante haver reuniões de oração ou de busca da face de Deus onde a tônica maior e quase exclusiva era buscar conhecer esse lugar de ser bênção no propósito de Deus. Tanto que era frequente termos nossas reuniões embaladas ao som de um cântico muito famoso, raramente entoado hoje, sequer conhecido pelas novas gerações: “Quero ser um vaso de bênção”.

Há algo muito significativo a informar aqui: o Evangelho não nos chegou para trazer soluções de problemas pessoais e satisfação de sonhos pessoais via a magia da fé. O Evangelho não tem este compromisso. O Evangelho nos alcançou para nos dar o privilégio de sermos instrumentos de bênçãos nas mãos de Deus que sempre olha por meio de nós, para além de nós.

Deus sabia que para fazer de Abraão um abençoador, teria de primeiramente fazer dele uma bênção. Do contrário seria dito a respeito dele: “Médico, cura-te a ti mesmo”. A questão é que Deus não mudou o Seu propósito ao nos chamar, dentro de nossa geração, e assim, o Seu modelo e processo continua o mesmo. Mas nós cobiçamos a bênção para nós mesmos, e a cercamos e encurralamos em nossa história pessoal. E pior: um bom número aprendeu erroneamente que o fim do Evangelho é entrar em nossa vida e realizar o que pretendemos por bênção. Em outras palavras, cada um de nós seria um fim em si mesmo, na dinâmica da vida espiritual. Lamentavelmente um grande número entre nós vive esse engano acalentado pelo egoísmo herdado de Adão.

Quando alguém faz do Evangelho um veículo mágico para ser bem sucedido, ele age na contramão do chamado de Deus, logo perde posição, alvo e desperdiça sua vida.

Infelizmente, muitos líderes usando de maligna esperteza investiram nessa contínua cobiça do ser humano por se dar bem na vida, e ensinaram a outros a promessa de ser bênção, omitindo a razão pela qual Deus nos quer uma bênção.

Só entende disso aquele que alcançou a revelação exclusiva que o apóstolo Paulo recebeu e de que nos fala em Atos 20:35 – “…lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus que disse: ‘Mais bem aventurada coisa é dar do que receber”.

Somente os que vivem a experiência de uma nova natureza espiritual conseguem compreender, viver e buscar essa bem-aventurança. Os demais, posicionam-se como o Mar Morto, que só recebe e não deságua. Por isso, morto.

Deus vê nossas lutas pessoais, sofrimentos diversos, sonhos, aspirações, e já deixou claro em Sua Palavra: “Eu sei que pensamentos tenho a respeito de vocês. Pensamentos de paz e não de mal, para lhes dar o fim que vocês desejam” (Jeremias 29:11). Outro tanto Ele afirmou, através do salmista: “Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará o desejo do teu coração”. Mas tanto quanto nos vê e manifesta Sua misericórdia, graça e socorro sobre nossas vidas, Ele já vê para além de nós, através de nós.

Nosso Deus opera no mundo através de cordas humanas. Ele disse isso em Oséias. Nós somos as cordas de que Ele dispõe, pelas quais Jesus pagou o alto preço de Sua vida na cruz. Em outras palavras, seria como dizer que, ao prometer a Abraão: ‘Tu serás uma bênção’, ou como melhor colocado: ‘Sê tu uma bênção ‘, estivesse o Senhor dizendo: ‘Eu vou treinar você com bênçãos para que você seja abençoador’. Algo do tipo, o médico ou o enfermeiro, ou o profissional em geral que estagia dentro de sua formação para aprender a exercitar suas ferramentas de trabalho. Aqui é vida, de que falamos.

Não pensemos que Deus olha os gemidos do mundo, todos os sofrimentos decorrentes da miséria, desgovernos, pecados e atrocidades, como mero fatalismo, e dá de ombros, insensível. Não. Mas tanto quanto para nos socorrer Ele encarnou na forma de Seu Filho Jesus Cristo, Ele continua a socorrer e abençoar, através do coração e mãos da Igreja, que somos nós, cada um de nós.

