Sem Chance

Era Daví um jovem tenro, inexperiente em batalhas, destreinado nas artes da guerra, habituado à passividade da vida campesina, tocando ovelhas nas campinas. A vida lhe depara um monstro filisteu, gigante em seus quase três metros de altura, diante de quem o tenro rapaz parecia metade de gente, desarmado, ao passo que o filisteu, de alto a baixo protegido por couraça, trazia armas capazes de despedaçar os mais treinados oponentes. Daví, com pedras nas mãos e nada mais, confronta-se com ele para duelar em campo aberto. Sem chance.

Josafá, rei de Israel, foi informado de que três exércitos inimigos marchavam contra sua cidade, poderosos e sedentos de conquista, devidamente reforçados por mercenários que matavam pelo lucro. O rei passa em revista seu exército: nenhum soldado. Homem algum com uma arma na mão. Apenas um bando de homens vestidos de linho, os sacerdotes de Deus, em cujas mãos a única arma eram instrumentos de sopro, suas trombetas de prata. Partiram em direção ao mar de homens de guerra, em campo aberto. Sem chance.

O tremente Gideão com apenas trezentos homens armados de espada, trombeta e botijas de barro, sai para enfrentar 135 mil invasores midianitas montados em seus camelos, armados e prontos para devastar terras e homens. Sem chance.

O velho Pedro, apóstolo, preso à parede por algemas e correntes, no fundo de uma prisão real, vigiado por dezesseis soldados insones e armados, aguardava o raiar da manhã para ser levado à morte pela espada de Herodes, o rei. O único livramento seria fugir altas horas da noite. Sem chance.

O que poderia esperar Moisés, guiando um milhão e seiscentos mil homens sem armas, os quais ainda tinham de auxiliar mulheres, idosos e crianças, tocar o gado e empurrar carroças, quando um exército incontável e ágil de egípcios surge-lhes em perseguição assassina, e a rota de fuga possível, sem contar os percalços da corrida, acabava nas águas da praia? Sem chance.

O que poderia Elias, profeta, sem opulência nem patrocínio, diante da exibição de religiosidade ajaezada com pompa e circunstância, patrocinada pelo poder público, convincente por seu aparato como representante de um deus verdadeiro, ao passo que ele nem vestes sacerdotais trazia para pregar a realidade de um Deus Vivo que vivia oculto, sendo ele só e incógnito? Sem chance.

O que podiam esperar Paulo e Silas, missionários, lançados ao fundo de uma prisão de segurança máxima, costas lanhadas por chibatas e pés trancafiados em troncos, tendo como um único destino condenação e execução? Sem chance.

Todavia, cada um deles, em cada circunstância, conhecia a solene e infalível verdade que apregoa: “Mas o Senhor está comigo como forte guerreiro. Por isso tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão” (Jeremias 20:11). Portanto, sem chance para Golias, para os amalequitas, midianitas, sentinelas herodianas, soldados de Faraó, quatrocentos profetas de Baal, ou prisão escusa em Filipos. Sem chance para vencer Aquele que batalha pelos que Nele confiam. Sem chance para os que O desafiam e que perseguem Seu povo, sem saber que quem nesse povo toca, toca na menina dos olhos de Deus.