Casa Reformada

Um vizinho nosso, sr. Simplício, vivia com sua família em uma casa muito grande e antiga, por várias décadas. Ao longo dos anos, a casa foi desgastando e exigindo reformas. Além disso, uma empresa veterana na área de construções e reformas, de serviços ampla e vastamente alardeados por marketing poderoso, ofereceu-se para assumir a contratação da reforma geral. Ele aquiesceu, também porque não lhe parecia restar outra alternativa. Em pouco tempo, em lugar de lhe devolverem uma casa reformada e nova, destruiram a que ele tinha, da forma mais desastrosa possível. Acrescentaram ao mal da incompetência, a tragédia, e um incêndio destruiu parte da casa em reforma.

Fomos consolá-lo. Perguntei o que ele esperava fazer, uma vez que não tinha a casa no seguro. Procurei saber se ele tinha outra alternativa, se insistiria com aquela empresa construtora a fim de que dessem conta do desastre perpetrado. Ele me interrompeu e disse: Meu nome é Simplício, meu senhor, e meu sobrenome é Inteligente. Jamais quero ver aquela gente sequer perto do que restou do meu patrimônio. Vou procurar outra empresa que tenha novos técnicos a me oferecer.

Ele está absolutamente certo. Seria inconsequência e falta de inteligência insistir com uma empresa que não só o arruinou quanto provou ser incompetente pela pior via, a do desastre total.

Em outubro deste ano, nós teremos a mesma oportunidade do sr. Simplício, de mudar de “técnicos” para a reforma do país que foi levado ao caos. Não podemos mudar de empresa, como ele (só temos um Congresso, um Senado, um Planalto e os palácios de governo), mas podemos mudar os “técnicos” que lá dentro estão, dando lugar à esperança que toma o aval da inteligência. É hora de demitir os que nos arruinam, e pretender “empregar” pelo voto inteligente, qualquer que possa nos levar a crer que poderá trabalhar melhor que os outros. É hora de demitir essa gente. Vote inteligente. Vote como crente!

O Crente o Zodíaco

Em pleno século XXI ainda nos deparamos com cristãos que se deixam arrastar e influenciar por superstições de cunho pagão e ocultista.

O zodíaco com os prognósticos do cotidiano é tão popular através da lábia dessa miríade de astrólogos e astrólogas infestando a mídia que até mesmo crentes incautos dão-lhe atenção e se permitem influenciar.

A origem do zodíaco remonta ao tempo em que a astrologia estava fundida à astronomia. Tão antiga que traz registros do século XIII a.c. Muito influente em especial entre os caldeus do sétimo século a.c., ela prevaleceu como ciência mística, que se servia também dos conceitos da matemática, e como ciência prevaleceu até o século XVII de nossa era, ao tempo de Kepler, a partir de quem dela se separou a astronomia, deixando- a confinada à observação da suposta influência das estrelas sobre a vida e o cotidiano dos seres humanos, desde o nascimento de cada indivíduo. E como consequência, com “previsão” de desdobramentos quanto a eventos históricos.

Ao tempo dos caldeus, a astrologia era uma arte muito desenvolvida e em alta, patrocinada pelos soberanos das civilizações. Ainda os césares romanos tinham nela sua carta-consulta para agendar suas guerras. Os caldeus (cujo termo se tornou genérico para astrólogos), então cumpriam um papel correlato ao dos profetas dos dias dos reis de Israel, com a abissal lacuna de que aqueles se serviam da adivinhação, enquanto estes, do Espírito de Deus que sabe todas as coisas.

Não sei explicar o que se passa na cabeça de crentes que consultam ou dão crédito à consulta aos astros, além da necessidade de ter visibilidade prévia de seus atos e decisões, em substituição à fé e à esperança (e à Verdade!), mas sei com certeza, que trilham por uma via pagã, eivada de erros e de acesso franqueado aos agentes das trevas.

Nos anos 1970, em Niterói, RJ, surgiu entre os evangélicos uma falsa profetiza que arrastou ao erro muita gente com sua elaboração do horóscopo bíblico. Hoje encontramos alguns filhos de Deus incluindo em seu vocabulário uma terminologia aproximada quando falam em “alto ou baixo astral”.

No mínimo pode-se dizer quanto aos que se deixam levar, que acreditam em sortilégios e na suposta influência dos corpos celestes sobre seus próprios destinos. Se não for uma forma mais “elevada” de animismo, isto não passa de paganismo puro e simples. Obscurecimento da fé pela superstição.

O fato de termos uma narrativa bíblica apontando astrólogos que pela visão de uma estrela deduziram que um rei estava nascendo na Judeia (Mateus 2), em nada valida tal prática como verdadeira ou aprovada por Deus. Vale lembrar que Deus Se serviu de instrumentos nada apropriados para Se comunicar, ao tempo em que o Seu Espírito ainda não habitava na Igreja, para comunicar Sua vontade. Até uma mula foi usada para advertir um profeta, que sendo falso profeta, por sua vez foi usado por Deus para proferir verdades acerca de Israel: Balaão. Isso não resultou em culto às mulas nem fez delas oráculos divinos em nenhuma seita do mundo, nem depois, nem hoje. Acresça-se o fato que, no que tange aos astrólogos dos dias de Cristo, a narrativa bíblica deixa claro que a tal estrela avistada, era um recurso sob controle e serventia de Deus, que Se imiscuiu assim nas lides daqueles homens para Se comunicar. A estrela em foco, foi uma aparição provocada e sob controle divino. De valor semelhante à pomba que sobre Jesus desceu, no Seu batismo, para sinalizar sua autenticidade divina, vista e tida como uma teofania atribuída ao Espírito Santo.

Deus Se revelou em sonhos a pagãos como Faraó, Nabucodonozor, a mulher de Pilatos e até mesmo aos astrólogos quando retornavam de Belém para sua terra, e desta feita não olharam para as estrelas a fim de terem uma direção. Nem por isso nenhum deles foi estabelecido como oráculo divino nem suas práticas religiosas validadas.

A astrologia, com toda a sua pretensão científica ancorada nos primórdios de sua história, e em especial no seu reducionismo de zodíaco ocidental ou oriental, não passa de um sistema pagão, enganoso, do qual as trevas podem se servir para manter sob cativeiro de superstição aqueles para quem a fé e a Palavra de Deus não são suficientes à sua experiência espiritual.

Há uma palavra específica de Deus, condenatória, acerca da astrologia de que se servia Babilônia e seu povo, onde Ele a equivale à feitiçaria, e ela nos serve de alerta e convite ao temor ao Seu Nome:

“Continue, então, com suas palavras mágicas de encantamento e com suas muitas feitiçarias, nas quais você tem se afadigado desde a infância. Talvez consiga, talvez provoque pavor.
Todos os conselhos que você recebeu a deixaram extenuada! Deixe aos astrólogos se apresentarem, aqueles fitadores das estrelas que fazem predições de mês a mês, que eles a salvem daquilo que está vindo sobre você; sem dúvida eles são como restolho; o fogo os consumirá. Eles não podem nem mesmo salvar-se do poder das chamas. Aqui não existem brasas para aquecer ninguém; não há fogueira para a gente sentar-se ao lado.
Isso é tudo o que eles podem fazer por você, esses com quem você se afadigou e com quem teve negócios escusos desde a infância. Cada um deles prossegue em seu erro; não há ninguém que possa salvá-la.” – Isaías 47: 12-15.

 

Sem Chance

Era Daví um jovem tenro, inexperiente em batalhas, destreinado nas artes da guerra, habituado à passividade da vida campesina, tocando ovelhas nas campinas. A vida lhe depara um monstro filisteu, gigante em seus quase três metros de altura, diante de quem o tenro rapaz parecia metade de gente, desarmado, ao passo que o filisteu, de alto a baixo protegido por couraça, trazia armas capazes de despedaçar os mais treinados oponentes. Daví, com pedras nas mãos e nada mais, confronta-se com ele para duelar em campo aberto. Sem chance.

Josafá, rei de Israel, foi informado de que três exércitos inimigos marchavam contra sua cidade, poderosos e sedentos de conquista, devidamente reforçados por mercenários que matavam pelo lucro. O rei passa em revista seu exército: nenhum soldado. Homem algum com uma arma na mão. Apenas um bando de homens vestidos de linho, os sacerdotes de Deus, em cujas mãos a única arma eram instrumentos de sopro, suas trombetas de prata. Partiram em direção ao mar de homens de guerra, em campo aberto. Sem chance.

O tremente Gideão com apenas trezentos homens armados de espada, trombeta e botijas de barro, sai para enfrentar 135 mil invasores midianitas montados em seus camelos, armados e prontos para devastar terras e homens. Sem chance.

O velho Pedro, apóstolo, preso à parede por algemas e correntes, no fundo de uma prisão real, vigiado por dezesseis soldados insones e armados, aguardava o raiar da manhã para ser levado à morte pela espada de Herodes, o rei. O único livramento seria fugir altas horas da noite. Sem chance.

O que poderia esperar Moisés, guiando um milhão e seiscentos mil homens sem armas, os quais ainda tinham de auxiliar mulheres, idosos e crianças, tocar o gado e empurrar carroças, quando um exército incontável e ágil de egípcios surge-lhes em perseguição assassina, e a rota de fuga possível, sem contar os percalços da corrida, acabava nas águas da praia? Sem chance.

O que poderia Elias, profeta, sem opulência nem patrocínio, diante da exibição de religiosidade ajaezada com pompa e circunstância, patrocinada pelo poder público, convincente por seu aparato como representante de um deus verdadeiro, ao passo que ele nem vestes sacerdotais trazia para pregar a realidade de um Deus Vivo que vivia oculto, sendo ele só e incógnito? Sem chance.

