Ele Faz de Novo

 Esta é a palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor: “Vá à casa do oleiro, e ali você ouvirá a minha mensagem”. Então fui à casa do oleiro, e o vi trabalhando com a roda. Mas o vaso de barro que ele estava formando estragou-se em suas mãos; e ele o refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade. Então o Senhor dirigiu-me a palavra: “Ó comunidade de Israel, será que eu não posso agir com vocês como fez o oleiro?”, pergunta o Senhor. “Como barro nas mãos do oleiro, assim são vocês nas minhas mãos, ó comunidade de Israel.”   – Jeremias 18:1-6.

Este clássico texto do profeta Jeremias, inspirador de incontáveis números de sermões e livros, é muito rico em toda a sua extensão. Via de regra é lido e aplicado até o verso 6. Nós reduziremos nossa aplicação dele até o verso 4, porque nosso propósito é extrair dele um tema que ele fundamenta e que é importante para a edificação de nossa fé em Cristo.

Poderíamos pensar nos aplicativos possíveis da linha que mostra o oleiro entregue à sua obra, mas pretendo apenas salientar o que além disso o profeta viu na olaria e no trabalho do oleiro, para o que também Deus chamou sua atenção.

Muitas vezes o Senhor Se serviu de imagens simbólicas para comunicar uma palavra profética, geralmente usando o próprio profeta como sinal da Palavra, caso de Isaias e de Ezequiel. E aqui, o sinal era um oleiro em sua oficina de trabalho, e este cenário continha a mensagem que o profeta teria de ouvir. Então chamo sua atenção para esse trocadilho divino: Jeremias entraria na olaria para ouvir uma mensagem. Qualquer de nós se prepararia para deparar-se com um outro profeta, um mensageiro verbalizando um discurso divino. Provavelmente Jeremias também esperava por isso. No entanto entra ali e nada acontece. Se houve algum som, era o da roda do oleiro e do atrito de sua mão na massa de barro enquanto moldava um vaso. Deus esperou que ele observasse tudo em seus detalhes pormenorizados. E o profeta assim fez. Viu que o oleiro estava tão ocupado, “entregue à obra de suas mãos “, que provavelmente não se apercebeu dele por ali. Viu que ele estava moldando um vaso, e se surpreendeu quando a tarefa foi bruscamente interrompida porque a peça se deformou ainda nas mãos do artesão. Jeremias continuou silenciosamente esperando a mensagem que lhe seria entregue. Possivelmente pensou: “Estamos só nós dois aqui. Certamente agora que seu trabalho se perdeu, esse homem vai se virar para mim e me dizer o que Deus me mandou ouvir aqui”. Mas nada disso aconteceu. Ainda sem se voltar, sem cessar o que fazia, o oleiro tomou a massa disforme do vaso, e com ela foi refazendo o vaso, dando um novo formato sobre o tipo anterior. Até que o terminou por completo.

E então, para surpresa do profeta, Ele ouve a voz divina, ali, no pé do seu ouvido ou dentro do seu coração: “…será que eu não posso agir com vocês como fez o oleiro?”, pergunta o Senhor. “Como barro nas mãos do oleiro, assim são vocês nas minhas mãos…”

E Jeremias entendeu a mensagem que tinha agora nas mãos. Era um recado para a comunidade do povo de Deus. Será que nós a temos entendido hoje? Porque o povo de Deus continua sendo barro em Suas mãos, desde o dia em que Ele formou Adão do barro da terra.

Deus estava comunicando verdades que precisavam ser fixadas nas mentes com tamanha eloquência que requeriam um áudiovisual. Não bastava Jeremias chegar e dizer ao povo que Deus avisava que podia fazer com ele como faz um oleiro com o barro em suas mãos. Era necessário que Jeremias visse a Palavra sendo montada, para que a anunciasse com as cores vivas do efeito que as imagens produziram em seu ser inteiro.

E até onde tais verdades nos alcançam hoje?

Primeiramente é importante lembrar que Deus continua sendo o mesmo Deus dos dias de Jeremias.

Depois, também é importante considerar o indiscutível fato de que continuamos a ser esse elemento da terra, matéria prima de nossa estrutura biológica: barro.