Não há honra nem valor em se sentir uma bênção e pronto. Seria como colocar uma pessoa muito rica ao lado de uma miserável e ouvir a rica dizer: “Eu sou muito abençoado, você não”. Isto é imoral, imperdoável, mas é o que acontece quando entendemos que somos abençoados e até desdenhamos daqueles que não o são, desdém que vem sob disfarce de mil justificativas. E uma delas é dizer: “Eu não sou a palmatória do mundo”. Não. Você é uma tentativa de Deus, ao lhe encher de Sua graça, de revelar ao mundo a Sua divindade graciosa, amorosa, compassiva.

1- As bênçãos só nos tornam abençoadores, quando atendemos ao que Deus determinou para Abraão:

Sai! Do nicho de suas raízes que lhe dão segurança pessoal. Do nicho de sua parentela que reduz o universo do seu investimento e desejo”. Isto fala de desprendimento.

2- Depois, na mesma medida, Deus disse a Abraão:

Vai!  Isto fala de dependência e obediência. Sob uma nova visão. “A minha”. Não mais aquela ditada por seus próprios sonhos e desejos, porque “há caminhos que ao homem parecem ser bons, mas o seu fim é a morte”. Não circunscreva seus sonhos somente à sua família, deixando os estranhos de fora.

3- Depois Deus assumiu o compromisso de ser Ele mesmo o capacitador de Abraão para Ele abençoar. E assumiu que amaldiçoaria os que tentassem atrapalhar essa corrida de bênção, esse fluir de abençoador. Outro tanto abençoaria os que o favorecessem nessa missão de vida. E gosto do veredito comprobatório de Deus, para provar que a bênção viria dEle: Deus assumiu que a posteridade de Abraão prosperaria na terra.

A gente percebe que uma pessoa não é uma bênção, geralmente porque os frutos da construção de sua existência desaparecem em poucos meses ou anos nas mãos de seus descendentes. Não têm continuidade, nem no caráter, nem no plano material do que foi conquistado e construído.

A Bíblia chama isso de ser rico para si e não para com Deus.

Mas a questão que se impõe sobre as considerações neste texto é mais à luz do que Paulo afirma ter sido dito por Jesus em Atos 20:35 do que na experiência de Abraão, que entra aqui somente como modelo de chamado: “Mais bem aventurado é dar do que receber”.

São poucos os que vivenciam isso. Não há bênção em receber, somente. A felicidade, segundo disse Jesus, reside em dar. Daí Ele ter dito que os que dão, recebem. Dão aos homens e recebem de Deus.

No atual contexto das prédicas evangélicas dentro desta geração, reduz-se a ideia de dar, a dinheiro, a bens. Eles contam, mas são fáceis. São difíceis apenas para os que têm crise de espiritualidade mas estão longe de uma experiência real com Deus. Estes não conseguem dar sequer dinheiro, quanto mais bens.

Mas dar envolve a vida, o ser. Isto vai além do que se tem, mas não deixa de fora o que se tem, seja muito ou pouco. Aliás, diga-se de passagem que o pouco nunca foi nem será desculpa para não dar. Jesus elogiou a mulher pobre que doou a única moeda que tinha. Também elogiou a mulher rica que deu um bem tão caro que todos tomaram por desperdício: o unguento do alabastro.

Dar é doar o que se é. Isto não tem preço. Porque envolve o coração mais que as mãos. Significa doar-se através daquilo que se doa, ou naquilo em que se doa.

Exige que se desça para lavar pés alheios; que se caminhe uma milha a mais, além daquela solicitada; que se priorize para o alheio, em detrimento das prioridades pessoais. Demanda o investimento de tempo, afeto, dons.

Abraão seria uma bênção na medida em que procurasse abençoar. Quando retém, não é abençoado. Quem contabiliza bênçãos pessoais, não é abençoado. É apenas uma pessoa que perdeu a oportunidade de construir um legado na vida, para que outros possam usufruir a memória do exercício de sua fé, depois que ele tiver cumprido sua missão existencial. Perdeu os frutos do que Deus lhe fez.