O que podiam esperar Paulo e Silas, missionários, lançados ao fundo de uma prisão de segurança máxima, costas lanhadas por chibatas e pés trancafiados em troncos, tendo como um único destino condenação e execução? Sem chance.

Todavia, cada um deles, em cada circunstância, conhecia a solene e infalível verdade que apregoa: “Mas o Senhor está comigo como forte guerreiro. Por isso tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão” (Jeremias 20:11). Portanto, sem chance para Golias, para os amalequitas, midianitas, sentinelas herodianas, soldados de Faraó, quatrocentos profetas de Baal, ou prisão escusa em Filipos. Sem chance para vencer Aquele que batalha pelos que Nele confiam. Sem chance para os que O desafiam e que perseguem Seu povo, sem saber que quem nesse povo toca, toca na menina dos olhos de Deus.

Onde os Valores?

“Não mude de lugar os antigos marcos que limitam as propriedades e que foram colocados por seus antepassados.” – Provérbios 22:28

“Coloque marcos e ponha sinais nas estradas, preste atenção no caminho que você trilhou”. – Jeremias 31:21

De que falam estes textos? Para onde nos podem levar?

Creio que nos forçam a pensar em compromissos, votos, história, tradição no bom sentido da palavra, e também na contramão de abrir mão de valores aprendidos a favor da novidade, do inovar para atrair.

Por que?

Frequentemente sou abordado por líderes jovens, assustados por entenderem ter diante de si desafios que lhes parecem intransponíveis pela igreja hoje, em especial na condução da vida moral de crianças, adolescentes e jovens, por conta das leis que nos estão sendo impingidas no terreno da sexualidade e da derrubada de valores morais que por séculos foram preconizados pela confissão evangélica: pureza na vida sexual, abstinência de envolvimentos em festas escusas, identidade de gênero e sua proposta maior que é a liberação da homossexualidade para ser vivida como relação inquestionável diante de prerrogativas da Revelação escrita da vontade de Deus.

Sob temor de taxações e perseguições via mídia, de serem apontados como radicais, retrógados, contraventores, e mais: assustados quanto a como orientar as vítimas bombardeadas por tão acirrado ataque das mídias das quais se servem nossos governantes e suas novas leis, ficam aturdidos e me questionam: “O que diremos a nossos filhos? Como ensinaremos? Que mensagem podemos passar como igreja dentro desta geração e novos conceitos sociais”?

São dúvidas pertinentes.

Temos desafios no mundo desta pós-modernidade que parecem novos e por isso parecem exigir novas abordagens, nova roupagem, novo discurso. Alguns se confundem e se sentem perdidos, achando que precisam reciclar sua confissão e o pensamento acerca dos valores que lhes foram ensinados na fé. Especialmente diante de um sistema que desafia os valores morais bíblicos que aprendemos e com os quais nos comprometemos. Às vezes parece que nosso discurso está desafinado, que temos de “afinar nossas enxadas nas limas dos filisteus”.

Será que de fato os desafios que nos cercam nesta geração são maiores ou piores do que aqueles dos primórdios da igreja? E as gerações dos dias de Ló? E as gerações dos cristãos da Roma pagã e devassa do primeiro século desta era, onde “anormal”, entre outras coisas era não viver em orgias e manter um relacionamento com uma única e mesma pessoa, monogâmico e heterossexual?

Como eram os dias do século XIX entre os quais surge a teoria evolucionista que com pretensão de ciência expunha como ridícula a doutrina criacionista da Bíblia? E os dias do fim do século XIX e início do XX com o surgimento da teoria psicanalítica desafiando o conceito bíblico de pecado e decidindo que não há pecado no homem? Não estava ali a igreja sendo acossada por essas correntes poderosas e que persistiram através dos decênios, até hoje?

Teríamos de afiar nossas ferramentas nessas limas? Ou a Igreja pode “guardar firme sua posição?”

Pensemos em Apocalipse 3:1-11. Aqui sobressaem dois grupos de cristãos: um, repreendido porque se deixou levar, e morreu espiritualmente. Outro, aplaudido porque manteve firme sua posição, apesar de ser fraco. E era fraco.

Isto não é um convite à acomodação, mas à inconformação e posicionamento, conforme preconiza Romanos 12: 1 e 2: “Portanto, irmãos, rogo pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Nossa sociedade, em cujo meio habita uma geração depravada e corrompida, conforme afirma a Palavra de Deus e de que somos testemunhas vivas, vai de mal a pior porque perdeu suas cercas, seus limites, valores referenciais que lhe davam rumo, ou um ponto de retorno para possibilidade de escape e acerto. A vida ensina que os lares bem constituídos são e sempre serão o lugar ao qual voltam os filhos, depois de esgotadas suas tentativas de acerto quando em desvios. Geralmente dizendo: “Como dizia minha mãe; meu pai me ensinou que…”

Nada têm a ganhar, ou antes se vêem altamente perdedores, aqueles lares, mesmo cristãos, que em nome de um liberalismo por “ser esclarecido e moderno”, sob medo de serem taxados como cerceadores que mantém cativos seus filhos, “soltam-nos” desamparados às ofertas nefandas das más companhias, para gemer o retorno de suas vidas devassas, estragadas e doentes moralmente, psiquicamente, distorcidas sexualmente, incapazes de encarar as responsabilidades siciais, vivendo relacionamentos instáveis, em constantes trocas, gerando filhos que não parternizam nem maternizam, via de regra deixando aos avós essas réplicas de seus estragos. Drogados, corrompidos, bêbados e desafeiçoados, longe do Deus de seus pais e muitas vezes às voltas com a lei que desrespeitam, em especial no trânsito, trazendo ônus financeiros a esses pais de que se fazem eternos dependentes, porque mal profissionais ou profissionais de nada. É um realismo triste de ser encarado e mais facilmente negado por desculpas ou transferência de culpa que só cabe aos lares que perderam tal função. E ainda perguntamos: quais lares desses advirão? O que nos reserva o futuro? Alguns dos lares de hoje são netos do liberacionismo hippie dos anos 1970. E que legado trouxeram para nossa sociedade de hoje?

A Igreja é esse lugar de esteio, mantendo bem elevada e sem discurso dúbio, a bandeira da retidão. Ela só precisa guardar o que tem. Não deve preocupar-se em abrir mão de seus valores antigos, mas como um lar solidamente edificado, manter essa sua posição que serve de norte, de referência, de modelo. Como ela fez quando viveu os tremendos desafios do passado, acima elencados. Alguém, alguma instituição neste caos, precisa destoar dele pelo que é e tem, apenas mantendo sua posição inegociável, como aquela que “não se amolda ao esquema deste século,” no dizer do apóstolo Paulo, e esta deve continuar sendo a Igreja de Cristo, em especial nos lares dos quais é formada

Estrela no Mundo

O título acima cai em lugar comum à força da mídia que investe no show business para dizer de pessoas que se projetam, em especial nas artes, e que se tornam ícones, admiradas e aplaudidas, a quem todos querem imitar ou cujo triunfo invejam.

Mas quanto a nós, pretendemos dar a ele a conotação que está circunscrita à nossa vida espiritual, como crentes em Cristo.

Mesmo neste terreno, há aqueles que sob influência forte do outro, pensam nesse estrelismo que descamba em sucesso sob holofotes da fama, vistos como suprassumos da fé. Em especial o chamado mundo gospel, está cheio dessas “estrelas”.

Voltando ao propósito, nosso tema flui a partir do texto de Filipenses 2:12-16: “Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele. Façam tudo sem queixas nem discussões, para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo firmemente a palavra da vida…”
Há uma proposta, que aponta para o alvo do Evangelho em nossas vidas: “que venhamos a tornar-nos…filhos de Deus inculpáveis…no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual brilhemos como estrelas no universo”.

Chamo sua atenção para a metáfora criada pelo apóstolo: “brilhar como estrelas no mundo, ou no universo”. Como elas brilham? É um brilho ofuscante? Não. Só o do sol. As demais estrelas sequer iluminam. Seu brilho, no entanto, se destaca na escuridão da noite, e serve para: dar beleza, identificar o corpo que brilha, e dar norte, rumo; servem de guia. Eram o “mapa” marítimo dos antigos navegadores, suficiente para nortear navegações que efetivaram descobertas e conquistas. Ainda hoje há navegantes que delas se servem, ou nômades nos desertos. Mas não iluminavam. Nem Paulo pretendeu dizer que esse é o propósito de nossa manifestação neste mundo, que em Efésios 6 ele classificou como tenebroso.

Não fomos chamados para ser luz que ofusca, que chama a atenção. Antes, o texto, na força da metáfora de que o apóstolo se serviu, indica que nosso posicionamento em meio à nossa geração, que é constituída inclusive por nossos colegas, amigos e parentes, é de filhos de Deus, daí não imiscuídos na culpa, na corrupção e depravação que sinalizam o “modus operandi” de nosso tempo, e portanto, inculpáveis e irrepreensíveis, ou não mancomunados; mas diferenciados entre os iguais. Posicionamento dos diferenciais.

O que se destaca na escuridão da noite sem nuvens? Estrelas que brilham! E são percebidas porque brilham. Podemos nada saber a respeito delas, isoladas ou consteladas, mas as identificamos como estrelas, unicamente porque brilham.

Apenas sendo destacados por um brilho que no texto é produto do “desenvolvimento da salvação como vidas que temem e tremem” diante de Deus (v.12); esvaziados de “queixumes e brigas” (v.14), porque “retêm com firmeza a palavra da vida” (v.16).