Ainda importa dar-nos conta de uma declaração divina que nos é pertinente: somos barro em Suas mãos. Mesmo que nos esqueçamos disso vezes sem conta, o fato imutável é que estamos em Suas mãos. Esperneamos muitas vezes, querendo sacudir esse jugo de sobre nossos ombros, alguns se escondem num veredito humanista: “recebemos o livre-arbítrio”, para pretenderem uma autossuficiência que no fim sempre se prova frustrante ou fatal. Mas o fato é que, para nossa segurança, quer esperneemos ou não, somos barro em Suas mãos.

Há ainda que avaliar o desdobramento dessa declaração feita pelo próprio Senhor, na forma de uma ampliada metáfora. Não somente barro em Suas mãos, mas tal como o barro nas mãos do oleiro. E é neste particular que faz sentido Jeremias ter de entrar naquele olaria para entender a dimensão e o alcance desta palavra. O que Deus queria que Jeremias visse para nos comunicar? Que o oleiro refazia o vaso a partir de sua deterioração.

Foi este o ponto em questão. Era só o que o Senhor pretendia que fosse visto. Foi justamente o que impressionou o profeta. Se o vaso não tivesse se estragado e o oleiro assumir refaze-lo, sem jogar fora a massa que já vinha sendo trabalhada, a visita à olaria nenhuma mensagem teria para Jeremias.

Algumas importantes nuances de sentido se desenham aqui para nós: o vaso, ainda que sendo trabalhado pelo oleiro ocupado com ele, seguro em Suas mãos, se estragou. O verbo usado originalmente , também traduz “se corrompeu”, “se arruinou”. Isto nos diz respeito muito de perto. O fato de estarmos sendo formados no propósito divino, não impede que percamos a forma, que nos estraguemos, ou nos corrompamos. Às vezes uma pequenina pedra na massa, e toda a estrutura se estraga. Foi assim com Daví. Um grande e valioso vaso. Mas se estragou várias vezes. Foi assim com Jonas, profeta.  Foi assim com Pedro, apóstolo. Foi assim com Tomé. É assim comigo e com você.

Mas o que mais Jeremias ouviu? Que Deus nos comunicava que fazia conosco como fez o oleiro. Sempre olhei este texto, com o constrangimento de pensar que o Deus soberano estaria pedindo autorização para agir em nossas vidas como o oleiro fez. Isso me confundia, porque é um paradoxo quanto à soberania divina. Até que me dei conta que Deus não estava pedindo permissão ao barro para poder mudar a forma do vaso. Ele não disse que somos como o vaso na mão do oleiro, mas como o barro. O vaso é o produto final, o resultado da obra do oleiro no barro, o propósito desse trabalho. Logo, Deus estava apenas informando ao povo o Seu jeito de agir. Seria como dizer em outras palavras: “Não se incomodem, não estranhem o que ocorre em suas vidas. Estou fazendo como o oleiro quando torna a fazer outro vaso a partir do estrago do primeiro. Eu não poderia? Ora, vocês são barro em minhas mãos “.

E então vem a magna lição da mensagem profética: Deus refaz sempre. Ele não remenda.

Ele refez, não desistiu, quando o vaso Daví se estragou. Refez Jonas; Pedro; Tomé.

Ele sempre faz de novo. Novos céus e nova terra; nova criatura; novo nascimento; nova vida em Cristo; novo começo. Sempre. Até que o vaso atinja o formato próprio ao propósito de nosso supremo Oleiro.

Sabedores desta verdade comunicada, o que nos cabe? Qual deve ser o nosso procedimento?

Primeiro: entender que neste barro de que somos formados, Deus constrói o vaso para cujo propósito nos chamou em Cristo.

Em segundo lugar: que nos estragamos muitas vezes, pelo simples fato de sermos barro e não metal sólido ou rocha. A rocha é Cristo.

Terceiro: que de igual forma, Deus toma a Seu cargo reconstruir em nós o que se deteriora. É um processo, e muitas vezes voltamos ao ponto de partida nele.

Quarto: Só Ele é o oleiro, e uma vez em Suas mãos, não nos cabe pretender arbitrar livremente a forma de nossa vida, mas aceitarmos com humildade e temor Sua Palavra que nos posiciona dizendo: “Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? “Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim?’ ” – Romanos 9:20.

Importa trazer ao coração a confiança na vontade de Deus que é boa, agradável e perfeita, lembrando o que também em Jeremias (29:11), Ele nos assegurou: “Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro.” Louvado seja Seu santo Nome. Sua vontade seja feita e nada mais.

Amor Paterno

A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês.” – 2 Coríntios 13:14.

