Os olhos falam. De maneira impressionante. São tão eloquentes quanto persuasivos. Falam mais que as palavras, muita vez antecipando-se ao discurso verbal, dando-lhe mais reforço ou servindo de referendo conclusivo a ele. Os olhos sorriem; repreendem; intimidam; refrigeram; traduzem alertas, sinalizam; transmitem alegria ou tristeza. “Os meus olhos se consomem de tristeza; fraquejam por causa dos meus adversários”. É a voz que o salmista dá ao seu olhar, no Salmo 6:7. Um pensamento popular afirma que eles são as janelas da alma. Na verdade os olhos expressam a personalidade. São de tal ordem identificadores dela que alguns os encobrem quando precisam passar desapercebidos sob certas circunstâncias. Ou, eles são expostos por peritos quando necessitam da identificação de um indigente por um amigo ou parente em caso de fatalidades.
Sem nos apercebermos tanto, passamos a vida conversando com os olhos alheios. Sempre procuramos contato visual quando nos aproximamos de alguém. Até os animais o fazem. Os seres vivos, em especial o ser humano, se comunicam inter-olhos, em todo o tempo. E quando alguns evitam contato visual no trato interpessoal, alguma coisa, via de regra, não vai bem. É o primeiro sinalizador que um terapeuta aponta num processo terapêutico: o contato visual. Mesmo quando estamos diante de um cego, nós nos dirigimos aos seus olhos sem luz, quando nos comunicamos com ele. E geralmente, se o ouvimos, temos a impressão de que ele fala por esses mesmos olhos sem brilho, ou fechados. Certa vez ouvi uma senhora, em sessão terapêutica, referir-se à severidade do seu pai, dizendo: “Ele nos batia com o olhar”.
Não sabemos qual fala teve o olhar de Jesus ao fixar os olhos do jovem rico, como narrado em Mateus 10:21, mas sabemos que foi suficientemente convincente para que seu observador dissesse: “Jesus, olhando para ele, o amou”.
Penso em qual mensagem Pedro ouviu, pelo olhar que Jesus deitou sobre ele, após havê-Lo negado três vezes! “Pedro respondeu: ‘Homem, não sei do que você está falando!’ Falava ele ainda, quando o galo cantou. O Senhor voltou-Se e olhou diretamente para Pedro” (Lucas 22:60,61). Acredito que seja uma impressão semelhante a de tantos outros homens e mulheres de Deus que a Bíblia revela terem vivido a sensação de estarem sob os olhos de Deus. A maioria deles testificando do conforto advindo desse olhar. A fé nos leva a olhar nos olhos de nosso Pai Celeste, e outro tanto a sentirmos sobre nós, o Seu olhar. Por isso um dia Agar, a escrava egípcia de Abraão, disse DEle: “Tu és o Deus que me vê” (Gênesis 16:13).
Nossos olhos são o primeiro veículo de percepção de estímulos externos, de que nos servimos, e é por meio deles, do que captam ao redor, que organizamos nossas respostas psico-físicas, respostas sensoriais. Acredito que seja por conta disso que a Palavra de Deus nos recomenda: “Não porei coisa injusta diante de meus olhos” (Salmo 101:3) e ainda: “Os olhos são a candeia do corpo. Se seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz” (Mateus 6:22), disse o Senhor Jesus.
Onde fixarmos nossos olhos, é para lá que nos dirigiremos. Daí a suprema importância de deixarmo-nos guiar pelos olhos da fé, como a Palavra de Deus nos lembra: “Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos” (II Coríntios 5:7).