Assim, no dizer do apóstolo fulguramos como luzeiros, como pequenos brilhos de estrelas na escuridão do espaço, visíveis por isso mesmo, e servindo de referência a quantos as olhem, desde que para tanto ergam o olhar.

Esta linguagem lírica encontra paralelo sinonímico em outra, da pena do mesmo Paulo, quando escrevendo a Timóteo disse: “Torna-te modelo para os fiéis…”

Há trevas ao derredor. Brilhe! Permita-se ser percebido pela diferença!

Vai, Nesta Tua Força

Juízes 6:1- 7:16.

Este é o brado que precisa ser ouvido: Juízes 6:14 – “Vai nesta tua força” ou: “Com a força que tu tens”!
Como é bom saber que o personagem vocacionado não era Sansão, nem mesmo um Daví. Estava mais para Paulo, Tomé, Moisés, eu, você, nós…
O que temos aqui?
Uma demanda que requeria coragem, prudência e tomada de posição. O que ocorria no entorno e contexto de Gideão é definido no texto como opressão, devastação, bloqueio do direito e da vida. Os inimigos do povo de Deus lhe barravam a liberdade e investiam contra sua dignidade e honra. (6: 4 e 5). Não temos, cada um de nós, desafio semelhante no curso de nossa vida neste mundo tenebroso?

O homem escolhido podia ser qualquer outro, debaixo da mesma angústia. Moisés, quando chamado, propôs a Deus que o trocasse por outro mais capaz. Gideão nos lembra Moisés. A meu ver este é o primeiro referencial de que Deus acertou com a escolha. Pois, via de regra, os escolhidos não entendem a razão da escolha, assustam-se, intimidam-se, até fogem. Diferente da situação que Jeremias registra: “Não chamei esses profetas, no entanto eles foram correndo” (Jeremias 23:21).

Gideão recebeu uma visitação de um mensageiro celeste que lhe disse: Vá! Deus te escolheu para realizar esta façanha hercúlea. Mas o mensageiro pareceu equivocado, a Gideão. “Poderoso guerreiro”, ele disse. Gideão deve ter olhado ao redor de si. Então o “poderoso guerreiro” se anuncia: Ai, Senhor meu! A resposta esperada não deveria ser, “eis-me aqui?” Então acontece o segundo equívoco: “Vai nesta tua força”. Gideão esclarece as dimensões do que ele entende como “sua força”: Seu arrazoado significou: “Meu clã é o mais pobre, e eu sou o menor dentre meus setenta irmãos. Há outros 70 maiores do que eu! E minha tribo nem inteira é. É apenas uma meia-tribo!” Traduzindo: Pequeno entre os menores dos que são metade. “Onde está a força de que tu falas?”

Mas para ir, era necessária força. Vamos pensar nela:

VAI NESTA TUA FORÇA.
O mensageiro esclareceu:

(a) Porque sou Eu que estou mandando! (6:14)
Ah! Quanta solução e poder esta palavra contém: Eu dou conta, Gideão. Eu assumo, Gideão. Eu me responsabilizo, Gideão. E tanto mais…
(b) Porque eu sou contigo! (6:15).
Quanto pode significar? Eu passo adiante! Você será meu escudeiro! Eles Me verão em você e com você! Sou seu aliado. Estamos juntos nisso.
E: Estarei disponível para você. Com tudo que Sou; com tudo que tenho.
Há uma condição: Rompe os laços, queima as pontes!
Que para Gideão significou derrubar o ídolo do lar, da casa de seu pai e do povo entre o qual vivia.

AS DIMENSÕES DA FORÇA

– Foi revestido do Espírito (6:34), mas ainda que sob o Seu poder, mantinha o medo (7:10). Deus sabia que ele estava com medo.
– Procura garantir-se: diante de Deus – os sinais do novelo e orvalho; diante do inimigo e a seus próprios olhos:
– 32 mil homens para lutar. “Qualquer um serve, preciso de muita gente comigo….”
Deus reduz tudo a 1%. Diante de que tamanho de inimigos? 135 mil homens, montados em camelos que não se podia contar! Então é melhor esquecer os 1%… porque é Deus quem faz, 1% basta!

A ESTRATÉGIA DO ENVIADO

Depois que Deus o prepara enviando-lhe a palavra através da boca do próprio ímpio, agora firmado na promessa de que toma posse (7:10 e 11), Gideão entende que:
Porque a força é de Deus, é suficiente:
– Estar lá;
– Vasos de barro com fogo dentro, prontos a serem quebrados;
– Trombetas de proclamação.
– Espadas. Estas são as armas de guerra, e são quanto basta:

– a trombeta que avisa;
– Os vasos com tochas para serem quebrados;
– A espada para o ataque.

Vai nesta tua força!
– sem cautelas; sem garantias; sem poderes inerentes.
Apenas pronto a confiar, obedecer e depender.

Fé, Cautela e Prudência

Juízes 6: 34-40.

Aqui está um tema que ainda confunde muitos crentes em Cristo e motiva outros a temeridades frustrantes no exercício de sua espiritualidade. Vamos tentar decifrá-lo o mais didaticamente possível, tomando por base justamente o texto histórico que o motiva.

A história é a do chamado de Gideão, o juiz de Israel para cuja narrativa a Bíblia reserva o maior espaço, acima mesmo de Sansão, que surgiu muitos anos depois e também ocupa largo espaço. Gideão julgou Israel por quarenta anos.

Tomado de fraquezas e medo dos povos opressores do oriente, Gideão se viu chamado por Deus para organizar um exército e desbaratá-los. O medo de Gideão prevalecia contra sua fé, a despeito da forma pouco comum como Deus lhe apareceu, semelhante somente a de Moisés e com proposta idêntica, chamando-o pelo nome, falando-lhe e dando provas de Quem o chamava, manifestando fogo e poder. Mesmo depois de se ver investido pelo Espírito de Deus, de tal forma que o sentido do verbo usado pelo narrador para descrever seu investimento significar literalmente, “totalmente vestido por”, ele ainda se vê fraco e temeroso diante da realidade do enfrentamento. E propõe a Deus que o fortaleça confirmando dois sinais por ele estabelecidos: do orvalho e o novelo de lã.

Alguns dos que lêem esta narrativa querem servir-se dela para colocar Deus à prova, porque a acham válida e pensam que Deus Se curvou a atender Gideão uma vez que cumpriu suas propostas. Deixam de perceber coisas significativas e paradoxais ali ocorrendo. Vamos a elas:

Gideão pensa que conseguiu o que queria através dos sinais propostos. Não. O que ocorreu foi Deus atender às proposições mas o resultado se provou inútil. Mais adiante, no verso 10 do capítulo 7, O Senhor identifica que Gideão continua com medo, e então é Deus Quem resolve a situação criando um estratagema para inspirar fé no coração de Seu escolhido, quando lhe manda descer ao arraial inimigo para ali receber uma mensagem que traduzia um sinal, dado não ao crente, mas ao ímpio. Em suma, o sinal eficaz é estabelecido por Deus Mesmo, não por Gideão.

Na verdade, aquela proposta de Gideão a Deus, que lhe parecia pôr Deus à prova, foi aceita porque Deus sim, colocou Gideão à prova. Deus mostrou a Seu escolhido que ele estava com medo. Foi Deus quem ali provou Gideão, ao mostrar a ele que agia segundo Sua promessa, quando lhe disse que Ele, Gideão, feriria o todo por um. Os midianitas e seus associados, seriam feridos como se fossem um só homem, por um só homem: o todo por um e o um pelo todo. O novelo sozinho no meio do todo, e a eira toda a favor do novelo sozinho.

Em outras palavras, o que nos parece a motivação de Gideão ao propor o sinal, era uma reação projetiva de sua verdadeira e encoberta vontade: o que ele buscava era que o sinal falhasse, e assim ele estaria descomprometido quanto ao desafio feito. Deus o prova, quando cumpre a proposta do sinal. Daí vermos adiante que o medo persistia, e somente mediante o sinal dado por Deus mesmo, o sonho do soldado midianita, é que a fé assomou ao coração de Gideão.

Alguns de nós caem na mesma cilada. Ao pedirem um sinal a Deus diante de um desafio ou expectativa, pensam que estão tendo fé. Mas nada disso. Apenas querem dar visibilidade ao que eu chamaria de cautela, e que em nome de uma defesa pessoal, esses mesmos chamam de prudência. Se o sinal falhar, vêem-se desobrigados a crer e outro tanto a insistir na demanda.

A fé dispensa sinais. E a fé não se serve de cautela. A prudência, outro tanto, é que se serve da fé. E a equação é esta: a cautela significa desconfiança, ou ausência de fé, logo, é carnal. A prudência, que é instrumento de sabedoria, logo, espiritual, administra a fé, da qual tomou posse.

Quando Gideão pede os sinais, ele está se servindo de cautela. Quando é ele quem recebe o sinal, no acampamento dos midianitas, ele investe na prudência, porque procura transmitir a seu pequeno exército a mesma coragem de que agora está imbuído, antes de partir para um plano estratégico de ataque, que não é nem mais nem menos que usar de prudência para desferir o ataque usando de recursos elaborados. Se examinarmos historicamente, veremos mil anos depois o rei Josafá partindo para um confronto semelhante, totalmente dependente da proposta de Deus, sem se servir de estratégia nem de armas, porque Deus lhe havia dito que naquele confronto eles nada teriam que fazer. Mas a Gideão disse Deus que ele feriria os midianitas como se fossem um só homem. Então uma vez tendo crido, ele usou de prudência.