Por conta da solenidade deste dia de hoje, eu me sinto movido a pensar na declaração solene de Paulo, na segunda linha de sua clássica Bênção Apostólica: O amor de Deus, e esse amor vinculado à mais sublime revelação do que a Graça em Cristo nos ofereceu em Deus.

Gosto de pensar e entender que a oração de Jesus registrada em João 17, quando Ele diz a Deus: “Manifestei o Teu Nome aos homens que do mundo me deste”, que o Nome de Deus que Ele manifestou foi PAI.

Foi, de fato, o Senhor Jesus Quem nos revelou a paternidade divina como ninguém antes dEle sequer pensou em fazer. Quando Moisés se referiu a Deus como Pai para Israel, ele o fez se referindo a Deus como o criador do povo, e sempre numa linguagem metafórica, de tal maneira que jamais judeu algum entendeu essa paternidade anunciada, em caráter pessoal. Mas  Jesus proclamou a paternidade divina, e Seu Evangelho tornou claro que ela ocorre por meio de um processo, como resposta de Deus à fé no coração dos que se rendem a Cristo: João 1:12. De forma que ter Deus por Pai não é decorrente de uma auto-proclamação humana, mas resultado de um agir de Deus, que opera uma realização transformadora de natureza.

E o Evangelho nos ensina fartamente esta gloriosa doutrina.

Aprendemos que a filiação divina é resultado de um processo espiritual da parte de Deus no coração de quem crê: Romanos 8: 14-16. “porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois vocês  não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os torna filhos por adoção, por meio do qual clamamos: “Aba, Pai”. O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.”

Depois temos isto bem elucidado em Gálatas 4:6, onde um reforço do ensino se inscreve: “E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Aba, Pai”.”

A continuação dos textos, tanto em Romanos como em Gálatas, mostra que o apóstolo ao nos posicionar como filhos de Deus, faz contraposição à condição dos escravos, para mostrar o elevado contraste quanto ao lugar que ocupamos. O escravo era cria da casa sem direito a nada. O filho, herdeiro de todas as casas. E para provar que essa condição filial é legítima e completa, o apóstolo insiste em mostrar em Romanos 8:17 que somos herdeiros de Deus, tanto quanto Jesus é herdeiro.

E ainda, o próprio Senhor Jesus, fez esse contraponto quanto a nós, entre ser filho e ser escravo, em João 8:35 – “O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre.”

Mas, a revelação da Palavra de Deus nos remete ao amor de Deus na Sua qualidade de Pai. E o que conhecemos desse amor?

Passo a lhes mostrar algumas janelas que nos permitem ver, conhecer e pensar.

Primeiramente temos Jesus nos revelando a intensidade do amor desse Pai. João 17:23 – “eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e  os amaste, como também amaste a mim.”

Depois, ouvimos que esse amor nos precede no tempo desde os dias da eternidade: Jeremias 31:3.

E então Paulo nos mostra que, dada Sua essência e eternidade, esse amor é insuperável, excedendo nosso entendimento em todas as dimensões: altura, profundidade, largura e comprimento. Efésios 3:18 e 19.

Nunca devemos esquecer que o amor que Deus nos oferece é amor  paterno. E tal como ocorre na realidade da família humana, o amor paterno é uma oferta, uma conquista do amor do filho, feita pelo pai. De igual maneira, como nosso Pai Celeste, o Deus Eterno fez uma conquista do nosso amor:

  • falando ao nosso coração;
  • Cobrindo – nos com Sua graça
  • Oferecendo- Se a nós na pessoa de Seu Filho Jesus;
  • Manifestando Sua bondade e cuidado;
  • Fazendo-nos participantes de Sua natureza

No entanto, importa entender que por amor paterno em Deus, temos um amor responsável, não paternalista. As pessoas entendem que por sermos filhos somos tratados de forma irresponsável por nosso Pai celeste, por ser amoroso. Não. Longe disso, a Palavra de Deus nos ensina que Ele nos disciplina, corrige porque nos ama: Hebreus 12:4-11.

Depois, temos Jesus nos ensinando em Lucas 15, na parábola do filho pródigo, que se nos desviamos do ambiente doméstico de Deus, Ele continua “em casa”, como Pai esperando nossa volta como filhos, mas não sai para nos proteger no ambiente de nossa má escolha. Ele é responsável e formador de caráter. É Pai justo e santo.

Este Pai nos ama. E espera que tenhamos atitudes próprias de filhos, daí Sua Palavra exortar: “Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu.”