Porque o chamado do Evangelho para mim e você, se resume nesta palavra dita pelo Senhor Jesus, em João 15:16 – “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome”.

Entende agora porque às vezes parece a alguns que suas orações nunca são respondidas? São leis da Graça, leis espirituais.

Quero encerrar recomendando a você, à luz da Palavra de Deus para Abraão: “Seja você uma bênção ”. Menos que isso, é viver uma vida inútil, ainda que pareça aprovada entre seus pares. Deus lhe faça uma bênção, para abençoar. Única verdade na perspectiva de ser abençoado. Amém.

Aquele Que Te Guarda

Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda. É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel. O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. De dia não te molestará o sol, nem de noite, a lua. O Senhor te guardará de todo mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.” Salmos 121:1-8 ARA

Promessas! Nossa fé se alimenta delas. São inumeráveis a nosso favor na Palavra de Deus. Delas é dito por Paulo: “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio”, em II Coríntios 1:20 e outro tanto Pedro afirmou: “Dessa maneira, ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça”, em sua segunda carta, 1:4.

Falar sobre promessas de Deus na Bíblia traz o desafio de qual delas escolher. Se este é o maior desafio, decidi compartilhar com vocês aquela que me afigura ser a mais messiânica das promessas do Velho Testamento, por trazer a natureza da proposta da encarnação do Messias de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Daí a leitura deste maravilhoso salmo 121. E digo isto porque a profecia messiânica de Isaías 7:14, proferida mais de 700 anos antes do nascimento de Jesus, já O anunciava em Sua função precípua: Emanuel, Deus conosco. Acredito que nada supera a magnitude de tamanha promessa. E só a fé cristã a possui. Em nenhuma religião ou confissão jamais se ouviu falar de um deus que prometia estar junto do seu adorador, todos os dias, e que para provar a pertinência dessa proximidade e companheirismo, tomou forma humana e viveu entre os homens. E Jesus, nosso Deus e Senhor, ao deixar Seus seguidores garantiu-lhes estar com eles todos os dias, até o último deles.

E dentre as necessidades humanas, nenhuma supera a carência de companhia. E dentre as propostas de companheirismo, nenhuma supera a proposta de companhia divina. Jesus Se anunciou Emanuel, e para sempre. Ele é Emanuel para todo o que nele crer.

E é então que desponta a gloriosa promessa deste salmo 121 que nos auxilia a crer, ao descortinar para nós em que consiste esta guarda, a proteção da parte Daquele que nos guarda. Porque já adianto aqui, que a essência do sentido de guarda, protetor, de que fala este salmo, é companheiro, aquele que está junto, que come junto o mesmo pão.

Quais as dimensões desta proteção? Observemos o texto:

 

1- O Guardião é socorro garantido. V.2

Porque Ele fez os extremos: Céus e terra. Não há outras possibilidades ou ofertas de risco fora desses dois extremos.

De onde pode nos vir o perigo ou o mal? Do extremo de cima, ou do extremo de baixo. O salmista entendeu que Quem os criou é maior do que eles representam, seja em termos de bênçãos ou de riscos. No texto rabínico o salmista diz elevar seus olhos para o Alto. Ele parecia estar se sentindo apequenado, fragilizado. Pensa na necessidade de socorro e seu coração lhe oferece resposta na certeza de que no Deus que criou todas as coisas ele tinha socorro garantido.

Entre os extremos, se encontra Deus, Aquele em Quem podemos encontrar socorro.

Quem precisa de socorro? Quem se sente sob risco iminente; quem se sente em pânico; quem se vê em desamparo. Todas estas situações são possíveis a qualquer de nós, em circunstâncias variadas, ao longo da vida.

Depois de se assegurar ter socorro garantido no Senhor, ele começa a meditar na forma de exercício desse socorro.

