De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados”. – Lamentações 3:39.
Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. –Romanos 8: 22 e 23.
As pessoas prefeririam viver a vida a cantar. Jamais se queixar e infinitamente menos, gemer. Mas a verdade é que nos queixamos e variadas vezes gememos. A queixa parece superior ao gemido, porque queixa pressupõe reclamar, reivindicar direitos, protestar, etc. E isso aparenta ser positivo. Já o gemido, o único lugar que parece caber a ele é ser o idioma do sofrimento. Portanto, longe dos homens o gemer! Penso, no entanto, que aquilo que entendemos por gemido, não passa de outra forma de queixume.
Mas essa lógica humana está imensamente longe da realidade da vida espiritual em Cristo com Deus. Acabamos de ler, na profecia extraída de um livro cujo título parece autorizar a queixa (Lamentações) a condenação dela. De acordo com esta revelação da Palavra de Deus, a queixa acompanha a vida terrena e no terreno do pecado. Sim. Porque as vicissitudes que nos levam a queixar-nos, seja por processo de injustiça, seja por frustrações várias, não são mais que consequências de um mundo longe de Deus e que jaz no maligno, decaído. Não surpreende que um sistema que está reprovado na justiça divina, produza cardos e abrolhos que nos infringem motivos para queixas. Logo, à luz do texto de Lamentações, todos estão aptos para a queixa, apenas alertados que a causa delas está em seus próprios erros e desatinos.
Mas quanto a gemer? Seria de fato o gemido o exercício da voz do sofrimento? É então que somos surpreendidos com a informação do apóstolo Paulo de que aqueles que experimentaram a transformação radical operada pelo novo nascimento, via a fé em Cristo e Sua obra, gemem, e não estão sozinhos nesta empreitada. Diz ele que toda a criação geme. O texto citado informa pouco antes, que a criação geme porque sua perda de honra, de posição, se deu por conta da queda do homem no planeta, e ela geme em expectativa de ser liberta dessa condição humilhante e sofrida, quando da manifestação de uma vida de glória dos filhos de Deus, na consumação de todas as coisas. Geme em expectativa e pela expectativa do melhor por vir.
Na mesma medida, diz o apóstolo, gemem os filhos de Deus, os que foram alcançados pela oferta de Cristo na cruz do Calvário. Diz ele que gememos enquanto habitamos neste mundo, um gemido de igual forma de expectativa, apesar de termos as primícias do Espírito de vida que habita dentro de nós, e por conta disso mesmo: porque temos vislumbres da glória que nos espera, pelo testificar desse Espírito e do que nos leva a experimentar via nossa vida de fé. Mas atentemos: gememos porque estamos ansiando pelo que há de vir. Gememos na antevisão do que será glorioso, que ainda não alcançamos, mas esperamos pela fé. Quanto mais sabemos da glória que nos espera, mais razão temos por que gemer.
Reforço estes argumentos com um extrato da pena inspirada do honrado servo de Deus, reverendo Martyn Lloyd-Jones, que comentando parte deste texto de Romanos 8, disse: Mas isso faz parte da explicação do fato de que o cristão geme em si mesmo. Todavia, não constitui a principal razão para que gema. Ele geme principalmente porque tem em si ‘as primícias do Espírito’. Paulo diz: ‘Nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos’. Gememos não somente porque sabemos o que somos agora, porém também porque sabemos o que há de vir. A medida em que você sabe o que virá é a medida em que você estará gemendo neste tempo presente (grifo meu). Permita-me usar uma ilustração singela. Você recorda como, quando era criança, esperava um feriado ou alguma coisa agradável? Lembra-se do gemido – ‘ainda faltam seis semanas’?- Mas isso porque você sabia que viria. Se não soubesse disso, não gemeria. Quanto mais você sabe sobre a coisa maravilhosa que lhe virá, tanto mais difícil é esperar até que venha! Espiritualmente falando, os que não são regenerados não ‘gemem em si mesmos’; e, ao que parece, há muitos cristãos que não gemem em si mesmos. Isso porque não têm conhecimento da glória; nunca se apoderaram deste ensino. Se tão somente captassem este ensino, logo começariam a gemer.” (A Perseverança Final dos Santos- p. 125).
E é isso aí. Amém!