A cautela se serve de meios para provar “se foi mesmo Deus quem disse” ou se a Palavra divina se cumprirá. No caso de Josafá, se ele quisesse usar de cautela com nome de prudência, ele armaria seus soldados, com a desculpa do famoso “pelo sim, pelo não”.

A prudência nos leva a procurar ajuda médica em casos de enfermidade grave ou simples, crendo que o processo curador tem em Deus e no Seu poder a garantia. A cautela investe toda a sua proposta nos recursos visíveis, sem espaço para a fé. A cautela não passa de imprudência, porque denuncia a desconfiança.

A prudência espera. A cautela desiste. A prudência aguarda a direção divina, a cautela determina o que Deus deve fazer, dirige a mão divina. A prudência administra a fé que confia em Deus, a cautela procura exercer o controle, para se sentir segura. A prudência avança; a cautela procrastina. A prudência assume atitudes em direção da promessa; a cautela precisa de evidências que lhe dêem garantia, porque prefere não enfrentar. A prudência é valente; a cautela é covarde.

Fomos convidados a crer conforme a proposta divina: “No teu Deus espera sempre”, ou, como disse o Senhor Jesus: “se creres, verás…”

A Missão Terapêutica da Igreja

Gostaria de avaliar esse viés da nossa missão como Igreja de Cristo, à luz do texto de Marcos 7: 31-35. Como não temos espaço para inscrever o texto, prefiro recordar seu assunto: A cura de um surdo-mudo, efetivada por Cristo Jesus.

O texto nos serve como ilustração da forma da Igreja poder cumprir sua missão terapêutica, porque fala de condições universais do ser humano sem Cristo. Esta forma, derivamos do trato de Jesus com o surdo-mudo, onde alguns movimentos eloquentes podem ser avaliados:

1- Jesus Se move para além da mera perspectiva humana. O v.32 aponta o fato de que havia o diagnóstico do senso comum e do desejo fantasístico: O óbvio, visto no fato de saberem que ele era surdo e mal podia falar. E a fantasia: que Ele lhe impusesse as mãos, porque as pessoas têm a tendência de padronizar os atos divinos. Esse doente figura para nós um possível tipo da realidade universal do homem sem Cristo: surdo para a Voz do Alto e com articulação deficitária quanto a expor-se aos outros. Fechado para ouvir, fechado para falar e fechando ouvintes para si.

E então Jesus nos evidencia os movimentos de uma terapia divina:
Ele exclui do geral para incluir em Si, no particular. Tira-o do senso comum, da via do espetáculo, do nivelamento mundano. Uma separação necessária, porque sempre foi próprio dEle chamar as pessoas para junto de Si. Nós, uma vez Igreja, precisamos aprender a fazer esse tipo de inclusão, onde oferecemos o que os demais não podem dar. Ao recolher o doente para junto de Si, Jesus faz um movimento terapêutico, que chamamos de acolhimento. É caro e raro.

2- Depois, o Senhor toca no cerne da questão, o ponto nevrálgico do problema: coloca Seus dedos nos ouvidos. Ali é por onde tudo entra, inclusive a fé, conforme aponta Romanos 10:17. Mas também a palavra de perdão, consolo, que cura. Também é por onde entra o que contamina, como o próprio Senhor preconizou, certa feita. Colocar os dedos nesse espaço de acesso, parece apontar para um posicionamento estratégico da Igreja no processo de curar, criando uma alternativa para o ouvir saudável.

3- Depura o ponto de contato externo: a língua. O toque da saliva na fala nos leva a pensar numa oferta de conteúdo inerente ao Senhor. De igual forma, a Igreja pode curar com aquilo que ela tem de mais íntimo, mais seu: o entendimento da Palavra Revelada. Tal como a saliva favorece o processo digestivo, e protege o
organismo contra vírus e bactérias, a Palavra que cura precisa ser ministrada sem teoria, mas como subproduto da experiência pessoal do ministrante, o discipulador, levando nisso seus conteúdos de vida com Deus.

4- Em seguida Jesus suspira, olhando para o céu. Toda a ação terapêutica é feita na dependência divina.

5- E por último, conduz a ação terapêutica com voz de autoridade: Abra-se! Esse homem vivia fechado em si. Não podia abrir-se no meio que lhe era próprio. Primeiro precisava abrir-se para Deus. Nesta palavra de comando imprime-se a Igreja terapêutica que sabe trazer a voz da libertação que a Verdade por ela proclamada, opera.

O v. 35 mostra que uma vez livre para ouvir, ele ficou apto para falar, assumindo a liberdade da missão comunitária de se comunicar ou comunicar a si mesmo.

Acredito que esse texto em Marcos nos evidencia a mais solene missão que podemos realizar através de nossa vida de fé: levar vidas a terem seus ouvidos abertos para Deus e para o seu semelhante. Esta é a missão terapêutica mais urgente em nosso devir cristão.

Quem Despreza o Dia das Pequenas Coisas ?

 

Muito longe do que pensam e cobiçam alguns, a vida que Jesus nos prometeu quando disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”, aponta para a simplicidade.

A contramão da simplicidade é a complexidade. Na simplicidade está o sabor e a verdadeira beleza. O sofisticado sabe a insosso. A simplicidade é recheada de leveza sem irresponsabilidade, enquanto a complexidade que tanto atrai e seduz, implica em descompromissos, em não dar conta, em inquietação e sobrecarga.

Se levarmos nossa fé pela via da contramão, contrataremos complicadores sempre, pretendendo que Jesus ande conosco por essas vias e nos socorra com refrigério, onde escapemos dos dissabores de nossas escolhas mal feitas, ditadas pelo fascínio do que parece locupletar, mas que em verdade só faz deixar-nos em falta. Ele não anda nesses desvios.

Pensam alguns que vida em abundância, por conta da associação desta palavra com o verbo ter, é ditada pelo edito do consumo, do possuir, do armazenar, do pagar para ver e ter, possuir igual e muito. Loucura!

A vida com Deus é permeada de coisas simples, porque Ele mesmo nos pretendeu simples, como disse o Senhor Jesus: “Sejam simples como as pombas…”

A simplicidade não acumula nem retém. Ela se satisfaz no pouco e no não complexo. Faz a opção mais sábia entre o suave e o áspero, preferindo o primeiro. Prefere o que traz menos apelativo, ao que está prenhe de propostas e ofertas.

A simplicidade é leve, porque carrega pouco. Busca o aroma natural e a cor não pintada. Contempla o rosto nu, autêntico, sem a falsa mensagem da maquiagem.

A simplicidade dita e interpreta a voz do coração, não da eloquência, por isso mesmo seu idioma é uma oração e sua fala soa como música. Por sinal que num só instrumento ela tira o som de uma orquestra inteira.

A vida abundante que Jesus nos ofereceu na fé, é simples, porque não investe no muito, mas naquilo que abundância traduz: plenitude.

Num tempo em que o mundo nos arrasta ao tanto de que não podemos dar conta, converta sua trilha ao trilho da vida simples: esvazie, desfaça, desacumule, fique leve! A vida terá mais sabor e beleza, pois haverá tempo para vivê-la.

À Sombra da Cruz

A Páscoa nos remonta à crucificação e morte de Cristo Jesus. Lemos os relatos nos quatro evangelhos dos momentos que cumpriram profecias milenares, e fecharam o ciclo de um plano redentivo elaborado desde a eternidade.

Muitos pregadores não resistem à oportunidade de falar sobre as palavras ditas por Jesus, derradeiras, desde o alto da cruz, no Gólgota. São contadas em sete, por todos. E de fato, estão plenas de significado, oferta de perdão, amor, cuidado e entrega.

Precisam ser reunidas a partir do relato de cada evangelho, pois não estão colocadas todas num só. Foram registradas conforme o propósito de cada escritor, de forma que há algumas que não se repetem noutros relatos.

Sabemos que à hora da crucificação, dentre os apóstolos, apenas João chegou junto à cruz. Os evangelhos relatam muitas mulheres que assistiam tudo de longe, e algumas que o faziam de perto, e entre elas João. São apontadas Maria, mãe de Jesus, a prima dela, Maria mãe de João, e Maria Madalena. Ao todo, o grupo não ia muito além de cinco ou seis pessoas. E eram doze, os apóstolos!

Mas o ponto em questão que abordo aqui é o fato de que todos os evangelistas narraram as palavras ditas na cruz. E acredito que elas lhes foram reportadas a partir desses observadores que junto da cruz estavam. Considerando-se que João, entre os evangelistas, teria sido o único a ouvir, admira que das “sete” palavras da cruz, ele tenha escolhido registrar somente três delas, dando destaque para aquela que o incluía pessoalmente e à própria mãe de Jesus.

E aqui temos algo sumamente importante: De todas as “palavras” da cruz, apenas uma foi endereçada em caráter pessoal, individualizada, conforme referido acima: “Mulher, eis aí o teu filho; filho, eis aí tua mãe”. E esta palavra aponta cuidado pessoal e particularizado que vai muito além em seus desdobramentos.

Quantos perderam ouvir por terem ficado vendo de longe!

Penso nos demais, sabedores a posteriori, que Jesus endereçou desde a cruz uma palavra pessoal a João. O que teria passado por suas cabeças? Teria algum
deles considerado em seu coração: “Se eu estivesse ali, ao alcance de Sua voz, que últimas palavras Ele teria dirigido a mim? O que teria ouvido? Como o entenderia?”