 

2- O Guardião é Proteção Garantida Vv. 3 e 4

Há um jogo de palavras: se você tropeça, como quem perde a vigilância, como quem cochila, Ele nunca perde o compasso! Não pisca!

Diferentemente das divindades cultuadas pelos que rodeavam Israel, as quais precisavam ser acordadas (I Reis 28).

A primeira ideia que parece emergir do salmo é que a proteção divina é tal que jamais nos sobrevirá mal ou dano algum. Logo, a cada vez que um sinistro nos ocorre, temos que concluir que a promessa falhou. Mas, não é esta a proposta e aqui está o sentido maior deste salmo: o salmista começa questionando de onde pode vir o socorro de que ele necessita. Só depois disto é que apresenta o Senhor como sua resposta, e o posiciona como guardião. Ele é o guardião que socorre. Socorre como Aquele que protege. Nem sempre o mal é impedido, mas porque Ele está junto e não pisca nem cochila, sempre vigilante, tem o socorro certo no momento preciso; à mão. Isto concorda com o sentido de promessas que afirmam: “Em me vindo o temor, hei de confiar em Ti” – Salmo 56:3; ou: “Estarei com ele na angústia, livra-lo-ei, e o glorificarei” – Salmo 91:15. Também pertence a este entendimento a promessa tão atraente em Isaías 43:2 –Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.”

Acresço uma palavra de sabedoria, tão própria das promessas divinas e que nem sempre recebemos bem, mas que, a despeito de nossas pretensões, se cumpre conforme o propósito divino. Foi Paulo, apóstolo, que a ensinou para nós, dizendo, em I Coríntios 10:3 – “Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo providenciará um escape, para que o possam suportar.”

 

3- Até Onde Ele Guarda?

  • Até onde Ele é: É do que fala a expressão: “O Senhor é quem te guarda”, para dizer que Ele não terceiriza. Não deixou isso a cargo de anjos. O Salmo 34:7 quando fala do Anjo do Senhor, usa de uma linguagem de teofania, fala de Jesus: “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra”. Muitas vezes, em diversos eventos históricos no Velho Testamento, era Jesus, pré-encarnado. Com Jacó; com Moisés; com Josué; com os pais de Sansão; com Daniel na cova dos leões. Com os três companheiros de Daniel na fornalha em Babilônia. Era Ele sempre.
  • Até onde Sua Presença chega: Junto. Não desde o céu, mas como COMPANHIA. “Tua sombra à Tua direita”. (Ou, lit.: “O Senhor é a sombra ao lado da tua mão direita). Você se dá conta de que vigia a direita do seu corpo 24 horas por dia? Mesmo os não destros, estão atentos ao seu lado direito em todo o tempo. Nosso hemisfério cerebral direito é a porta de entrada e da administração de nossas emoções. O que nos toca os sentimentos, é percebido e recebido pelo lobo direito do cérebro. Isto nos faz pensar no fato de que “abrimos a guarda” da nossa esquerda. É onde Ele Se coloca como guardião. Pois, se projeta a sombra à direita, está posicionado à esquerda. É um lindo recurso de figura de linguagem. Também reforçado na metáfora onde os salmistas O proclamam pelo possessivo, “meu escudo”. O escudo via de regra ficava na mão esquerda.
  • Até onde nossas emoções reclamem e nossas ações, delas decorrentes, nos movam. Se Ele não guardar a saída, de nada servirá guardar a chegada, por isso Ele já guarda desde dentro da casa, onde nos pensamos seguros e achamos que podemos dispensar qualquer ajuda extra.

Isto nos lembra a fala do salmista no salmo 139: “Tu me cercas por trás e por diante e sobre mim estendes a Tua mão”. Cercado! Como os pintainhos sob as asas da galinha, tal como Jesus propôs.

Isto explica por que disse o salmista: “…o Senhor é a fortaleza da minha vida; de quem terei medo?” – Salmo 27:1. Glória ao Seu Santo Nome! Avance e confie, se você crê no Senhor Jesus! Ele é Quem guarda sua vida.

