João 3:1-10.
Nicodemos só aparece no Evangelho de João. Aqui; também em 7:50, onde defende Jesus entre os demais fariseus; e no capítulo 19 onde se envolve no sepultamento do corpo de Cristo, ocupando-se com José de Arimatéia em ungir o corpo do Senhor com mirra e aloés para ser sepultado.
Jesus o identifica como mestre em Israel. Ele fazia parte do grupo dos religiosos fariseus, a que também Paulo pertenceu.
O ponto de realce se dá no fato de Jesus fazer com ele a mesma coisa que fez com a mulher samaritana: levou o diálogo para o cerne da necessidade de seu interlocutor e sobre ele estabeleceu uma doutrina fundamental para a fé. Mais: Jesus pontuou uma necessidade de que nem um nem outro se davam conta. A necessidade da samaritana era saciar uma sede maior que a da água, que é recorrente. A necessidade de Nicodemos era ver e entrar no Reino de Deus, e não apenas se certificar de que Jesus era um enviado de Deus.
Mas, tal como a samaritana, ele desconhecia sua verdadeira necessidade. E tal como diante da samaritana, Jesus aqui também universalizou a necessidade dele. Para todos, importa saciar em Cristo sua sede de eternidade. Para todos, é necessário nascer de novo. E este é o assunto deste nosso texto.
Sem o Novo Nascimento, impossível ver e impossível entrar no Reino de Deus, disse o Senhor.
E então explica em que isto consiste: nascer do Espírito, do Alto ou de novo. A palavra traduzida por “de novo”, também significa “do alto”.
É nos ensinamentos de Paulo que podemos apreender o significado desse novo nascimento, ou aquilo em que ele consiste. Está detalhado em II Coríntios 5:17 – “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação (presente). As coisas antigas já passaram (passado); eis que surgiram coisas novas (futuro)!” Percebe-se que nascer de novo é um ato instantâneo. Ninguém “vai nascendo de novo cada dia mais”. Depois, Paulo detalha essa radical transformação em Efésios 4:20-24, onde mostra a resposta consciente e externalizada que devemos dar, acompanhando a nova natureza que em nós foi implantada: “Todavia, não foi isso que vocês aprenderam de Cristo. De fato, vocês ouviram falar dele, e nele foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus. Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.”
Em seguida, vemos Jesus mostrar a evidência ou resultados desse processo de novo nascimento. Ele afirma que o novo nascimento resulta em:
1-Capacitação para ver o Reino de Deus
Você só pode entender isto à luz do que o Filho de Deus afirmou quando disse o que ficou registrado em Lucas 8:10: “Ele disse: “A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino de Deus, mas aos outros falo por parábolas, para que “ ‘vendo, não vejam; e ouvindo, não entendam’.” – isto por si só explica em que consiste a possibilidade de ver o Reino de Deus. Os olhos do entendimento espiritual são abertos para que se entenda as coisas espirituais, espiritualmente. Esses olhos antes estavam cegados pelo deus deste século, conforme Paulo ensina em II Coríntios 4:4 – “nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.”
E: Lucas 10: 9 -“Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: O Reino de Deus está próximo de vocês.”
Entende o que ocorre aqui? A missão redentiva e sanadora da Igreja provando que o Reino de Deus está sendo manifesto através da ação do Corpo místico de Cristo: a Igreja. São possibilidades decorrentes da fé, que nos dá acesso ao sobrenatural de Deus, porque a vida no Evangelho não é mera intelectualidade, mas como disse o Senhor, um equilíbrio entre Escrituras e poder de Deus.
E ainda Lucas: 11:20 – “Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus.” –
De novo, a ação da autoridade no mundo espiritual. Não se trata de ver fenômenos, mas de ver a supremacia do Nome de Jesus atuando contra o império das trevas. E qual o efeito prático disso? Uma vida livre de medo do oculto, de operações tenebrosas e correlatos.
E em seguida Jesus afirma que o novo nascimento, por conseguinte, consiste em:
2-Capacitação para entrar no Reino de Deus
Agora o verbo tem ênfase mais comprometedora. Há duas formas de entendermos esta capacitação para entrar:
Escatologicamente: “O tempo é chegado”, dizia ele. “O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas-novas!” – Marcos 1:15, que fala de uma chegada nesse Reino, um ato final, passada a vida, ou melhor ainda, a manifestação desse Reino historicamente no mundo, na vinda de Cristo, no final de todas as coisas. Os que nascem de novo, quer morram ou estejam vivos quando Jesus vier, têm segura entrada no Reino de Deus, tal como Jesus garantiu ao ladrão arrependido, crucificado ao Seu lado no Calvário.
Mas também,
Experiencialmente: “nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está no meio de vocês”.” – Lucas 17:21.