1 João 3:1.

E: “O filho honra seu pai, e o servo, o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me devem?”, pergunta o Senhor dos Exércitos…” – Malaquias 1:6.

Acima de tudo, desejo muito que cada filho ou filha de Deus, pense nEle à luz de Salmo 103: 13-14: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó.”

Você já rendeu a Cristo sua vida e fé? Então Deus lhe trata como filho ou filha. E conforme Ele afirmou: “O filho fica para sempre em casa”.

Benditos na Bênção de Deus

Números 6: 22-27.

Deus e bênçãos, fé e bênçãos, são termos simbióticos, em qualquer confissão. Bênção, abençoar, são palavras que não necessitam de definição. São positivas em qualquer ângulo em que possam ser vistas ou pretendidas.

A fé corre em direção à bênção, e as pessoas querem ter fé para serem abençoadas, por entenderem que a bênção depende da fé que têm. Não é verdade. Tudo quanto a fé pode fazer quanto às bênçãos é capacitar-nos a vê-las e desejá-las e daí, usufruí-las. A fé não cria a bênção. Deus cria. Nem Deus compensa a fé com bênçãos. A fé nos favorece a apropriar-nos da bênção  que nos vem de nosso Deus.

Mas também é fato que Deus capacitou o homem a abençoar. E então devemos deter-nos sobre o significado primário da palavra. A palavra bênção tem o sentido etimológico de favorecer, facilitar a favor de. Assim, dizer a alguém, “eu abençôo você”, tem o sério risco de se tornar um discurso vazio, sem sentido, se não for acompanhado de uma ação correspondente. É de tal ordem, que abençoar sem agir nada produz, mas agir sem precisar dizer, se constitui em abençoar mais eficazmente.

Evidente que o agir tem formas menos visíveis, como uma palavra, uma oração, um abraço, uma atenção. São formas de abençoar. E são eficazes.

Tiago nos adverte sobre o discurso vazio do abençoar quando diz: “Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ´Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se´, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso?” (Tiago 2: 15 e 16). Por esta razão é que Paulo nos adverte a abençoarmos e não amaldiçoarmos. Mas não entender estas coisas, é praticar uma fé folclórica, mágica, própria daqueles que acreditam que falar produz bênção ou maldição. Que falar, “faz acontecer”.

A fala que produz bênção ou maldição, é aquela que produz efeito na estrutura psíquica de quem a recebe. Mais do que isso é magia e não fé, e por ser magia, é falso. E neste sentido, a única fala que abençoa é a que soa como um elogio ou um louvor. O elogio abençoa e é por isso que desde os salmistas, somos autorizados a abençoar nosso Deus quando O adoramos dizendo: “Bendito és Tu, Bendito seja o Deus e Pai…”, porque significa que O estamos elogiando, dizendo que Ele é o Deus cheio de bênçãos. E no terreno inerentemente espiritual a fala abençoadora é aquela que roga, que ora, ou se pronuncia como oração a favor de alguém.

Mas somos chamados a viver sob a bênção de Deus. Poucas pessoas atentam e dão importância a uma palavra poderosa e reveladora, que se encontra em Efésios 1:3, onde o apóstolo Paulo nos assegura, num louvor: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo.” E por que as pessoas não atentam para esta palavra? Porque “bênçãos espirituais” e “nas regiões celestiais”, parecem estar fora de propósito ou do nosso foco, uma vez que só reputamos por bênção aquilo que podemos ver e apalpar (contabilizar), mas não o invisível e que não tenha curso no mundo físico.

Contudo, abertos os olhos da fé, podemos entender que esta Palavra, em Efésios, fala da garantia que temos de que as bênçãos ocorram em nossa vida. Se elas não forem estabelecidas no Reino Celestial, não terão seguimento no mundo temporal, porque Deus habita na luz inacessível, e lá é que se encontra a fonte e a matéria prima de que se constituem todas as bênçãos de que nossa existência necessita. Tiago disse precisamente isto:  “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes.” – (Tiago 1:17). Portanto, só é possível ser abençoado, se estivermos em Cristo, porque é na Pessoa dEle e por meio dEle que Deus Pai nos abençoa. E só temos acesso a Ele e a elas, por meio de Jesus. Foi o que Ele afirmou: “Ninguém vem ao Pai, senão por Mim”.

E há uma forma de abençoar, que faz parte da missão da Igreja, e que se cumpre na vida do povo de Deus, desde os dias da comunhão dos filhos de Abraão com o Deus de Israel. Invocar a bênção divina em oração sobre uma vida, é uma forma de abençoar essa vida, e a única garantia possível disso acontecer. Tem o valor de uma oração intercessória.

