A Voz Na Fala | Atos De Discípulos (3)

Então Pedro levantou-se com os Onze e, em alta voz, dirigiu-se à multidão: “Homens da Judeia e todos os que vivem em Jerusalém, deixem-me explicar isto! Ouçam com atenção: estes homens não estão bêbados, como vocês supõem. Ainda são nove horas da manhã! Ao contrário, isto é o que foi predito pelo profeta Joel: “ ‘Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão. Mostrarei maravilhas em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça. O sol se tornará em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo!’” – Atos 2:14-21.

É significativo perceber os movimentos que se seguem ao milagre da incursão fenomenal das línguas de fogo. Primeiro há o despertamento da curiosidade do povo que afluiu em multidão ao local onde os discípulos estavam reunidos. Depois, não menos surpreendente é ver Pedro se levantar, acompanhado dos demais onze, e começar a discursar. Em seu discurso, revela uma autoridade que contrasta acentuadamente com a cena vivenciada passados mais de quarenta dias (João 20:19): “Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus…” E aqui, de pé, discursa em altos brados. A pergunta que fica é: o som dos louvores em outras línguas, cessou? Pelo sim, pelo não, resta agora a Voz que sobressai na fala. Então, como já foi dito, nela se evidencia autoridade. Depois, objetividade, porque Pedro começa a explicar o que se passa e contextualiza com a profecia de Joel.

Ato contínuo a mensagem que a voz traduz, aponta de imediato para Jesus e Sua obra. Ou seja, começa servindo-se do milagre, mas usa-o para alcançar o seu propósito que é revelar Jesus, e a partir daí concentra-se Nele e Sua obra, e para tanto continua servindo-se das Escrituras (Salmo 16: 8-11). O foco não é mais o milagre ocorrido, mas Quem e porquê o realizou. A ênfase transita do efeito para a Causa.

Posto isto, a voz se dirige à consciência dos ouvintes, com a mesma intrepidez e ainda aqui servindo-se das Escrituras (Atos 2:34-36; Salmo 110:1). E o resultado é uma compulsão geral, operando irresistível arrependimento e tomada de posição, naquilo que representou o primeiro e um dos maiores movimentos evangelísticos da Igreja primitiva.

Temos muito a aprender com os movimentos do Espírito na vida dos discípulos, como descritos aqui. Começando com o fato de que todo o agir começa e depende Dele. Depois, o operar incontrolável através dos recursos de que Se serve para alcançar o Seu propósito: revelar Jesus, Sua obra e razão dela; conquistar vidas para cerrarem fileira nessa obra. Para isso, parte do milagre para chegar à Sua razão, e desde então se foca na razão, na causa. Não mais no milagre, e o faz, dando Voz àquela fala e a Voz põe as Escrituras na fala, e produz como resultado arrependimento nos corações que a ouvem.

Os discípulos têm uma fala. Esta fala tem uma voz. Esta voz tem uma autoridade e propósito. A fala é fenômeno, efeito. A voz é razão, propósito. A voz na fala aponta uma única direção: Cristo, como dizem as Escrituras. A voz da fala é a Palavra de Deus.