Decorre daí o sentido poético da expressão: “De dia não te molestará o sol, nem de noite, a lua”. A tradução dos rabinos acrescenta: “nem sofrerás de noite sob o brilho da lua”. Quanto ao dia, sim, lemos que “Suas misericórdias se renovam a cada manhã”, e, concordando com isto, disse o salmista: “Contudo, o Senhor, durante o dia, me concede a sua misericórdia, e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida.”- Salmos 42:8 . Sob o sol, o guardião da alma nos cobre com a sombra de Sua misericórdia, e sob a lua, na escuridão da noite, o cântico da alma que pode com Ele conversar.

Descansa! O Senhor é quem te guarda.

Pastoreio

Salmo 23; João 10:1-15.

Simbiose é uma palavra de uso pouco comum, cujo  significado  figurado é a associação íntima entre duas partes para auxílio mútuo. E diz-se, das partes simbióticas, que elas são ligadas por razões afins.

A Bíblia nos revela a mais bela ilustração de uma estrutura simbiótica, estrutura espiritual, no salmo 23, entre o pastor e a ovelha. Todo cristão que se entende como tal, consegue identificar-se neste salmo como sendo uma ovelha, e Jesus como seu pastor, e isto devido ao texto de João 10 em que o Senhor Jesus Se anuncia como pastor de ovelhas.

Mas saber tais coisas não constitui uma simbiose. O que se destaca no salmo 23, é que o seu autor adora a Deus se sentindo uma ovelha, posicionando-se como ovelha, diante dAquele a Quem reconhece e confessa como seu pastor, de forma efetiva e real.

A linguagem se reveste de uma beleza espiritual, que na tradução do Espírito Santo para nós, torna-a profética para a nossa fé.

Outro tanto, é importante a leitura de João 10, para que o sentido  dessa simbiose fique pleno.

Primeiramente, desejo destacar a auto-visão desse homem de fé, o salmista, vendo-se como ovelha. Ele coloca voz numa ovelha grata, consciente e admirada, logo, adoradora.

O que ele sabe?

Que é ovelha. Sente-se ovelha a partir da visão que tem do Senhor como pastor. O verso primeiro acentua a consciência de ser ovelha, de forma que a interpretação linear da afirmação “O Senhor é o meu pastor”, funciona como alguém que já se sabia ovelha e agora estabelece ou confessa o Senhor como seu pastor.

É interessante que a palavra ovelha não aparece vez alguma no texto, mas os movimentos que se desdobram a partir da visão do pastor, deixam claro como o salmista se vê e se sente. De fato, é a fala de uma ovelha sob pastoreio. É uma fala conclusiva.

O Deus Eterno, no Velho Testamento, via Seu povo como ovelha, e Jesus declara que assim é que Ele vê os seres humanos. Isto indica que fomos criados para ter a natureza de ovelhas, cordeiros, mas na queda de Adão assumimos a natureza de lobos. É dito de Jesus que Ele era o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Ele veio como cordeiro e veio recriar em nós essa essência perdida.

Quando ovelhas tentam se portar como lobos, elas vivem uma ilusão desastrosa e autopredatória. Assim somos nós. Se nos assumimos ovelhas, elegemos pastores que nos guiem e nos deixamos guiar por conta do instinto de dependência próprio de ovelhas. Se procuramos viver como lobos devoradores, elegemos lobos-alfa que ditam nossa existência predatória. E isto no mundo espiritual, no mundo político, no mundo das ideias e das relações parentais e sociais.

O salmista ao se conscientizar de ser ovelha em sua natureza essencial, correu para confessar e assumir o Senhor como Seu pastor. Antes, penso eu, que outro ocupasse esse lugar em sua vida.

O que ele experimenta?

