Gênesis 12:1-3
São apenas 3 versículos em que a palavra bênção aparece 5 vezes. Três derivadas em verbo e duas como substantivo e adjetivo. Este foi o segundo ponto principal da fala de Deus a Abraão que a Bíblia define como chamado. O primeiro é visto no propósito pelo qual o chamou.
Quero lhe dizer duas coisas importantes antes de continuar a meditação: A primeira é que somos informados por Paulo em Romanos 1:1-7 que nós todos os que somos seguidores operantes de Cristo, somos chamados. Tidos e vistos por chamados, à luz da Palavra de Deus. A segunda coisa é que o mesmo Paulo também em Romanos, agora capítulo 4, diz que somos filhos na fé de Abraão, que por conseguinte é o pai dos que crêem, e então somos exortados a viver nossa fé nas pegadas da fé “que teve nosso pai Abraão”. O que pretendo com isso? Trazer à sua consciência que este chamado histórico de Abraão é o modelo, a forma do nosso chamado, dentro de nossa geração.
Chamados para quê? O texto é claro: para sermos abençoadores. Só isso.
Alguém diria: Mas o texto promete a Abraão que ele seria uma bênção! Verdade absoluta! Todavia esta seria uma verdade incompleta e suspeita, se vista somente por este ângulo. Jamais Deus pretendeu abençoar Abraão, e fazer dele uma bênção para si mesmo, para ser desfrutada no seio de sua família, exclusivamente. Longe disso, a promessa de fazer dele uma bênção vem imediatamente comprometida com o propósito divino: para que por meio dele, todas as famílias da terra fossem abençoadas. Isto, de imediato secundariza a promessa no quesito pessoal.
O chamado mantém o mesmo propósito, hoje, como outrora, para os filhos na fé que teve nosso pai Abraão.
Em minha juventude, no início de minha caminhada na fé, era constante haver reuniões de oração ou de busca da face de Deus onde a tônica maior e quase exclusiva era buscar conhecer esse lugar de ser bênção no propósito de Deus. Tanto que era frequente termos nossas reuniões embaladas ao som de um cântico muito famoso, raramente entoado hoje, sequer conhecido pelas novas gerações: “Quero ser um vaso de bênção”.
Há algo muito significativo a informar aqui: o Evangelho não nos chegou para trazer soluções de problemas pessoais e satisfação de sonhos pessoais via a magia da fé. O Evangelho não tem este compromisso. O Evangelho nos alcançou para nos dar o privilégio de sermos instrumentos de bênçãos nas mãos de Deus que sempre olha por meio de nós, para além de nós.
Deus sabia que para fazer de Abraão um abençoador, teria de primeiramente fazer dele uma bênção. Do contrário seria dito a respeito dele: “Médico, cura-te a ti mesmo”. A questão é que Deus não mudou o Seu propósito ao nos chamar, dentro de nossa geração, e assim, o Seu modelo e processo continua o mesmo. Mas nós cobiçamos a bênção para nós mesmos, e a cercamos e encurralamos em nossa história pessoal. E pior: um bom número aprendeu erroneamente que o fim do Evangelho é entrar em nossa vida e realizar o que pretendemos por bênção. Em outras palavras, cada um de nós seria um fim em si mesmo, na dinâmica da vida espiritual. Lamentavelmente um grande número entre nós vive esse engano acalentado pelo egoísmo herdado de Adão.
Quando alguém faz do Evangelho um veículo mágico para ser bem sucedido, ele age na contramão do chamado de Deus, logo perde posição, alvo e desperdiça sua vida.
Infelizmente, muitos líderes usando de maligna esperteza investiram nessa contínua cobiça do ser humano por se dar bem na vida, e ensinaram a outros a promessa de ser bênção, omitindo a razão pela qual Deus nos quer uma bênção.
Só entende disso aquele que alcançou a revelação exclusiva que o apóstolo Paulo recebeu e de que nos fala em Atos 20:35 – “…lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus que disse: ‘Mais bem aventurada coisa é dar do que receber”.
Somente os que vivem a experiência de uma nova natureza espiritual conseguem compreender, viver e buscar essa bem-aventurança. Os demais, posicionam-se como o Mar Morto, que só recebe e não deságua. Por isso, morto.
Deus vê nossas lutas pessoais, sofrimentos diversos, sonhos, aspirações, e já deixou claro em Sua Palavra: “Eu sei que pensamentos tenho a respeito de vocês. Pensamentos de paz e não de mal, para lhes dar o fim que vocês desejam” (Jeremias 29:11). Outro tanto Ele afirmou, através do salmista: “Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará o desejo do teu coração”. Mas tanto quanto nos vê e manifesta Sua misericórdia, graça e socorro sobre nossas vidas, Ele já vê para além de nós, através de nós.
Nosso Deus opera no mundo através de cordas humanas. Ele disse isso em Oséias. Nós somos as cordas de que Ele dispõe, pelas quais Jesus pagou o alto preço de Sua vida na cruz. Em outras palavras, seria como dizer que, ao prometer a Abraão: ‘Tu serás uma bênção’, ou como melhor colocado: ‘Sê tu uma bênção ‘, estivesse o Senhor dizendo: ‘Eu vou treinar você com bênçãos para que você seja abençoador’. Algo do tipo, o médico ou o enfermeiro, ou o profissional em geral que estagia dentro de sua formação para aprender a exercitar suas ferramentas de trabalho. Aqui é vida, de que falamos.
