Onde os Valores?

“Não mude de lugar os antigos marcos que limitam as propriedades e que foram colocados por seus antepassados.” – Provérbios 22:28

“Coloque marcos e ponha sinais nas estradas, preste atenção no caminho que você trilhou”. – Jeremias 31:21

De que falam estes textos? Para onde nos podem levar?

Creio que nos forçam a pensar em compromissos, votos, história, tradição no bom sentido da palavra, e também na contramão de abrir mão de valores aprendidos a favor da novidade, do inovar para atrair.

Por que?

Frequentemente sou abordado por líderes jovens, assustados por entenderem ter diante de si desafios que lhes parecem intransponíveis pela igreja hoje, em especial na condução da vida moral de crianças, adolescentes e jovens, por conta das leis que nos estão sendo impingidas no terreno da sexualidade e da derrubada de valores morais que por séculos foram preconizados pela confissão evangélica: pureza na vida sexual, abstinência de envolvimentos em festas escusas, identidade de gênero e sua proposta maior que é a liberação da homossexualidade para ser vivida como relação inquestionável diante de prerrogativas da Revelação escrita da vontade de Deus.

Sob temor de taxações e perseguições via mídia, de serem apontados como radicais, retrógados, contraventores, e mais: assustados quanto a como orientar as vítimas bombardeadas por tão acirrado ataque das mídias das quais se servem nossos governantes e suas novas leis, ficam aturdidos e me questionam: “O que diremos a nossos filhos? Como ensinaremos? Que mensagem podemos passar como igreja dentro desta geração e novos conceitos sociais”?

São dúvidas pertinentes.

Temos desafios no mundo desta pós-modernidade que parecem novos e por isso parecem exigir novas abordagens, nova roupagem, novo discurso. Alguns se confundem e se sentem perdidos, achando que precisam reciclar sua confissão e o pensamento acerca dos valores que lhes foram ensinados na fé. Especialmente diante de um sistema que desafia os valores morais bíblicos que aprendemos e com os quais nos comprometemos. Às vezes parece que nosso discurso está desafinado, que temos de “afinar nossas enxadas nas limas dos filisteus”.

Será que de fato os desafios que nos cercam nesta geração são maiores ou piores do que aqueles dos primórdios da igreja? E as gerações dos dias de Ló? E as gerações dos cristãos da Roma pagã e devassa do primeiro século desta era, onde “anormal”, entre outras coisas era não viver em orgias e manter um relacionamento com uma única e mesma pessoa, monogâmico e heterossexual?

Como eram os dias do século XIX entre os quais surge a teoria evolucionista que com pretensão de ciência expunha como ridícula a doutrina criacionista da Bíblia? E os dias do fim do século XIX e início do XX com o surgimento da teoria psicanalítica desafiando o conceito bíblico de pecado e decidindo que não há pecado no homem? Não estava ali a igreja sendo acossada por essas correntes poderosas e que persistiram através dos decênios, até hoje?

Teríamos de afiar nossas ferramentas nessas limas? Ou a Igreja pode “guardar firme sua posição?”

Pensemos em Apocalipse 3:1-11. Aqui sobressaem dois grupos de cristãos: um, repreendido porque se deixou levar, e morreu espiritualmente. Outro, aplaudido porque manteve firme sua posição, apesar de ser fraco. E era fraco.

Isto não é um convite à acomodação, mas à inconformação e posicionamento, conforme preconiza Romanos 12: 1 e 2: “Portanto, irmãos, rogo pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Nossa sociedade, em cujo meio habita uma geração depravada e corrompida, conforme afirma a Palavra de Deus e de que somos testemunhas vivas, vai de mal a pior porque perdeu suas cercas, seus limites, valores referenciais que lhe davam rumo, ou um ponto de retorno para possibilidade de escape e acerto. A vida ensina que os lares bem constituídos são e sempre serão o lugar ao qual voltam os filhos, depois de esgotadas suas tentativas de acerto quando em desvios. Geralmente dizendo: “Como dizia minha mãe; meu pai me ensinou que…”

Nada têm a ganhar, ou antes se vêem altamente perdedores, aqueles lares, mesmo cristãos, que em nome de um liberalismo por “ser esclarecido e moderno”, sob medo de serem taxados como cerceadores que mantém cativos seus filhos, “soltam-nos” desamparados às ofertas nefandas das más companhias, para gemer o retorno de suas vidas devassas, estragadas e doentes moralmente, psiquicamente, distorcidas sexualmente, incapazes de encarar as responsabilidades siciais, vivendo relacionamentos instáveis, em constantes trocas, gerando filhos que não parternizam nem maternizam, via de regra deixando aos avós essas réplicas de seus estragos. Drogados, corrompidos, bêbados e desafeiçoados, longe do Deus de seus pais e muitas vezes às voltas com a lei que desrespeitam, em especial no trânsito, trazendo ônus financeiros a esses pais de que se fazem eternos dependentes, porque mal profissionais ou profissionais de nada. É um realismo triste de ser encarado e mais facilmente negado por desculpas ou transferência de culpa que só cabe aos lares que perderam tal função. E ainda perguntamos: quais lares desses advirão? O que nos reserva o futuro? Alguns dos lares de hoje são netos do liberacionismo hippie dos anos 1970. E que legado trouxeram para nossa sociedade de hoje?