Deus sempre quis fazer cairem as bênçãos do céu sobre a vida dos Seus filhos. E tanto quanto nos ordenou a orar e pedir, deu-nos autoridade para invocar Sua bênção sobre a vida do Seu povo, de nossos irmãos. A bênção clássica invocatória que Deus determinou que fosse sempre lembrada a Ele sobre a vida do Seu povo, se encontra em: Números 6:24-26. Ele determinou que o Seu povo fosse abençoado com esta oração invocatória.

Ela permanece como bênção ainda hoje sobre os que crêem. Sua invocação é pertinente, porque Deus ainda tem um povo; ainda quer abençoar Seu povo e ainda nos ordena abençoar-nos mutuamente, porque Ele cumpre Seu compromisso assumido. Foi exatamente o que Ele disse a Moisés quando ordenou que esta bênção fosse invocada sobre os filhos de Israel: “O Senhor disse a Moisés: ´Diga a Arão e aos seus filhos: Assim vocês abençoarão os israelitas” (6:22) e ao término da bênção que Ele descreve, Ele assume: “Assim eles invocarão o meu nome sobre os israelitas, e eu os abençoarei” (6:27). Observe: a bênção é invocada e Deus é Quem abençoa. Não é a invocação por si mesma que abençoa. Isso soaria como mantra, magia. Não procede.

Nós poderíamos encerrar esta reflexão apenas lendo a bênção ensinada e determinada por Deus para ser invocada nesses termos, mas é tão importante entendê-la em seu significado, quanto nela crer. E por isso, vamos a ela. Ela começa com a súplica do abençoar, mas no todo, ela invoca o Nome de Deus por três vezes, que para nós, é clara alusão à invocação trinitária. De forma que podemos localizar facilmente um correlato com a mesma invocação tríplice da bênção apostólica evocada pelo apóstolo Paulo em II Coríntios 13.13, onde o Deus Filho surge primeiro. De igual forma, aqui em Números, a invocação tríplice ocorre, e de igual forma podemos ver o Deus Filho na primeira invocação, o Guarda de Israel. Deus Pai, que faz a luz resplandecer, na segunda invocação; e Deus Espírito Santo, na terceira, Aquele que “presta atenção” em nós, como o Outro Consolador.

O Senhor te abençoe e te guarde”:

A bênção será desdobrada a seguir. Mas observe: A invocação é feita a Deus, o Guardião. O abençoador não vai além de invocar. Quem abençoa é Deus. E qual é a garantia de que ela deve acontecer? Ela só será possível, se Ele ao abençoar, o fizer, guardando, ou protegendo. A palavra tem o mesmo sentido: “O Senhor te proteja”.

A garantia para sermos abençoados está na proteção divina. E por proteção divina, só podemos entender, presença, companhia. Então, temos o Emanuel. Já vimos isso: Ele não confia nossa guarda a outrem. “O Senhor é Quem te guarda”, aleluia! Ele é o Anjo do Senhor que se acampa ao nosso redor e nos guarda. Este é Jesus, o Deus Filho. E o que resulta da proteção de Deus sobre nossas vidas? Como ela acontece? Então vêm os desdobramentos da bênção a seguir. Ela tem quatro dimensões.

  1. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti

É a segunda invocação divina. O Deus Pai está em foco.

  • Há outros sentidos para o resplandecer. “O Senhor faça o Seu rosto brilhar sobre ti”; “O Senhor acenda o Seu rosto sobre ti”. Num primeiro momento, vemos aqui o Pai, com a face aprazível, ou seja, como num sorriso de prazer a nosso favor. Quando pensamos em alguém que nos vê com prazer, dizemos que iluminou o rosto com um sorriso. A idéia que subjaz é esta.

Esta bênção está diretamente implicada com o sentido de II Coríntios 4:6 – “Pois Deus, que disse: ´Das trevas resplandeça a luz´, Ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus  na face de Cristo”. Quando Ele acende Seu rosto sobre nós, é dentro de nosso ser, nosso coração, que Ele o faz, como Paulo disse.

Por conta da Sua graça, não é mais uma verbalização divina, como em Genesis, mas a própria vida, Pessoa de Deus agindo dentro de nossas vidas, pelo Seu Espírito.