Percebe? Também nós, seguidores do Filho de Deus pela fé, alcançados na graça pela mensagem da cruz, podemos ouvir muito ou pouco, ou nada ouvir, a partir das distâncias que reservamos entre nós e a cruz do Salvador. E penso que a experiência de João nos ensina que, a despeito dos perigos que acarreta, a proximidade com a cruz resulta numa bênção sem superlativo que é ouvir o que Ele diz diretamente ao nosso coração, aquela palavra que só tem significado para nós. E que Ele envia somente aos que O seguem. Outros estavam por perto, mas não O seguiam. Nada ouviram, e do pouco que ouviram, quando ouviram, nada entenderam, pois disseram: “Eis que Ele clama por Elias”. Mas Jesus estava orando nas palavras do salmo 22:1. Já o ladrão ao lado, que nEle creu, O ouviu, e foi incluído!

O apóstolo Paulo afirma em I Coríntios 1:18 que a cruz tem uma mensagem. É necessário, para ouvi-la, acercar-nos dela. Foi ele mesmo quem afirmou: “Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo…” – Gálatas 6:14

Fala, que Ele te Escuta!

Ouvindo o Senhor a voz de um homem…” (Josué 10:14).

Esta é uma das mais solenes declarações da Bíblia acerca do trato do Deus Eterno conosco. É simplesmente admirável e surpreendente pensar que o Deus TodoPoderoso, criador de todas as coisas, coberto de glória e majestade, pára e Se ocupa em ouvir o ser humano em sua nulidade, elevando a Ele sua voz.

Outros textos corroboram esta sublime revelação: “…desde os céus o Senhor contemplou a terra, para ouvir o gemido dos presos…” (Salmos 102:19 e 20). E ainda: “Ó, Tu que escutas a oração , a Ti virá todo homem” (Salmos 65:2). Depois temos o Senhor Jesus afirmando: “Entra no teu aposento, fecha a tua porta e ora a teu pai que está em secreto…” (Mateus 6:6).

Consideremos o primeiro texto: É interessante saber que ele se refere a Josué, clamando a Deus e rogando por uma intervenção absurda. Tão absurda quanto impossível; suficiente para inibir qualquer pretensão de súplica. Não obstante, Deus não só o ouviu quanto atendeu, provando o que disse o Senhor Jesus: “Para Deus, nada é impossível”.

Isto é bastante para mover você a orar mais? Você já conversou hoje, com Deus?
Ele ouve você. Atenda ao apelo que a nosso favor Ele nos dirige dizendo: “…Faze- me ouvir tua voz…” (Cantares 2:14), e ao seu Deus, ore sempre.

A Força da Fraqueza

“…da fraqueza tiraram força”… – Hebreus 11: 34

Certa vez ministrava eu entre líderes, e os levei a pensar no poder da mensagem de Paulo aos coríntios quando disse que de boa vontade mais se gloriaria em suas fraquezas, porque nelas ele sabia que o poder de Deus se tornava perfeito. Chamei isto de a teologia da fraqueza, e lembro como reagiu mal a isso um dos líderes que, sendo psicólogo e habituado a ver o mundo pela equação “skinneriana” do estímulo-resposta- consequência, não podia conceber como um ser humano poderia comprazer-se em se saber fraco.

Esquecia-se aquele querido irmão, que Deus opera no mundo através de Sua sabedoria, antes do Seu poder. E na sabedoria de Deus, Ele escolhe os fracos, os que nada são; aqueles que por nada terem, estão abertos a se deixar usar pelo poder de Deus sem oferecer resistência ou concorrência alguma. Na história do trato divino com os homens, ao dar curso ao Seu propósito eterno, vêmo-Lo sempre entre o forte e o fraco, optando pelo segundo.

Quando chama Abraão, a quem escolhe para construir através dele um reino sacerdotal, não escolhe um Melquizedeque, seu contemporâneo e já sacerdote do Deus Vivo. Não. Escolheu o Abrão obscuro, pagão entre um povo pagão, um caldeu.

Quando chama Moisés, o grande legislador e líder de Israel, não Se detém em Sua escolha, a despeito de toda a argumentação deste quanto a ser incapaz, não saber falar, etc. Ele poderia ter escolhido Arão, o capaz.

Escolhe Jacó, usurpador, frágil, sempre dentro de casa, à sombra de Rebeca, sua mãe, em lugar do valente caçador Esaú.

Escolhe Gideão, que aflito grita para Ele: “Mas eu sou o menor da casa de meu pai.” E Deus lhe diz: “Vai nesta tua força”, que o próprio Gideão assumiu como fraqueza ou coisa de pouca monta.

Escolhe Débora, esposa, mãe, dona de casa, para comandar exércitos contra Sísera; no lugar do guerreiro Baraque, autoridade do povo.

Alguém diria: Mas Sansão era um guerreiro valente. Sim? Sem a força do Senhor temia até mesmo morrer de sede (Juízes 15:18). E tão fraco era que a sedução de uma mulher pagã deu-lhe cabo de sua valentia e força.

E lembremos o pequeno Daví, escolhido em lugar de seus irmãos guerreiros, altos e fortes.

Lembram o “colégio” apostólico? Um Tomé vacilante; um Judas traiçoeiro; um Mateus vil aos olhos do seu povo; um Pedro claudicante… E foi o próprio Jesus quem disse não ter vindo para chamar sãos ou justos. Chama um Zaqueu, uma Madalena, uma samaritana sem nome. Virtuoses? Longe disso! Quem se atreveria a formar um exército de virtudes a partir de tais caracteres!?

E Paulo? Ele próprio pasmo, verteu em gratidão a admiração por ter sido chamado de dentro de um contexto em que se vestia de perseguidor da Igreja, blasfemo, insolente e tal, para ser feito apóstolo e o mais solene doutrinador da Igreja que antes perseguiu.

Isto nunca mudou. Por isso mesmo com autoridade o apóstolo disse: “Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios e o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte” (I Coríntios 1:27).

Ele continua usando os fracos; os que nada têm, nada são; os que parecem menos preparados e aptos. Ele os transforma pelo Seu poder. Isto explica grande parte da escolha que nos fez. Todos os que Deus escolhe questionam em seu íntimo, como Moisés, a razão por que Ele não preferiu os “Arãos” conhecidos e melhor preparados. Já temos a resposta.

Não se surpreenda por Ele usar sua vida. É assim que Ele faz.

A Magia do Olhar

Os olhos falam. De maneira impressionante. São tão eloquentes quanto persuasivos. Falam mais que as palavras, muita vez antecipando-se ao discurso verbal, dando-lhe mais reforço ou servindo de referendo conclusivo a ele. Os olhos sorriem; repreendem; intimidam; refrigeram; traduzem alertas, sinalizam; transmitem alegria ou tristeza. “Os meus olhos se consomem de tristeza; fraquejam por causa dos meus adversários”. É a voz que o salmista dá ao seu olhar, no Salmo 6:7. Um pensamento popular afirma que eles são as janelas da alma. Na verdade os olhos expressam a personalidade. São de tal ordem identificadores dela que alguns os encobrem quando precisam passar desapercebidos sob certas circunstâncias. Ou, eles são expostos por peritos quando necessitam da identificação de um indigente por um amigo ou parente em caso de fatalidades.

Sem nos apercebermos tanto, passamos a vida conversando com os olhos alheios. Sempre procuramos contato visual quando nos aproximamos de alguém. Até os animais o fazem. Os seres vivos, em especial o ser humano, se comunicam inter-olhos, em todo o tempo. E quando alguns evitam contato visual no trato interpessoal, alguma coisa, via de regra, não vai bem. É o primeiro sinalizador que um terapeuta aponta num processo terapêutico: o contato visual. Mesmo quando estamos diante de um cego, nós nos dirigimos aos seus olhos sem luz, quando nos comunicamos com ele. E geralmente, se o ouvimos, temos a impressão de que ele fala por esses mesmos olhos sem brilho, ou fechados. Certa vez ouvi uma senhora, em sessão terapêutica, referir-se à severidade do seu pai, dizendo: “Ele nos batia com o olhar”.

Não sabemos qual fala teve o olhar de Jesus ao fixar os olhos do jovem rico, como narrado em Mateus 10:21, mas sabemos que foi suficientemente convincente para que seu observador dissesse: “Jesus, olhando para ele, o amou”.

Penso em qual mensagem Pedro ouviu, pelo olhar que Jesus deitou sobre ele, após havê-Lo negado três vezes! “Pedro respondeu: ‘Homem, não sei do que você está falando!’ Falava ele ainda, quando o galo cantou. O Senhor voltou-Se e olhou diretamente para Pedro” (Lucas 22:60,61). Acredito que seja uma impressão semelhante a de tantos outros homens e mulheres de Deus que a Bíblia revela terem vivido a sensação de estarem sob os olhos de Deus. A maioria deles testificando do conforto advindo desse olhar. A fé nos leva a olhar nos olhos de nosso Pai Celeste, e outro tanto a sentirmos sobre nós, o Seu olhar. Por isso um dia Agar, a escrava egípcia de Abraão, disse DEle: “Tu és o Deus que me vê” (Gênesis 16:13).

Nossos olhos são o primeiro veículo de percepção de estímulos externos, de que nos servimos, e é por meio deles, do que captam ao redor, que organizamos nossas respostas psico-físicas, respostas sensoriais. Acredito que seja por conta disso que a Palavra de Deus nos recomenda: “Não porei coisa injusta  diante de meus olhos” (Salmo 101:3) e ainda: “Os olhos são a candeia do corpo. Se seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz” (Mateus 6:22), disse o Senhor Jesus.