E este é o sentido presente e solene de poder entrar no Reino de Deus, porque fala da ambiência dos que nasceram de novo. Eles vivem no Reino, pelo Reino e para o Reino na presente era, no meio da sua geração.
No que fazem e como fazem.
No que falam e como falam.
Estão no mundo, mas não são do mundo. O Reino é o seu ambiente e eles o trazem para dentro deste século, do mundo tenebroso.
Não se trata de uma espiritualidade nominal. Ela é factível, comprobatória, porque os filhos do Reino são identificados por seus frutos.
E ainda há mais. No verso 8 Jesus diz a Nicodemos que nascer de novo também consiste em:
3- Capacitação para ouvir a voz do Espírito.
Não falo de profecias ou sinais. Ele não estava apontando o escutar como sendo uma experiência de fenômenos, mas exatamente a capacidade de ouvir a Voz que direciona a vida, que age por dentro trazendo movimentos livres, não premeditados ou sob controle de rédeas humanas. Ele fala dessa voz que não pode ser controlada como ocorre com o vento. Ele fala desses movimentos na existência que o vento tem e não podemos dizer em que direção vai ou de onde veio, mas a gente sente na pele, torna-se sensível ao seu toque e aromas. Ele surpreende sempre.
Porque não é voz de homens e nem com ela se confunde.
Há ainda um ponto relevante quanto a escutar a Voz. João diz que falamos do que ouvimos. O que nasce de novo adquire o idioma, a fala da Voz do Espírito, porque ela evidencia seus conteúdos de nova criatura.
Jesus disse que o nascido do Espírito age como o Espírito, ou, diríamos nós, pelo Espírito: Espontâneos; abertos; capazes de preencher todos os espaços; inerentemente perceptíveis e indispensáveis.
O vento possibilita fôlego, produz vida, alimenta a combustão.
Mas tudo isso aponta os sinais, as características próprias daquele ou daquela que nasceu de novo. Ele vê, ele entra, ele ouve.
Evidente que uma questão própria sobre tudo isso, também foi formulada por Nicodemos: “Como pode isso acontecer?” A resposta de Jesus não parece ser exatamente uma resposta, num primeiro momento: “Respondeu Jesus: “Digo a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito. O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito.” (vv.5 e 6). Mas aí está exatamente a resposta: Vem do Alto. Vem do Espírito. É Ele quem faz. Ou Ele faz ou nada acontece.
E, a esta altura só uma conclusão cabe: ninguém decide por nascer de novo. A única coisa que nos fica é o que Jesus apresentou a Nicodemos: ter consciência da necessidade deste fenômeno. Nasce de novo aquele que sente necessidade de ser nova criatura. A graça em Jesus nos oferece isto. Era o que Ele estava oferecendo a Nicodemos. E uma vez que ocorre, já vimos como se evidencia, e como nós correspondemos, vivendo de acordo com o que em nós foi feito.
Dentro dos dogmas cristãos, linhas de interpretação divergem quanto à experiência do Novo Nascimento.
Há aqueles que acham que a Igreja o produz. Jesus não disse isto.
Há aqueles que acham que pertencer à igreja corresponde a nascer de novo. Jesus também não disse isto.
Há aqueles que pensam que ser batizado ou batizar-se corresponde a isto. Jesus não disse isto.
Há aqueles que entendem que é uma experiência que nossa própria fé produz. Jesus não disse isto.
Resta lembrar que Ele afirmou: você necessita disto, ou não verá, nem entrará no Reino de Deus. É o Espírito Santo que faz acontecer. E assim, resta saber: você necessita disto? Já dá provas a si mesmo de que nasceu de novo? Percebe que ainda não evidencia esta experiência em sua vida, de fato? Se consegue perceber e a deseja, você está pronto para ser regenerado pelo Espírito Santo de Deus. Nascemos de novo pelo Espírito de Deus agindo em nós, servindo-Se da Sua Palavra revelada. É o que afirma Pedro: – “pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.” – 1Pedro 1:23
Necessário é nascer de novo. Se somos nascidos de novo, somos Filhos do Vento. Todos percebem isto em nós. Os frutos na vida revelam que há uma nova natureza operante naquele que nasceu de novo. Ele é novo em sua forma de pensar. E porque seus conteúdos são da nova criação, ele fala conforme esses conteúdos. Vive no Reino. Comprometido a expandir a manifestação do Reino de Deus. É cúmplice nisto. Comporta-se como nova criatura, entre seus pares, seja no trabalho, no lar, onde for. Quem convive com essa pessoa sabe, percebe que ela vive e respira outra realidade existencial, em função da qual é movida. As coisas antigas já passaram. Mais uma vez: as coisas antigas já passaram.
Você já nasceu de novo?
Sua maneira de viver, ver e sentir a vida, dão testemunho disto? Vamos orar agora sobre isto?