Êxodo 32: 9-14 e Números 16: 42-48
Dois relatos de uma situação tão própria à natureza humana, e no tocante à reação divina, e tão incomum quanto misteriosa. Explico o porquê do mistério. Tem tudo a ver com o lugar que o crente em Cristo ocupa no que tange à oração. Somos a um mesmo tempo exortados a orar e sujeitar-nos à vontade soberana de Deus. Quase que envolvido num conflito de ideias, o crente ora, rogando e crendo nas intervenções divinas a seu favor, ao mesmo tempo que sabe que Deus tudo opera segundo o Seu propósito. Por fim, parece que orar corre mais em direção a conseguir fazer coincidir a necessidade de quem ora, com a vontade de Deus, esta, via de regra não clara para quem suplica. Nesse dilema confunde-se a maioria. Alguns se atrapalham a ponto de desertar do objetivo de orar. Em especial aqueles, maioria esmagadora, que tratam a oração petitória como a única via de conversar com Deus. Não sabem ou não conseguem vivenciar outra realidade no que respeita a orar.
Quando somos informados pelas Escrituras que o Deus a Quem oramos sabe o que diremos antes mesmo que o façamos, então o quadro parece ficar ainda mais indiscernível.
Mas os episódios narrados nos textos clássicos de Êxodo e Números, parecem nos esclarecer essa misteriosa equação. Em cada um deles Moisés está em meio a um trágico conflito onde de um lado se encontra um povo acusado em seu pecado e obstinação, e do outro, o Deus desse povo, irado, prestes a destrui-lo em Sua ira, e ainda persuadindo Moisés a deixá-Lo fazer isso, sem se opor (sinalizando que Ele Se deixaria opor) e ainda oferecendo a Ele posição futura melhor. É então que nos deparamos com o Moisés intercessor, que suplica pelo povo e ora, procurando demover Deus de Sua ira e propósito. Em cada uma das duas situações Moisés sai bem sucedido. Deus atende à sua voz; aplaca-Se de Sua ira; perdoa e livra o povo.
A oração continua sendo esse mistério entre o crente e Deus. Ao que nos parece, ela serve para abrir brechas de misericórdia na vontade divina, que nos alcança com graça. E o nome disso é graça. Mas, noutro extremo encontramos aqueles que se pensam com direitos pela fé sobre essa graça, e entendem que podem fazer exigências e dar ordens a Deus, que os atenderia para “ficar bem na fita”. Esquecem que o Deus soberano, ainda que opere em graça e abra brechas de misericórdia a nosso favor, é um Deus a ser temido sempre, pois é o Único Senhor. Vale lembrar que, tempos mais tarde, o mesmo Moisés coloca-se diante Desse mesmo Deus que a ele se opõe, e tanto não o atende quanto ao que ele Lhe suplica, quanto o proíbe de voltar a tocar no assunto em questão (Deuteronômio3:23-25).
Vale pois, a pena, atentar a duas máximas: “Orem sem cessar” (I Tessalonicenses 5:17) e: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tiago 5:16). Entremos pelas brechas da misericórdia à presença de nosso Deus em oração.