Você Marca Presença

O cântico de exaltação ao amor, composto por Salomão, dedicado a uma sua eleita, e que em nossas bíblias tem por título Cântico dos Cânticos ou Cantares, usa abundantemente de metáforas e hipérboles cujo efeito é exaltação calcada na admiração.

Uma dessas metáforas, de uma riqueza de imagem linguística cujo paralelo só a própria pena de Salomão oferece, se encontra em 6:4 do livro, onde nossos tradutores se esforçaram para transmitir a idéia mais precisa daquilo que o autor sacro quis comunicar. Ali, Salomão teria dito que sua amada é “formidável como um exército com bandeiras”, ou seja, que impressiona em sua marcha. Mas usou um adjetivo que pede mais que “formidável” em sua comunicação, onde bem podem caber “terrível”, “temível”, “impressionante”, “assustador”, etc, todos esses adjetivos tendo como sentido comum classificar o objeto como algo que marca presença, que chama a atenção, mas evidentemente de forma atraente, positiva, como bem reforça o contexto.

Há aqueles que se debruçam sobre o texto de Cantares e procuram ver nele uma alegoria do amor de Cristo pela Igreja. Espiritualizações textuais à parte, é certo que o espírito do evangelho de Cristo investe em nossa vida visando uma transformação de tal quilate, que atenda minimamente ao significado de “Cristo em vós, esperança da glória” (Colossenses 1:27) ou, “…assim resplandeça a luz de vocês diante dos homens, para que vejam suas boas obras e dêem glória ao seu Pai que está nos céus” (Mateus 5:16). Nesta direção, acredito que qualquer de nós poderá deixar a marca que imprime a imagem de um exército com bandeiras, de forma que seus observadores possam exclamar: formidável!

Mas você percebeu o que eu disse a respeito dos tradutores do texto em questão? Que eles decidiram traduzir a palavra hebraica “ Aimah” por formidável, em lugar de aterrador ou terrível, devido ao contexto que lhes determina se decidirem na direção desse significado? O contexto dita o sentido que se imprime.

Assim é nossa vida de testemunho cristão, nesta geração, quanto aos nossos observadores. A depender de como a vivemos, poderá produzir admiração como um exército em marcha, embandeirado num desfile que anuncia presença e segurança; ou aterrador, se esse exército marchar como um corpo de guerra, ameaçador, invasor. Nessa condição sua visão será aterradora. Especialmente se em lugar de bandeiras tal exército empunhar armas.

Desejo, sinceramente, que você viva nesta geração, preparando-se conscientemente para que quantos consigo tratem, possam ver em sua vida a glória do Cristo de quem você é aprendiz, de tal forma que possam exclamar admirados, tal como o noivo em Cantares: Formidável! E isso enquanto você marcha pela existência, com bandeiras nas mãos.

Grumixamas

Quando eu era menino, havia no pomar da casa de meus pais um pé de grumixama que era minha maior alegria. Quem leu “Faça-se Luz!” pode conferir.

Cresci e nunca mais vi minha árvore de frutinhas deliciosas. Cheguei a ver dois outros, grandes, em lugares diferentes na vida adulta, numa fazenda e num sítio, mas fora da época de frutificação, e então isso serviu apenas para fustigar a saudade. Até o aroma das frutinhas eu restaurava na memória.

Há dez anos um homem passou em Analândia me oferecendo uma muda. Comprei, plantei, e há três anos tenho minha alegria renovada. 

Hoje minha grumixameira tem cinco metros de altura. Eu a podei no devido tempo e adubei com cinzas de meu fogão à lenha (“Meu amigo tinha uma vinha na encosta de uma fértil colina.Ele cavou a terra, tirou as pedras e plantou as melhores videiras…” – Isaías). Em todo mês de novembro ela floresce e depois transborda de frutos, sempre em novembro (“É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo…” – Salmos 1 ). Como ela cresceu, este ano transbordou de frutos como nunca antes (E dá fruto a cem por um… – Lucas). As partes mais altas são para deleite dos passarinhos: sanhaços, sabiás, bentevis, pardais e há poucos dias até um enorme tucano. As partes baixas são nossas. Ela projeta bela sombra (“…cresceu e se tornou uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus ramos” -Lucas). 

Nada se compara ao prazer de aguardar ano a ano o mês de novembro, ajustar a agenda para estar em Analândia na segunda quinzena, me aproximar da árvore da minha infância e me deleitar com seus frutos! (“Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto”- João). 

Hoje, junto à minha grumixameira, orei agradecido por tão singular resgate de um doce deleite infantil, e pensei em meu coração quão grande deve ser o desejo do Pai Celeste em encontrar meus frutos por Ele pretendidos e buscados periódicamente, durante as estações de minha história de vida e na vida. 

VOCÊS NÃO ME ESCOLHERAM, MAS EU OS ESCOLHI PARA IREM E DAREM FRUTO, FRUTO QUE PERMANEÇA… – João 15:16.