Onde fixarmos nossos olhos, é para lá que nos dirigiremos. Daí a suprema importância de deixarmo-nos guiar pelos olhos da fé, como a Palavra de Deus nos lembra: “Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos” (II Coríntios 5:7).

Ensaio: Essência do Testemunho

“Vocês são minhas testemunhas, declara o Senhor…Vocês são testemunhas de que eu sou Deus, declara o Senhor” (Isaías 43: 10 e 12).

“Ele lhes respondeu: ‘Não compete a vocês saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela Sua própria autoridade. Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas…” (Atos 1:8).

Desde os dias de Isaías Deus pretendeu ter no Seu povo um corpo completo de testemunhas de Sua divindade, diante de todas as nações. Em Isaías 49:6 Ele determinou que o Seu povo iria funcionar como luz em meio a um povo em trevas: “Também farei de você uma luz para os gentios, para que você leve a minha salvação até os confins da terra”.

Os dois conceitos se fundem e se completam num mesmo propósito (testemunhas e luz) para evidenciarem a funcionalidade desse testificar de um povo a respeito de Deus, entre os demais povos. Quando o Filho de Deus vem estabelecer a era da graça e sua manifestação entre o povo da graça, a Igreja, Ele reitera esse plano divino e o estabelece através dos Seus seguidores, os crentes, em termos mais enfáticos e práticos.

Enquanto na profecia de Isaías Deus sinalava o que o povo de Israel deveria fazer, Jesus estabelecia o que o Seu povo teria de ser, para fazer: “Vocês receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas…”

Qualquer que seja o ângulo em que se pretenda ler e entender esta máxima do Senhor, fica claro o que Ele determinou: O Espírito Santo viria para capacitar a Igreja a ser testemunha. Em termos diretos: O Espírito Santo é o potencializador do crente para que Ele seja uma testemunha de Jesus. Isto aponta diretamente para a essência. O crente foi estabelecido para ser uma testemunha e a sua capacitação seria derivada do Espírito Santo, tanto como para ser feito filho de Deus, esse mesmo crente depende dessa capacitação operada (gerada) pelo Espírito Santo de Deus (João 1:12). Nos dois textos (Atos e João) o que temos é a referência a um poder que capacita a ser, e a informação da fonte ou origem desse poder: O Espírito Santo.  É do mesmo poder e critério do que disse Jesus, quando fez diferença entre sermos luz e brilharmos. “Vocês são a luz do mundo”, e: “Assim, façam resplandecer sua luz diante dos homens para que vejam suas boas obras e glorifiquem a seu Pai que está nos céus”.  Ora, fica claro que não está em nós o poder de sermos luz. Isto nos é dado como consequência de nossa aliança com Ele,

por meio de Sua vida e Palavra em nós. Mas nos cabe fazer essa luz acontecer, e ainda somos advertidos a não deixá-la oculta.

A questão de ser testemunha corre pela mesma via e critério. Não está em nós o poder de tornar-nos a nós mesmos em testemunhas. Não depende de nossa vontde. Dependemos de que o Espírito Santo o faça em nós, mas nos cabe a partir daí, fazer o testemunho acontecer, como lembrou Pedro: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pergunte a razão da esperança que há em vocês…” (I Pedro 3:15). Isto estabelece uma distância entre ser testemunha (essência) e fazer ou como  fazer o testemunho acontecer (forma), e neste particular, aí entra o exercício de nossa vontade, que cumpre obedecer.

Isso parece muito  óbvio; no entanto, não o suficiente para impedir um volume de equívocos de graves consequências no posicionamento espiritual de exércitos de filhos de Deus, crentes em Cristo Jesus.

Volto à questão: Em Atos 1:8 Jesus estabeleceu a essência de nosso cristianismo: ser testemunhas, e outro tanto explicitou: “poder para ser”.

Não obstante, por dezenas e dezenas de anos crentes vêm digladiando entre si quanto à forma de ver e vivenciar esta verdade. Divisões inumeráveis surgiram dessa divergência; acirradas e tristes disputas e milhares de compêndios escritos de ambas as trincheiras para defender suas óticas particulares.

Sem pretender simplificar o que sempre pareceu complexo demais, lembro a ênfase dada a este texto pelo ilustre servo de Deus, reverendo Martyn Lloyd-Jones quando insistiu em mostrar que a promessa em Atos 1:8 apontava para o poder para ser.

Grande parcela da igreja evangélica parou sobre este texto decidindo que o que Jesus teria prometido era poder para fazer o testemunho acontecer, logo, esse poder, segundo essa ótica, consistiria numa outorga de ferramentas, que dada a ocorrência histórica do fenômeno do falar em línguas que acompanhou a descida visível do Espírito Santo sobre a igreja reunida em Jerusalém, e outro tanto a associação que Pedro em seu discurso esclarecedor fez do fenômeno com a profecia de Joel (onde se acrescentavam outros efeitos na promessa, como profecias e sinais), essas “ferramentas” para testemunhar teriam de ser, necessariamente, a outorga dos dons carismáticos para que houvesse eficácia, ou “poder” no testemunho.

O equívoco que daí surgiu, com todos os corolários de seus desdobramentos, alguns deles até perversos em sua proposição (como a ideia de que o crente só teria o Espírito Santo se falasse em línguas) fez a leitura diferencial entre ser e fazer. Mas o que Jesus prometeu foi poder para ser testemunha. A partir daí, o crente teria de

testemunhar, ou fazer o testemunho para o qual ele estava potencializado, acontecer, via os recursos que obtivesse e desenvolvesse por meio de sua fé.  O lugar de ser testemunha, portanto, estabelece o cristão numa identidade intimista com Cristo e Sua obra (como bem coloca Lloyd-Jones).

As manifestações carismáticas serviriam, como ainda servem, não como evidência desse poder ou capacitação, mas como meios dos quais o crente poderia se servir, pela fé, para realizar seu testemunho.

Em outras palavras: a essência, o poder para ser testemunha, é eterno, é o que permanece, enquanto as formas são variáveis, transitórias em sua proposta e objetividade.

Se o poder aludido por Jesus se consistisse em manifestações carismáticas, teríamos graves problemas de hermenêutica e semântica na teologia elucidativa de Paulo à Igreja, porque ele deixou claro que nem todos as usufruem; nem todos os que as usufruem, são servidos de todas elas, e outro tanto mostrou que encher-se do Espírito Santo para viver a vida cristã, não consistia em encher-se delas ou de sua manifestação cotidiana, bastante para isso lermos Efésios 5:18 e seguintes, sem preconceito: “Deixem-se encher pelo Espírito, FALANDO entre vocês com salmos, hinos e cânticos espirituais, CANTANDO e LOUVANDO de coração ao Senhor, DANDO GRAÇAS constantemente a Deus Pai por todas as coisas…SUJEITEM-SE uns aos outros, por temor a Cristo”. As manifestações carismáticas aqui não foram aludidas como causa nem como consequência desse “deixar-se encher”.

Laboram em erro sério aqueles que pretendem, de um lado, asseverar que as manifestações carismáticas eram o foco do que Jesus pretendeu como poder do Espírito para sermos testemunhas, e do outro, os que por razões várias, suprimiram de sua confissão a possibilidade dessas manifestações, reputando-as por desnecessárias e obsoletas na consecução da caminhada cristã, forçando uma leitura que o texto bíblico jamais consentiu, porque não o pretendeu nem decidiu que as gerações vindouras na fé testemunhal poderiam viver sob limitações do poder de Deus em meio a um mundo incrédulo e desdenhoso, que a própria profecia de Paulo antecipou como a descrição de nossos dias, em que os homens “seriam desafeiçoados e mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder” (II Timóteo 3:1-4). Não. Longe disso, o crente necessita de uma vida dinâmica no Espirito de Deus, mais próximo a crer e realizar o Seu agir, num cenário de tanta falácia. Contudo, nunca é pouco advertir que as manifestações carismáticas jamais foram garantia de poder ou essência para testemunhar, uma vez que nunca vieram simbióticas com o caráter. Carisma espiritual não é sinônimo nem garantia de caráter espiritual, daí não servir como essência e haja vista a própria igreja primitiva, representada pelos crentes

de Corinto, em cujo meio o culto estava tão expressivo em manifestações carismáticas, sem que qualquer delas os salvaguardassem de uma vida tão distorcida em termos de ordem e decência, razão mesma para a existência da carta do apóstolo Paulo àqueles irmãos.

Por um lado somos cruéis e profanos quando decidimos que o poder para testemunhar tem de provar-se via manifestações fenomenais, o que exclui aqueles que não as vivenciam, embora sua vida cheia da presença do Espírito de Deus. Por outro lado, não menos profanos somos, quando decidimos que as manifestações espirituais, conhecidas como dons do Espírito Santo, não mais ocorrem, porque isso nos põe, inevitavelmente, na posição de devedores a esses irmãos carismáticos de um lugar acreditado e digno em sua confissão cristã, tão piedosa quanto apaixonada pelo mesmo Cristo e Senhor.

E ainda prevalece uma outra assertiva: ainda que o ser testemunha não seja produto do exercício de nossa vontade, exercer esse testemunho, sim. Mas, dar testemunho, que difere de ser testemunha, é uma consequência tão comprometida com a realidade de ser testemunha, quanto sua ausência pode tornar-se uma negação da outra, na mesma linha do que advertiu Jesus: “Que a luz que há em você não seja treva”. Outrossim, impõe-se considerar que ser testemunha, fruto de identificação com Cristo e Sua obra, tem suas próprias características, que aqui eu gostaria de definir como o perfil de quem é, de quem está apto para ser testemunha, conforme revelou o Senhor Jesus em Mateus 5. Nesse texto do sermão do Monte, Jesus aponta essas características. As testemunhas são os que Ele definiu como “pobres em espírito; os que choram; os humildes; os que têm fome e sede de justiça; os misericordiosos; os puros de coração; os pacificadores; os perseguidos por causa da justiça.”  Fica evidente que esse perfil não é fruto da vontade humana, mas resultado de uma ação poderosa do Espírito de Deus. Ser testemunha é essência. Fazer acontecer é deixar essa natureza nova implantada ter vez, sem obliterá-la com as obras da carne.