 E então, em decorrência, ele vai desfiando os movimentos de sua existência sob esse pastoreio:

  • “de nada tenho falta”. Bem diferente de “nada me faltará”, onde a ênfase cai sobre coisas, enquanto a primeira ideia expressa ausência da necessidade da busca das coisas. Pois:
  • tem sede saciada;
  • descanso assegurado;
  • coração sem

São movimentos frutos da Presença. Ele está junto ao Pastor, que primeiro o mantém junto a Si, capacitando-o ao descanso, antes de levá-lo aos enfrentamentos.

Como ele vê o pastor no pastoreio que lhe oferece?

Seus olhos o vêem nos efeitos desse pastoreio, daí os verbos “guiar”; “estar junto”, “preparar o pão”, “ungir a cabeça”, e esta, na tradução rabínica tem o sentido de “honrar”. E o clímax da segurança aponta a certeza de que Ele será sempre misericordioso e bondoso como pastor, renovando Suas misericórdias a cada dia.

Depois, veremos como o pastor responde a esta consciência de  ovelha, na fala de Jesus em João 10, e então poderemos ver o paralelismo entre a adoração da ovelha e a oferta do Pastor a ela. É esse paralelismo que estabelece a estrutura espiritual de nossa fé, como seguidores de Cristo nesta geração. Há uma reciprocidade. A ovelha O reconhece, e o Pastor devolve, vendo- Se como pastor dela e outro tanto, ela, como Sua ovelha.

O que Ele sabe? 

  • Ele disse: “Eu Sou o bom pastor”. Está consciente de Seu compromisso com a bondade a favor da ovelha. Ele não pode ser diferente.
  • Jesus assume esse lugar, como ocupando o espaço aberto pela confissão do salmista, como sendo a resposta ao salmo. E revela em que consiste esta bondade: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas…assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.” – João 10:11, 15

O que se deduz daqui, é que todos aqueles movimentos do pastor no salmo 23, traduzem também a forma como Ele doa Sua vida. E o que mais se destaca é o fato de que o Senhor, como pastor, cumpre literalmente o que é próprio à vida de um pastor: ele vive no ambiente de suas ovelhas. Ele entra e fica lá com elas.

O que Ele experimenta? 

  • Entra pela porta no aprisco. Pode ser nosso coração? Sim. Basta lembrar Seu apelo à igreja de Laodicéia em Apocalipse 3:20. O abrir é uma confissão: “Quem me pastoreia é o Senhor Jesus”.
  • Ele conhece cada ovelha pelo seu nome.
  • Sabe ser conhecido por cada ovelha em Isto fala de ambiência. O pastor vivendo tão junto que tudo conhece, pois de tudo participa.
  • Cabe uma pergunta: “Se Jesus realiza Seu pastoreio em sua vida,

Ele  participa   e  pode   participar   de  todos   os  seus  movimentos existenciais?”

“…conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai;…” – João 10:14-15

“…e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora.” – João 10:3. Intimismo. Nunca foi diferente. Sempre como Emanuel, companheiro.

Como Ele vê a ovelha para oferecer-lhe Seu pastoreio? 

  • Carente de ser guiada.

“Depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz.”- João 10:4

A expressão “conduzir para fora”, fala da liberdade para viver, enfrentar a vida sob Seu cuidado.

Por que é importante e imprescindível vivermos pela fé a possibilidade desta simbiose que a graça de Deus nos oferece no pastoreio de Jesus?

Porque somos exatamente o que Jesus viu: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor.” – Mateus 9:36

Temos a pretensão de ter respostas ou de achar que a carne, ou o mundo, têm as respostas que buscamos, mas eles não podem responder a necessidades eternas. Não nos dão segurança.

A metáfora criada por Jesus a nosso respeito é totalmente pertinente: Porque como ovelhas, não sabemos conduzir nossa vida sem riscos fatais pelos estreitos caminhos da justiça e perecemos. Comemos em mesas erradas, e bebemos em fontes que não saciam. Ele sabe conduzir.

Daí Sua gloriosa promessa: “…Eu cuidarei de ti”. – Oseias 14:8. Glória ao Seu Nome!