Não pensemos que Deus olha os gemidos do mundo, todos os sofrimentos decorrentes da miséria, desgovernos, pecados e atrocidades, como mero fatalismo, e dá de ombros, insensível. Não. Mas tanto quanto para nos socorrer Ele encarnou na forma de Seu Filho Jesus Cristo, Ele continua a socorrer e abençoar, através do coração e mãos da Igreja, que somos nós, cada um de nós.
Não há honra nem valor em se sentir uma bênção e pronto. Seria como colocar uma pessoa muito rica ao lado de uma miserável e ouvir a rica dizer: “Eu sou muito abençoado, você não”. Isto é imoral, imperdoável, mas é o que acontece quando entendemos que somos abençoados e até desdenhamos daqueles que não o são, desdém que vem sob disfarce de mil justificativas. E uma delas é dizer: “Eu não sou a palmatória do mundo”. Não. Você é uma tentativa de Deus, ao lhe encher de Sua graça, de revelar ao mundo a Sua divindade graciosa, amorosa, compassiva.
1- As bênçãos só nos tornam abençoadores, quando atendemos ao que Deus determinou para Abraão:
“Sai! Do nicho de suas raízes que lhe dão segurança pessoal. Do nicho de sua parentela que reduz o universo do seu investimento e desejo”. Isto fala de desprendimento.
2- Depois, na mesma medida, Deus disse a Abraão:
“Vai!” Isto fala de dependência e obediência. Sob uma nova visão. “A minha”. Não mais aquela ditada por seus próprios sonhos e desejos, porque “há caminhos que ao homem parecem ser bons, mas o seu fim é a morte”. Não circunscreva seus sonhos somente à sua família, deixando os estranhos de fora.
3- Depois Deus assumiu o compromisso de ser Ele mesmo o capacitador de Abraão para Ele abençoar. E assumiu que amaldiçoaria os que tentassem atrapalhar essa corrida de bênção, esse fluir de abençoador. Outro tanto abençoaria os que o favorecessem nessa missão de vida. E gosto do veredito comprobatório de Deus, para provar que a bênção viria dEle: Deus assumiu que a posteridade de Abraão prosperaria na terra.
A gente percebe que uma pessoa não é uma bênção, geralmente porque os frutos da construção de sua existência desaparecem em poucos meses ou anos nas mãos de seus descendentes. Não têm continuidade, nem no caráter, nem no plano material do que foi conquistado e construído.
A Bíblia chama isso de ser rico para si e não para com Deus.
Mas a questão que se impõe sobre as considerações neste texto é mais à luz do que Paulo afirma ter sido dito por Jesus em Atos 20:35 do que na experiência de Abraão, que entra aqui somente como modelo de chamado: “Mais bem aventurado é dar do que receber”.
São poucos os que vivenciam isso. Não há bênção em receber, somente. A felicidade, segundo disse Jesus, reside em dar. Daí Ele ter dito que os que dão, recebem. Dão aos homens e recebem de Deus.
No atual contexto das prédicas evangélicas dentro desta geração, reduz-se a ideia de dar, a dinheiro, a bens. Eles contam, mas são fáceis. São difíceis apenas para os que têm crise de espiritualidade mas estão longe de uma experiência real com Deus. Estes não conseguem dar sequer dinheiro, quanto mais bens.
Mas dar envolve a vida, o ser. Isto vai além do que se tem, mas não deixa de fora o que se tem, seja muito ou pouco. Aliás, diga-se de passagem que o pouco nunca foi nem será desculpa para não dar. Jesus elogiou a mulher pobre que doou a única moeda que tinha. Também elogiou a mulher rica que deu um bem tão caro que todos tomaram por desperdício: o unguento do alabastro.
Dar é doar o que se é. Isto não tem preço. Porque envolve o coração mais que as mãos. Significa doar-se através daquilo que se doa, ou naquilo em que se doa.
Exige que se desça para lavar pés alheios; que se caminhe uma milha a mais, além daquela solicitada; que se priorize para o alheio, em detrimento das prioridades pessoais. Demanda o investimento de tempo, afeto, dons.
Abraão seria uma bênção na medida em que procurasse abençoar. Quando retém, não é abençoado. Quem contabiliza bênçãos pessoais, não é abençoado. É apenas uma pessoa que perdeu a oportunidade de construir um legado na vida, para que outros possam usufruir a memória do exercício de sua fé, depois que ele tiver cumprido sua missão existencial. Perdeu os frutos do que Deus lhe fez.
Porque o chamado do Evangelho para mim e você, se resume nesta palavra dita pelo Senhor Jesus, em João 15:16 – “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome”.
Entende agora porque às vezes parece a alguns que suas orações nunca são respondidas? São leis da Graça, leis espirituais.
Quero encerrar recomendando a você, à luz da Palavra de Deus para Abraão: “Seja você uma bênção ”. Menos que isso, é viver uma vida inútil, ainda que pareça aprovada entre seus pares. Deus lhe faça uma bênção, para abençoar. Única verdade na perspectiva de ser abençoado. Amém.