Mas tem tudo a ver com aquele primeiro pronunciamento da Voz divina na criação: “Haja luz”, e houve luz sobre as trevas do mundo. Isto implica em dizer que Deus é o nosso grande luminar. Está escrito: “Na Sua luz, veremos a luz”. Ele brilha em nossos corações espaventando as trevas da angústia, a sombra da morte, a fria escuridão da ignorância espiritual. Ele ilumina nosso caminhar. Usa Sua Palavra ao fazer isso, trazendo direção segura, consolo e promessa que alimenta a esperança. Ele nos converte, pelo brilho da glória de Sua presença dentro de nós, em luz do mundo. E porque Ele resplandece sobre nós, Seu Filho nos ordenou: “Resplandeça a luz de vocês diante dos homens”. Lembrem a bela Palavra em Isaías 60: Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti.

Depois temos:

  1. e tenha misericórdia de ti;

– Ou: “seja gracioso a ti”.

A misericórdia ou graça, comprometida na bênção. Ela é a razão ou a possibilidade das duas próximas dimensões da bênção acontecerem. Sem a graça, não há acesso a nada que seja de Deus. Só a graça nos torna aceitáveis a Ele, por meio de Cristo, por isso, as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, são possíveis somente em graça, por causa da graça que nos alcança. Sem a iniciativa de Deus em Cristo a nosso favor, que conhecemos como Sua graça a nós revelada, nada acontece. Deus sabe como necessitamos ser diariamente abençoados, alimentados em Sua graça, que conforme Ele disse a Paulo: “nos basta”. E por isso, tanto somos convidados a nos aproximarmos do “trono da graça para recebermos mais graça” (Hebreus 4:16), quanto somos exortados a crescer nela. Que seria de nós, e onde estaríamos nós, se a graça de Deus não nos encontrasse dia após dia?

E então o imenso compromisso de Deus, na forma de bênção, toma corpo e se torna possível:

  1. O Senhor sobre ti levante o seu rosto

É a terceira invocação divina, e agora quem está em foco é Deus, o Espírito.

– Esta invocação precisa ser compreendida na beleza gloriosa de todo o seu significado. Mesmo porque, o que podemos receber ou entender por “Deus levantar Seu rosto sobre nós?”  Em que isso implica? Em que isso é bênção para nossa vida? Não seríamos nós que deveríamos levantar o rosto para Deus, que habita nas alturas conforme toda a Bíblia proclama? Logo, fica óbvio que não estamos falando de gesto, de forma. E sim, de atitude.

E é exatamente isto. Porque levantar assume o sentido de prestar atenção com deferência, para exaltar, como alguém que estica o pescoço procurando por outrem a quem viu no meio da multidão, ou por quem é responsável. Atende belamente ao sentido do Salmo 91: 7 – “Mil poderão cair ao seu lado; dez mil, à sua direita, mas você não será atingido”. Do mesmo nível da mensagem de Pedro quando disse: “…vocês são povo de propriedade peculiar de Deus”… I Pedro 2:9. Aleluia!

Sim. O Espirito Santo é o guardião da herança de Deus, que somos nós, como penhor até o dia de nossa redenção.

 E em seguida:

  1. e te dê

Cujo sentido se dilata para significar: “E estabeleça tua paz”. É interessante como a paz vem como a chave que consuma a bênção, como se ela fosse a mais significativa satisfação, necessidade coberta. Sim. Paz é a linguagem da Bíblia para dizer que tudo nos vai bem, em todas as dimensões da vida, quando há paz.

Interessante também, como Paulo em Filipenses 4:6 e 7 explica que a paz é a resposta maior, suficiente e satisfatória de todas as nossas aspirações e anseios: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus”. A resposta para o tudo,  será paz. Que interessante!

O aferidor da recepção da bênção: paz (com Deus, consigo e com os outros). A paz é ministrada pelo Espírito Santo em nossos corações. Ele produz a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele testifica dentro de nós com a paz, que Paulo chamou de “o árbitro em nossos corações”.

Glória ao Deus Triúno e bendito por Sua fidelidade em nos abençoar. Seu coração Se inclina em graça sobre nossas vidas. Deixo com você a palavra graciosa com que Daví encerra sua oração em I Crônicas 17:27 -“ …pois o que tu, Senhor, abençoas, abençoado está para sempre”. Bendita verdade! Glória ao Seu bendito e santo Nome!

Assim, encerro invocando esta bênção de Deus sobre suas vidas – “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o Seu rosto, e te dê a paz.