A Igreja é esse lugar de esteio, mantendo bem elevada e sem discurso dúbio, a bandeira da retidão. Ela só precisa guardar o que tem. Não deve preocupar-se em abrir mão de seus valores antigos, mas como um lar solidamente edificado, manter essa sua posição que serve de norte, de referência, de modelo. Como ela fez quando viveu os tremendos desafios do passado, acima elencados. Alguém, alguma instituição neste caos, precisa destoar dele pelo que é e tem, apenas mantendo sua posição inegociável, como aquela que “não se amolda ao esquema deste século,” no dizer do apóstolo Paulo, e esta deve continuar sendo a Igreja de Cristo, em especial nos lares dos quais é formada

Estrela no Mundo

O título acima cai em lugar comum à força da mídia que investe no show business para dizer de pessoas que se projetam, em especial nas artes, e que se tornam ícones, admiradas e aplaudidas, a quem todos querem imitar ou cujo triunfo invejam.

Mas quanto a nós, pretendemos dar a ele a conotação que está circunscrita à nossa vida espiritual, como crentes em Cristo.

Mesmo neste terreno, há aqueles que sob influência forte do outro, pensam nesse estrelismo que descamba em sucesso sob holofotes da fama, vistos como suprassumos da fé. Em especial o chamado mundo gospel, está cheio dessas “estrelas”.

Voltando ao propósito, nosso tema flui a partir do texto de Filipenses 2:12-16: “Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele. Façam tudo sem queixas nem discussões, para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo firmemente a palavra da vida…”
Há uma proposta, que aponta para o alvo do Evangelho em nossas vidas: “que venhamos a tornar-nos…filhos de Deus inculpáveis…no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual brilhemos como estrelas no universo”.

Chamo sua atenção para a metáfora criada pelo apóstolo: “brilhar como estrelas no mundo, ou no universo”. Como elas brilham? É um brilho ofuscante? Não. Só o do sol. As demais estrelas sequer iluminam. Seu brilho, no entanto, se destaca na escuridão da noite, e serve para: dar beleza, identificar o corpo que brilha, e dar norte, rumo; servem de guia. Eram o “mapa” marítimo dos antigos navegadores, suficiente para nortear navegações que efetivaram descobertas e conquistas. Ainda hoje há navegantes que delas se servem, ou nômades nos desertos. Mas não iluminavam. Nem Paulo pretendeu dizer que esse é o propósito de nossa manifestação neste mundo, que em Efésios 6 ele classificou como tenebroso.

Não fomos chamados para ser luz que ofusca, que chama a atenção. Antes, o texto, na força da metáfora de que o apóstolo se serviu, indica que nosso posicionamento em meio à nossa geração, que é constituída inclusive por nossos colegas, amigos e parentes, é de filhos de Deus, daí não imiscuídos na culpa, na corrupção e depravação que sinalizam o “modus operandi” de nosso tempo, e portanto, inculpáveis e irrepreensíveis, ou não mancomunados; mas diferenciados entre os iguais. Posicionamento dos diferenciais.

O que se destaca na escuridão da noite sem nuvens? Estrelas que brilham! E são percebidas porque brilham. Podemos nada saber a respeito delas, isoladas ou consteladas, mas as identificamos como estrelas, unicamente porque brilham.

Apenas sendo destacados por um brilho que no texto é produto do “desenvolvimento da salvação como vidas que temem e tremem” diante de Deus (v.12); esvaziados de “queixumes e brigas” (v.14), porque “retêm com firmeza a palavra da vida” (v.16).

Assim, no dizer do apóstolo fulguramos como luzeiros, como pequenos brilhos de estrelas na escuridão do espaço, visíveis por isso mesmo, e servindo de referência a quantos as olhem, desde que para tanto ergam o olhar.

Esta linguagem lírica encontra paralelo sinonímico em outra, da pena do mesmo Paulo, quando escrevendo a Timóteo disse: “Torna-te modelo para os fiéis…”

Há trevas ao derredor. Brilhe! Permita-se ser percebido pela diferença!