Benditos na Bênção de Deus

Números 6: 22-27.

Deus e bênçãos, fé e bênçãos, são termos simbióticos, em qualquer confissão. Bênção, abençoar, são palavras que não necessitam de definição. São positivas em qualquer ângulo em que possam ser vistas ou pretendidas.

A fé corre em direção à bênção, e as pessoas querem ter fé para serem abençoadas, por entenderem que a bênção depende da fé que têm. Não é verdade. Tudo quanto a fé pode fazer quanto às bênçãos é capacitar-nos a vê-las e desejá-las e daí, usufruí-las. A fé não cria a bênção. Deus cria. Nem Deus compensa a fé com bênçãos. A fé nos favorece a apropriar-nos da bênção  que nos vem de nosso Deus.

Mas também é fato que Deus capacitou o homem a abençoar. E então devemos deter-nos sobre o significado primário da palavra. A palavra bênção tem o sentido etimológico de favorecer, facilitar a favor de. Assim, dizer a alguém, “eu abençôo você”, tem o sério risco de se tornar um discurso vazio, sem sentido, se não for acompanhado de uma ação correspondente. É de tal ordem, que abençoar sem agir nada produz, mas agir sem precisar dizer, se constitui em abençoar mais eficazmente.

Evidente que o agir tem formas menos visíveis, como uma palavra, uma oração, um abraço, uma atenção. São formas de abençoar. E são eficazes.

Tiago nos adverte sobre o discurso vazio do abençoar quando diz: “Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ´Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se´, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso?” (Tiago 2: 15 e 16). Por esta razão é que Paulo nos adverte a abençoarmos e não amaldiçoarmos. Mas não entender estas coisas, é praticar uma fé folclórica, mágica, própria daqueles que acreditam que falar produz bênção ou maldição. Que falar, “faz acontecer”.

A fala que produz bênção ou maldição, é aquela que produz efeito na estrutura psíquica de quem a recebe. Mais do que isso é magia e não fé, e por ser magia, é falso. E neste sentido, a única fala que abençoa é a que soa como um elogio ou um louvor. O elogio abençoa e é por isso que desde os salmistas, somos autorizados a abençoar nosso Deus quando O adoramos dizendo: “Bendito és Tu, Bendito seja o Deus e Pai…”, porque significa que O estamos elogiando, dizendo que Ele é o Deus cheio de bênçãos. E no terreno inerentemente espiritual a fala abençoadora é aquela que roga, que ora, ou se pronuncia como oração a favor de alguém.

Mas somos chamados a viver sob a bênção de Deus. Poucas pessoas atentam e dão importância a uma palavra poderosa e reveladora, que se encontra em Efésios 1:3, onde o apóstolo Paulo nos assegura, num louvor: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo.” E por que as pessoas não atentam para esta palavra? Porque “bênçãos espirituais” e “nas regiões celestiais”, parecem estar fora de propósito ou do nosso foco, uma vez que só reputamos por bênção aquilo que podemos ver e apalpar (contabilizar), mas não o invisível e que não tenha curso no mundo físico.

Contudo, abertos os olhos da fé, podemos entender que esta Palavra, em Efésios, fala da garantia que temos de que as bênçãos ocorram em nossa vida. Se elas não forem estabelecidas no Reino Celestial, não terão seguimento no mundo temporal, porque Deus habita na luz inacessível, e lá é que se encontra a fonte e a matéria prima de que se constituem todas as bênçãos de que nossa existência necessita. Tiago disse precisamente isto:  “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes.” – (Tiago 1:17). Portanto, só é possível ser abençoado, se estivermos em Cristo, porque é na Pessoa dEle e por meio dEle que Deus Pai nos abençoa. E só temos acesso a Ele e a elas, por meio de Jesus. Foi o que Ele afirmou: “Ninguém vem ao Pai, senão por Mim”.

E há uma forma de abençoar, que faz parte da missão da Igreja, e que se cumpre na vida do povo de Deus, desde os dias da comunhão dos filhos de Abraão com o Deus de Israel. Invocar a bênção divina em oração sobre uma vida, é uma forma de abençoar essa vida, e a única garantia possível disso acontecer. Tem o valor de uma oração intercessória.