Em suma, entendemos que sempre há de pesar sobre a responsabilidade dos que crêem no Senhor que, uma vez feitos testemunhas de Cristo, tanto quanto filhos de Deus, em meio a esta geração, cumpre-nos encher-nos desse Espírito, para que nosso testemunho resplandeça como luz em meio às trevas, de tal forma que isso se torne visível aos que nos rodeiam.

Brechas da Misericórdia

Êxodo 32: 9-14 e Números 16: 42-48

Dois relatos de uma situação tão própria à natureza humana, e no tocante à reação divina, e tão incomum quanto misteriosa. Explico o porquê do mistério. Tem tudo a ver com o lugar que o crente em Cristo ocupa no que tange à oração. Somos a um mesmo tempo exortados a orar e sujeitar-nos à vontade soberana de Deus. Quase que envolvido num conflito de ideias, o crente ora, rogando e crendo nas intervenções divinas a seu favor, ao mesmo tempo que sabe que Deus tudo opera segundo o Seu propósito. Por fim, parece que orar corre mais em direção a conseguir fazer coincidir a necessidade de quem ora, com a vontade de Deus, esta, via de regra não clara para quem suplica. Nesse dilema confunde-se a maioria. Alguns se atrapalham a ponto de desertar do objetivo de orar. Em especial aqueles, maioria esmagadora, que tratam a oração petitória como a única via de conversar com Deus. Não sabem ou não conseguem vivenciar outra realidade no que respeita a orar.

Quando somos informados pelas Escrituras que o Deus a Quem oramos sabe o que diremos antes mesmo que o façamos, então o quadro parece ficar ainda mais indiscernível.

Mas os episódios narrados nos textos clássicos de Êxodo e Números, parecem nos esclarecer essa misteriosa equação. Em cada um deles Moisés está em meio a um trágico conflito onde de um lado se encontra um povo acusado em seu pecado e obstinação, e do outro, o Deus desse povo, irado, prestes a destrui-lo em Sua ira, e ainda persuadindo Moisés a deixá-Lo fazer isso, sem se opor (sinalizando que Ele Se deixaria opor) e ainda oferecendo a Ele posição futura melhor. É então que nos deparamos com o Moisés intercessor, que suplica pelo povo e ora, procurando demover Deus de Sua ira e propósito. Em cada uma das duas situações Moisés sai bem sucedido. Deus atende à sua voz; aplaca-Se de Sua ira; perdoa e livra o povo.

A oração continua sendo esse mistério entre o crente e Deus. Ao que nos parece, ela serve para abrir brechas de misericórdia na vontade divina, que nos alcança com graça. E o nome disso é graça. Mas, noutro extremo encontramos  aqueles que se pensam com direitos pela fé sobre essa graça, e entendem que podem fazer exigências e dar ordens a Deus, que os atenderia para “ficar bem na fita”. Esquecem que o Deus soberano, ainda que opere em graça e abra brechas de misericórdia a nosso favor, é um Deus a ser temido sempre, pois é o Único Senhor. Vale lembrar que, tempos mais tarde, o mesmo Moisés coloca-se diante Desse mesmo Deus que a ele se opõe, e tanto não o atende quanto ao que ele Lhe suplica, quanto o proíbe de voltar a tocar no assunto em questão (Deuteronômio3:23-25).

Vale pois, a pena, atentar a duas máximas: “Orem sem cessar” (I Tessalonicenses 5:17) e: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tiago 5:16). Entremos pelas brechas da misericórdia à presença de nosso Deus em oração.

O Intercessor Eterno

João 17:1-26.

O que a intercessão de Jesus buscou a nosso favor?

São três os objetos, alvos desta intercessão do Senhor Jesus:

Ele mesmo;
Os líderes da fé, aqui representados pelos apóstolos;
A igreja, decorrente do discipulado deles.

1- Quando ora a Seu favor, Jesus pede uma única coisa: o retorno ao Seu estado primitivo de glória, a glória da unidade com o Pai, para que o peso dessa glória se traduza em Deus glorificado por Ele. Lembremos que Paulo nos mostra em Filipenses 2 que para encarnar, Jesus “esvaziou-Se a Si Mesmo”.

Mas, o que entendemos da glória de Deus?

Quanto ao mundo criado é a Sua manifestação divina, em seus efeitos, mas é mais que Seu poder.

Quanto à própria pessoa de Deus consiste em Sua natureza insondável, fala de Sua majestade eterna.

Quanto à Pessoa de Jesus, equivale ao que entendemos como um representante de uma majestade com a autoridade plena transferida por ele, como Seu substituto legal, ou seja, que responde por Ele e age na Sua força.

2– Quando ora a favor dos líderes e discipuladores, ele pede:

(A) – A proteção que o nome do Deus Eterno traz. De que isso fala? O Nome de Deus que Jesus manifestou aos homens é PAI, ABBA. Seu Espírito nos foi enviado para tornar isso possível. Protegidos pela paternidade divina, o que fala de um tipo especial de autoridade espiritual. E isso tem de redundar inevitavelmente em unidade, ou seja, um corpo de filhos, disso conscientes.
(B) A proteção quanto ao Maligno e a simbiose deste com o mundo onde os crentes habitam. Ele também nos ensinou a fazer essa oração: “Pai Nosso…livra-nos do Mal…”
(C) E a redundância dessa oração: Que sejam santificados por Deus na Verdade. Deixa claro que não é uma santificação baseada na verdade ou em ideias dela decorrentes, mas aquela que emerge da Revelação Escrita, a Bíblia, aquela que é ditada pela boca de Deus. Santidade escriturada, que apresenta nossas cercas, limites, quanto ao mundo.

Essa tríplice petição é pertinente, porque visa aqueles que servirão de modelo para o restante da Igreja, os demais discípulos. Ela pontua: autoridade espiritual que se alicerça no posicionamento quanto à paternidade divina; no posicionamento quanto ao mundo e seus “deuses”; no posicionamento pessoal quanto às Escrituras e seu efeito naquele que a cumpre.

3– Quando ora a favor da igreja em geral, resultante da obra de discipulado, Ele pede:

(A) Que eles estejam vivendo entre si a unidade pretendida, deles com o Pai e com o Filho. Esta unidade fala altamente de identificação ou identidade, algo do tipo: “com nosso jeito, com nossa cara”. Mas fala de identificação com o que deve ser comum a todos eles: Efésios 4:4-6 e a filiação divina: uma só fé, um só Corpo, um só Deus e Pai…
(B) Que a unidade seja plena e kerigmática, ou seja, suficiente para levar seus observadores a concluir que Deus está neste mundo e com amor (23), pelo testemunho da vida de comunhão de Seus filhos.
(C) Que eles estejam na Sua presença eterna e debaixo do esplendor da mesma glória que Ele buscou para Si: o céu.

Não mais em caráter de oração, mas como expressão de desejo, o v.26 encerra essa magnífica oração rogando que os crentes estejam debaixo do amor do Pai na mesma medida em que o Filho Eterno é amado por Ele. Algo muito especial que esta oração de Jesus nos revela é que qualquer de nós foi coberto por ela. Se tivermos dúvidas quanto a alguém um dia ter orado por nós, João 17 nos revela que Jesus o fez. Aleluia!

Avante!

Interpretando coisas espirituais para os que são espirituais… I Co. 2:13.

AVANTE!

Sempre admirei o trabalho de tradução das Escrituras feito por André Chouraqui, um judeu erudito que viveu 90 anos ao longo do século XX e fez uma tradução única e ousada tanto do Velho quanto do Novo Testamento. O que admira em sua obra é sua insistência em nos levar ao sentido mais primitivo possível do significado original das expressões e ideias vertidas em palavras nos textos das Escrituras, e assim fazendo ele nos surpreende muitas vezes, desenterrando pérolas encobertas pelo pó de muitas interpretações textuais comforos de tradução.

Por conta disso, esbarramos com sua reescrita das bem-aventuranças proferidas por Jesus. Segundo o tradutor, o termo “felizes” ou “bem-aventurados”, que traduz o grego “makarioi”, é uma tradução que desvia-se para longe do sentido original da palavra empregada por Jesus em aramaico, e outro tanto se afasta do seu propósito. Conforme o autor citado, a Septuaginta, que traduziu para o grego os textos hebraicos e aramaicos do Velho Testamento, tradução de que se serviram os escritores do Novo Testamento, teria ela traduzido de forma inadequada a palavra “ashirei”, que começa o salmo 1 e o salmo 119, e que foi usada por Jesus. Tendo eles traduzido “ashirei” por “felizes ou bem-aventurados”, influenciaram os tradutores do termo usado em aramaico por Jesus, dando-lhe este significado.

