Maçãs de Ouro de Jeremias (4)

“Mas bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está. Ele será como uma árvore plantada junto às águas e que estende as suas raízes para o ribeiro. Ela não temerá quando chegar o calor, porque as suas folhas estão sempre verdes; não ficará ansiosa no ano da seca nem deixará de dar fruto’. O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?” – Jeremias 17:7-9

O texto ressalta o indivíduo na sua relação com Deus. Descreve sua existência no mundo a partir de uma atitude: Deus é Aquele em Quem esse indivíduo coloca sua confiança. E nessa descrição traça os benefícios que lhe advêm no seu devir. Benefícios permanentes em meio a circunstâncias que atingindo a todos, parecem não surtir efeito negativo sobre ele. Elas são alinhadas em linguagem metafórica a partir da imagem de que o profeta se serve para descrever esse indivíduo confiante em Deus: “Ele será como árvore plantada junto às águas”. O verbo está no futuro. Aí está uma comparação incomum porque diferentemente do que se espera, mostra em que e quando resultará o fruto da confiança, porque como tudo mais na fé, os frutos surgem quando a necessidade exige. Será como árvore junto às águas quando vierem calor e seca. Só então se conhecerá e será possível identificá-lo porque árvore longe das águas não oferece folhas verdes no calor e na seca. Outro tanto a metáfora aponta para o estado de ânimo desse indivíduo confiante em Deus: não ficará ansioso.

Toda essa linguagem para dizer que a confiança dele em Deus o levou a fazer Dele Sua fonte nutridora como as águas são para a árvore. Deus é sua fonte, base de sustentação, e por isso, confiante, ele está livre de ansiedade num contexto adverso que consome e destrói os demais. Mas na grande floresta da vida humana, ele se destaca como quem confia, porque está viçoso e sossegado enquanto os demais secam.

Contudo, o ponto notável e de alto significado neste texto reside numa extensão da metáfora que chama a atenção, quando diz o profeta: “Não deixará de dar fruto”. Numa única expressão ele nos transmite duas ideias: esse indivíduo, que passo a designar agora como “esse crente”, já vinha dando fruto antes da adversidade. Afinal, sua fonte, as águas das quais bebem suas raízes, é o Deus em quem ele crê. E, a segunda ideia é que, vindo a adversidade, quando o normal é definhamento, não somente ele não definha, quanto permanece dando fruto. O texto afirma: “não deixará de dar fruto”.

Dar fruto. Frutificar. Uma árvore frutifica para se multiplicar e os outros se servem de seus frutos. Mesmo quando seus frutos são colhidos, ela continua se multiplicando. São tantos, que por mais que sejam consumidos, não a esgotam nem interrompem seu ciclo de multiplicação. Jesus deixou claro que nos escolheu para frutificarmos. “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai conceda a vocês o que pedirem em meu nome.” – João 15:16.

O que me ocorre é: tanto quanto disse o Senhor que uma árvore é conhecida pelos seus frutos, sabemos que ela sempre será lembrada por eles.

A vida prova que pessoas podem passar uma existência inteira por ela, sem dar frutos de que outros se sirvam. Elas vivem em função de si mesmas. Cultivam e constroem a existência em torno de si e para si. Nada nem ninguém usufrui qualquer coisa delas. Não servem. São servidas. Vazias de praticidade. Se morrem na igreja, diferentemente da Dorcas de Jope, ninguém chora sua ausência ou pretende que ressuscite. Faltou frutificar para deixar memória. Estavam plantadas na igreja, mas longe da Fonte. Nada deixaram que as faça lembradas. E ainda podem carrear boa dose de maus frutos pelos quais melhor seria esquecê-las.

Lamento por elas. Passarão, sem deixar de si saudades, como o rei Jeorão.

O crente bendito porque confia, produz para outros, os frutos de sua confiança. Vale considerar: por quais frutos você é conhecido(a)? Por quais deles será lembrado(a) entre os seus: em sua comunidade; em sua geração?

É bom nos preocuparmos com isso.