Deus sempre quis fazer cairem as bênçãos do céu sobre a vida dos Seus filhos. E tanto quanto nos ordenou a orar e pedir, deu-nos autoridade para invocar Sua bênção sobre a vida do Seu povo, de nossos irmãos. A bênção clássica invocatória que Deus determinou que fosse sempre lembrada a Ele sobre a vida do Seu povo, se encontra em: Números 6:24-26. Ele determinou que o Seu povo fosse abençoado com esta oração invocatória.

Ela permanece como bênção ainda hoje sobre os que crêem. Sua invocação é pertinente, porque Deus ainda tem um povo; ainda quer abençoar Seu povo e ainda nos ordena abençoar-nos mutuamente, porque Ele cumpre Seu compromisso assumido. Foi exatamente o que Ele disse a Moisés quando ordenou que esta bênção fosse invocada sobre os filhos de Israel: “O Senhor disse a Moisés: ´Diga a Arão e aos seus filhos: Assim vocês abençoarão os israelitas” (6:22) e ao término da bênção que Ele descreve, Ele assume: “Assim eles invocarão o meu nome sobre os israelitas, e eu os abençoarei” (6:27). Observe: a bênção é invocada e Deus é Quem abençoa. Não é a invocação por si mesma que abençoa. Isso soaria como mantra, magia. Não procede.

Nós poderíamos encerrar esta reflexão apenas lendo a bênção ensinada e determinada por Deus para ser invocada nesses termos, mas é tão importante entendê-la em seu significado, quanto nela crer. E por isso, vamos a ela. Ela começa com a súplica do abençoar, mas no todo, ela invoca o Nome de Deus por três vezes, que para nós, é clara alusão à invocação trinitária. De forma que podemos localizar facilmente um correlato com a mesma invocação tríplice da bênção apostólica evocada pelo apóstolo Paulo em II Coríntios 13.13, onde o Deus Filho surge primeiro. De igual forma, aqui em Números, a invocação tríplice ocorre, e de igual forma podemos ver o Deus Filho na primeira invocação, o Guarda de Israel. Deus Pai, que faz a luz resplandecer, na segunda invocação; e Deus Espírito Santo, na terceira, Aquele que “presta atenção” em nós, como o Outro Consolador.

O Senhor te abençoe e te guarde”:

A bênção será desdobrada a seguir. Mas observe: A invocação é feita a Deus, o Guardião. O abençoador não vai além de invocar. Quem abençoa é Deus. E qual é a garantia de que ela deve acontecer? Ela só será possível, se Ele ao abençoar, o fizer, guardando, ou protegendo. A palavra tem o mesmo sentido: “O Senhor te proteja”.

A garantia para sermos abençoados está na proteção divina. E por proteção divina, só podemos entender, presença, companhia. Então, temos o Emanuel. Já vimos isso: Ele não confia nossa guarda a outrem. “O Senhor é Quem te guarda”, aleluia! Ele é o Anjo do Senhor que se acampa ao nosso redor e nos guarda. Este é Jesus, o Deus Filho. E o que resulta da proteção de Deus sobre nossas vidas? Como ela acontece? Então vêm os desdobramentos da bênção a seguir. Ela tem quatro dimensões.

  1. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti

É a segunda invocação divina. O Deus Pai está em foco.

  • Há outros sentidos para o resplandecer. “O Senhor faça o Seu rosto brilhar sobre ti”; “O Senhor acenda o Seu rosto sobre ti”. Num primeiro momento, vemos aqui o Pai, com a face aprazível, ou seja, como num sorriso de prazer a nosso favor. Quando pensamos em alguém que nos vê com prazer, dizemos que iluminou o rosto com um sorriso. A idéia que subjaz é esta.

Esta bênção está diretamente implicada com o sentido de II Coríntios 4:6 – “Pois Deus, que disse: ´Das trevas resplandeça a luz´, Ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus  na face de Cristo”. Quando Ele acende Seu rosto sobre nós, é dentro de nosso ser, nosso coração, que Ele o faz, como Paulo disse.

Por conta da Sua graça, não é mais uma verbalização divina, como em Genesis, mas a própria vida, Pessoa de Deus agindo dentro de nossas vidas, pelo Seu Espírito.