Com muita propriedade, André Chouraqui alerta para o fato de que Jesus seria cruel ao pretender que Seus seguidores se fizessem a si mesmos “felizes” ou se colocassem “felizes” por caminhar neste mundo como “pobres de espírito”, ou “mansos”, ou “famintos e sedentos de justiça”, ou “pacificadores”, etc. Salienta o tradutor que o que se pretende como bem-aventurança para o início de nossa marcha no mundo como discípulos de Jesus, é na verdade, a recompensa final, porque o sentido de “ashirei”, o vocábulo plural, é “os que avançam”, e que o fazem corajosamente, com ânimo e disposição. Usado no imperativo resulta em “avante!”, como um brado de estímulo, incentivador, motivando a marcha na vida, pela fé, em direção ao Reino dos céus. Assim sendo, em lugar de comunicar “felizes os humildes de espírito”, o que Jesus disse foi: “Avante, os que são humildes de espírito, porque deles é o Reino dos céus”. Logo, a felicidade reside no fim da carreira, e não como um sentimento de que teriam de prover-se os discípulos para avançar. Não só Chouraqui traduz “bem-aventurados” por “avante”, ou “marchem”, como também traduz o mais próximo do sentido original, cada uma das sentenças enunciadas pelo Senhor. O texto final, que aqui adaptamos, fica assim:

“Avante (em marcha!), humilhados do sopro (Espírito), sim, deles é o reino dos céus!

Avante (em marcha!), os enlutados! Sim, eles serão reconfortados!

Avante, os humildes! Sim, eles herdarão a terra!

Avante, os famintos e os sedentos de justiça! Sim, eles serão saciados!

Avante, os matriciais (os que servem de útero acolhedor)! Sim, eles serão matriciados (encontrarão úteros acolhedores)!

Avante, os puros de coração! Sim, eles verão a Deus!

Avante, os pacificadores! Sim, eles serão chamados filhos de Deus!

Avante, os perseguidos por causa da justiça! Sim, deles é o reino dos céus!”

Ora, considerando que ao discípulo do Senhor é dado caminhar na estrada da vida em direção ao Reino, e que essa estrada está num terreno que lhe é hostil, não se pode pretender que esse discípulo encontre em si sentimento ou sensação de bem-aventurança que lhe seja por motivação a ir em frente, ao mesmo tempo em que se poderia desculpar quanto a não avançar ou recuar face a ausência de tal sentimento. Mas o que lhe é dito é que avance, tal como é, recorrendo à fé que a Graça opera, para que chegue corajosamente ao fim, e desfrute o prazer e as glórias de ser vencedor na jornada. Isto fica ainda mais claro quando se percebe que Jesus não insinuou que teríamos de ser “humildes de espírito” para avançar. Mas assegurou que devemos avançar porque somos humildes de espírito, ou seja, só o homem ou mulher que tem em si as características próprias àquele que é nascido do Alto, nascido de novo, pode avançar “correndo a carreira que lhe está proposta”.

Você é discípulo(a) do Senhor? Diante de você há todo um ano de carreira a percorrer. Pela fé, olhando para Aquele que o(a) encoraja, Autor e Consumador da fé, vá em frente.

Avante! O Senhor é consigo!

Deserto Solitário e Solidário

Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus”. – Mateus 4:17.

Este versículo marca o momento inicial do ministério do Filho de Deus, logo após Ele se haver instalado em Cafarnaum, o que foi precedido por uma peregrinação de quarenta dias pelo deserto. Por sua vez, este deserto, palco de um tempo incomum de tribulação perpetrada pelo seu adversário, Satanás, tinha sido precedido por um espetáculo incomum de glória e exaltação, quando da confirmação de Sua filiação divina unigênita, através de uma voz que reverberou nas margens do Jordão desde o céu.

Entre o momento de glória e revestimento e o início do serviço, instalou-se um deserto de tentação sem igual.

Esse intervalo de quarenta dias de provação, repetia figuradamente outro intervalo ocorrido entre o chamado e a realização deste a um outro filho: Israel povo, que peregrinou pelo deserto quarenta dias transformados em anos correspondentes. O paralelo é interessante, pois que os dois desertos atenderam a movimentos e ocorrências assemelhados: testes de genuinidade de escolha e chamado divinos, em meio a fome e sede, caminhada errante e tudo induzido pelo próprio Deus que chamou. Manifestações tanto malígnas quanto angélicas. Ao povo foi dito: “É meu povo”, e a tentação pôs tal certeza em cheque. Ao Filho foi dito: “Tu és meu Filho”, e o tentador atacou exatamente esta certeza.

Os dois desertos foram precedidos de um chamado visível, convincente, marcado por sinais. Nos dois chamados havia o testemunho divino de legitimidade: a Israel, como povo de Deus, ungido. A Jesus, como o ungido Filho de Deus. As duas tentações puseram em cheque essas certezas e garantias. O término de cada uma redundou em início de uma etapa definitiva que cumpria a razão do chamado recebido.

Mas o interregno era solidão.

Houve presença de glória no momento inaugural. Mas deserto e solidão no campo de preparação para o serviço.

Israel e Jesus parecem sinalar para nós um padrão de ação divina quanto àqueles que Ele chama. Seja para integrar Seu povo, seja para realização de um ministério solo, específico.

Há a marca indelével da eleição, às vezes verdadeira teofania, mas a ela sucede uma peregrinação de silêncio, provas e testes, onde a solidão parece só não ser mais devido a “estranhas presenças” e consequentes ocorrências. Contudo a nota de destaque é a solidão. Esta terá de ser uma constante na vida dos que caminham com Deus. Às vezes achados a sós em meio a tantos.

Surgem anjos ajudadores, para animar e alimentar, vertidos em amigos e irmãos, quando s testes são vencidos. Sempre.

Por fim, tudo pronto? Não! É hora de começar aquilo para que se foi chamado. E tal começo, terá sempre característica de começo. Sempre haverá a sensação de que tudo é um início, de que sempre somos iniciantes na Grande Jornada.

Penso que chamados desprovidos dessas características deixarão sobre incertezas sobre sua fonte. Nosso Deus não muda.

Não Posso Descer

…Estou executando um grande projeto e não posso descer. Por que parar a obra para ir encontrar-me com vocês?” – Neemias 6:3.

Caminhar a trilha traçada por Deus nem sempre segue nos trilhos dos homens.Não forma paralelos, maioria das vezes. Vez por outra, senão uma elipse, uma intersecção.

Às vezes Jesus tinha de assumir afastar-se de todos e ficar a sós, com o Pai. Eram momentos nos quais e para os quais não cabia humana companhia.

Certa vez Neemias precisou recusar-se ao convite de se reunir com alguns dignatários, porque estava “fazendo grande obra” e por causa dela, não podia aquiescer a propostas outras, menores, ainda que aos olhos de seus interlocutores, importantes e prioritárias.

Descer do muro, parar a obra e estar junto aos outros, seria para Neemias a diferença entre a vida e a morte.

Caminhar a trilha traçada por Deus, às vezes implica em renúncias e ausências que muitos não podem compreender, nem acompanhar, mas que estabelecem, tal como para Neemias, a diferença entre viver ou morrer, construir ou deixar perecer a construção.

Você Marca Presença

O cântico de exaltação ao amor, composto por Salomão, dedicado a uma sua eleita, e que em nossas bíblias tem por título Cântico dos Cânticos ou Cantares, usa abundantemente de metáforas e hipérboles cujo efeito é exaltação calcada na admiração.

Uma dessas metáforas, de uma riqueza de imagem linguística cujo paralelo só a própria pena de Salomão oferece, se encontra em 6:4 do livro, onde nossos tradutores se esforçaram para transmitir a idéia mais precisa daquilo que o autor sacro quis comunicar. Ali, Salomão teria dito que sua amada é “formidável como um exército com bandeiras”, ou seja, que impressiona em sua marcha. Mas usou um adjetivo que pede mais que “formidável” em sua comunicação, onde bem podem caber “terrível”, “temível”, “impressionante”, “assustador”, etc, todos esses adjetivos tendo como sentido comum classificar o objeto como algo que marca presença, que chama a atenção, mas evidentemente de forma atraente, positiva, como bem reforça o contexto.

Há aqueles que se debruçam sobre o texto de Cantares e procuram ver nele uma alegoria do amor de Cristo pela Igreja. Espiritualizações textuais à parte, é certo que o espírito do evangelho de Cristo investe em nossa vida visando uma transformação de tal quilate, que atenda minimamente ao significado de “Cristo em vós, esperança da glória” (Colossenses 1:27) ou, “…assim resplandeça a luz de vocês diante dos homens, para que vejam suas boas obras e dêem glória ao seu Pai que está nos céus” (Mateus 5:16). Nesta direção, acredito que qualquer de nós poderá deixar a marca que imprime a imagem de um exército com bandeiras, de forma que seus observadores possam exclamar: formidável!

Mas você percebeu o que eu disse a respeito dos tradutores do texto em questão? Que eles decidiram traduzir a palavra hebraica “ Aimah” por formidável, em lugar de aterrador ou terrível, devido ao contexto que lhes determina se decidirem na direção desse significado? O contexto dita o sentido que se imprime.

Assim é nossa vida de testemunho cristão, nesta geração, quanto aos nossos observadores. A depender de como a vivemos, poderá produzir admiração como um exército em marcha, embandeirado num desfile que anuncia presença e segurança; ou aterrador, se esse exército marchar como um corpo de guerra, ameaçador, invasor. Nessa condição sua visão será aterradora. Especialmente se em lugar de bandeiras tal exército empunhar armas.

Desejo, sinceramente, que você viva nesta geração, preparando-se conscientemente para que quantos consigo tratem, possam ver em sua vida a glória do Cristo de quem você é aprendiz, de tal forma que possam exclamar admirados, tal como o noivo em Cantares: Formidável! E isso enquanto você marcha pela existência, com bandeiras nas mãos.