Mas tem tudo a ver com aquele primeiro pronunciamento da Voz divina na criação: “Haja luz”, e houve luz sobre as trevas do mundo. Isto implica em dizer que Deus é o nosso grande luminar. Está escrito: “Na Sua luz, veremos a luz”. Ele brilha em nossos corações espaventando as trevas da angústia, a sombra da morte, a fria escuridão da ignorância espiritual. Ele ilumina nosso caminhar. Usa Sua Palavra ao fazer isso, trazendo direção segura, consolo e promessa que alimenta a esperança. Ele nos converte, pelo brilho da glória de Sua presença dentro de nós, em luz do mundo. E porque Ele resplandece sobre nós, Seu Filho nos ordenou: “Resplandeça a luz de vocês diante dos homens”. Lembrem a bela Palavra em Isaías 60: Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti.

Depois temos:

  1. e tenha misericórdia de ti;

– Ou: “seja gracioso a ti”.

A misericórdia ou graça, comprometida na bênção. Ela é a razão ou a possibilidade das duas próximas dimensões da bênção acontecerem. Sem a graça, não há acesso a nada que seja de Deus. Só a graça nos torna aceitáveis a Ele, por meio de Cristo, por isso, as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, são possíveis somente em graça, por causa da graça que nos alcança. Sem a iniciativa de Deus em Cristo a nosso favor, que conhecemos como Sua graça a nós revelada, nada acontece. Deus sabe como necessitamos ser diariamente abençoados, alimentados em Sua graça, que conforme Ele disse a Paulo: “nos basta”. E por isso, tanto somos convidados a nos aproximarmos do “trono da graça para recebermos mais graça” (Hebreus 4:16), quanto somos exortados a crescer nela. Que seria de nós, e onde estaríamos nós, se a graça de Deus não nos encontrasse dia após dia?

E então o imenso compromisso de Deus, na forma de bênção, toma corpo e se torna possível:

  1. O Senhor sobre ti levante o seu rosto

É a terceira invocação divina, e agora quem está em foco é Deus, o Espírito.

– Esta invocação precisa ser compreendida na beleza gloriosa de todo o seu significado. Mesmo porque, o que podemos receber ou entender por “Deus levantar Seu rosto sobre nós?”  Em que isso implica? Em que isso é bênção para nossa vida? Não seríamos nós que deveríamos levantar o rosto para Deus, que habita nas alturas conforme toda a Bíblia proclama? Logo, fica óbvio que não estamos falando de gesto, de forma. E sim, de atitude.

E é exatamente isto. Porque levantar assume o sentido de prestar atenção com deferência, para exaltar, como alguém que estica o pescoço procurando por outrem a quem viu no meio da multidão, ou por quem é responsável. Atende belamente ao sentido do Salmo 91: 7 – “Mil poderão cair ao seu lado; dez mil, à sua direita, mas você não será atingido”. Do mesmo nível da mensagem de Pedro quando disse: “…vocês são povo de propriedade peculiar de Deus”… I Pedro 2:9. Aleluia!

Sim. O Espirito Santo é o guardião da herança de Deus, que somos nós, como penhor até o dia de nossa redenção.

 E em seguida:

  1. e te dê

Cujo sentido se dilata para significar: “E estabeleça tua paz”. É interessante como a paz vem como a chave que consuma a bênção, como se ela fosse a mais significativa satisfação, necessidade coberta. Sim. Paz é a linguagem da Bíblia para dizer que tudo nos vai bem, em todas as dimensões da vida, quando há paz.

Interessante também, como Paulo em Filipenses 4:6 e 7 explica que a paz é a resposta maior, suficiente e satisfatória de todas as nossas aspirações e anseios: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus”. A resposta para o tudo,  será paz. Que interessante!

O aferidor da recepção da bênção: paz (com Deus, consigo e com os outros). A paz é ministrada pelo Espírito Santo em nossos corações. Ele produz a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele testifica dentro de nós com a paz, que Paulo chamou de “o árbitro em nossos corações”.

Glória ao Deus Triúno e bendito por Sua fidelidade em nos abençoar. Seu coração Se inclina em graça sobre nossas vidas. Deixo com você a palavra graciosa com que Daví encerra sua oração em I Crônicas 17:27 -“ …pois o que tu, Senhor, abençoas, abençoado está para sempre”. Bendita verdade! Glória ao Seu bendito e santo Nome!

Assim, encerro invocando esta bênção de Deus sobre suas vidas – “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o Seu rosto, e te dê a paz.